sexta-feira, 29 de abril de 2016

Press Release 045 – 29 de abril de 2016

Editorial
   Evento movimenta a vida acadêmica na crise http://bit.ly/24bpUnV

Artigo  
   I Jornada de Literatura, Artes e Ensino http://bit.ly/1O21rVl

Poesia
   O poeta mais feio http://bit.ly/26CXYIt

Ensaios
   A leitura no Brasil: sua história e suas instituições http://bit.ly/1N9cHEE

Clássicos da Literatura
   Euclides da Cunha http://bit.ly/1pkkcqX

Saberes na Rede
   Existe cura gay? http://bit.ly/24bqF0h

Notícias

   Clube da literatura incentiva meninas na busca por histórias em MG http://bit.ly/24bqPok

   Biblioteca Digital da BN completa 10 anos http://bit.ly/1TBp5we

   Leitor digital se agarra a nicho para não sumir http://bit.ly/1WwGbxI

   Biblioteca Parque recebe Fórum do PMLLB http://bit.ly/1Un2ZzU

   Bienal do Livros de Minas bate recordes http://bit.ly/1YWZkbl

   Editora Vozes lança selo que reúne clássicos da literatura mundial http://bit.ly/1QGpdGl

   12 dicas para escritores iniciantes por George R. R. Martin http://bit.ly/1WYPasc

   Na Alemanha, Rufatto vence prêmio Hermann Hesse 2016 http://bit.ly/1VYe7VO

   Gaboteca: legado de Gabriel García Márquez fica disponível on-line http://bit.ly/1r4sdr5

   Projeto lista 100 livros com protagonistas negras http://bit.ly/1QGpmJL

   Biblioteca inglesa completa 600 anos e tem o primeiro livro do mundo http://bit.ly/1SVbwee

O Prazer da Leitura
   Rastro de Leituras http://bit.ly/1VYewrg

Imagem
   Mulheres e Leitura http://bit.ly/1YX09Ri

Prof. Antonio Carlos Ribeiro
Universidade Federal do Tocantins/PPGL/CAPES
Editor


Se desejar ler os demais Press Release, clique em http://bit.ly/1E35ugR

Editorial - Evento movimenta a vida acadêmica na crise

A primeira Jornada de Literatura, Artes e Ensino é promovido pelo Colegiado de Letras do Campus de Araguaína e consegue avanços aos reunir docentes, escritores e poetas dos quatro cantos do Estado. O Evento acadêmico agregou debatedores, temas do momento como a irrelevância da literatura para organismos governamentais e os avanços relevantes conquistados pelo debate desses assuntos.

Esta edição de Leituras retoma a Poesia com 'O poeta mais feio', um Ensaio sobre 'A leitura no Brasil: sua história e suas instituições'; disponibiliza a obra de Euclides da Cunha na plataforma Clássicos da Literatura, e apresenta o debate do tema da homossexualidade em Saberes na Rede. As Notícias cobrem assuntos como o Clube da Literatura que mobiliza meninas, o aniversário do setor digital da Biblioteca Nacional, o nicho do leitor digital, a Biblioteca Parque debate, Plano Municipal do Livro e da Leitura no Brasil, a Bienal de MG, os clássicos lançados pela editora Vozes, as dicas para escritores iniciantes, o brasileiro que levou o prêmio Hermann Hesse 2016, a biblioteca de Gabriel Garcia Márquez, os 100 livros com protagonistas negras, e a biblioteca inglesa de 600 anos. Os temas ilustrativos são tratados em Imagem e O Prazer da Leitura.

Boa Leitura no fim de semana!

I Jornada de Literatura, Artes e Ensino

Antonio Carlos Ribeiro

A primeira jornada de literatura, artes e ensino, realizada nos dias 25 e 26 de abril, reuniu professores de linguística, literatura, língua e história da Universidade Federal do Tocantins, dos campi Araguaína, Palmas, Miracema, Porto Nacional e Gurupi, além de escritores e poetas convidados e dos que docentes que ministraram cursos para professores da rede pública do município de Araguaína, em torno do tema: ‘O que pode a Literatura?’

Os diversos temas que se desdobram deste eixo central foram tratados em seis mesas, sendo duas pela manhã e uma à noite, contando com professores representantes de abordagens diferentes mas convergentes, além dos que mediaram os debates nas mesas, que trataram de temas como: O que pode a Literatura produzida no Tocantins?; O que pode a Teoria Literária e a Literatura no ensino? e O que pode a poesia?, no primeiro dia. Para o segundo dia ficaram temas como Literatura, Semiótica e Ensino; O que pode a Literatura de Língua Estrangeira no ensino? e O que pode a poesia?! e O que pode e a Literatura?! Os alunos dos cursos de Graduação prestigiaram os eventos, acompanharam as exposições e dirigiram perguntas aos docentes que integraram as mesas.

A mesa: O que pode a Literatura de Língua Estrangeira no ensino?, com a participação das docentes Miliane Cardoso Vieira, Elisa Borges Alencar e Andréa Mateus, mediadas por Fátima Falcão  

Ao lado desse conjunto de atividades teóricas consistentes, envolvendo apresentação de palestras, perguntas e debates, de manhã e à noite, houve ainda a apresentação de comunicações de alunos nas tardes dos dois dias, coordenadas por outros docentes, realizadas em salas do Prédio H. Neste mesmo horário foram realizados minicursos no Anfiteatro, sobre Literatura Infantil e Juvenil, tendo como público-alvo os professores da Secretaria Municipal de Educação de Araguaína. Houve ainda palestrantes que não puderam participar por razões pessoais.

As atividades da noite sempre foram iniciadas com uma apresentação cultural, que teve apresentação de poemas e música, na segunda-feira, e uma apresentação de Makulelê e Samba de Roda, pelo grupo Casa da Capoeira, do Mestre Anzol, na terça-feira. Do mesmo modo, essas atividades foram concluídas com sorteios de brindes para os participantes.





O Grupo Casa de Capoeira se apresentou, mostrando sua arte e encantando o público acadêmico... 




... trazendo o Makulelê e o Samba de Roda, sempre de forma ritmada e sob a direção do Mestre Anzol




                                                         

O evento foi administrado por uma Comissão Organizadora composta pelos professores Eliane Testa, coordenadora geral, e Márcio Araújo e Janete Santos, como vice-coordenadores adjuntos, que atuaram com outros sete docentes na Comissão Científica, e alunos e alunas que compuseram a Comissão Organizadora desta jornada.

A avaliação geral da coordenação é que o evento alcançou os objetivos previstos, mostrou parte da produção acadêmica desenvolvida nos cursos de Letras nos diversos campi. Ademais a participação do público foi intensa, se tornando efusiva em diversos momentos – levantando questões relevantes e até provocando palestrantes – em relação aos temas e abordagens.

O poeta mais feio



Cristiano Alves

A minha magreza abrange um vazio
Um metro e oitenta que não condiz
Ao tamanho que é minha pequenez,

Distribuída em ossos que me doem
Ou nas feridas que só são retocadas
Sob um peito asmático de tanto ser,

Alguém que escreve suas cicatrizes
Num rosto oleoso e escondido de si
Para que não se olhe outras belezas,

Uma contemplação das fisionomias
Que não cabe em mim, corpo-morto.

http://me-estranha-se.blogspot.com.br/2015/04/o-poeta-mais-feio.html

A leitura no Brasil: sua história e suas instituições

Regina Zilberman*

A história da leitura 

Pode-se conceber uma história da leitura da maneira mais simples, enquanto mero relato da progressão cronológica das obras escritas. Essa acepção, ainda que singela, impõe de imediato certas condições; a primeira é a de existir a escrita, reconhecida pela sociedade enquanto um de seus possíveis meios de comunicação; outra, é a de obras produzidas terem se tornado públicas, vale dizer, socializadas. Da sua parte, essa socialização decorre de algumas providências, como a de possibilitar o acesso à escrita por parte dos membros da sociedade, o que implica também o estabelecimento de uma instituição encarregada de fazê-lo: a escola, que, de seu lado, carece de pessoal qualificado para desempenhar a tarefa de decodificar letras e alfabetizar - o que corresponde à leitura.

