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domingo, 21 de maio de 2017

Leituras Graciliânicas em Tempos de Golpe

19.05.2017

Cosme Rogério

A geração de intelectuais brasileiros instituídos na carreira de escritor ao longo da conturbada década de 1930 caracterizou-se pela busca da compreensão da identidade sociocultural brasileira, e também pelo engajamento político militante que rendeu-lhe perseguições. A prisão de Graciliano Ramos, sem acusação, sem processo, sem julgamento, foi um dos casos mais emblemáticos.



Os romances que surgiram com a chamada "geração de trinta" refletiram as tensões e acomodações em torno dos debates sobre temas relacionados à realidade brasileira, próprios daquele ambiente tumultuado pela experimentação dos efeitos desencadeados após a chegada de Getúlio Vargas à presidência da República, através de um golpe de Estado que ficou conhecido como "Revolução de 1930". Esse processo de ascensão removera setores tradicionais de seus postos privilegiados no comando da nação, e levou o governo a encarar sucessivas instabilidades e crises de legitimidade. As insatisfações geradas favoreceram o crescimento de organizações políticas de vários matizes ideológicos, dispostas à ocupação, contestação ou tomada do Estado renascente. A crescente polarização dos posicionamentos ideológicos ganhou forma organizacional com o surgimento da Ação Integralista Brasileira (AIB) e da Aliança Nacional Libertadora (ANL), respectivamente em 1932 e 1935. Os integralistas incorporavam o nazifascismo de Hitler e Mussolini, enquanto os aliancistas aglutinavam diversos grupos de esquerda, com a hegemonia do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em oposição ao avanço do integralismo, ao autoritarismo adotado pelo governo Vargas, ao imperialismo e ao latifúndio. Contando com adesões importantes de vários ex-militares, a Aliança elegeu Luiz Carlos Prestes como seu presidente de honra. Conforme o jornalista Dênis de Moraes, “o herói da Coluna ingressara no PCB por imposição de Moscou, depois de ter sua filiação vetada pelo Comitê Central, dominado por tendências ultraesquerdistas e obreiristas. Embalada por comícios e atos públicos que reuniam milhares de pessoas, a ANL não demorou a radicalizar suas posições, não só em confrontos de rua com os integralistas, mas no famoso manifesto à nação de Prestes, em 5 de julho de 1935. O ‘governo podre de Vargas’ era definido como principal adversário dos aliancistas, que deveriam se preparar para o ‘assalto ao poder, que amadurece na consciência das grandes massas’”.

Uma semana após a publicação do manifesto referido na citação, Vargas decretou o fechamento da ANL, com base na nova Lei de Segurança Nacional. O assunto tomou conta do Bar Central, na capital alagoana, um dos pontos de encontro da roda de intelectuais de Maceió, da qual fazia parte Graciliano Ramos, dentre outros nomes que entrariam para o cânon literário brasileiro. “O grupo de literatos era praticamente todo antifascista e antigetulista”, explica Moraes. “Apenas três pessoas tinham vínculos com o comunismo: Alberto Passos Guimarães, secretário regional do PCB; Rachel de Queiroz havia rompido com o partido e se aproximado dos trotskistas, juntamente com seu marido, José Auto. Os demais, segundo Rachel, ‘eram quase todos cor-de-rosa, isto é, esquerdizantes que não chegavam a ser vermelhos’. Mas nem Alberto apoiava a luta armada contra Vargas, embora tivesse de acatar a linha oficial”.

Eis um traço distintivo fundamental entre as biografias de alguns autores da Geração de 1930 e a de Graciliano: eles já eram militantes do comunismo, enquanto o Velho Graça poderia ser chamado apenas de simpatizante. É certo que a Revolução de 1917 animou em Graciliano o interesse pelo marxismo desde sua juventude, pois se situam no período posterior a esse acontecimento na Rússia o seu aprofundamento nas leituras de Marx, Engels e Lenin em francês e italiano, e sua adesão “à utopia libertária ocupada pela vaga bolchevique”. Na Palmeira dos Índios do final da década de 1920, não eram esconsas as suas inclinações pelo socialismo, como recordou seu conterrâneo Brena Wanderley: “Certa vez, confessou-me sua admiração pelo povo russo e pelo socialismo. Recomendou-me a leitura de Marx e depois Dostoiévski, que lia em francês. Muitas vezes criticava fortemente o governo. Era um revoltado com as injustiças que cometiam em nosso país. Sofria com o drama dos nordestinos. Talvez fosse comunista no termo lato, mas antes de tudo amava o Brasil como bom patriota”.

Não obstante esta inclinação para o marxismo, difundido na América Latina pela corrente comunista que se dispunha a lançar as bases para uma orientação política revolucionária, Graciliano não tinha ainda uma ligação direta com o PCB, no sentido de compor seus quadros e/ou militar em suas fileiras. Quanto ao seu posicionamento político-ideológico, Raquel de Queiroz testemunhou que o colega de letras se tratava de “um homem com tendência igual à que se chama hoje de social-democrata. Colocava-se, como nós, contra os poderosos, contra o governo, contra a opressão. Talvez fosse até mais anarquista do que qualquer outra coisa”.

Ratificando o posicionamento de Graciliano diante da polarização político-ideológica da década de 1930, Alberto Passos Guimarães asseverou: “As posições dele eram de um liberal progressista. Não admitia um passo além disso. Suas ideias, em certos pontos, coincidiam com as nossas, mas ele não era comunista. Tinha opiniões próprias, independentes e bem elaboradas, mas não radicais ou revolucionárias. Não era homem de conversa fiada”.

Acontece que, nesse tempo, Graciliano ocupava a direção da Instrução Pública do Estado de Alagoas, equivalente ao atual cargo de secretário estadual da Educação, durante a administração – tachada de “semi-integralista e reacionária” pelos comunistas – do interventor federal Osman Loureiro, e isso representava um obstáculo à sua possível cooptação pela seção alagoana do PCB, que reproduzia o sectarismo partidário de âmbito nacional, por sua vez orientado pela visão do grupo ligado a Stalin, que saiu vitoriosa dos embates no interior do Partido Comunista Russo, ao fim do IV Congresso Mundial da Internacional Comunista. “De acordo com esta posição, o papel da URSS deveria ser o de guiar o proletariado mundial em um momento de iminência de uma nova “crise revolucionária”, o que significava a necessidade de ruptura com a social-democracia”, explica a historiadora Júlia Monnerat Barbosa, que estudou a militância política e a produção literária no Brasil entre as décadas de 1930 e 1950.

Instalado na estrutura do Estado, compondo o primeiro escalão do governo, Graciliano dedicava-se paralelamente à escrita, regada a aguardente, do seu terceiro romance, Angústia, considerado pela maioria dos críticos e leitores a obra-prima graciliânica. Essas tarefas – a função pública e a atividade literária – o mantiveram distante das palpitações do movimento, inclusive do episódio crucial conhecido como Intentona Comunista – frustrada tentativa de golpe através da tática da luta armada, que contrariava a linha de frente popular, mas contava com o endosso da Internacional Comunista. Segundo Moraes, Prestes enfatizaria que “a responsabilidade pela rebelião desencadeada em 23 de novembro de 1935 fora da própria direção do PCB, iludida por avaliações voluntaristas e dissociadas da realidade concreta”. O levante, irrompido em Natal, limitou-se, em Alagoas, a alguns muros pichados por militantes comunistas na capital, não dando trabalho ao governo, embora este tenha deixado a polícia de prontidão.

