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domingo, 21 de maio de 2017

Vannuchi: 'Acho que o Tom também pensou no Antonio Candido ao fazer essa canção'

19.05.2017
Vannuchi: ativismo de Antonio Candido foi ocultado da grande imprensa. 'Foi militante de esquerda e um dos fundadores do PT'

São Paulo – "Quando você levantava a questão de quem era o maior intelectual brasileiro vivo, havia um consenso: Antonio Candido." A afirmação é do ex-ministro e membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) Paulo Vannuchi. Em sua coluna na Rádio Brasil Atual, Vannuchi diz que conviver com um dos mais importantes pensadores e ativistas sociais do século 20 foi "um dos maiores privilégios de sua vida". Candido morreu na última sexta-feira (12), em São Paulo, aos 98 anos. 

Vannuchi contou histórias sobre o escritor e sociólogo e lembra que atuação de Antônio Candido na luta da esquerda democrática. "Ele ingressou na faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. Logo na década de 30, já lutou contra a ditadura de Getúlio Vargas."

Apesar das homenagens e menções a ele em veículos da imprensa comercial, o ex-ministro afirma que o ativismo do intelectual foi ocultado. "Tentaram esconder que Antonio Candido foi um dos fundadores do PT, e sua condição de militante de esquerda, onde passou a vida inteira lutando pelo socialismo democrático", observou. "Ele sempre repetia uma frase: 'democracia sem socialismo, não é democracia. Socialismo sem democracia, socialismo não é'."

Vannuchi lembra da participação do intelectual na presidência do Conselho da Fundação Perseu Abramo – posto hoje ocupado por Dilma Rousseff. Fala também da presença de Candido no momento em que o jurista Goffredo da Silva Teles redigiu o manifesto "Carta aos Brasileiros", em 1977, que repudiava a ditadura civil-militar e exigia o Estado de direito.

Segundo Vannuchi, Candido estava triste com rumos recentes da conjuntura política. Para ele, Lula representa um dos grandes ciclos da democratização brasileira. O primeiro foi a abolição, em 1888; o segundo, o processo de inclusão da classe trabalhadora urbana, durante o governo de Getúlio Vargas; e o terceiro seria a reforma agrária com a inclusão dos camponeses, feito por João Goulart. Lula liderou essa fase histórica da incorporação dos pobres no Orçamento da União com as políticas públicas de inclusão e os programas sociais.

Ele encerra o comentário com a música Se Todos Fossem Iguais a Você. A canção foi composta por Tom Jobim e Vinicius de Moraes para a peça Orfeu da Conceição (1956) – em que o poeta se inspira no drama mitológico grego Orfeu e Eurídice para construir uma leitura lírica e antropológica das favelas cariocas. "Esta música, parece hoje que ele até fez pensando também em Antonio Candido", diz Vannuchi.

Transcrito de http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2017/05/antonio-candido-era-o-maior-intelectual-vivo-do-brasil-diz-vannuchi

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O Fazedor de Amanhecer Anoiteceu

Graça Taguti

Pensava pequenino, esse grande menino. Gostava de revirar pontuações nas poesias e na cabeça de pensamentos ondulantes. Engasgava na política dos pontos e vírgulas: sobrevoava os lentos e dúbios acasos das reticências infinitas. Duvidava de tudo, até das interrogações. Pois questionava o que já nascera pronto, rígido e sem jeito de mudar.

Certas horas se interjeitava, segurando uma interjeição bem alta, quando um bambuzal resolvia assoviar pra ele. Namoros de recantos livres ao ar livre, que aconteciam mesmo sem vento nem abanos de alguma espécie. Sussurros já davam conta, assim semeados pelo caminho dos sonhos.

Esse menino Manoel de Barros sempre teve todas as idades, desde o primeiro choro no parto fresco. Um berro da infância já se anunciava todo cúmplice dos vãos e desvãos da natureza.

