19.05.2020
Silvia Ramos e a violência nas favelas do Rio durante a pandemia
Le Monde critica ações de Bolsonaro na pandemia e
denuncia o golpe
O editorial do Le Monde desta 2ª-feira (18) foi dedicado ao
Brasil. O jornal francês critica opiniões e a falta de atuação de Bolsonaro na
crise sanitária que já infectou 254.220 brasileiros e matou 16.792. Leia a
íntegra, na tradução de Sylvie Giraud.
Não
há dúvida de que há algo de podre no reino do Brasil, onde o presidente Jair
Bolsonaro, consegue afirmar, sem vacilar, que o coronavírus é uma
"gripezinha" ou uma "histeria" nascida da
"imaginação" das mídias, diz o editorial. Algo de podre quando ele vai ao
encontro de aglomerações de seus partidários, quando ele incita as autoridades
locais a eliminarem as restrições, quando pretende que a epidemia tenha
"começado a desaparecer" enquanto que os cemitérios em todo o país
registram um recorde inédito de enterros.
Quando seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defende o "comunavírus", alegando que a pandemia é o resultado de uma conspiração comunista. Quando o ministro da Saúde, Nelson Teich, renuncia em 15 de maio, quatro semanas após sua nomeação para esse ministério crucial, por "diferenças de opinião", justamente no dia em que o país alcançava 240.000 casos confirmados e mais de 16.000 mortos.
Quando seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defende o "comunavírus", alegando que a pandemia é o resultado de uma conspiração comunista. Quando o ministro da Saúde, Nelson Teich, renuncia em 15 de maio, quatro semanas após sua nomeação para esse ministério crucial, por "diferenças de opinião", justamente no dia em que o país alcançava 240.000 casos confirmados e mais de 16.000 mortos.
Para muitos,
as horas sombrias que o Brasil – quinta nação mais afetada pela pandemia -
atravessa hoje, relembram as da ditadura militar, quando o país foi submetido
ao medo e à arbitrariedade. Com uma diferença significativa: enquanto os
generais da época reivindicavam a defesa de uma democracia atacada, segundo
eles, pelo comunismo, o Brasil de Bolsonaro vive em um mundo paralelo, um
teatro do absurdo onde os fatos e a realidade deixaram de existir. Nesse
universo sob tensão, nutrido por calúnias, incoerências e provocações
mortíferas, a opinião se polariza em torno de um nevoeiro de ideias simples,
mas falsas.
A
denegação impulsionada pelo governo demove metade da população de confinar-se,
enquanto os pedidos de distanciamento social lançados pelos profissionais de
saúde, governadores e prefeitos são seguidos frouxamente. Bolsonaro, que não
parece apreender a real dimensão da pandemia, diz que a atividade econômica
deve continuar a qualquer preço e enquanto isso faz um cálculo político insano,
esperando que efeitos devastadores da crise serão atribuídos à oposição.
Caos sanitário
Oficial subalterno expulso do exército e obscuro deputado de extrema-direita, zombado por seus pares durante três décadas, Bolsonaro, claramente, não possuía as qualidades necessárias de um estadista. Uma vez no poder, devorado pela amargura e pela nostalgia fascista, o ex-capitão da reserva não cessou de acusar o caos na saúde e semeia a morte.
De tanto
trair os fatos, os governantes populistas acabam por acreditar em suas próprias
mentiras. Vemos isso em outras partes do mundo. Mas aqui, neste país que saiu
da ditadura há apenas trinta e cinco anos, onde a democracia permanece frágil e
até disfuncional, o fato de politizar, sem limites, uma crise sanitária dessa
magnitude é algo totalmente irresponsável.
Com uma base
eleitoral de 25%, Bolsonaro sabe que sua margem de manobra é estreita. Alguns
evocam hoje o cenário de um golpe institucional. Aliás, diante da multidão que
veio apoiá-lo em Brasília, o presidente deixou claro no dia 3 de maio que se o
Supremo Tribunal Federal o investigasse - a ele ou a seus parentes -, ele não
respeitaria a decisão dos juízes. Após ter praticado o negacionismo histórico
ao elogiar a ditadura, negado a existência dos incêndios na Amazônia e a
gravidade da pandemia de Covid-19, Bolsonaro e sua tentação autoritária têm
grandes chances de mergulhar o país em um perigoso voo às escuras.
Vera
Magalhães insiste em defender o golpe de 2016
A jornalista Vera
Magalhães voltou a defender a legalidade do golpe parlamentar de 2016 que
destituiu a presidente Dilma Rousseff sem a comprovação de crime de
responsabilidade. Entre os argumentos para justificar sua posição, Vera
mencionou o fato do processo de impeachment ter sido chancelado pelo Supremo
Tribunal Federal (STF).
"Já que os
petistas querem resumir a entrevista do @felipeneto à discussão de foi golpe/não foi golpe, o que mostra que não
entenderam nada do que se passou de 2014 para cá, vamos lá: 1. Não se trata de
achar. O STF validou o impeachment de Dilma. Portanto, não foi golpe",
disse Vera em uma sequência de tweets. Internautas lembraram jornalista de
direita que o STF também validou o Golpe Militar de 1964.
"Vera, do ponto de vista histórico, o STF
validou várias ilegalidades. Até, vale sempre lembrar, a extradição de judeus
para o governo nazista", respondeu o jurista e escritor Ruben Casara. "E,
por favor, evite reduzir uma importante questão constitucional a uma disputa
político-partidária. Não é coisa de 'petista' ou de 'bolsonarista'. Você presta
um serviço fundamental quando informa, mas peca ao se manifestar com ares de
'certeza' sobre aquilo que não estudou", acrescentou.
Reação da
apresentadora do Roda Viva ocorreu após o youtuber e empresário Felipe Neto ter dito, em
entrevista ao programa nessa segunda-feira, 18, que considera um golpe o que
ocorreu em 2016, e que se arrepende de ter contribuído indiretamente para o
episódio.
"Não afirmo aqui, que hoje seja um adorador ou
participante de um projeto petista, mas não tenho dúvidas de que no momento do
impeachment, que podemos chamar de golpe, a minha colaboração embora fosse nada
se comparável com a força que tenho hoje nas redes sociais, sem dúvida ela
existiu e foi usada de maneira errada", disse Felipe Neto.
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