Já se vê que a história da leitura ultrapassa a história da literatura, preocupada, pelo menos até o momento, com a seqüência, no tempo, de obras de cunho artístico, divididas conforme o gênero - a poesia foi privilegiada desde o início, mesmo antes de a história da literatura se reconhecer como tal - e conforme a língua em que circularam pela primeira vez. A história da literatura adota recortes que identificam seu objeto pela nacionalidade, a língua sendo a opção mais freqüente. Quando esse critério falha, como no caso das literaturas produzidas nas Américas, recorre-se o fator geográfico, e a literatura confunde-se com o país em que apareceu inicialmente ou de provém o autor do texto. 



A história da leitura avança para além do texto, lidando, pelo menos, com

- uma instituição: a escola, onde atuam indivíduos habilitados a exercer funções pedagógicas, pelas quais são remunerados; esse assalariado - o professor - não precisa estar regularmente qualificado ou titulado, mas, por força da necessidade, do talento ou do gosto, ele se prepara para o exercício da profissão que o distingue. 

- uma técnica: a escrita enquanto código reconhecido e aceito pela comunidade, que precisa dele para operar nas relações familiares, sociais ou econômicas. As relações entre a expansão da escrita e da sociedade capitalista são notáveis, e George Thomson, estudioso da cultura helênica, chama a atenção para a circunstância de a fixação do alfabeto grego, no século VII a. C., ter-se dado simultaneamente à aceitação da moeda como fator de circulação dos produtos comerciais1. Dinheiro e escrita podem não ter nascido ao mesmo tempo, mas passaram a infância juntos, e sua expansão tem ocorrido em sociedades avançadas do ponto de vista econômico. 

- uma tecnologia: a fixação da escrita num meio físico permanente. Esse variou com o tempo, tendo sido originalmente o barro, como ocorreu aos sumérios, que guardaram suas anotações, para o que se valeram da escrita cuneiforme, em tabuletas de argila; mas depois apareceram instrumentos mais práticos: o papiro, um tanto frágil, o pergaminho, resistente e duradouro, o papel, de baixo custo, embora perecível. Essas alterações supuseram interferências de novas técnicas para exploração dos recursos naturais, de que resultou a expansão dos meios para fixação da escrita, bem como o barateamento da produção e as facilidades de circulação. Modificaram-se igualmente as formas do objeto que transportava a escrita - dos rolos de pergaminho ao formato retangular do livro impresso em papel, até, nesse final de milênio, o quadrado de plástico que identifica os disquetes ou os círculos de alumínio dos CD, a que se tem acesso por intermédio de programas em linguagem eletrônica, decifradas por um editor de texto. 

Os processos de fixação da escrita também se transformaram no tempo, caminhando na direção da facilitação e da socialização. Uma tabuleta de argila supunha o trabalho de um perito, o escriba que documentava a informação oral recebida, seja do poeta, seja do administrador que desejava contabilizar seus ganhos e propriedades. Esse trabalho individual, especia-lizado e de difícil circulação prolongou-se até o século XV da era cristã, quando a invenção dos tipos móveis e da impressão mecânica propiciou, pela primeira vez, a produção em escala industrial de textos impressos.

Logo, a história da leitura consiste na história das possibilidade de ler. A atividade da escola, somada à difusão da escrita enquanto forma socialmente aceita de circulação de bens e à expansão dos meios de impressão, faculta a existência de uma sociedade leitora. Mas, para que isso ocorra, é preciso: 

- que a escola seja atuante, isto é, que se valorize a educação enquanto fator de ingresso à sociedade e ascensão; 

- que a escrita seja, ela mesma, considerada um bem, propriedade que atesta a existência de outras propriedades (talvez não seja um acaso que se assegure a propriedade por intermédio de uma escritura, que o dinheiro circule como papel e se traduza em investimentos - letras); 

- que se julgue a impressão de textos escritos um negócio lucrativo. 

Para corresponder a essas condições, só a sociedade capitalista. Sabemos que escolas existiram na Grécia e em Roma, que a escrita remonta aos sumérios do terceiro milênio antes de Cristo e que as técnicas de impressão começaram com os chineses, ainda durante a Idade Média ocidental. Mas a reunião desses fatores ocorreu por causa da emergência e sucesso da sociedade capitalista, quando o capital cultural tornou-se igualmente importante para a acumu-lação do capital financeiro. 

Leitura então consolidou-se como prática, nas suas várias acepções. Produto da escola e critério para ingresso e participação do indivíduo na sociedade, veio a ser valorizada como idéia, por distinguir o homem alfabetizado e culto do analfabeto e ignorante. A leitura passou a distinguir, mas afastou o homem comum da cultura oral; nesse sentido, cooperou para acentuar a clivagem social, sem, contudo, revelar a natureza de sua ação, pois colocava o ato de ler como um ideal a perseguir. O ainda não leitor apresenta-se na situação primitiva de falta, que lhe cumpre superar, se deseja ascender ao mundo civilizado da propriedade, por conseqüência, do dinheiro e da fortuna. 

Não é coincidência que apenas dois tipos de seres ficam de fora do mundo da leitura, qualificados de frágeis e ineptos, até ingressarem na escola: a criança e o "homem do povo". Ambos recebem o mesmo qualificativo: são analfabetos, mas o primeiro pode transformar a ca-rência em plenitude, desde que educado. Espera-se o mesmo do segundo, seguidamente este-reotipado de modo pueril até mudar sua situação, para o que intervêm os ensinamentos que recebe. 

Nos textos abaixo, percebe-se como se dá esse processo, conforme o qual o sujeito passa por uma transformação interior profunda, ao se transportar da situação de analfabeto a leitor. No conto de Roque Callage, autor gaúcho das primeiras décadas do século XX, o peão aprende a ler no quartel, evoluindo, a partir daí, para o reconhecimento de sua nova condição de cidadão, identificado às necessidades da Pátria:

Num espaço de tempo tão curto, sob o efeito eficaz de uma instrução contínua, o espírito bronco do rapaz, que da vida, aos vinte e um anos, só conhecia o cavalo e o campo, já se sentia desenvincilhado da nômade ignorância da campanha natalícia. Rapidamente aprendera a ler e já sabia assinar o nome. Foi um verdadeiro milagre. Pouco a pouco um gênio familiar e tocante, uma viva centelha invisível incutia no quartel, à coletividade dos conscritos, as primeiras noções da Pátria. Na sua totalidade filhos das colônias, sem escolas, das campinas abandonadas, onde lá uma que outra aula existe muitas vezes num raio de oito a dez léguas de distância, só no quartel encontravam os jovens soldados quem lhes alumiasse um pouco o espírito, fazendo-lhes ver acima dos interesses pessoais, das pequenas exigênci-as egoísticas do Eu, a razão de ser da nacionalidade. Começa-vam aos poucos amar a sua história, a compreender os seus símbolos e a sentir a vitalidade do seu sangue. A maioria da mocidade, de que aquele jovem fronteiriço podia ser um exem-plo, se transformou em pouco tempo, radicalmente, passando de uma fase de inércia para uma outra mais bela, mais lúcida, de ardoroso civismo. Eram os heróis de Esparta, que renasciam agora com os albores de uma educação que até então lhes faltara. 2



Jorge Amado, por sua vez, atribui à leitura a capacidade não apenas de despertar no indivíduo seus vínculos com os problemas nacionais, mas também de torná-lo apto a preparar os companheiros para a luta social: 

Nestor completou já seu vigésimo quinto aniversário e só agora aprende a ler e a escrever, não é fácil, por vezes parece-lhe impossível poder conduzir a mão, dirigi-la no desenho das vogais e consoantes. (...)  
(...) Nos primeiros dias, quando os olhos se enevoavam e se re-cusavam a fixar separadamente cada um daqueles misteriosos signos do alfabeto, ele pensara se desesperar e mesmo lágrimas de raiva sentira nascer, ardendo, em suas pupilas. Mas era ne-cessário: como ler para os demais aqueles papéis esclarecedo-res se ele mesmo não soubesse ler? Como estudar os livros dos quais Gonçalo falava? Não bastava sentir o fogo da revolta crescendo dentro dele, fazia-o preciso acendê-lo em todos os demais, e para isso era necessário saber ler e escrever. 3

Verifica-se por esses aspectos que a leitura não constitui tão-somente uma idéia, com a força de um ideal. Ela contém também uma configuração mais concreta, assumindo contornos de imagem, formada por modos de representação característicos, expressões próprias e atitudes peculiares. A ela pertencem gestos, como o de segurar o livro, sentar e escrever, inclinar-se, colocar os olhos. Faz parte igualmente dessa representação a alusão a resultados práticos, mensuráveis em comportamentos progressistas. 