Encontrava fechaduras em troncos de árvores longevas. Elas usavam monóculos. Árvores do tempo quase um tanto carecas. Ele, com suas poetices, valia-se vez por outra de telescópios. Pra enxergar um ziguezague corrido de minhocas. Um rabo afoito de lagartixa, que nasceu pra crocodilo, mas parou no meio do percurso da genética.

Doce rebelde este moço pantaneiro, que resolveu botar o mundo desavisado de cabeça pra baixo. Sabia que antena de formiga servia de wifi, mas na roça, pra quê? Que pedra é muito menos severa do que parece, escondida em suas rugas cinzentas. Era só deixar um pé de água doce palmilhar a pedra em frente, que logo surgia um escorrega pra criançada descer, limo abaixo feito peixe de terreno.

Esse moço de sorriso largo demais viveu de mansinho. Sem pressa de atravessar um século inteiro como atravessou. Aí aprendeu a fazer tira-gosto de palavras. Encaixotar parágrafos. Abrir a palma das mãos pra receber gota gelada dos ventos e perceber que andorinhas choravam orvalho, nas altitudes das nuvens e sem que a gente desconfiasse. Pode?

Certos dias, Manoel saía de braços com o sol e diziam que ele então tinha perfil de puro trigo. Dourado como espiga, mas sem bestice, por estar na situação de breve e acalorado caso com o astro rei.

Semana sim semana não se anoitava com estrelas cadentes, brilhando feito ouriço do céu. Fazia colar de luz, despia a camisa, encostava a joia contra o peito. Pros cavalos de pasto no entorno não havia ninguém com o coração mais galopante que o poeta. O amor quase relinchava em forma de soneto dedicado ao enfeite de estrelas.

Mas faltava uma moça do campo pra oferecer o brilho desta prenda e dançar com ela uma fanfarra. As meninas estavam longe, esticando palavras e moendo números pra começar a conversar com os ditos e não ditos da escola.

Manoel se desmanchava a lamber com os olhos as cores das saias das mocinhas que gemiam baixinho – as mocinhas e as saias arfavam diante dessa sedução versejada em silêncio.

Um dia um pensamento passeou nos seus ouvidos e disse pra ele que a vida era um lego do tamanho do mundo. Que ele poderia encaixar o que quisesse aonde quisesse. Outra imaginação se aproximou, cobriu-se de tintas, aquarelou e expôs um segredo pro Manoel.

Olha rapaz, dá pra despregar palavras dos livros, viu? Jogar orações coordenadas num liquidificador e partir pra misturanças de verbos e advérbios. Um suco temperado na semântica. Uma vitamina no espaço sereno e vespertino de gerar escrituras com belas miudezas.

O poeta apalavrou-se com as possibilidades. Sentiu-se aquoso e ardente como água viva, estrofe salgada como estrela do mar. Também era lagarta cigana de longas jornadas. E gafanhoto de espantos e soluços.

Tudo — da chave enferrujada ao carrinho de madeira. Da chuva descabida deitando nas manhãs verde-esperança — tudo tinha seu alto grau de responsabilidade e significância.

Sopa fumegante de rimas ricas e pobres. Risos frouxos e esquecidos nas bocas sempre abertas pras invisíveis alegrias. Prato cheio de poesia pronta pra servir aos olhos e demais sentidos. Pele eriçada. O moço de letras miúdas se alargava de amantes em penca na escrita, mais que palmeira prenhe, banana nanica, apetitando cachos de saborosidades.

Conseguir se embebedar com o vinho das auroras não é pra qualquer um. E a ressaca, quem cura? Um mergulho de peito no riacho?

Quem dá conta de fruta assanhada, mais oferecida que manga, se esparramando em poemices tarde adentro? Ficava o cheiro manhoso de um gosto novo. Na cara, no corpo, nos pés bem no meio da rua. Cheiro desusado por enquanto, que enrodilhava línguas ingênuas. Eita verso em flor. Madrugada coalhada de rosas. Espinhos servindo de agulha de costura.

Manoel de Barros era assim. Já apresentava terra no nome, entendia de esculpir o universo com simplicidade e eficiência. Bastava uma chuva à toa. Chuva de belezuras. Jardim de encantos e de abelhas. Mel saindo dos poros pra perfumar toda a existência.