No início de 1936, telefonemas e telegramas anônimos começaram a perturbar o diretor da Instrução Pública, que, apesar de tudo, não dava bola para as ameaças. Seu prestígio político e intelectual o mantivera por um triênio à frente de um cargo pelo qual já haviam passado oito pessoas em dois anos. A situação nova impunha sua saída, não só por suposto envolvimento com os aliancistas ou pelo conteúdo “subversivo” de seus romances, mas também pelo seu habitus de administrador, conhecido e reconhecido pela austeridade e por não se vergar às pressões do campo de poder. Osman Loureiro precisava demiti-lo, mas queria que Graciliano se desligasse do governo voluntariamente, já que o governador não encontrava motivos objetivos para fazer isso. Mas Graciliano não lhe pediu a demissão. Deixou que o governador o fizesse. Finalmente, em 3 de março, no dia em que o escritor entregou os originais de Angústia para a datilógrafa D. Jeni, ficou também sabendo que seria detido a qualquer momento, no “cerco aos ‘comunistas’ nas capitais do Nordeste” ordenado pelo general Newton de Andrade Cavalcanti, comandante da 7.ª Região Militar. Apesar dos alertas de Luccarini – arquiteto italiano que foi seu funcionário na Instrução Pública – e Alberto Passos Guimarães, e dos pedidos de sua mulher Heloísa e de seu filho Júnio – que, com o irmão Márcio, militava na União da Juventude Comunista –, Graciliano renegou as propostas de fuga e aguardou em casa, de terno e gravata e de valise arrumada, o oficial do exército que o levaria preso – curiosamente o mesmo tenente que um mês antes havia procurado a Instrução Pública para lhe solicitar, por intermédio do apadrinhamento político, nova banca para a sua sobrinha que havia sido reprovada num exame de admissão para o curso normal, pedido ao qual Graciliano obviamente não atendeu. Pelos dez meses que passaria detido, transferido apulso para o Recife, depois, para o Rio de Janeiro, e apesar daqueles que o adjetivavam de “comunista” com o propósito de xingá-lo, não houve nenhuma acusação formal contra Graciliano, nenhum interrogatório, nenhum processo, nenhuma prova que o envolvesse diretamente à Intentona ou às organizações políticas perseguidas pelo governo Vargas. O que teria justificado, então, a sua detenção, assim como a de outros intelectuais nas mesmas condições, como Hermes Lima, Castro Rebelo, Leônidas Rezende e Luís Carpenter? Segundo Alzira Vargas do Amaral, filha e auxiliar direta de Getúlio Vargas, o pai lhe teria dito: “Foi uma exigência dos militares. Consideraram uma injustiça serem punidos os oficiais presos de armas na mão, enquanto os instigadores de tudo, os intelectuais que pregavam ideias subversivas, continuavam em liberdade”.

Ou seja, é evidente que Graciliano não foi preso por ser um militante comunista, mas por ser um intelectual perturbador do status quo. Nelson Werneck Sodré, historiador e general da reserva que à época era um jovem oficial, tornou-se amigo de Graciliano em 1937. Para ele, a prisão do literato foi motivada por pura perseguição política: “Não foram os problemas locais que determinaram a prisão de Graciliano; foram as questões de ordem ideológica. Na Instrução Pública, ele seguia à risca os seus princípios, era igual para todos, premiava os que mereciam, defendia os professores – era um homem de primeira ordem. Havia desgostosos, pessoas que foram feridas em seus interesses. A tarefa de prendê-lo, o oficial a executou a mando do general Newton Cavalcanti, cujo nome eu evito declinar para que não sobreviva ao esquecimento. Mesmo quando escrevi o prefácio de Memórias do cárcere, não mencionei o nome dele; não quero salvá-lo da merecida obscuridade em que deve jazer. Foi um dos homens mais facinorosos e imbecis que esta terra já produziu, uma mancha no Exército brasileiro. Como comandante da 7.ª Região Militar, e já adepto do integralismo, tratou de fazer uma limpeza de todos aqueles que suspeitava serem simpatizantes do comunismo. Nessa leva foi apanhado o Graciliano.

A repressão posterior à rebelião de 1935 provocou o aumento da população carcerária da Colônia Correcional Dois Rios, em Ilha Grande, no litoral sul fluminense, em mais de 465% no ano seguinte. Durante o período ali passado, Graciliano conviveu com intelectuais e próceres comunistas, interagindo e compartilhando com eles conhecimentos variados, além da precariedade da vida na prisão. Na descrição de Moraes: “O pavilhão, em forma de U, era uma construção ampla, de dois andares, com cinquenta cubículos, onde se comprimiam cerca de duzentos presos envolvidos na insurreição, a maioria jovens militares. Dividiam os xadrezes com professores, médicos, jornalistas, advogados, sindicalistas, operários e funcionários públicos. Em uma cela dupla no pavimento superior, encontravam-se dez mulheres, entre elas Olga Benario, Beatriz Bandeira, Maria Werneck de Castro, Nise da Silveira, Eneida de Moraes, Elisa Ewert (com traumas mentais pelas torturas sofridas na Polícia Especial), Eugênia Álvaro Moreyra e Carmen Ghioldi”.



O silêncio dos intelectuais acerca de Graciliano foi quebrado com a publicação de dois mil exemplares de Angústia, em novembro de 1936, editado pela Livraria José Olympio, “sonho de todo escritor”, de acordo como Gustavo Sorá. “Romancistas de vanguarda e acadêmicos, críticos e autores de sucesso comercial, historiadores e políticos”. O evento foi noticiado na Revista Acadêmica – fundada em 1933 e dirigida por Murilo Miranda e Moacir Werneck de Castro – com uma foto do romancista ilustrando o alto da página. A mesma revista conferiu à obra o Prêmio Lima Barreto de Literatura. Angústia repercutiu otimamente e valeu a Graciliano um respiro naquele momento de aperto financeiro: um conto e quatrocentos réis. Graças a uma articulação entre Heloísa Ramos (que havia partido para o Rio para lutar pela libertação do marido), Nise da Silveira e Eneida de Moraes, o lançamento do terceiro romance de Graciliano foi celebrado na prisão – não obstante a ranzinzice do homenageado – dando contornos humanos que contrastavam com aquele ambiente desumanizante. Moraes assim descreve a cena: “No maior segredo, Heloísa, Nise e Eneida organizaram uma festa para comemorar a publicação do romance. Com a anuência do major Nunes, alagoano e admirador do romancista, ajeitaram um almoço caprichado, juntando as mesas do salão e decorando a enfermaria com vasos de flores. Ao voltar do terraço, onde fora apanhar sol, Graciliano se espantou com os preparativos: – Que presepada é esta?”.