Idéia, ideal e representação, a leitura se concretiza como uma prática, que se exerce individualmente, mas que resulta da concepção que a sociedade formula para as classes e as pessoas que a compõem. Eis por que sempre nos deparamos com políticas de leitura - propostas por grupos, categorias profissionais, governos - reveladoras da dimensão assumida pelas representações. 

Políticas de leitura não deixam de valorizar a leitura como idéia; mas seu sucesso de-pende de a leitura ser igualmente prezada enquanto negócio. Um importante ramo da sociedade capitalista é constituído pela indústria de livros, para não se falar das fábricas dos maquinários para impressão, nem do hoje importante segmento dado pela produção de hardwares, softwares e periféricos que fazem a alegria das feiras de informática. Não ler é ficar de fora desse mundo, o que talvez signifique ficar de fora do mundo. 

Uma história da leitura faz parte, portanto, da história da sociedade capitalista. Mas talvez seja, ela mesma, a história da sociedade capitalista, encarada desde o prisma econômico até o das representações. Inclui a história dos livros e das publicações4; e recorre à história da literatura, que esclarece que livros, dentre os editados e em circulação, permaneceram, de preferência ligados à poesia e à arte. Mas vai mais adiante, porque indica, para os próprios leitores, como eles se pensaram, seja enquanto membros da sociedade (matéria da sociologia da literatura), seja enquanto consumidores de obras escritas (matéria de uma sociologia da leitura). 

Considerados esses pressupostos, duas alternativas de trabalho se oferecem, a primeira de ordem teórica, a segunda de natureza aplicada, a saber:

a) Do ponto de vista teórico, pode-se verificar em que medida a história da leitura ultrapassa as aporias da sociologia da literatura, chegando à perspectiva materialista que essa tem dificuldade de alcançar, por não ter sido bem sucedida no seu esforço de superar a perspectiva mimética ou do reflexo em que se sustenta. 5 

b) Cabe propor, de outra parte, a produção de uma história da leitura no Brasil, avesso da trajetória bem sucedida do processo de ocupação do país pelas forças coloniais e colonialistas e, simultaneamente, espelho onde a sociedade nacional pode ver representado o fracasso de seu projeto de modernização. 


A história da leitura no Brasil congrega o percurso das instituições encarregadas de patrociná-la. A principal delas é a literatura, até agora não invocada, mas que tem seu lugar numa história da leitura. Essa não apenas supõe a existência das obras escritas, mas também de um conceito de literatura. No caso, trata-se da concepção que distingue, de um lado, a produção de textos impressos em geral, de outro, as Belas Letras. 

Essa noção é relativamente recente, remontando ao século XVII francês e ao Cardeal Richelieu que, fundando a Academia Francesa, conferiu certo status ao poeta e escritor 6. De-pois, a sociedade burguesa levou adiante a separação, valorizando o intelectual e o artista en-quanto homem de gênio, mas afastando-o da vida prática. A literatura - e a arte, de modo geral - é institucionalizada, mas esse processo não esconde uma contradição, que a acompanha sem-pre: artistas e intelectuais são considerados imprescindíveis, mas o que fazem não é julgado trabalho, logo, não requer remuneração7. 

O mundo da arte torna-se esfera autônoma, e por essa razão requer tratamento especi-al, deferência que se traduz na constituição de uma (ou mais) ciência(s) que lhe são próprias - a Estética e a Teoria da Literatura 8. Mas pertence a esse afastamento a proibição de retornar a vida prática, a não ser sob outra máscara. Nem por isso a instituição perde poder, legitimando-se na sociedade burguesa; quem paga a conta são os trabalhadores inseridos nela, rebaixados à condição de inúteis ou parasitas, dispensados, por isso, de salário, a não ser quando aceitam a praxe, julgada nefanda no caso deles, de ganhar dinheiro. Nessa posição, é a instituição que os rejeita, gerando um círculo vicioso que exige de seus membros a sujeição às suas normas. 

A história da literatura no Brasil corresponde ao processo dessa institucionalização, difícil e penosa. O processo se particulariza, quando lembramos que pertence à história da literatu-ra brasileira a permanente busca de sua própria identidade. No período colonial os poetas se julgavam portugueses, até José Basílio da Gama e Silva Alvarenga se dizerem americanos e brasileiros 9. Os românticos, no século XIX, incumbidos de escrever a história literária nacional para o novo país, saíram atrás de sintomas de brasilidade no passado; de lá para cá, a procura pode ter perdido o ímpeto, mas não saiu do horizonte da crítica e historiografia literária 
brasileira. 10 

Relacionada a essa questão é a da qualidade dessa literatura, pois, para ser reconhecida como instituição, é preciso que contenha obras de valor artístico inegável, aceitos dentro e fora do país. Não é o que acontece, e ninguém melhor que Oswald de Andrade para, com humor característico, recusar a "poesia de importação" e expressar o esforço para criar a "Poesia Pau-Brasil, de exportação." 11 

O reconhecimento interno não parece mais fácil que o externo, e essa aspiração se manifesta de várias maneiras:  

- quando o escritor procura traduzir temas de interesse local, como foram a seu tempo, no século XIX, o Indianismo e o Regionalismo, desde os anos 30 a expressão das mazelas sociais e políticas do país, hoje a ênfase no encantamento esotérico e a busca de auto-ajuda por via das ciências e das Belas Letras;  

- quando o escritor luta pela constituição de seu público, formando seu gosto, educando-o para o consumo de livros, preparando-o para absorver técnicas literárias mais refinadas12;  

- quando a categoria de escritores reivindica seus direitos, exigindo remuneração adequada que confira respeitabilidade ao trabalho intelectual;  

- quando escolhe o caminho da profissionalização por vias paralelas, como a imprensa, alternativa discutida desde a época de Raul Pompéia, Lima Barreto, Coelho Neto e Olavo Bilac, ou a política, que conferem personalidade pública ao artista; ou quando prefere uma institucionalização não de sua arte, mas de sua pessoa, promessa contida nos regimentos de todas as Academias, as brasileira e nacionais, bem como as estaduais e municipais.  

Ao examinar a história da literatura nessas diferentes perspectivas, a história da leitura cumpre seu papel, materializando o funcionamento do aparelho cultural e dando visibilidade às suas entranhas, nem sempre eticamente recomendáveis, se nos restringimos ao estrito código da criação literária, o da Estética, porta-voz da beleza e da universalidade da arte. Por sua vez, a história da literatura brasileira, com suas contradições, vaivéns contínuos, avanços e recuos, revela a natureza dialética da história da leitura, que tem a ambição de narrar o progresso e depara-se freqüentemente com os retardamentos. 

Por outro lado, uma história da leitura - e, portanto, seu braço direito, a história da literatura - se corresponde com a história da educação. Graças a essa associação, indica quão próxima a literatura, abrindo mão da aura que a sociedade burguesa, via institucionalização, lhe confere, está do ensino, da sala de aula e do professor. 

A escola constitui o espaço por excelência de aprendizagem, valorização e consolidação da leitura, cooperando com o processo de legitimação da literatura e da escrita no mundo capitalista. Ela conta, por seu turno, com uma história especial, de que fazem parte as diferentes filosofias educacionais, as concepções relativas aos processos de ensino, o modo de organização do aparelho pedagógico. Relativamente à leitura enquanto procedimento de decodificação de textos escritos, pressupõem-se tomadas de posição pelo menos sobre os seguintes tópicos: 

- o método de alfabetização; 

- o tipo de livro escolhido, se didático, pára-didático ou outro; 

- a educação artística e o ensino da literatura. 

Essas discussões, que se acirraram nos últimos anos, acompanham a história da leitura no Brasil. Desde que se tornou nação independente, o país se depara com a necessidade de enfrentar e derrubar as altas taxas de analfabetismo da população. A maior parte dos métodos propostos, desde o lancastriano, em vigor nas primeiras décadas do século XIX, até o construtivista, nos últimos anos, se propõe a revolver o problema, encarando as duas facetas da questão: 

- como alfabetizar de modo acelerado, cortando o caminho que tem atrasado a consoli-dação da escola brasileira; 

- como fazer o analfabeto aceitar o processo de alfabetização, porque, sendo ele via de regra pobre e despreparado culturalmente, se depara com uma situação inusitada que, à primei-ra vista, parece contradizer sua experiência e que, por isso, ele rejeita. 