Obrigada menino grande ou grande menino, por essas travessuras. Esses folguedos nos versos, essas crianças eternas que brincam de roda pra sempre, nas praças das nossas emoções.

Você é nosso parceiro de festas. E fique sabendo: não tem despedidas nem lenços que deem marcha à ré nessa história toda.

Transcrito http://www.revistabula.com/3449-o-fazedor-de-amanhecer-anoiteceu/

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Homenagem ao cientista político Leandro Konder e ao poeta Manoel de Barros

HOMENAGEM

ao cientista político, escritor e professor Leandro Konder,
da Pontifícia universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio),
falecido nesta quarta-feira, 12 de novembro de 2014, aos 78 anos de idade

LEANDRO KONDER (1936-2014): mestre, sábio, filósofo, suavidade na fala e contundência na palavra, espada na luta por uma outra sociedade possível e necessária.
Leandro silencia, mas sua alentadora obra que renova a chama da utopia socialista segue reverberando. Agora, com o também querido parceiro Carlos Nelson Coutinho, vela por nós.
LÚMEN!
Deputado Federal Chico Alencar



ao
premiado poeta Manoel de Barros, falecido nesta quinta-feira, 13, aos 97 anos de idade

MANOEL DE BARROS, autor de obras como
"Poemas concebidos sem pecados"
e "O Guardador de Águas", em Campo Grande (MS)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Quando o dia ficou mais cinza; homenagem a Rubem Alves



“A vida é tão boa”, costumava dizer o notável escritor e educador Rubem Alves, morto na tarde deste sábado, dia 19 de julho. Rubem tinha 80 anos e, desde 10 de junho, estava internado no Centro Médico de Campinas, interior de São Paulo, com infecção pulmonar e insuficiência respiratória. De acordo com o jornal Estado de Minas, em 2010 ele já havia enfrentado um câncer, além de problemas no coração e na coluna, que o obrigaram a passar por cirurgias. Rubem teve falência múltipla de órgãos.



Mineiro da cidade de Boa Esperança, onde nasceu em 15 de setembro de 1933, Rubem publicou mais de 160 títulos, entre livros de pedagogia, poesia, filosofia, literatura para crianças e ensaios. “Um livro são pedaços de mim espalhados ao vento como sementes”, descrevia.

Nós, do Instituto Paulo Freire, não poderíamos deixar de homenagear e agradecer a este grande homem, pelo legado que nos deixa. Para tanto, compartilhamos as palavras de sua filha, Raquel Alves, que escreveu na página oficial do escritor no Facebook.

“Seria injusto pensar nele com dor. Uma pessoa que só tem beleza nos olhos e amor no coração – o tempo todo – alma, pura alma…

Quero sinceramente que acima de tudo as pessoas que o amam desejem o melhor para ele, independente do que isso represente.

Acima de tudo o AMOR, a gratidão pelas palavras dele que serão eternas. Não há nada mais positivo e mais bonito que isso! E vamos com fé…

Agradecemos muito o carinho e boas energias de todos vocês!

Que as cores do crepúsculo mais belo preencham o coração de todos.

Raquel Alves”

Homenagem: Robin Williams e o professor de literatura que sabia a que veio

"Oh, Captain, my Captain".

Robin Williams podia não ser a melhor pessoa do mundo, mas teve no currículo memoráveis obras cinematográficas. Cito as que mais me marcaram: Sociedade dos Poetas Mortos, O Gênio Indomável, Patch Adams, O Homem Bicentenário e Bom Dia, Vietnam.




E dentre as comédias, o gênero pelo qual ele era mais conhecido, as que mais curti foram: Uma Babá quase perfeita, Jumanji, A Gaiola das Loucas e Uma noite no Museu.

Além disso, Williams era ótimo dublador e imitador, daí impossível não lembrar dele como o gênio da lâmpada em Alladin e o Ramon em Happy Feet.

Sim, ele vai fazer falta.

Para ver a última e marcante cena de Sociedade dos Poetas Mortos clique aqui