A intelectualidade brasileira, com raras exceções, esteve engajada na luta pela libertação das centenas de pessoas que permaneciam presas sem culpa formada. Vários jornais intercediam pela revisão desses casos. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) chegou a solicitar ao temido Filinto Müller, chefe da polícia política da ditadura de Vargas, a soltura dos jornalistas que não foram denunciados pelo Tribunal de Segurança Nacional (TSN). Um dos efeitos dessa pressão foi a aprovação, na Câmara dos Deputados, da moção de Octavio Mangabeira solicitando ao presidente Vargas essas libertações. A moção recebeu cento e quarenta e nove votos a favor – incluindo o voto do deputado Pedro Aleixo, líder do governo – e apenas quatro contra.

Augusto Frederico Schmidt, intelectual que gozava do respeito do regime, foi um dos que se manifestaram publicamente pela soltura de Graciliano. Em texto publicado em 22 de dezembro de 1936 com forte repercussão, o editor exaltou as qualidades literárias e pessoais do amigo da seguinte maneira: “O sr. Graciliano Ramos é um dos nomes mais significativos das letras novas do Brasil. Romancista de altos méritos, não transformou absolutamente a sua arte em instrumento de ação política, conservando-a, pelo contrário, num plano livre e puro. [...] Se foi preso, por engano de pessoa, estou certo de que as nossas dignas autoridades não insistirão em apartá-lo da sociedade que ele tanto dignifica”.

José Lins do Rego e o editor José Olympio também apelaram por Graciliano junto aos seus contatos no Palácio do Catete. De acordo com Moraes, José Lins chegou a deixar um recado a Vargas através do escritor Herman Lima, auxiliar do gabinete da presidência da República, nestes termos: “Você diga ao presidente que ele precisa mandar soltar o Graciliano Ramos. Graciliano está preso há um ano, tem sofrido os maiores horrores de prisão em prisão. Esse martírio não pode continuar.” Getúlio respondeu, no dia seguinte, com outro recado através de Herman Lima: “Você diga ao Zé Lins que nesse caso do comunismo eu não mandei prender ninguém, mas também não mando soltar ninguém. Isso é lá com a polícia. Mas autorizo-o falar com o general Pinto, dizendo-lhe de minha parte que indague a Filinto Müller se há alguma coisa apurada contra o Graciliano, e, do contrário, naturalmente que soltem o homem”.



Após dez meses e dez dias encarcerado, Graciliano foi posto em liberdade em 12 de janeiro de 1937, ano em que as tensões políticas se agravariam com o um novo golpe de Estado comandado por Getulio Vargas em 10 de novembro, respaldado pelos chefes militares, diante de uma suposta conspiração comunista forjada pelo Plano Cohen. A nova Constituição, por conter dispositivos autoritários baseados na Carta da Polônia, ficou conhecida como “Polaca”. Conforme se dispunha na “Polaca”, “Vargas governaria por decretos-leis, o Congresso ficaria entregue às traças, a imprensa censurada e os direitos e garantias individuais suspensos”. Pessoas próximas a Graciliano, associadas como uma ameaça ao novo regime ditatorial de Vargas, sofreram também perseguições políticas, e isso mantinha no escritor o temor de retornar à prisão. Nas palavras da pesquisadora Lucila Soares: “Graciliano preocupava-se com a possibilidade de voltar a ser preso – e mais de uma vez constatou estar sendo seguido na rua. Jorge Amado foi detido no Amazonas, quando voltava de uma longa viagem pela América Latina e pelos Estados Unidos. Rachel de Queiroz teve um cárcere sui generis: três meses na sala de cinema do quartel do Corpo de Bombeiros de Fortaleza. E, em pleno carnaval de 1938, ano de Touradas em Madri, Camisa listrada e Periquitinho verde, Tomás Santa Rosa foi levado pela polícia ao sair da José Olympio. Ficou pouco tempo atrás das grades, porque J.O. interveio em seu favor. Mas o episódio deixou evidente que ninguém estava seguro no Estado Novo, a não ser os que apoiavam incondicionalmente o regime”.

Um dos trechos mais ilustrativos desse temor, oriundo da instabilidade de um Brasil que faz história de golpe em golpe, talvez seja a carta que Graciliano enviou à sua esposa Heloísa em 28 de fevereiro de 1937, comentando a opinião de José Lins do Rego sobre o regime de exceção: “Zélins acha excelente a nossa desorganização, que faz que um sujeito esteja na Colônia hoje e fale com ministros amanhã; eu acho ruim a mencionada desorganização, que pode mandar para a Colônia o sujeito que falou com o ministro”.

Transcrito de http://lounge.obviousmag.org/espaco_cosmico/2016/05/leituras-gracilianicas-em-tempos-de-golpe.html#ixzz4hkQRfatp

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A elite brasileira suicida-se

Ruben Bauer Naveira

Nós vamos, um dia, amadurecer como povo e realizar
nossa potencialidade. E vamos então varrer a canalha
Darcy Ribeiro

Essa frase curta, “a elite brasileira suicida-se”, contém dois erros.

Primeiro: jamais houve elite neste país. O que temos aqui não passa de uma classe dominante que, por preguiça intelectual, volta e meia é chamada de elite – conceito que, em qualquer país, diz respeito a um extrato social que avoca para si a responsabilidade de traçar o destino da sua nação e fazê-lo cumprir. Nunca houve nada assim no Brasil, lugar em que os horizontes da classe dominante não passam da acumulação predatória e do consumo ostentatório.

Segundo: no curto prazo, a classe dominante não corre risco de morte. Não há então nenhum suicídio iminente. Será, porém, no médio-longo prazo, que a classe dominante brasileira acabará por perceber, da pior maneira possível, que terá sido a sua própria natureza que lhe terá conduzido a seu fim.

Como a 'elite' se vê e como não vê os brasileiros, como seus grandes artistas

Darcy Ribeiro sonhou com um povo que, por tomada de consciência, completava o seu processo de formação. O que ele não podia imaginar era que tal salto seria induzido de forma tão paradoxal, pela inconsequência da própria classe dominante. Mesmo que ainda demore muitos anos, o ponto-de-não-retorno foi ultrapassado, é então questão de tempo.

Antes de mais nada, nenhum país vive sem instituições, e as nossas se inviabilizam a olhos vistos. Instituições que, historicamente, foram construídas segundo os interesses da classe dominante: Charles Darwin, em sua estada no Brasil em 1832, registrou, repugnado, que “não importa a monta das acusações que possam pesar contra um homem de posses, é certo que em pouco tempo ele estará livre”.


Para que servem as instituições?

Ao menos a título formal, instituições existem para servir à sociedade e para edificar o futuro da nação. Como foi dito, no Brasil isso jamais aconteceu (como poderia, se não temos elite?) mas, pelo menos, ainda se guardavam as aparências. Agora, esfrega-se na cara da sociedade que as instituições existem tão somente para servir a si próprias.

Nossas instituições funcionam normalmente. Elas cumprem seus ritos e protocolos, executam seus orçamentos, nelas se tomam decisões e se definem políticas públicas. Mas, perante a sociedade, instituições vivem de veracidade ou, ao menos, de verossimilhança. Instituições até podem servir a si próprias enquanto fingem que servem ao bem comum, mas não podem simplesmente se cansar de fingir e estampar perante a sociedade uma realidade que ela preferiria não conhecer. Desencanto é sem volta.

As instituições brasileiras têm funcionalidade, o que elas não têm é sentido.

