domingo, 31 de agosto de 2014

Imagem: O Prazer da Leitura

Paraíso do livro


Documento: Telegrama de Cora Coralina a Carlos Drummond de Andrade


A escritora Cora Coralina teria completado 125 anos em 20 de agosto.

O Arquivo Museu de Literatura Brasileira (AMLB), da Casa de Rui Barbosa,

possui em seu acervo este telegrama que Cora enviou a Carlos Drummond de Andrade.



quinta-feira, 28 de agosto de 2014

(Des) Aprisionamentos, de Janete Santos

Wandecy de Carvalho

Com este título, (Des) Aprisionamentos, a editora Scortecci apresenta Janete Santos passeando em outro universo, diferente daquele da sala de aula, onde a Drª Janete desenvolve pesquisa e ensino de língua materna (UFT, campus de Araguaína). Nesse mundo das letras existem seres (personagens típicos) que só ela conhece bem, por isso imprime no papel as imagens vistas ou idealizadas. No outro mundo de Janete (não deveria ser esse o título do livro?), o leitor vai encontrá-la narrando diferentes episódios da vida cotidiana, situações estas possíveis de serem vividas ou observadas nos mais diferentes centros urbanos.  E o mais importante é perceber que esses episódios são expostos a partir de uma cuidadosa elaboração artística, ocasião em que sobressai o trato com a linguagem. Em todos os textos existe um repertório de palavras selecionadas com rigoroso critério e talento.  Esses fatos fazem com que os textos fiquem bem elaborados, expondo, assim, a eficiente competência linguística da autora, e o rigor que a língua padrão exige.



O livro (DesAprisionamentos, além de um Prefácio escrito por Eunice R. Henriques, e uma Apresentação de José Francisco da Silva Concesso, está dividido em duas partes:

Na primeira, estão as crônicas, e elas foram expostas por uma narradora que, ao invés de sair de casa com uma máquina fotográfica, parece que sai com lápis e papel na mão, pronta para registrar os fatos que vive ou apenas observa.  O certo é que nada passa despercebido aos olhos dessa caçadora de fatos do cotidiano; de posse deles, ela transforma palavras em imagens para que o leitor possa vê-las também. Dentre os episódios “capturados”, pode estar um assalto, o desentendimento entre o caixa e sua cliente, podem ser digressões sobre o dia das mães, o dia dos namorados, ou sobre o “Ato falho” de uma mulher em uma loja de joias, ou ainda da outra cliente que não resiste a tentações de consumo e acaba comprando o que não precisa.  Se a narradora está em casa, para não ficar sem ter o que fazer, ela reconta, a seu modo, a lenda do boto cor de rosa, que sai a fazer filhos em noite de lua cheia. Interessante nessa narrativa, independente do trabalho de desmitificação do objeto, é que o boto, seja por um ‘ato falho’ da narradora, seja proposital, segue classificado pelo olhar do caboclo, como peixe mesmo e não como mamífero.

Na segunda parte do livro estão os contos.  Dentre eles destaca-se aqui o “Vaticínio”, nele um narrador deprimido questiona a hipocrisia e os artifícios criados pela sociedade para que as pessoas vivam um faz de conta, diante da dura realidade da vida.  Há também “Os condenados”, surpreendente história medieval envolvendo reis cruéis e princesas violentadas.  Aqui o segredo mantido debaixo dos lenções seria a solução para todos os problemas do reino, se não fosse a truculência do chefe da guarda que manda matar a peça principal daquele jogo. Outro destaque é A campanha de Orélio que, por perceber ser falsa a ideia de unidade nacional, ele sai em conferências pelo Brasil propondo dividir o país em três grandes regiões. 

Além desses, existem ainda outros episódios que merecem destaques, mas identificá-los é uma tarefa a ser desempenhada a cada novo leitor.

Por outro lado, como nem tudo é perfeito, alguns dos textos classificados como contos poderiam ser incluídos entre as crônicas, visto que os mesmos não possuem aqueles elementos que distinguem um gênero do outro.



Por fim, vale destacar a cuidadosa capa elaborada pela poetisa e artista plástica Eliane Cristina Testa.  Aqui os (Des) Aprisionamentos se manifestam a partir das folhas que se libertam de um emaranhado de arames e se deixam levar pelo vento, para bem longe dali.

Enfim, o livro (Des) Aprisionamentos não possui contra indicações. Sendo assim, ele é capaz de propiciar boa e descontraída leitura, por isso pode ser indicado para todas as idades.