As questões a serem solucionadas revelam a face principal do problema: não se trata de método, e sim de sujeito. O analfabeto que é problemático apresenta uma configuração a priori: ele é pobre, está fora da idade para ser alfabetizado (mesmo quando ainda se trata de crianças), nem sempre foi bem nutrido, habita o campo ou vem de lá, precisa trabalhar desde cedo e muito para sobreviver. Os métodos de alfabetização parecem invadir um terreno já ocupado por outros problemas, provavelmente mais prementes, de modo que terão de decifrar o enigma, para não serem devorados. 



O enigma talvez se resuma a uma única pergunta: como lidar com as camadas populares? Alfabetizá-las é adequá-las à sociedade burguesa, proporcionando a essa última mão-de-obra qualificada? Ou é prepará-la para se defender no mundo moderno, industrializado, globalizado e complexo, de difícil enquadramento? Ou é conscientizá-la, para que entenda sua situação de exploração e miséria, levando-a a virar a mesa? Os métodos de alfabetização implicam uma prática que vai para além deles, embora dificilmente deixem de ser condutores dos sujeitos com que lidam e formam. 

As duas outras exigências - relativamente à trajetória do livro didático no Brasil e/ou do ensino da literatura - reproduzem o enredo: o Brasil carece de escolas qualificadas, os professo-res nem sempre apresentam formação adequada, o Estado remunera mal o corpo docente. Além disso, e talvez por conseqüência, a aprendizagem da literatura afigura-se insatisfatória, as obras literárias que circulam na sala de aula dificilmente conseguem formar bons leitores, o livro didático parece consistir a emenda pior que o soneto. 

O rosário de queixas pode ir longe, sobretudo quando seu objeto é a precária situação educacional do país. O fato, contudo, de se apresentarem com tanta freqüência reclamações e protestos reforça, por outro ângulo, a importância da escola enquanto instituição. Não tivesse ela influência na sociedade, agindo sobre a formação dos indivíduos e constituindo-se em poderoso mercado de consumo e de trabalho, talvez a sociedade ficasse indiferente à sua incompetência, considerada mais outra no conjunto das deficiências nacionais. A racionalização não deve, porém, servir de consolo, e sim sugerir que, sem considerar o ensino, não se pensa a leitura, nem se entende a literatura, cuja definição passa pela interferência e impacto desencadea-do pela escola. 

Eis em que medida uma concepção histórica sobre a leitura é fator decisivo para se compreender a materialidade do conceito de literatura, para além dos desafios da sociologia literária. Para se compreender igualmente a sociedade onde opera a literatura e que se expressa em leitura. Ponto de apoio para a compreensão da sociedade brasileira contemporânea, uma história da leitura é igualmente seu retrato em perspectiva, que queremos conhecer em todas suas dimensões.


Notas bibliográficas
1- THOMSON, George. Os primeiros filósofos. Lisboa:  Estampa, 1974.
2- CALLAGE, Roque. Rincão. 2. ed.  Porto Alegre: Livraria do Globo, 1924, p. 47-49.
3- AMADO, Jorge. Agonia da noite.  10. ed. São Paulo: Martins, 1964, p. 28.
4- Como se verifica  em pesquisas realizadas por Roger CHARTIER e Robert DARNTON, por exemplo. Cf., entre outros, CHARTIER, Roger. Lectures et lecteurs dans la France d'Ancien Régime. Paris: Seuil, 1987.  MARTIN, Henry-Jean et CHARTIER, Roger. Histoire de l'édition française. Paris: Promodies, 1982 - 1985. 2v.; DARNTON, Robert. The Literary Underground of the Old Regime. Cambridge and  London: Harvard University Press, 1982. O grande massacre dos gatos. Rio de Janeiro:  Graal, 1986. O beijo de Lamourette Midia, cultura e  revolução. São Paulo: Cia das Letras, 1990.
6- Cf. Cristin,  Claude. Aux  origines de l'histoire litttéraire. Grenoble: Presses Universitaires, 1973.
7- Essa questão,  com suas consequências no campo  da produção e da  circulação de  textos literários, é examinada em  Dubois, Jacques. L'Institution de la littérature.  Introduction à une  Sociologie. Brussels: Labor, 1978.
8- Ver Bürger, P. Vermittlung -  Rezeption - Funktion.  Ästhetische Theorie und  Methodologie der Literaturwissens chaft. Frankfurt:  Suhrkamp, 1979. Theory of the  Avant-Garde. Trad. de M. Shaw. Minneapolis: University of Minnesota Press,  1984.
9- Ver a respeito  Zilberman, R. "O Uraguai:  moderno e americano". In: Malard,  Letícia et alii. História da Literatura. Ensaios.  Campinas: Editora  da Unicamp, 1994.
10- Cf. a respeito  Zilberman, R. A  terra em que  nasceste. Imagens  do Brasil na  literatura. Porto  Alegre: Editora da  UFRGS, 1994.
11- Andrade,  Oswald de.  "Manifesto da  Poesia Pau-Brasil".  In: Telles, Gilberto  Mendonça.  Vanguarda  européia e Modernismo brasileiro. 4. ed. Petrópolis:  Vozes, 1977. p. 267. 
12- A respeito, cf.  Lajolo, Marisa e  Zilberman, Regina.  A leitura rarefeita.  São Paulo:  Brasiliense, 1991.  Id. A formação da leitura no Brasil.  São Paulo: Ática, 1996. 

*Professora Dra., Titular da PUC-RS

Existe cura gay?

Um debate já antigo, que volta ao debate, aqui apresentado de forma clara, bem informada,
liberando pessoas de tabus, conflitos religiosos, campanhas ideológicas, especialmente as homofóbicas. Assista e debata!


Clube da literatura incentiva meninas na busca por histórias em MG

Elas são amigas, têm apenas 10 anos e respondem com segurança sobre suas preferências: brincar, ler e jogar no tablet ou no celular. A leitura – que normalmente não está no topo das escolhas da criançada – é vista pelo grupo de meninas com prazer e alegria. Há dois anos, elas participam de um encontro mensal que apelidaram de “ciranda do livro”. As garotas leem uma obra e se reúnem para trocar histórias e exemplares, tal qual uma ciranda.



Sentada em roda com as companheiras, Helena Coutinho foi a última a descrever e analisar o conteúdo escolhido por ela: “O Caso da Borboleta Atíria”. “É a história de uma borboleta que nasceu sem um pedaço da asa e foi cuidada por uma minhoca. Fala sobre seguir em frente mesmo diante dos desafios (...)”, explicou.

O livro de Helena foi o que mais fez sucesso naquele encontro entre as meninas, que precisaram decidir no “dois ou um” quem leria a obra na rodada seguinte. Até que a garota proferiu o consolo: “Calma gente, vão ter outras cirandas, e todas poderão conhecer o caso da borboleta”, afirmou.

Elas adotaram agora os livros da série Vaga-Lume, que as mães leram na adolescência. Antes, as meninas se interessavam mais pelos vários volumes do “Diário de uma Garota Nada Popular”, de “Judy Moody” e por outros do tipo, que prendiam a atenção delas.

O “clube da leitura” – como os pais chamam o projeto –, surgiu por iniciativa de duas mães. O propósito era estimular o gosto pelos livros. “Eu percebi que minha filha não via graça na leitura. Nada que eu fazia adiantava”, expôs a servidora pública Raquel Cristina de Sousa, 39.

Outra mãe, Adriana Souza, 43, contou que a filha mais velha, de 15 anos, já havia participado de encontros de leitura. Logo, as duas trocaram ideias com mais mães, e o primeiro encontro aconteceu em março de 2014 com seis meninas que tinham, na época, 8 anos e estudavam na mesma escola.

Interesse. Atualmente, são oito garotas – nem todas estudam juntas mais – e tem até “fila de espera” para entrar no clube. “Outras meninas querem entrar, mas não dá para ter mais gente, porque os encontros são nos apartamentos de cada uma, e é difícil controlar esse tanto de crianças juntas”, disse a advogada Angélica Miranda, 31.