Para que se cumpra a antevisão de Darcy, o mais difícil já aconteceu. Graças à insegurança, cegueira, afobamento, inconsequência e ganância sem freios da classe dominante (mais uma vez passando recibo de não ser merecedora de ser vista como elite), o conjunto da sociedade vai se dando conta que essas instituições são imprestáveis, e terão que ser transmutadas.

Falta ainda algo já não tão difícil, na medida em que depende de nós: a unificação da sociedade em torno de um projeto para essa transmutação.

Ora, o atributo número um para tal projeto será sua qualidade de, justamente, unificar a sociedade. Terá que ser este o ponto de partida para a concepção do projeto.

O propósito deste artigo é apresentar três propostas concretas nesse sentido, respectivamente formuladas em torno dos conceitos de Constituinte dos Cidadãos, de Grupos de Diálogo e de Democracia Direta, as quais serão descritas ao final do texto.


A paixão não-correspondida da classe média pela classe dominante

Previsivelmente, a classe dominante lança mão do expediente clássico de dividir para governar. Por via da manipulação, ela atiçou preconceitos latentes da dita classe média, com duplo propósito: jogá-la contra as classes desfavorecidas e contra quem governasse em favor destas; e alinhá-la aos seus interesses, ainda que contrários aos dela própria.

(Nota: este processo se encontra descrito em profundidade no recente livro de Jessé de Souza, A Radiografia do Golpe: Entenda como e porque você foi enganado. Para uma introdução ao argumento de Jessé, ver https://www.facebook.com/souza.jesse225/posts/10203070013027649).

Muito simplificadamente, a classe média, desde sempre inconformada com os privilégios dos “de cima” (em especial o privilégio de fazer leis para serem cumpridas por todos, menos eles próprios), privilégios que ela condena da boca para fora mas que intimamente inveja e anseia para si, ficou ainda mais desconfortável a partir do momento em que os “de baixo” passaram também a contar com acesso, por mínimo que fosse, à Terra Prometida (leia-se, aos recursos do Estado). “Todo mundo mama, menos eu!”, foi como ela sentiu.

A classe média é hoje, possivelmente, a mais numerosa no país:
- a classe E são os miseráveis;
- a classe D são os pobres;
- a classe C é a classe média baixa;
- a classe B é a classe “média-média”;
- a classe A é a classe média alta.
Nenhuma dessas é classe dominante.

A classe A não são os ricos. O IBGE denomina “família de classe A” àquela cuja renda familiar seja acima de vinte salários mínimos, quase dezenove mil reais. Consideremos arbitrariamente o dobro disso: uns quarenta mil reais. Por acaso uma família com renda mensal de 40 mil reais possui helicóptero (não precisa ser jatinho)? Possui lancha esportiva (não precisa ser iate) com, claro, atracadouro próprio? Possui carro esportivo importado (um só, não precisa ser uma coleção)? Possui propriedades no exterior? Possui conta bancária no exterior com saldo equivalente a mais de um milhão de reais?

A classificação do IBGE busca, propositadamente, ocultar os ricos, diluindo-os na classe média alta.
Os ricos formam aquela que poderia ser chamada a classe AA. Arbitrariamente, estipulemos que a classe AA seja aquela cuja renda familiar esteja acima de cem mil reais. Isso são menos que 0,1% – zero vírgula um por cento – da população. E esses menos de 0,1% possuem praticamente metade de toda a riqueza nacional: eis a classe dominante.

Já a classe média, composta pelo conjunto das classes A, B e C, é numericamente tão expressiva quanto as classes desfavorecidas (as classes D e E).

De forma direta: sem a classe média, será impensável qualquer projeto para que a sociedade avoque para si as instituições e sua reconcepção.

Ocorre que a classe média não se vê como classe dominada. Primeiro, porque ela almeja ascender à classe dominante (como se o poder no Brasil não fosse regido pela lei maior da concentração), e ademais porque ela sempre se prestou a instrumento da classe dominante para a dominação mais ostensiva das classes desfavorecidas. Ela, dominadora dos que lhe estão abaixo, pode não se ver como dominada pelos que lhe estão acima, mas é. Guardadas as devidas proporções, a mesma desconsideração pelas pessoas – a mesma ausência de cidadania – está tanto na opressão exercida contra os “de baixo” pela instituição Polícia Militar nas periferias e favelas quanto naquela exercida contra a classe média por instituições como DETRAN, Receita, INSS, na fiscalização aos pequenos comerciantes etc.

Isso pode até não ser percebido assim. Porém, tudo o que agora se encontra em curso será um trauma e tanto para a classe média:
- a estagnação econômica do país derrubará os níveis de consumo das famílias, prejudicando sobremaneira os micro e pequenos empreendedores;
- o congelamento dos gastos públicos (PEC 55/241) terá impacto não somente sobre a saúde e educação públicas (de que a classe média tenta prescindir), mas degradará também a qualidade dos serviços públicos em áreas que lhe são caras, como mobilidade urbana e segurança;
- a reforma previdenciária desqualificará os melhores empregos (que são os da classe média), pela postergação da aposentadoria;
- a reforma trabalhista (com o virtual fim da CLT) será catastrófica para as classes desfavorecidas. Isso virá reduzir custos para os micro e pequenos empreendedores, contudo reduzirá também o poder geral de compra da população – afora que causará um crescimento da criminalidade;
- a entrega do pré-sal aos estrangeiros prejudicará o desenvolvimento do país, comprometendo a qualidade de vida das próximas gerações.
Já a classe dominante só terá a ganhar com tudo isso:
- o domínio cada vez mais direto sobre as instituições lhe permite fazer valer ao máximo os seus interesses;
- ela vive do rentismo (coisas como emprego, salário ou aposentadoria não lhe dizem respeito), de futuro glorioso agora que o gasto público foi resguardado para o pagamento dos juros da dívida pública;
- será a grande beneficiária da redução geral dos custos do trabalho (mesmo que certos segmentos industriais ainda dependam do mercado consumidor interno);
- seus laços com o Brasil limitam-se à extração de riqueza, a qual ela desfruta no exterior; ela pode assim se manter alheia à degradação das condições de vida no país.

Em adição a tudo isso, virá uma reforma tributária ainda obscura, mas de que não cabe duvidar que aliviará a carga tributária da classe dominante e pesará a mão sobre todas as demais.


A janela de oportunidade do choque de realidade

Encontra-se assim em curso um processo que empurra a classe média para um choque de realidade, um abalo na sua visão de mundo histórica, pela qual a riqueza é o prêmio dos mais fortes, um lugar ao sol que se conquista na marra, na base do cada um por si (“farinha pouca, meu pirão primeiro”, que no Brasil pode ser lido como “Estado pouco, meu privilégio primeiro”). Visão de mundo que toma por fato natural da vida a dominação dos de baixo pelos de cima, bem como a decorrência disso, a desigualdade.

Aos dominados cabe resignar-se a essa sua condição natural. O pior dos crimes que um dominado pode cometer é afrontar seus dominadores: um escravo que enfrentasse o feitor ou capataz era torturado com os mais atrozes suplícios, e sublevações como as da Cabanagem e de Canudos foram “pacificadas” por genocídio. Hoje, das violências que os dominados cometam entre si a sociedade se exime com menosprezo, mas, para a menor violência cometida por um dos “de baixo” contra um dos “de cima”, cadeia não basta: a sociedade considera natural, e até bom, que a cadeia violente, desumanize e brutalize o infeliz mais e mais a cada dia, afinal bandido bom é bandido morto (o que, obviamente, não se aplica quando acontece de o criminoso ser um dos “de cima”).