* Doutor em Letras Clássicas, Professor do Curso de Letras da Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Campus Araguaína

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Nova universidade nos EUA inaugura biblioteca sem livros em papel

Prédio principal da Universidade Politécnica da Flórida, em foto sem data; a nova biblioteca foi inaugurada sem livros em papel (Foto: Reuters/Divulgação/Universidade Politécnica da Flórida)

A Universidade Politécnica da Flórida, nos Estados Unidos, foi inaugurada na semana passada na cidade de Lakeland prometendo abordagens inovadoras no ensino e na pesquisa em ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Uma dessas inovações é a biblioteca, que foi aberta neste mês com um acervo de 135 mil livros, mas nenhum deles impressos no papel. Todos estão em formato digital. A primeira aula da história da universidade aconteceu nesta segunda-feira (25).

"É uma decisão corajosa avançar sem livros", disse à agência de notícias Reuters Kathryn Miller, a diretoria de bibliotecas da nova instituição. A ideia por trás dessa decisão é refletir a priorização pela alta tecnologia que permeia toda a missão da "Florida Poly", como a universidade é chamada nos Estados Unidos.

Os 135 mil e-books podem ser acessados pelos estudantes pelo tablet ou notebook pessoais. O local, assim como o resto do campus, é equipado com internet sem fio. Além dos títulos já disponíveis, a instituição tem um orçamento de US$ 60 mil (cerca de R$ 140 mil) para comprar livros digitais por meio de softwares, para que os alunos possam lê-los uma vez gratuitamente. Com o segundo clique, a universidade compra o e-book. "Em vez de o bibliotecário colocar livros que eu acharia relevantes na estante, os estudantes é que estão escolhendo", disse Kathryn.

Nova função para bibliotecários

Já que não têm mais a função de carregar e guardar os livros físicos, os bibliotecários contratados pela universidade têm como principal tarefa orientar os leitores a aprender a gerenciar os materiais digitais.

A nova biblioteca, porém, não é 100% sem papel, segundo a Reuters. Alunos podem levar livros para estudar no local e emprestar livros em papel das outras 11 universidades estaduais da Flórida.

A Politécnica é a 12ª universidade mantida pelo governo do estado da Flórida e o prédio principal do campus foi desenhado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava.

A construção levou 28 meses e, além da biblioteca digital, há um supercomputador e laboratórios de pesquisa para estudantes e professores.

Prédio principal da Universidade Politécnica da Flórida foi desenhado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava (Foto: Reuters/Divulgação/Universidade Politécnica da Flórida)

Transcrito de http://g1.globo.com/educacao/noticia/2014/08/nova-universidade-nos-eua-inaugura-biblioteca-sem-livros-em-papel.html

Livros que toda criança e adolescente devem ler

Juliana Sada

Na semana em que tem início a 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, o Centro de Referências em Educação Integral abre espaço para a literatura. Crianças, especialistas, educadores e escritores indicaram os livros que toda criança e adolescente devem ler para contribuir com seu desenvolvimento integral. Afinal, o direito à leitura e à literatura envolve não apenas a língua, mas o significado simbólico, histórico e cultural de cada cultura. Confira a seguir!


O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry, Editora Agir)O-pequeno-príncipe

“É um livro para todas as idades. Para lembrar que não se deve matar a criança grande que habita em cada um de nós.
No nosso tempo, um dos maiores poetas vivos, o Manoel de Barros diz que continua a ser criança, quase chegando aos cem anos. Já o apóstolo Saulo de Tarso, na sua primeira carta aos Coríntios, escreveu: ‘quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, como criança me comportava. Hoje, depois de homem feito, deixei de lado as coisas de criança…’”.
José Pacheco, educador, um dos fundadores da Escola da Ponte em Portugal e autor do Dicionário de Valores (Edições SM).


Matilda (Roald Dahl, Ed. WMF Martins Fontes)

“Recomendo a obra do autor inglês Roald Dahl, que é fundamental; e deve ser a biblioteca básica das crianças. Ele tem um livro super marcante chamado ‘Matilda’, que posteriormente virou filme. Na história, Matilda é uma garota muito inteligente que vive em uma casa onde se detesta pessoas sábias e os pais querem que ela seja medíocre. É uma obra que não subestima a inteligência das crianças e que tem vínculo direto com as questões da infância, como o sentimento de rejeição ou de abandono e, ao mesmo tempo, mostrando como se pode superar isso. O livro traz a força da imaginação e a coragem da criança pra superar. É um livro maravilhoso e tem humor.
E, pessoalmente, Roald Dahl muito me influenciou como autor de livros infantis. Ele não tem problemas de colocar no texto questões que provoquem as crianças; ele é transgressor e não tem medo de escrever para a infância. É um dos grandes autores ingleses, que escreveu também “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, outra dica importante de leitura.”
Ilan Brenman, escritor e autor de Até as princesas soltam pum (Editora Brinque Book) e O Bico (Editora Moderna)