No dia da ciranda de livros, as amigas leitoras também lancham e brincam como crianças. Empolgadas falam muito e ao mesmo. Todas querem contar suas histórias. “Hoje, minha filha adora ler. Ela busca os livros na biblioteca, pega emprestado ou pede para comprar. O clube mudou muito a visão da minha pequena”, testemunhou Raquel, cheia de orgulho. Então, fica a dica para hoje, 18 de abril, quando se comemora o Dia Nacional do Livro Infantil.

Obrigação

Diferença. No colégio, as meninas são obrigadas a ler mais de 30 livros por ano, mas, nas palavras delas, “ler os livros que a escola obriga é chato, porque tem que fazer resumo, e não dá prazer como na ciranda”.

Projeto reduz erros de português e ensina lições

As próprias meninas demonstram a transformação literária em suas vidas com o clube: diminuíram muito os “x” (de erros ortográficos) que tinham nas provas”; “agora, leio melhor (em voz alta) na frente da sala”; “a gente aprende muitas lições, esse livro fala que mentira é ruim, o outro, que devemos ter cuidado com as informações que divulgamos”, citaram quase que sincronizadamente.

A professora da Faculdade de Educação da UFMG Célia Abicalil diz que o contato com as palavras faz com que se internalizem as estruturas complexas da língua portuguesa. “A gente pensa que a escola é o grande mediador da leitura, mas, quando os pais são bons mediadores, a leitura se torna uma forma dos filhos compreenderem melhor o mundo, e o incentivo começa com 0 ano”.

Joana Suarez - O Tempo - 18/04/2016

Biblioteca Digital da BN completa 10 anos

A BNDigital, da Biblioteca Nacional, está completando 10 anos neste mês. Tudo começou com o acervo digital proveniente de projetos temáticos de digitalização iniciados em 2001, e que totalizavam cerca de três mil documentos digitais.

Hoje, o público tem livre acesso a mais de um milhão e meio de documentos, entre livros, fotografias, mapas, manuscritos e periódicos. Além de disponibilizar seu acervo através de seu portal também está presente nas mais importantes iniciativas de consórcios de bibliotecas digitais do mundo, como a World Digital Library, a Biblioteca Digital do Patrimônio Ibero Americano e a Biblioteca Digital Luso-Brasileira. 



Em 2012, lançou a Hemeroteca Digital Brasileira, portal de pesquisa online em periódicos, através do qual é possível fazer pesquisas textuais no conteúdo de mais de 13 milhões de páginas de mais de cinco mil jornais e revistas digitalizadas.

Transcrito de PublishNews - 08/04/2016

Leitor digital se agarra a nicho para não sumir

O ano de 2007 marcou profundamente o setor de tecnologia, com o surgimento de duas categorias de produtos que prometiam mudar o mundo. Enquanto em Cupertino, na Califórnia, Steve Jobs apresentava a primeira versão do iPhone, em outra cidade norte-americana, Seattle, Jeff Bezos, o bilionário por trás da gigante do comércio eletrônico Amazon, se aventurava no mundo do hardware ao lançar um dispositivo para leitura, o Kindle.

Os meses seguintes foram de histeria no mercado. A Apple vendeu 700 mil unidades de seu smartphone somente no primeiro final de semana. Aos poucos, o dispositivo – com tela sensível ao toque e aplicativos que o transformaram em um “canivete suíço” – mostrou que tomaria o lugar do celular tradicional. Da mesma forma, o apetite dos consumidores de livros pelo Kindle e seus e-books era voraz e sinalizava que aquele pequeno dispositivo poderia marcar o início do fim da era do livro impresso.



Quase dez anos depois, só uma das profecias de fato se cumpriu. Segundo dados da consultoria Euromonitor, o número de leitores eletrônicos vendidos no mundo caiu 5,8% em 2015, na comparação com 2014, para pouco mais de 17 milhões de unidades. Isso representa menos da metade do volume de vendas desses produtos no varejo global durante o “boom” das vendas, que ocorreu em 2012. Na época, segundo dados de outra consultoria, a GfK, foram vendidos 40 milhões de unidades de e-readers em todo o mundo.

As perspectivas para os próximos anos são ainda mais sombrias. A expectativa da Euromonitor é de que as vendas globais encolham para 12,7 milhões de unidades em 2020, o que vai representar uma redução de 25,3% no volume de vendas em relação a 2015. As perspectivas, porém, parecem não amedrontar as fabricantes, que ainda apostam no poder de atração dos e-readers para um nicho lucrativo: o de leitores ávidos por compras livros – sejam impressos ou digitais.

É por isso que, na semana passada, a Amazon anunciou a oitava geração do Kindle. O produto ganhou design mais ergonômico, ficou mais leve e fino e a bateria – que já durava seis semanas – foi expandida por meio de uma capa protetora. As mudanças, embora não incluam grandes inovações, tornam a experiência de leitura mais agradável. “Nosso negócio é o livro”, disse o gerente geral do Kindle no Brasil, Alexandre Munhoz, ao Estado. “Vale a pena investir em um hardware, porque sabemos que as pessoas leem mais livros quando usam o Kindle.”

A estratégia não é exclusiva da Amazon. A canadense Kobo, por exemplo, lançou um leitor digital à prova d’água no final do ano passado. “As vendas estacionaram depois de 2012, mas não vejo queda”, diz Samuel Vissotto, diretor geral da Kobo na América Latina. “Os leitores assíduos preferem o e-reader.”

Embora as principais fabricantes invistam em lançar novas versões do e-reader, algumas empresas ganham dinheiro com o segmento há anos com a mesma versão do produto. É o caso da Livraria Saraiva, que colocou o e-reader Lev no mercado em agosto de 2014 e mantém o mesmo modelo na prateleira até hoje. “As vendas se sustentaram, mas não são exponenciais”, diz o gerente de produtos digitais da Saraiva, Gustavo Mondo.

Mais do que evolução tecnológica, o futuro do e-reader depende que os leitores ávidos de livros se mantenham fiéis à plataforma, sem se deixarem seduzir por outras plataformas mais cômodas, como a tela do smartphone. Essa briga, porém, está cada vez mais difícil de vencer. Na Kobo, por exemplo, 75% do tempo dos leitores é dedicado a ler via aplicativos da plataforma, contra 25% por e-readers.

Transcrito de Claudia Tozetto, O Estado de S. Paulo - 18/04/2016

Biblioteca Parque recebe Fórum do PMLLB

Para dar início aos debates sobre o Plano Municipal do Livro, Leitura e Bibliotecas (PMLLB), nessa sexta-feira (29) e no sábado (30), acontece o Fórum do PMLLB Rio, na Biblioteca Parque Estadual, no Centro do Rio.

Gratuito e aberto a todos os interessados, o evento contará com a presença de diversos profissionais do segmento do livro e da leitura, que contribuirão para debater os eixos que norteiam o Plano, como a democratização do acesso ao livro; a formação de mediadores para o incentivo à leitura e a valorização institucional da leitura.



O Rio está construindo seu Plano Municipal, com o objetivo de promover o livro, a leitura, a literatura e as bibliotecas na cidade. O documento será elaborado a partir das diretrizes do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), contando com as experiências dos programas e projetos de iniciativa do Estado (governo municipal, em articulação com as esferas federal e estadual) e da Sociedade Civil (setor privado, terceiro setor e movimentos sociais).

Programação e debates do Fórum

Nessa sexta-feira (29) haverá debates sobre o direito de acesso à literatura e seu poder transformador e as políticas públicas para o acesso à leitura e a formação dos leitores, com Gisele Lopes, Gerente de Livro e Leitura da Secretaria Municipal de Cultura, Simone Monteiro, Gerente de Mídia-Educação da Secretaria Municipal de Educação e Malena Xavier, bibliotecária e especialista em literatura. Nesse dia haverá também uma mesa sobre o mercado editorial e o livreiro no Rio.

Já no sábado (30) acontecerá um encontro com o escritor Affonso Romano de Sant’Anna e um painel sobre os eventos literários e promoção da leitura na cidade, com representantes de Festas Literárias do Rio, como FLIZO, FLIST, FLUPP, Bienal Internacional do Livro do RJ. Além dos debates, o evento tem em sua programação intervenções literárias, sorteios de livros, sarau, poesias ao pé do ouvido, cortejo literário, ações de leitura e contação de histórias.

