sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Bibliotecária leva amor pelos livros a moradores de rua

Fátima Schenini

O amor pelas pessoas e pelos livros ocupa os dias de uma bibliotecária de Belém há 34 anos. Terezinha Maria de Jesus da Conceição Lima, a Teca Lima, acredita que a leitura oferece às pessoas a possibilidade de adquirir conhecimento, crescer, viajar, relaxar e amenizar o sofrimento. “A leitura é um momento de prazer”, destaca. Ela tem se preocupado em levar os livros até aqueles que estão mais distantes e isolados, como detentos e quilombolas. “Tudo dá certo quando gostamos de pessoas”, diz.



Funcionária da Biblioteca Estadual do Pará, cedida ao município da capital, Teca trabalha na Biblioteca Pública Municipal Avertano Rocha, no distrito de Icoaraci. E foi ali que ela desenvolveu projeto com moradores de rua, o Tornar Visíveis os Invisíveis, um Desafio Instigante, um dos ganhadores da oitava edição do Prêmio Viva Leitura, iniciativa dos ministérios da Cultura e da Educação, em parceria com a Organização dos Estados Ibero-americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI). Na premiação, entregue em maio deste ano, o projeto foi o vencedor da categoria 1, Biblioteca Viva. Teca o criou em 2014, a partir da observação da parcela da sociedade que inclui pedintes, guardadores de carros e artesãos.

O trabalho, realizado em parceria com o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), contribuiu para a integração e o reconhecimento da comunidade em relação aos moradores em situação de rua. Segundo Teca, eles gostam de frequentar o espaço da biblioteca, onde não só têm oportunidade de ler e pegar livros emprestados, como de usar o computador e participar dos variados projetos culturais lá desenvolvidos. Um deles é o Boi Literário Paraense, promovido pela biblioteca há mais de 30 anos. Em prepara&c cedil;ão para a festa, realizada em 24 de junho, com brincadeiras típicas juninas, os homens participaram de oficinas de musicalidade e as mulheres dedicaram-se à personalização de indumentárias e bordados.

Outra importante atividade promovida pela biblioteca é o Jardim Poético, realizado sempre em abril. Um dia inteiro é dedicado a atrações, como apresentações de banda e coral, além de exposição dos objetos de artesanato feitos pelos moradores de rua.

Sorte — A biblioteca também apoia os projetos desenvolvidos pelo Centro Pop, como o Auto de Natal e a Paixão de Cristo, e atividades culturais, como o Cinema na Biblioteca, que contam sempre com a participação dos moradores de rua. “Deus me colocou na profissão acertada”, diz a bibliotecária, que tem especialização em organização de arquivos e em gestão pública. Inicialmente, ela sonhava em ser psicóloga. “A leitura tem me surpreendido além do que eu já sei, pois as possibilidades são intermináveis”, diz. “Afinal, é só se permitir deixar acontecer.”

Teca acredita ter sorte de trabalhar naquele local. “É uma biblioteca dinâmica, atuante, com pessoas que comungam com os meus pensamentos”, afirma. “Tanto que todos os nossos projetos têm sempre a literatura como base para outras linguagens artísticas.”

Prêmio — O Prêmio Vivaleitura foi o primeiro que Teca obteve em sua carreira, mas ela se sente premiada sempre que empresta um livro, vê que algum leitor conseguiu pesquisar sobre o assunto procurado ou que usuários da biblioteca são aprovados em concursos, entre outros pontos. “Isso, para mim, é um prêmio porque sei que tive uma pequena participação na realização de sonhos.”

O prêmio recebido, no valor de R$ 25 mil, ajudou a implementar e incrementar o espaço de leitura criado no Centro Pop, com a doação de estantes e obras para o acervo. Os livros foram adquiridos a partir das indicações de assuntos e títulos feitas pelos próprios moradores de rua. Localizado na mesma rua da biblioteca, a quatro quarteirões de distância, o Centro Pop conta com profissionais dedicados a trabalhos como abordagem e triagem de moradores de rua, emissão de documentos e realização de oficinas.

Transcrito de Revista Gestão Universitária - 25/07/2016

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