Em uma palavra: medo.

Desde 1500, somos uma sociedade em que cada um que se vire para conquistar, e defender, aquilo que for capaz de juntar. Isso não nos constitui como sociedade, no sentido pleno desse termo. Isso instila um sentimento permanente de medo de perder aquilo que se conseguiu juntar. Daí o ódio atávico à esquerda – inclusive por parte dos ex-pobres recém-ascendidos. Não importa que governos da esquerda tenham promovido a prosperidade e que o governo que derrubou a esquerda traga a ruína, atenuar a desigualdade seria desmanchar a ordem natural das coisas, inocular caos no mundo. A classe média tende a ver o miserável que recebe Bolsa-família e o pobre que tem acesso a Prouni, Pronatec, Minha Casa Minha Vida como gente que vai querer sempre mais (afinal, não somos todos assim?) e, como nunca houve riqueza bastante para todos (afinal, não foi sempre assim?), ela correria o risco de acabar ficando sem a dela.

Foi para afastar esse “perigo” que a classe média ocupou as ruas vestida de amarelo (não por acaso, a cor que na bandeira simboliza riqueza) e bateu suas panelas na varanda, sem se aperceber que era usada pela classe dominante para, no momento seguinte, ser traída e descartada. Essa, a paga pela sua adesão: foi por ter na classe dominante o seu ideal de vida (“a burguesia quer ficar rica”, cantava o poeta Cazuza) que a classe média sempre tomou ameaças existenciais à classe dominante como ameaças a si própria.

Oxalá esses brasileiros enxerguem que não têm a menor chance de faturar o bônus de “chegar lá” passando a fazer parte do menos de 0,1%, afinal, é matematicamente insano que 50% ou mais da população desejem isso. Ficam sem o bônus, mas com o ônus de conviver numa sociedade envenenada, vida afora, em nome dessa sua fantasia. Muito mais gratificante será vivermos todos numa sociedade saudável, alicerçada em instituições verdadeiramente cidadãs (a começar por uma educação e uma justiça que mereçam esses nomes).

O Brasil há de acordar dessa bad trip que já se arrasta por mais de quinhentos anos. Para que possa finalmente sair dela, o que se abre a partir de agora é uma janela de oportunidade inédita na História: esse brutal choque de realidade.

Ter as suas crenças confrontadas pela realidade dos fatos é um processo penoso e doloroso para quem quer que seja. Quanto mais penoso e doloroso venha a ser sentido, mais a ele se reage pela reafirmação da crença disfuncional e pela negação da realidade dos fatos.

A classe média tenderá assim a uma maior segmentação, aqueles mais reflexivos poderão dar conta de reciclar essa mentalidade histórica enquanto que aqueles mais irreflexivos se agarrarão mais e mais às suas “verdades” de sempre (em especial a de que nada deve mudar), facilitando assim sua manipulação pela classe dominante.

Sem o apoio da classe média, a classe dominante será como que uma cabeça sem corpo. Seus braços, suas pernas, são os segmentos da classe média que se dispõem a servi-la. Sem estes, a classe dominante não passa de um gigante de pés de barro.

Por isso se pode dizer que a “elite” (aspas) brasileira comete suicídio: não bastasse estampar a iniquidade dessas instituições que ela, historicamente, impôs ao país, a classe dominante, ao predar a classe média, bota a perder os alicerces que (também historicamente) lhe dão sustentação.


Caminha o Brasil para uma ditadura fascista?

De uma democracia precária, mas minimamente funcional, o Brasil passou a uma democracia de fachada, uma farsa que só perdurará enquanto se mostrar minimamente útil à classe dominante – que aliás jamais teve qualquer vocação democrática; na célebre frase de Sérgio Buarque de Holanda, “a democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido. Uma aristocracia rural e semifeudal importou-a e tratou de acomodá-la, onde fosse possível, aos seus direitos ou privilégios”. Uma pseudodemocracia em estado de “guerra institucional”, com cada instituição agindo como se fosse a única, se permitindo ir contra as demais em prol da sua agenda individual em lugar de compor com elas um todo funcional, aporta mais custos que benefícios, pelo que não terá vida longa.

Em futuro próximo é assim provável uma ditadura como um regime abertamente fascista, e não necessariamente pela via de algum golpe militar à la 1964, posto terem os aparatos policial e judicial se acumpliciado numa simbiose essencialmente antidemocrática: as PMs estaduais há muito desempenham o papel repressor que no passado coube às forças armadas.

Entretanto, uma ditadura fascista tampouco teria vida longa, pois ela dependeria do grau de adesão que conseguisse angariar na classe média, o que não teria sustentação no tempo. Paradoxalmente, a opressão de uma ditadura acabaria por ser mais percebida pela classe média do que pelas classes desfavorecidas, que há muito já padecem, cotidianamente, da repressão pelo Estado.
A ditadura fascista, caso de fato advenha, será uma fase a mais a ser superada. A chave para que ela dure menos (ou nem chegue a ocorrer) reside na construção de uma alternativa para a classe média: um projeto para que o conjunto da sociedade assuma a tarefa de transmutação das instituições.


Forma, em vez de conteúdo

Foi dito que o atributo primordial de tal projeto é ser unificador da sociedade. Ocorre que nenhum conteúdo político pode ser unificador. Qualquer unificação somente poderá se dar na forma política.
Forma, em vez de conteúdo. Água e azeite, conteúdos diferentes, não se misturam. Isso não impede que, numa receita culinária (forma), participem ingredientes como a água e o azeite (conteúdos), reunidos no propósito mais abrangente da preparação de uma comida.

Ademais, os valores da classe média brasileira estão em geral longe de ser valores de esquerda. Com o que sonha um típico brasileiro da classe C? Com um emprego assalariado digno, respaldado por um sindicato forte (visão da esquerda)? Ou com um mínimo negócio próprio, ainda que na economia informal, que no futuro possa ser passado a um filho (visão pequeno-burguesa)? Por que deveria uma visão ser mais legítima que a outra?

Imperioso e urgente é conceber uma forma de participação política capaz de acolher distintos (e mesmo antagônicos) conteúdos políticos, em prol de um propósito maior que seja unificador de tais conteúdos: levar a sociedade a assumir nossas instituições, para transmutá-las em instituições verdadeiramente cidadãs.

A travessia se fará, de um modo ou de outro. É o destino, como anteviu Darcy. Quanto mais unificada esteja a sociedade menor o custo, em sangue e em dor.

O termo “coxinha” (que neste texto estará sempre grafado entre aspas) tem origem num apelido da periferia paulistana aos soldados da polícia militar (em geral oriundos dessa mesma periferia), para ironizar o fato de que, não obstante todo o poder e opressão que são capazes de exercer, recebem baixos salários, não passando assim de iguais na servidão e na exploração pela classe dominante – pelo que não contam com alternativa melhor do que alimentar-se de frituras de balcão de botequim.