Transcrito de http://www.blogdogaleno.com.br/2016/04/28/biblioteca-parque-recebe-forum-do-pmllb

Bienal do Livro de Minas bate recordes

Mais de 220 autores e 150 atividades divididas em cinco espaços culturais ao longo dos últimos dez dias: este é um pequeno resumo do que aconteceu durante a Bienal do Livro de Minas, que tomou conta do Expominas, em Belo Horizonte, entre os dias 15 e 24 de abril. A quinta edição do evento registrou números recordes, atraindo assim um público de 265 mil pessoas, interessado em conferir uma programação ainda mais ampla e diversificada. Este ano, a Bienal ultrapassou os números da última edição em vários quesitos, o principal deles em relação ao número de convidados na programação oficial – foram 226 em 2016 (e 125 em 2014), que participaram de 203 horas de atividades, sem contabilizar a agenda dos expositores. Em 2014, foram registradas 70 horas.



A festa da literatura contou com atrações no Quintal de Histórias, Espaço Geek & Quadrinhos, Conexão Jovem, Encontro com Autores e Café Literário. Complementaram o evento as Atividades Profissionais e a disputada agenda dos 160 expositores, que promoveram lançamentos, sessões de autógrafos e contações de histórias, entre outras ações de incentivo à leitura.

“A Bienal, visando democratizar e incentivar ao máximo o contato do público com o universo dos livros e os autores, produziu uma edição com número recorde de autores e convidados participantes da programação oficial e de sessões. O objetivo é atrair não só o público leitor, mas também aquelas pessoas que estão se aventurando agora pelo universo da leitura”, comentou a diretora de Negócios da Fagga | GL events Exhibitions, Tatiana Zaccaro.

A Bienal do Livro de Minas se consagrou ainda como o espaço ideal para conferir as mais recentes novidades do mercado editorial, que se mobilizou para apresentar ao público os principais lançamentos e o talento da nova geração de escritores. Quem veio em busca de boas oportunidades de compra também conseguiu encontrar títulos a preços imperdíveis, reforçando assim o caráter diversificado do encontro. De acordo com levantamento feito pela organização, foram comprados, em média, seis livros por pessoa.

FERIADO PROLONGADO PROPORCIONOU RECORDE DE PÚBLICO

O público superou as expectativas da organização durante todos os dias, mas foi na quinta-feira, 21 de abril, que a visitação teve seu auge. Os moradores de Belo Horizonte e região aproveitaram o feriado prolongado para se dedicar à leitura, conferir as novidades do mercado editorial e conversar com seus autores favoritos.

SESSÕES CONCORRIDAS

Os visitantes compareceram em peso aos debates da programação cultural, mas os recordes desta edição ficaram por conta de Xico Sá e Martha Medeiros, no Café Literário. No Conexão Jovem, Paula Pimenta, Carina Rissi, Lucas Rangel e Pedro Afonso (RezendeEvil) arrastaram multidões, reforçando assim a importância do público jovem para o mercado editorial.

VISITAÇÃO ESCOLAR

Um dos mais importantes projetos desenvolvidos pela Bienal do Livro de Minas, a Visitação Escolar, propiciou o acesso gratuito de 32 mil alunos da rede pública e privada de ensino ao evento. A iniciativa tem como objetivo contribuir com a educação e desenvolvimento do hábito da leitura, funcionando como uma importante ferramenta pedagógica. “É muito comum ver crianças que, pela primeira vez, têm a oportunidade de comprar um livro. Isso nos deixa muito satisfeitos e certos de que estamos cumprindo um importante papel para a difusão da literatura”, comentou a diretora de Negócios da Fagga | GL events Exhibitions.

Apesar de ter ocorrido uma redução do número de estudantes que efetivamente visitaram o evento, a organização fez uma avaliação positiva da ação. “Com o feriado de quinta-feira e a ponte feita pela maior parte das escolas, acabamos tendo uma diminuição no número deste público. No entanto, a ampliação do investimento por parte da Secretaria de Estado de Educação, que aumentou de R$ 5,5 para R$ 20 o valor da Nota Bienal permitiu que 15 mil alunos saíssem do evento com um bom livro em mãos”, analisou a diretora.

PROGRAMAÇÃO CULTURAL

Nesta edição da Bienal do Livro de Minas, o Café Literário contou com a curadoria do escritor, jornalista e editor Rogério Pereira, fundador e editor do jornal literário Rascunho. Com forte atuação na área literária, ele foi o responsável pela escalação de nomes como Martha Medeiros, Ruy Castro, Xico Sá, Zuenir Ventura, Heloisa Seixas, Paulo Scott, Eucanaã Ferraz, Carpinejar, Mary Del Priore, Eduardo Spohr, Edney Silvestre, Marcelino Freire, Maria Esther Maciel e Marçal Aquino, entre muitos outros.

A mesa de abertura contou com a presença de Humberto Werneck e Sérgio Alcides, mediados pelo jornalista Carlos Herculano Lopes. O encontro girou em torno do patrono desta edição, o mineiro Murilo Rubião, dono de uma das vozes mais originais da literatura brasileira.

Já o Conexão Jovem reuniu nomes como Babi Dewet, Bruna Vieira, Thalita Rebouças, Isabela Freitas, Paula Pimenta, Padre Fábio de Melo, Carina Rissi, Affonso Solano e Eduardo Spohr; além dos youtubers Lucas Rangel e RezendeEvil, que levou uma verdadeira multidão ao Expominas. O interesse dos fãs foi tão grande que a organização, atendendo aos pedidos, abriu mais duas sessões além da prevista inicialmente. No total, mais de 1300 pessoas tiveram a oportunidade de participar de um bate-papo com o ídolo juvenil.

O Quintal de Histórias, com curadoria de Valentina Vandeveld, homenageou o poeta Manoel de Barros, que faleceu em 2014 e tem, entre seus livros, a antologia “Meu Quintal é Maior que o Mundo”. A programação, com mais de 70 apresentações, trouxe para o público uma série de atividades lúdicas, performances teatrais, musicais e contações de histórias conduzidas pela Trupe Gaia e convidados especiais.

Outro sucesso de público foi o Espaço Geek & Quadrinhos, que contou com curadoria de Afonso Andrade e Eduardo Damasceno e, nesta edição, chegou ampliado. Cuidadosamente elaborado para atrair os fãs do segmento, o espaço contou, além das HQs, com livros de ficção científica, mangás, fantasias e sagas, jogos de tabuleiro e RPG, entre outras atividades. O público pôde conferir uma programação extensa, sessões de encontros e bate-papos com criadores, cartunistas, autores e gamers, além da presença de cosplayers de personagens e de super-heróis. A invasão Star Wars também movimentou o Expominas, trazendo ao pavilhão os personagens de uma das franquias mais famosas do cinema.

Complementando a programação, o Encontro com Autores trouxe para a Bienal as autoras Cris Guerra e Leila Ferreira; a criadora do movimento “Vamos juntas?”, Babi Souza; Rogério Coja, do site Coja no Wow, e Flávia Alves, do WoW Girl. 

A Bienal do Livro de Minas recebeu ainda as palestras dos Encontros Profissionais, voltados para a capacitação de professores, bibliotecários e demais profissionais relacionados ao universo da leitura.

Bienal de Minas em números
160 expositores
265 mil visitantes
32 mil estudantes na Visitação Escolar
226 autores
203 horas de programação cultural oficial
12 mil m² de área
6 livros comprados, em média, por pessoa

A Bienal do Livro de Minas, promovida pela Fagga | GL events Exhibitions em parceria com a Câmara Mineira do Livro, contou com o patrocínio cultural da Cemig, da Estácio (Café Literário), da Supergasbras (Espaço Geek & Quadrinhos), Piraquê (Ponto de Encontro e Conexão Jovem), apoio cultural da Fundação Municipal de Cultura e promoção Estado de Minas. O evento teve também o apoio da BHTrans, Metrô BH, Net e Gloob, além de parceria de mídia com a BH FM. A Bienal teve também o patrocínio da Lei Rouanet.

Transcrito de Jornal do Brasil - 24/04/2016

Editora Vozes lança selo que reúne clássicos da literatura mundial

A Editora Vozes se prepara para lançar neste mês um novo selo no mercado. O Selo Vozes de Bolso – Literatura será voltado para clássicos da literatura mundial. Todos os livros passaram por um trabalho feito pelo professor doutor Leandro Garcia Rodrigues, que consistiu em retomar as primeiras edições de cada obra, cotejá-las com outras edições e, assim, eliminar eventuais erros que acabaram se repetindo nas mais diversas edições modernas.