Marcelo, Marmelo, Martelo e Outras Histórias (Ruth Rocha, Ed. Salamandra)

“É um livro que desperta muito a imaginação, mostrando o quanto a criança pode viajar por meio dela. Na história, Marcelo é um garoto que começa a falar de uma forma diferente e questiona o nome que as coisas têm, como por exemplo, perguntando porque a cadeira chama cadeira e não sentador? A partir disso, ele começa a dar nome para as coisas. É um livro que eu leio bastante na biblioteca e que aguça muito a imaginação das crianças.”
Eulina Cardoso, pedagoga e coordenadora da Biblioteca Esquina do Livro, que fica no bairro de Engenho Novo, no Rio de Janeiro, e integra o Polo Conexão Leitura.

Mitologia Grega

“O que eu mais gosto são os livros de mitologia grega. Neles, você passa por uma aventura e não precisa ver televisão, você imagina o cenário na cabeça. Eu adoro! Hoje vou começar a ler Homero, eu gosto destas coisas antigas. Os últimos que eu li foram “O Anel de Tutancâmon” (Rogério Andrade Barbosa, Ed. Melhoramentos), que é muito legal, e “Jiló, um garoto em perigo” (Marcio Poletto, Ed. Melhoramentos), que é sobre tráfico de crianças, mas não é muito triste, porque sempre acaba com um final feliz, né?”
Leonardo Odloak, 11 anos, estudante do 6º ano do ensino fundamental.


O Dia do Curinga (Jostein Gaarder, Ed. Cia das Letras)

“É um livro que me abriu bastante o imaginário, me ajudou a perceber que o mundo é viajável e me despertou a vontade de viajar. A obra também fez com que eu tivesse outra relação com o meu pai. O livro conta a história de um garoto e seu pai que vão buscar a mãe que os deixou há alguns anos. Então, eles passam a viajar pela Europa em busca dela e há histórias paralelas acontecendo e que se entrelaçam. Eu li com 12 ou 13 anos e me marcou muito, foi a partir dele que despertei meu gosto pela leitura.”
Antonio Sagrado Lovato, diretor do documentário 'Quando sinto que já sei'


Alexandre e outros heróis (Graciliano Ramos, Ed. Record)

“O livro tem várias histórias, mas tem uma que me marcou muito. Um garoto está na floresta, se assusta ao ver uma onça e foge. Ao chegar em casa, seu pai alerta que ele está sem um olho. Ele o havia esquecido na floresta! Com muito medo da onça, ele volta e consegue achar o olho. No entanto, ao colocar no rosto, ele põe o olho ao contrário. A partir daí, ele passar a olhar sempre para dentro e para fora. Desde então, eu tenho tentando sempre ficar com um olho atravessado! O Graciliano Ramos tem um jeito de escrever que não subestima o jovem, o livro é bastante simbólico e provocador”.
André Gravatá, autor do livro Volta ao mundo em 13 escolas


O Senhor das Moscas (William Golding, Ed. Alfaguara)

“Um dos maiores clássicos da literatura inglesa do Século XX, o livro constrói alegorias a partir da história de um grupo de crianças que, após a queda de um avião no mar, se vêem isoladas e sozinhas em uma ilha deserta. Por envolver personagens infantis, o livro costuma causar identificação com o público jovem. A obra é rica em possíveis interpretações trazendo elementos históricos, culturais e psicológicos, estabelecendo várias reflexões. O livro pode ser lido em diferentes idades e trazer diferentes interpretações, de acordo com o repertório da pessoa.
Na sala de aula, o livro pode trazer uma série de debates. Um deles é sobre o estado primitivo do ser humano, já que os garotos vão perdendo a civilidade e tendo uma atitude cada vez mais primitiva. E isso ocorre logo com crianças que são tidas como o símbolo da inocência e pureza, então, é possível debater psicologia a partir disso. Outra questão do livro são os regimes democrático e fascista, que as diferentes formas de organização dos garotos acabam refletindo.”
Rodrigo Valente, jornalista e professor de história.