Assim, “coxinha” é aquele que se deixa usar, em nome de interesses no fundo contrários aos seus próprios. Trata-se obviamente de um termo pejorativo, que subentende uma superioridade moral por parte daquele que o usa. Já dizia Carl Gustav Jung que não se pode ajudar ninguém a mudar fazendo-o sentir-se mal. Os “coxinhas” precisam ser resgatados da órbita dos fascistas (que parecem muitos apenas porque fazem muito barulho), não deixados no mesmo saco que estes.

Ficarão de fora a priori da forma política unificadora a ser instaurada apenas aqueles conteúdos políticos que sejam exclusivistas a ponto de negar o direito à existência dos que deles divirjam: ao recusar qualquer projeto da natureza unificadora, eles próprios se autoexcluirão. Trata-se, claro, do fascismo, algo que no fundo não passa de sociopatia, como bem o descreveu Norberto Bobbio: “o fascista fala o tempo todo em corrupção. Ele acusa, insulta e agride, como se fosse puro e honesto. Mas o fascista é apenas um criminoso comum, um sociopata que faz carreira na política. No poder, essa direita não hesita em torturar, estuprar e roubar sua carteira, sua liberdade e seus direitos. Mais do que a corrupção, o fascista pratica a maldade”.


Uma nova utopia para o Brasil (três guias para sairmos do caos)

Milton Santos dizia que “a força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando conseguem identificar apenas o que os separa e não o que os une”. Há que encorajar os brasileiros, historicamente separados, à identificação daquilo que os una.

Três formas políticas de unificação, para um projeto de refazimento das instituições pela sociedade, encontram-se propostas no livro Uma Nova Utopia para o Brasil: Três guias para sairmos do caos (que pode ser livremente baixado no site www.brasilutopia.com.br):
– Uma Constituinte dos Cidadãos (não dos políticos!), inspirada na constituinte havida na Islândia em 2010-11, para o dia em que sejam retomadas as jornadas de junho de 2013, de modo a que seja a bandeira em comum que nos faltou naquela ocasião;
– Os assim chamados Grupos de Diálogo: uma metodologia a ser praticada localmente por todo o país, para, em um esforço de investigação e elucidação das raízes (que são de fundo cultural) dos conflitos sociais, encarar de frente a miséria da mentalidade brasileira; e
– A implantação da Democracia Direta como um espaço aberto a todos que queiram praticá-la, por meio de um partido político “cavalo de Tróia” que venha a romper com o monopólio do sistema político-partidário.

Muita energia vem sendo dispersada na busca de alguma solução mais imediata, como eleições diretas. Ora, de que servirão eleições diretas, se a classe dominante fará moldar a legislação eleitoral de modo a que vença o seu candidato (sem contar artimanhas como parlamentarismo)? Mesmo em um cenário otimista, em que venha a ganhar algum candidato pró-restauração da democracia, como conseguiria ele ou ela governar, se o chamado presidencialismo de coalização foi liquidado, e se instituições como o judiciário, o ministério público e a polícia estão fora de qualquer controle exterior a elas próprias, e obcecadas em impor ao país as suas agendas?

Não é mais factível uma saída institucional, posto que as instituições já se encontram pervertidas a um ponto irrecuperável. Já passa da hora de substituir essa visão de curto prazo, das soluções superficiais, por uma visão de processo histórico a médio-longo prazo.

A um povo desprovido de elite resta somente o caminho de fazer-se elite de si próprio – como nos indicou Darcy Ribeiro.

Transcrito de http://jornalggn.com.br/noticia/a-elite-brasileira-suicida-se-por-ruben-bauer-naveira#.WJuhHEE4eDA.
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sexta-feira, 1 de julho de 2016

A leitura literária na formação docente em Letras: o Projeto 'Ciclo Literatura Comentada'

Ellen dos Santos Oliveira (Graduanda/FSLF)
Profa. Dra. Vilma Mota Quintela (Orientadora/FSLF)

É indispensável para os estudantes de graduação em Letras o conhecimento literário a partir de leituras de obras consideradas obrigatórias para a formação acadêmica. É importante tanto para os docentes quanto para os discentes que haja preocupação com a formação literária no curso de Letras, considerando-se que, provavelmente, estes venham a se tornar futuros professores de Língua Portuguesa e Literatura. Assim sendo, esses formandos terão, entre tantos, um grande desafio a cumprir durante a sua jornada profissional, qual seja: formar leitores literários.

Quanto a isso, é importante ressaltar que, antes de se tornar apto a formar, o formador preciso ser formado. Ciente de que a formação deve ser contínua, ou seja, iniciar-se na graduação e estender-se a toda a vida profissional, um questionamento que o professor de literatura deve ter em mente é: Literatura pra quê? Para ensinar literatura, o professor deve ter noção da dimensão da importância dessa produção cultural para a sociedade, para, assim, poder compreender e refletir sobre sua prática docente.

Em seu livro Literatura para quê (2009), Antoine Compagnon argumenta que a literatura deve ser lida e estudada porque oferece um meio de preservar e transmitir a experiência daqueles que estão distante de nós no espaço e no tempo, ou que diferem de nós por suas condições de vida. Ela torna patente o fato de que os outros são muito diversos de nós e de que seus valores se distanciam dos nossos.

Já o crítico e sociólogo Antonio Candido, em A literatura e a formação do homem, explica o papel da literatura na formação do homem e na sociedade. Segundo ele a literatura possui a capacidade de humanizar o sujeito, ou seja, confirmar a humanidade do homem. Para Candido, a literatura desperta no leitor o interesse por elementos contextuais. O leitor é despertado a ver como o texto é formado a partir de um contexto, e ver “os problemas individuais e sociais que dão lastro às obras e as amarram ao mundo onde vivemos”. (CANDIDO, 1972, p. 77 e 79)

Abreu parece concordar com esse ponto de vista ao comentar que “a literatura nos transforma em pessoas melhores, pois ao ler ficamos sabendo como é estar na pele de gente que leva uma vida muito diferente da nossa, passando por situações inusitadas”. (ABREU, 2006, p.81) Segundo Candido, a literatura atua de forma psíquica e social, isto é, ele a vê “como algo que exprime o homem e depois atua na própria formação do homem”. (CANDIDO, 1972, p. 80)

O autor identifica três funções específicas que se relacionam entre si, quais sejam: a função psicológica, a função formadora e a função social. A função psicológica se dá devido à capacidade e à necessidade que o indivíduo tem de fantasiar, seja através da literatura escrita, ou oral. Segundo o autor, o ser humano depende da literatura, sendo esta co-extensiva à vida humana, seja individual ou em grupo.

A função formativa surge da ligação entre a fantasia e a realidade, visto que a literatura atua na formação do indivíduo como instrumento educativo específico. Enquanto tal, ela se justifica por um ponto de vista mais complexo que o estritamente pedagógico, pois irá formar o indivíduo, apresentando-o à realidade que a classe ideológica dominante tenta esconder, no sentido em que a ideologia traça regras cívicas e morais a fim de instruir o indivíduo.