No final de cada obra, há um breve texto falando de como foi feito o estabelecimento daquela edição. Além disso, em algumas obras foram incluídos textos que enriquecerão a leitura crítica do livro, como a crônica que Machado de Assis escreveu sobre Iracema, por exemplo. Inicialmente serão lançados seis títulos: Dom Casmurro, Iracema, Memórias de um sargento de milícias, O alienista, O cortiço e O triste fim de Policarpo Quaresma.

Transcrito de Publishnews - 08/04/2016

12 dicas para escritores iniciantes por George R. R. Martin

Leandro Ribeiro - Game of Thrones BR

A época dessa entrevista em Novembro de 2013, George R.R. Martin esteve em Sydney no Opera House, para comentar mais uma vez sobre As Crônicas de Gelo e Fogo e aproveitou para dar algumas dicas para quem quer se aventurar pela escrita de fantasia, baseado em sua própria experiência.



Mesclamos isso a algumas dicas tiradas da seção de perguntas frequentes do site oficial de Martin. Então abaixo seguem os doze mandamentos do Rei (olha a heresia) dos escritores de Fantasia da atualidade.

Comece aos poucos
Dada a realidade do mercado de ficção cientifica e fantasia atual, eu sugiro também que qualquer aspirante a escritor comece com histórias curtas, contos. Hoje me dia eu vejo muitos escritores novos tentando começar de cara com uma novela ou uma trilogia, ou até mesmo com uma série de nove livros. É como começar a escalar de cara pelo Monte Everest. Histórias curtas vão ajuda-lo a aprender seu ofício. Elas são o lugar certo para cometer os erros que todo escritor iniciante vai cometer. E são ainda o melhor caminho para um escritor iniciante aparecer, já que as revistas e coletâneas de contos estão sempre procurando por contos de fantasia e ficção cientifica. Uma vez que você tiver vendido esses contos por uns cinco anos, você terá construído seu nome e editores irão começar a lhe perguntar sobre seu primeiro romance.

Ler e Escrever, sempre
Eu acho que, a coisa mais importante para qualquer aspirante a escritor, é ler. E não somente o tipo de coisa que você está tentando escrever, pode ser fantasia, ficção cientifica, quadrinhos, qualquer tipo de literatura. Você precisa ler de tudo. Leia a história, ficção histórica, biografias, leia novelas de mistério, fantasia, ficção cientifica, horror, os sucessos, literatura clássica, erótica, aventura, sátira. Cada escritor vai ter algo para ensinar a você, seja bom ou ruim. (E sim, você pode aprender com livros ruins também – o que não fazer).

E escrever. Escreva todos os dias, mesmo que seja uma página ou duas.
Quanto mais você escrever, melhor nisso você será. Mas não escreva no meu universo, no de Tolkein, no universo Marvel, de Star Trek ou em qualquer outro que você pegue emprestado. Cada escritor precisa aprender a criar seus próprios personagens, mundos e configurações. Usar o mundo de outro é o método preguiçoso. Se você não exercitar esses “músculos literários”, você nunca vai desenvolvê-los.

Não há problema em pegar “emprestado” da História
Embora minha história seja de fantasia, é fortemente baseada em história medieval real. A Guerra das Rosas, que foi sobre os Yorks e os Lancaster ao invés dos Stark e dos Lannister, foi uma das maiores influências. Mas eu gosto de misturar e combinar e mover coisas ao redor. Como diz um famoso ditado, roubar de uma só fonte é plágio, mas roubar de muitas fontes é pesquisa!

Não limite a sua imaginação
Eu sabia desde o começo que eu queria uma história grande e complexa. Antes d’As Crônicas de Gelo e Fogo eu trabalhei na televisão por dez anos e sempre me deparava com um script de uma cena comum que eu escrevia, mas me diziam “George , isso é ótimo , mas é muito grande e caro, você precisa cortar algumas coisas. Você tem 126 personagens e só temos orçamento para seis”.
Quando eu voltei para a literatura, de repente não havia limites: Eu poderia escrever algo enorme, com todos os personagens que eu queria, com batalhas, dragões e imensos detalhes. Claro, eu pensei que isso seria infilmável e que eu nunca teria que me preocupar com Hollywood novamente. Mas isso é problema de David Benioff e Dan Weiss agora [produtores de TV de Game of Thrones].

Criando personagens “cinza”
Personagens cinza [nem bons, nem maus] sempre me interessaram mais e eu acho que o mundo está cheio deles. Eu li um monte de História, e eu não achei nenhum personagem puramente heroico ou puramente mau. Você pode escolher os exemplos mais extremos – Hitler era famoso por amar cães. Stalin, Mao, Genghis Khan, os grandes assassinos em massa da história eram todos heroicos sob seus próprios olhos. Por outro lado você pode ler histórias sobre todos os santos da história católica e Madre Teresa ou Gandhi e você pode encontrar coisas e ações sobre eles que eram erradas ou questionáveis ?, mas que eles fizeram.
Somos todos cinza e eu acho que todos nós temos a capacidade de fazer coisas heroicas e coisas muito egoístas. Eu acho que compreender isso é a chave para você criar personagens que realmente têm alguma profundidade neles. Mesmo quando eu estou escrevendo Theon Greyjoy, que é alguém que muitas pessoas odeiam, eu tenho que tentar ver o mundo através de seus olhos e dar sentido ao que ele faz.

Violência deve ter consequências – então não poupe ninguém!
Se você pretende escrever sobre guerra no estilo medieval, você precisa mostrar isso – todas essas espadas não são apenas para enfeite. Você deve apresentá-lo honestamente em toda a sua feiura e horror. Batalhas medievais eram excepcionalmente sangrentas, as pessoas basicamente acertavam umas as outras com pedaços grandes, muito afiadas de metal que arrancavam membros e deixavam lesões horríveis e devastadores. Na Batalha de Hastings há relatos contemporâneos de um verdadeiro banho de sangue (estima-se que somando os dois lados haviam 17000 soldados e fora os feridos teriam morrido cerca de 6.000, tudo isso em uma manhã). Eu gosto de mostrar as consequências críveis da guerra, como o homem aleijado, que viveu depois.
Curiosamente, na série, eles mataram uma certo número de personagens menores que ainda estão vivos nos livros, como as duas servas de Daenerys. Quando perguntei [aos produtores] sobre isso, eles me explicaram que ao contrário dos meus personagens nos livros, os atores esperam ser pagos em dinheiro! Portanto, a fim de introduzir um novo personagem no início de cada temporada, eles têm que matar alguns dos antigos personagens para ter folga [no orçamento].

Faça Pontos de Vista críveis
Em última análise, todos nós estamos sozinhos no universo – a única pessoa que cada um de nós realmente conhece profundamente, somos nós mesmos. Obviamente, eu nunca fui um anão ou uma princesa, então quando eu estou escrevendo esses personagens eu tenho que tentar e conseguir entrar em sua pele e ver como seria o mundo de sua posição. Nem sempre é fácil.
Uma parte disso pode ser conseguido falando com pessoas reais. Eu me correspondia com um fã que era paraplégico quando eu estava escrevendo o primeiro e o segundo livros. Ele me deu um monte de informações valiosas sobre como escrever sobre Bran e como seria estar nessa situação.
Mas, ultimamente, eu acho que a humanidade que todos os meus personagens compartilham é mais importante do que se são homens ou mulheres, princesas ou camponeses, altos ou pequenos. Enquanto estas coisas certamente fazem diferença, todos os tipos de seres humanos em todas as culturas ao longo da história têm desejado sucesso, amor, uma certa dose de prosperidade, conseguir comer e não ser morto. Estas são coisas muito básicas que motivam todas as pessoas e tento manter isso em mente ao escrever qualquer personagem.

Escolha os seus personagens com ponto-de-vista de forma a ampliar a narrativa
Minha história é essencialmente sobre um mundo em guerra. Ela começa muito pequena, com todo mundo no castelo de Winterfell, exceto Daenerys. É um foco muito apertado, e em seguida, conforme os personagens se separaram, cada personagem encontra mais pessoas e POVs adicionais entram em foco.
É como se você estivesse tentando fazer um romance da 2ª Guerra Mundial: você vai pegar apenas um soldado comum? Bem, isso só cobriria o cenário europeu , não o Pacífico. Você faz de Hitler um personagem com ponto de vista para mostrar o outro lado? E o lado japonês ou da Itália? Roosevelt, Mussolini, Eisenhower – todos esses personagens têm um ponto de vista único que representa algo enorme na 2ª Guerra Mundial.
Então, você pode ir a partir de uma estrutura de ponto de vista onisciente onde você está contando isso do ponto de vista de Deus, que é uma técnica literária bastante desatualizada, ou você tem um mosaico de pessoas que estão vendo uma pequena parte da história cada um, e através deles você pode obter toda a imagem. Esse é o caminho que eu escolhi usar.