A espada e o novelo (Dionisio Jacob, Ed.SM)

“O livro A espada e o novelo traz a história de um célebre contador de histórias que está à beira da morte. Para ouvir o que seriam as últimas histórias do velho Laodemo, pessoas de diferentes localidades do mundo se reúnem em uma ilha do mar Mediterrâneo. Pela memória do sábio Laodemo conheceremos vários feitos de heróis mitológicos como Jasão, Héracles e Teseu, e por sua boca falará os deuses, fazendo o mundo voltar a ser habitado por ninfas, centauros e monstros.
É uma obra, como sugere o título, que transita entre guerras, amores, fúria e perdão como se tivessem emaranhados num grande novelo que é o mundo. Depois que puxamos a primeira palavra da história é impossível não desenrolar todo o enredo até o final.”
Volnei Canônica, especialista em Literatura Infantil e Juvenil e coordenador do programa Prazer em Ler do Instituto C&A.


Jogos Vorazes (Suzanne Collins, Ed. Rocco) e Divergente (Veronica Roth, Ed. Rocco)divergente

“As histórias são muito boas, são de um futuro muito distante depois de várias mudanças que aconteceram no mundo. Tudo o que os personagens passam é muito emocionante! No Jogos Vorazes, eles estão divididos em doze distritos que servem à Capital. Tem a ver com a nossa realidade um pouco, ainda mais com os governantes, que se importam mais com si mesmos do que com o povo, que deveria ser a prioridade deles. Já no Divergente, as pessoas estão divididas em facções de acordo com as suas capacidades, como franqueza e erudição. Alguns deles descobrem que existem pessoas vivendo do outro lado da cerca, que não se encaixam em nenhuma facção e decidem conhecer este outro mundo.”
Andressa Almeida, 13 anos, estudante do 9º ano do ensino fundamental.

Transcrito de http://educacaointegral.org.br/noticias/livros-toda-crianca-adolescente-devem-ler/

Mensagem da UNESCO para o Dia Internacional de Lembrança do Tráfico de Escravos e de sua Abolição



Mensagem de Irina Bokova, diretora-geral da UNESCO, pela ocasião do Dia Internacional de Lembrança do Tráfico de Escravos e de sua Abolição:

O Dia Internacional de Lembrança do Tráfico de Escravos e de sua Abolição é particularmente significativo em 2014, aniversário de 210 anos da independência do Haiti e aniversário de 20 anos do programa educacional e cultural Projeto Rota de Escravos da UNESCO, um projeto pioneiro que ajudou a acelerar pesquisas e propagar o conhecimento sobre a história da escravidão e suas consequências.

A história do tráfico de escravos registra não somente seu sofrimento mas também sua luta vitoriosa pela liberdade e pelos direitos humanos, simbolizada pela insurreição de escravos de São Domingos da noite de 22 para 23 de agosto de 1971. Essa luta reforça a consciência sobre a igualdade de todos os homens e mulheres que é herança direta de todos.

Essa visão emancipatória deve servir de guia aos nossos esforços em prol de construir uma cultura de tolerância e respeito. Os programas educacionais e culturais da UNESCO e seu apoio a pesquisas históricas têm por objetivo destacar a riqueza das tradições produzidas pelos povos africanos em meio à adversidade – na arte, na música, na dança e na cultura de maneira  geral –, criando laços indissolúveis entre povos e continentes e transformando irreversivelmente a cara da sociedade. Essa herança tem valor inestimável para uma vida pacífica em nosso mundo globalizado às vésperas da Década Internacional para os Povos de Ascendência Africana (2015-2024).

A transmissão dessa história é condição essencial para uma paz duradoura baseada na compreensão mútua entre povos e na plena consciência dos perigos do racismo e do preconceito. Ela também nos ajuda a continuar nossa mobilização contra formas modernas de escravidão e tráfico de pessoas que ainda afetam mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo.



Leal às palavras de Aimé Césaire, que disse, sobre a Cidadela no Haiti: “a essas pessoas, obrigadas a se ajoelhar, urgia um monumento para que se erguessem”, a UNESCO contribui ativamente com o projeto de um Memorial Permanente à Lembrança das Vítimas da Escravidão e do Tráfico Transatlântico de Escravos, a ser estabelecido na sede das Nações Unidas.

Conclamo os países-membros e os parceiros da UNESCO em escolas, universidades, na mídia, nos museus e nos lugares de memória a observar este Dia Internacional e a dobrar seus esforços para garantir que o papel feito pelos escravos na conquista do reconhecimento de direitos humanos universais seja conhecido mais a fundo e mais amplamente disseminado.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

Imagem: Quem mal lê...




Manifestações de ódio estão dominando a internet?