É através da literatura que o indivíduo tem a possibilidade de ampliar sua visão de mundo e do outro, pois no texto literário a realidade é expressa, e “mesmo as obras consideradas indispensáveis para a formação do moço trazem frequentemente o que as convenções desejariam banir”. (idem 83 e 84)

A função social atua no sentido de reconhecimento universal e individual, permitindo ao homem conhecer a realidade que o cerca e que é transposta para a ficção. Pois, quando a realidade é apresentada na obra literária de forma fidedigna, possibilita que o leitor identifique seu mundo com o mundo fictício da obra, e também se auto identifique através dos personagens. O autor cita como exemplo as obras regionalistas que são uma espécie de documentário da realidade crítica social, da condição humana em determinado período histórico. Nesse sentido, a literatura atua como uma denúncia social.

Já o leitor, a partir da leitura, socializa essa denúncia. (idem, p.83) De acordo com Todorov, como a filosofia e as ciências humanas, a literatura é pensamento e conhecimento do mundo psíquico e social em que vivemos. A realidade que a literatura aspira compreender é a experiência humana. A propósito, diz o autor: "Sendo o objeto da literatura a própria condição humana, aquele que a lê e a compreende, se tornará não um especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser humano". (TODOROV, 2009, p. 92-93)

Educar supõe uma arte de fazer, e o texto literário permite ao leitor falar de si mesmo, dialogar com outros homens, em um movimento que já é uma forma de universalidade, à qual deve chegar toda educação que não se limite a “fabricar” algo. (MEIRIEU 1999 apud BRAYNER 2005, p.18) Foi tendo em vista a importância que a literatura tem sobre homem e a sociedade, e tentando suprir a necessidade de formar leitores literários durante a formação docente em Letras que foi idealizado o projeto “Ciclo Literatura Comentada”.

Nesse sentido, o referido projeto surgiu a fim de proporcionar aos estudantes do curso de Letras e demais interessados uma leitura orientada e comentada de obras literárias consideradas indispensáveis, objetivando despertar o interesse para o início de uma formação literária contínua. A seguir, uma breve exposição da proposta e uma reflexão sobre os seus resultados parciais.

1. O Projeto do Ciclo Literatura Comentada

A realização do Ciclo Literatura Comentada se justifica pela necessidade de formar leitores e desenvolver leituras de obras literárias consideradas como “Leituras obrigatórias” para os graduandos em Letras, e futuros professores de literatura. Este projeto iniciou em 25 de Fevereiro e encerra em 08 de dezembro de 2012. Durante esse período serão realizados onze encontros. Em cada encontro é comentada uma das obras literárias escolhidas.

É estipulado um prazo para leitura das obras, e durante os encontros são expostos vídeos biográficos, ou filmes adaptados, a fim de proporcionar o conhecimento acerca do contexto histórico de escritores e suas respectivas obras. Na sequência, professores convidados comentam as obras e abrem espaço para um debate, estabelecendo um diálogo entre docentes e discentes. Assim os estudantes podem se posicionar e contribuir com o seminário a partir das leituras desenvolvidas. Eles também têm a oportunidade de desenvolver análises sobre as obras lidas para apresentá-las no último dia do projeto, previsto para dezembro de 2012.

As obras literárias, cujos nomes estão grifados em negrito na tabela abaixo, são as obras que foram escolhidas para serem lidas e comentadas durante o Ciclo Literatura Comentada . Foram selecionados romances incluídos na lista indicada nos dois últimos Exames Nacionais de Desempenho de estudante (ENADE 2008 E 2011), tal como estão dispostas na portaria nº 131, de 7 de agosto de 2008, e Portaria Inep nº 222 de 26 de julho de 2011, conforme a tabela abaixo:

       ENADE:
As questões de estudos literários deverão enfocar os seguintes autores e obras:

Obras em prosa exigidas em 2008
Obras em prosa exigidas em 2011
a) José de Alencar - Senhora
b) Aluísio de Azevedo - O cortiço
c) Machado de Assis - Quincas Borba
d) Guimarães Rosa - Primeiras Histórias
e) Graciliano Ramos - Vidas secas
f) Clarice Lispector - Hora da Estrela
g) Jorge Amado - Capitães da Areia
h) Lygia Fagundes Telles - As horas nuas
i) Eça de Queiroz - Primo Basílio
j) José Saramago - Memorial do Convento
k) Gabriel García Márquez - O amor nos tempos do cólera
l) Júlio Cortázar - Contos completos
m) Gustave Flaubert - Madame Bovary
n) Miguel de Cervantes - Dom Quixote
o) Émile Zola - Germinal
p) Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) Mayombe;
a) José de Alencar - Lucíola
b) Adolfo Caminha - Bom crioulo
c) Machado de Assis - Memorial de Aires
d) Guimarães Rosa - Miguilim
e) Érico Veríssimo - Um certo capitão Rodrigo
f) Clarice Lispector - Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres
g) Jorge Amado - Capitães da Areia
h) Luiz Vilela -Tarde da noite
i) Eça de Queiroz - As cidades e as serras
j) José Saramago - Ensaio sobre a cegueira
k) Gabriel García Márquez - Cem anos de solidão
l) Mia Couto - Terra sonâmbula
m) Júlio Cortázar - Contos completos
n) Gustave Flaubert - Madame Bovary
o) Miguel de Cervantes - Dom Quixote
p) Émile Zola - Germinal
q) Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) – Mayombe.

                            Figura 2:Relação de obras literárias em prosa indicadas pelo Enade 2008 e 2011

Além de contribuir para a prática da leitura literária, O Ciclo Literatura Comentada também possibilita aos estudantes o conhecimento profundo dessas obras, apontando tal fato para a importância da realização do projeto no âmbito universitário.

2. Uma Pesquisa em Andamento

Durante o Ciclo Literatura Comentada, foi aplicado um questionário aos estudantes participantes com o objetivo de diagnosticar o que estes entendem por literatura, o motivo que os levaram a participar do projeto e a bagagem literária que eles trazem. Nesse questionário, eles são convidados a responder às seguintes perguntas: Você gosta de Literatura? O que você entende por Literatura? Por que você está participando do Ciclo Literatura Comentada? E como você acha que o ciclo pode contribuir para a sua formação? Qual ou quais dessas obras literárias você já leu?  Qual ou quais das bibliografias citadas acima você pretende ler? Por quê?

A pesquisa ainda se encontra em desenvolvimento, mas já foi possível analisar dados de 66 entrevistados, sendo, todos estes, participantes do Ciclo Literatura Comentada. A partir da análise dos dados obtidos, o que se pôde constatar é que 87% dos estudantes entrevistados responderam que gostam de literatura; 4% responderam que não gostam; e 4% não responderam a essa pergunta.

SOBRE A PERGUNTA:
Você gosta de Literatura?

Nº de alunos
Respostas
Percentual
58 responderam
Sim
87,87%
4 não responderam
Não
6,06%
4 responderam
Não responderam
6,06%
                  Figura 3:Tabela demonstrativa do percentual de alunos que gostam de literatura

Ao serem questionados sobre o motivo desses estudantes estarem participando do Ciclo Literatura Comentada, eles deram respostas bem semelhantes, muitos deles buscam adquirir conhecimentos literários.