A Dor é uma ferramenta poderosa – mas não exagere
Apresentar a dor é algo difícil de fazer. Anos atrás eu escrevia para um programa de TV chamado A Bela e a Fera, estrelado por Ron Perlman e Linda Hamilton. Linda deixou o show após a segunda temporada para seguir uma carreira no cinema, por isso, decidimos retirar o personagem da história ao invés de substituir a atriz, porque era mais dramático. Tivemos a personagem morta e isso levou a uma grande briga com a rede [o canal].
Queríamos passar um episódio inteiro em que a personagem estaria enterrada e todo mundo passaria 60 minutos chorando e lamentando e compartilhando suas lembranças sobre ela. Mas a rede não queria que mostrássemos nada disso. Eles disseram “o personagem está morto, você precisa seguir em frente e apresentar uma nova Bela. Nunca mais vamos mencionar o nome de seu personagem novamente”. Toda a sala de escritores ficou horrorizada com isso. Era para ser uma história de amor pelas eras, ele não ia simplesmente esquecê-la e seguir para a próxima Bela.
Nós meio que ganhamos a batalha, mas perdemos a guerra. Apresentamos o episódio [como queríamos] e foi muito poderoso. Acho que nossos fãs mais incondicionais assistiram, derramaram muitas lágrimas e depois nunca mais assistiram a série de novo! A mágoa, o sofrimento, não necessariamente se traduz em valor de entretenimento. Dito isto, faz mais poderosa a narrativa. Apresentar não apenas a morte, mas a dor é importante. Em algum momento, todos nós experimentamos a perda de nossos pais, ou irmão ou amigos próximos e é uma emoção muito poderosa.

Evite clichês de fantasia
Eu amo fantasia e tenho lido durante toda a minha vida, mas eu também sou muito consciente de suas falhas. Uma das coisas que me deixa louco é a exteriorização do mal, onde o mal vem do “Senhor das Trevas” que está sentado em seu palácio escuro com seus asseclas sombrios onde todos se vestem de preto e são muito feios. Eu deliberadamente brinquei com isso. Veja a Patrulha da Noite, eles mesmos estão cheios de ladrões, saqueadores e estupradores, e são pessoas heroicas – mas todos eles se vestem de preto. E depois há os Lannister que são bonitos e justos, mas não são as pessoas mais simpáticas da história.
Na fantasia simplista, as guerras são sempre plenamente justificadas – você tem as forças da luz que lutam contra uma horda escura que querem espalhar o mal sobre a terra. Mas a história real é mais complexa. Há uma grande cena em Henrique V de William Shakespeare, em que Henrique vai andando entre os seus homens disfarçado na véspera da batalha de Agincourt, e alguns deles estão questionando se a causa do rei é justa ou não, e lamentando todas as pessoas que vão morrer para apoiar a sua reivindicação. Essa é uma pergunta válida. Então você tem a Guerra dos Cem Anos, que era basicamente uma briga entre famílias que mandou gerações inteiras para o matadouro. Então, eu tento mostrar isso no que escrevo.

Gerenciar muitos personagens requer habilidade – e sorte
Eu às vezes me pergunto se será possível amarrar todos os fios soltos na minha saga. Tenho pesadelos quando eu penso sobre tudo se juntando nos últimos dois livros. Acho que posso fazer isso, mas vamos ver quando eu chegar ao fim. Às vezes, esses personagens malditos tem uma mente própria e se recusam a fazer o que eu quero que eles façam. Eu acho que nós vamos saber se tudo vai funcionar em uma década mais ao menos!

Lembre-se: O inverno está chegando
Valar Morghulis – Todos os homens devem morrer. Eu acho que a consciência de nossa própria mortalidade é algo que diz respeito mais a arte e a literatura. Mas eu não acho que isso se traduz, necessariamente, em uma visão de mundo pessimista. Assim como no mundo real, meus personagens estão aqui apenas por um curto espaço de tempo. O importante é o amor, a paixão, a empatia, o riso, até mesmo rir na cara da morte, se for possível. Há trevas no mundo, mas não podemos dar lugar ao desespero. Um dos melhores temas de O Senhor dos Anéis é que o desespero é o crime supremo. O inverno está chegando, mas você pode acender as tochas e beber vinho e se reunir ao redor do fogo e continuar a lutar por um bom combate.

Mas seja lá o que você fizer, no entanto… Boa sorte. Você vai precisar.
E então? Está pronto para começar sua própria saga? Interessante que “leve todo o tempo do mundo para escrever seu livro” e “não se desespere se seus fãs não te deixarem em paz” não foram citados como conselhos, mas a gente releva.

Transcrito de http://www.blogdogaleno.com.br/2016/04/04/12-dicas-para-escritores-iniciantes-por-george-r-r-martin

Na Alemanha, Rufatto vence prêmio Hermann Hesse 2016

"Luiz Ruffato e seu tradutor Michael Kegler são uma dádiva de Deus: mais alta qualidade literária que permite um olhar para as profundezas de um mundo desconhecido", disse o júri do International Hermann Hesse Preis ao justificar a escolha da dupla para ganhar o prêmio que será entregue no dia 2 de julho, na cidade alemã de Calw.



O Hermann Hesse dará à dupla um prêmio no valor de 20 mil euros que deverá ser dividido igualmente entre autor e tradutor. É a primeira vez que um brasileiro vence o prêmio que é concedido a cada dois anos.

Transcrito de PublishNews - 04/04/2016

Gaboteca: legado de Gabriel García Márquez fica disponível on-line

Todas as edições das obras de Gabriel García Márquez, assim como livros sobre o Nobel de Literatura colombiano, estão disponíveis no portal digital "La Gaboteca", nome escolhido em referência ao apelido do escritor e jornalista, "Gabo".



Este imenso catálogo virtual foi apresentado nesta quinta-feira (15) em Bogotá, por ocasião do segundo aniversário da morte do autor de "Cem Anos de Solidão", em 17 de abril de 2014.

O portal se divide em quatro grandes categorias: as obras de "Gabo", suas traduções, os livros publicados sobre ele e uma seção sobre a vida e as viagens do criador da mítica localidade de Macondo.

"La Gaboteca" está disponível no site da Biblioteca Nacional (BN). Segundo a instituição, este é "o primeiro esforço (...) na rede para ordenar e apresentar o imenso corpus bibliográfico de Gabriel García Márquez ao leitor neófito e ao especialista".

"Tudo o que for produzido sobre Gabo terá lugar na 'Gaboteca'", afirmou a diretora da BN, Consuelo Gaitán, acrescentando que a instituição recebeu várias doações após o falecimento do escritor, incluindo "a medalha e o diploma" de seu Prêmio Nobel, oferecidos por sua viúva Mercedes Barcha.

Os objetos ficarão expostos na sede da BN. Na "Gaboteca", as obras estão divididas em dez categorias - romance, conto, jornalismo, cinema, memórias, poesia, teatro, prólogos, discursos, ensaios, entrevistas e diálogos -, uma prova da riqueza criativa e da diversidade de Gabo.

De acordo com Gaitán, o internauta encontrará "mais de 1.500 materiais" na página, entre eles "600 livros traduzidos para 36 idiomas".

Segundo o curador do projeto, Nicolás Pernett, que trabalhou mais de um ano e meio para ordenar o material, "La Gaboteca" é "também um lugar para sonhar e viajar com todo o legado de García Márquez (...) de conhecer muito mais do que sua obra".

Entre as obras de "Gabo", ganhador do Nobel de 1982, estão todos aqueles livros que podem ser encontrados nas estantes da Biblioteca Nacional, assim como gravações de conferências sobre o próprio durante a Feira do Livro de Bogotá de 2015, ou retratos tirados pelo fotógrafo colombiano Nereo López, falecido no ano passado em Nova York.

Transcrito de Agence France Press, 14.04.2016)