Algumas respostas demonstram a preocupação com a formação acadêmica e a prática docente de ensino-aprendizagem, como se observa nas respostas abaixo reproduzidas: “Participo pelo fato de considerar a literatura fundamental para o ser humano e, para mim, na condição de estudante de Letras trata-se de um conhecimento necessário para uma boa formação”. “O objetivo da participação do evento é enriquecer, aprofundar meus conhecimentos literários, pois creio que irão contribuir tanto no meio acadêmico quanto em sala de aula (prática) ensino/aprendizagem”. “Porque procuro discussões sobre literatura. O Ciclo pode fomentar em mim a busca constante pelo conhecimento literário”. “ Para obter mais conhecimentos e para poder transmitir esse conhecimento para os meus alunos”.

Para aqueles alunos que responderam não gostar de literatura, o projeto serve, como uma prática de incentivo e formação à leitura literária a fim de despertar interesse e aptidão no que diz respeito à disciplina. Percebe-se, com isso, que eles parecem ter certa noção da necessidade de compreender e entender a literatura, como se pode observar nas respostas abaixo elencadas: “ Porque [...] talvez eu possa interessar - me por literatura” “ Porque é necessário. De maneira positiva” “Estou participando como forma de interação, informação para ter aptidão diante da disciplina”. “Para adquirir mais conhecimento e entendimento sobre a Literatura”.

Ao serem perguntados sobre as obras lidas, pode-se diagnosticar que a mais lida pelos estudantes foi A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. Dentre os entrevistados, 56% responderam que já haviam lido essa obra; 54% afirmaram já ter lido Vidas Secas, de Graciliano Ramos; 53% leram O Cortiço, de Aluízio de Azevedo; 45,45%  leram Capitães de Areia, de Jorge Amado; 34,84% leram Quincas Borba, de Machado de Assis; 30,30% leram Os Maias, de Eça de Queirós; 15,15% leram Dom Quixote, de Miguel Cervantes; 10,60%  leram Madame Bovary, de Gustave Flaubert; e apenas 3,03 % leram As Horas Nuas, de Lygia Fagundes Teles, sendo esta a menos lida pelos estudantes. Pode-se constatar também que 4,54% responderam não ter lido nenhuma dessas obras elencadas. Conforme demonstra a tabela abaixo:


             Percentual de entrevistados que leram as obras literárias

Obra Literária
Núm. de pessoas que leram
Percentual
A Hora da Estrela, de Clarice Lispector
37
56%
Os Maias, de Eça de Queirós
20
30,30
Quincas Borba, de Machado de Assis
23
34,84%
Vidas Secas, de Graciliano Ramos
36
54,54%
Capitães de Areia, de Jorge Amado
30
45,45%
O Cortiço, de Aluízio de Azevedo
35
53,30%
As Horas Nuas, de Lygia Fagundes Teles
2
3,03%
Madame Bovary, de Gustave Flaubert
7
10,60%
Dom Quixote, de Miguel Cervantes
10
15,15%
Nenhuma
3
4,54%
             Figura 4:Tabela demonstrativa do percentual sobre a leitura das obras literárias


A maioria dos estudantes (65,14%) leu de uma a três das obras literárias elencadas. 13,63% leram quatro das obras escolhidas; 9,09% leram cinco das obras escolhidas; 3,03% leram seis das obras escolhidas; 3,03% leram sete das obras escolhidas; 1,51% leu oito das obras escolhidas; e nenhum estudante havia lido todas das escolhidas. Como mostra a tabela abaixo:

              Quantidade de obras lidas pelos estudantes de Letras entrevistados

Quant. de estudantes que leram
Quantidade de obras literárias
Total
10 estudantes leram
1 das obras escolhidas
15,15%
14 estudantes leram
2 das obras escolhidas
21,21%
19 estudantes leram
3 das obras escolhidas
28,78%
9 estudantes leram
4 das obras escolhidas
13,63%
6 estudantes leram
5 das obras escolhidas
9,09%
2 estudantes leram
6 das obras escolhidas
3,03%
2 estudantes leram
7 das obras escolhidas
3,03%
1 estudantes leram
8 das obras escolhidas
1,51%
Nenhum estudante leu
9 das obras escolhidas
0%
3 estudantes leram
Nenhuma das obras escolhidas
4,54%
             Figura 4:Tabela demonstrativa do percentual da quantidade de obras literárias lidas pelos estudantes

Considerações Finais

O Ciclo Literatura Comentada , como é dito anteriormente, destina-se, não a sanar, mas a contribuir para a elevação do ainda muito baixo nível de leitura literária desses formandos em Letras, aspecto notável nas considerações elaboradas sobre os resultados obtidos na pesquisa diagnóstica acima referida. Cumpre aqui ressaltar: em nosso entender, a docência em Letras deve focar projetos que contribuam para a formação de leitores literários, sendo esse um dos grandes desafios do professor de Língua Portuguesa e Literatura.

A propósito, concluiu-se com a análise aqui apresentada que a maioria dos estudantes participantes do projeto Ciclo Literatura Comentada gostam de literatura. Há um índice de participação bem pequena (6,06%) de estudantes que dizem não gostar de ler. Esse aspecto não deixa de ser significativo, pois é evidentemente preocupante o fato de que, muitas vezes, o estudante de Letras chega ao curso com uma bagagem literária exígua.

No desenvolvimento do projeto Ciclo Literatura Comentada ,  constatamos que, sendo um projeto de longa duração (dez meses), o mesmo pode vir a contribuir, significativamente, para o processo de formação de leitores literários, constituindo-se, tal atividade, como uma importante prática educativa. Quanto a isso, convém lembrar que essa formação deve ser algo contínuo, podendo ser iniciada durante a graduação.

Em suma, podemos desde já concluir que as leituras e os debates desenvolvidos durante o projeto em análise têm sido eficazes na formação reflexiva e no posicionamento crítico desse leitor diante do texto literário.

Referências

ABREU, Márcia. Cultura Letrada: literatura e leitura. São Paulo: UNESP, 2006.

BRAYNER, Flávio Henrique Albert. Como salvar a educação (e o sujeito) pela literatura: sobre Philippe Meirieu e Jorge Larrosa. Pernambuco: Revista Brasileira de Educação. nº 29, mai.jun.-jul.ago.2005. p.63-72.

CANDIDO, Antônio. A literatura e a formação do homem. São Paulo: Ciência e Cultura, 1972, v. 24, n. 9.

COMPAGNON, Antoine. Literatura para quê? Trad. Laura Taddei Brandini. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.

MEC. Manual Enade 2011. Brasília-DF, mai.2011. Disponível em: http://www.ufrb .edu.br /prograd /index.php/projetos-pedagogicos-dos-cursos/doc_details/682-manual-enade-2011. Último acesso em: jul. 2012.

MEC. Portaria Inep No 131, de 7 de agosto de 2008. Considera as definições estabelecidas pelas Comissões Assessoras de Avaliação da Área de Letras e da Formação Geral do Enade, nomeadas pela Portaria Inep nº 95, de 24 de junho de 2008. Diário Oficial da União. Nº 153, Seção 1, 11 de agosto de 2008, p.12.

MEC. Portaria Inep nº 222 de 26 de julho de 2011. Considera as definições estabelecidas pela Comissão Assessora de Área de Letras, nomeada pela Portaria Inep nº 155, de 21 de junho de 2011. Diário Oficial da União, 27 jul. 2011, Seção 1, p. 18 e 19.

TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Trad. de Caio Meira. Rio de Janeiro: Difel, 2009.