Tradução: Fernanda Lizardo, edição de Leticia Nunes. Com informações de Farhad Manjoo [“Web Trolls Winning as Incivility Increases”, The New York Times, 15/8/2014], Enrique Krauze [“Anti-Semitism Stirs in Latin America”,The New York Times, 16/8/2014], Luigi Serenelli (com colaboração de Angela Waters e Jennifer Collins) [“As online anti-Semitism grows, so do efforts to counter it”, The Washington Post, 15/8/2014], Merissa Nathan Gerson [“

Troll é um termo utilizado na internet para caracterizar um baderneiro que surge – na maioria das vezes, anonimamente – para provocar discórdia nas redes sociais e em seções de comentários de blogs e sites, quase sempre com postagens agressivas.

Embora trolls, mensagens de ódio na rede ou o cyberbullying não sejam novidade, cada vez mais a internet parece estar perdendo uma guerra invisível contra tais assediadores, e o grande desafio no momento é encontrar uma forma inovadora de derrotar os encrenqueiros do mundo digital.

Bullying virtual

Dias após a morte de seu pai, o ator Robin Williams – que cometeu suicídio em 11/8 –, a também atriz Zelda Williams, tornou-se vítima do assédio online. Zelda decidiu sair de sua conta no Twitter após receber fotomontagens de seu pai com marcas no pescoço e fotos de cadáveres mortos por enforcamento.
Embora o cancelamento de uma celebridade no Twitter não soe como um dos problemas mais alarmantes que o mundo enfrenta, deve-se notar que o fenômeno não é fato isolado e afeta mais gente do que parece, podendo deixar um rastro de danos emocionais coletivos.

Em artigo publicado na revista Pacific Standard, a escritora Amanda Hess aponta que a internet tem se tornando uma “central para a experiência humana”, um lugar do qual não se é mais possível escapar caso você deseje trabalhar, namorar, socializar ou abrir uma conta corrente. Por causa disso, o impacto da rede em nossas vidas é maior do que se imagina. “Ameaças online podem dominar nosso emocional”, avalia. Amanda também pondera que os problemas online refletem um custo real, pois além de tomar tempo, às vezes exigem providências concretas para serem combatidos, como a abertura de processos ou o investimento em segurança online.

A escritora e ativista americana Jennifer Pozner – que se dedica principalmente a grupos de defesa de causas feministas – teve sua vida profundamente afetada por um perseguidor. Ela chegou a receber mensagens diárias de um indivíduo que criava contas novas no Twitter única e exclusivamente para perturbá-la.

Guerra online

A Guerra de Gaza tem sido mais um pretexto para manifestações odiosas nas redes sociais, principalmente no que diz respeito ao antissemitismo. Em análise para o New York Times, o jornalista Enrique Krauze, articulista do El País, chamou atenção para a quantidade de mensagens antissemitas redigidas em língua espanhola no Twitter. “Alguns governos latino-americanos manifestaram seu descontentamento com as ações de Israel. Chile e Brasil chamaram seus embaixadores, Fidel Castro acusou os israelenses de genocídio, e os governos favoravelmente dispostos à revolução populista da Venezuela condenaram publicamente a postura de Israel na guerra”, escreveu ele. “Embora tal rejeição política não seja necessariamente antissemita, há algo novo surgindo nas mídias sociais em língua espanhola, principalmente entre os jovens, onde a condenação a Israel é muitas vezes acompanhada por diatribes antissemitas. A América Latina não é particularmente antissemita, mas há um perigo de se transformar em tal”, concluiu.

Suzette Bronkhorst, cofundadora da Agência Holandesa de Queixas para Discriminação na Internet, diz que não se lembra de já ter visto níveis tão altos de discursos antissemitas em plataformas sociais. Em julho de 2014, o número de páginas antissemitas em língua holandesa no Facebook alcançou as centenas. No mesmo período, a hashtag “Hitler estava certo” apareceu mais de 10 mil vezes no Twitter, tornando-se um trending topic.

A Universidade Técnica de Berlim deu início a um projeto para analisar cerca de 100 mil textos da internet e avaliar como o antissemitismo se espalha nas redes sociais e nas seções de comentários de sites, chats e fóruns. A equipe descobriu que as manifestações não vêm só do círculo islâmico e dos círculos de direita, mas também da classe média escolarizada.

Yonathan Arfi, vice-presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França, diz que a onda antissemita é um novo fenômeno que tem se intensificado graças à internet. “É um espaço sem leis”, diz ele.

Combate

Mesmo com tantas evidências óbvias de que discursos de ódio devam ser combatidos, a questão ainda é bastante complicada. Tanto o Twitter quanto o Facebook têm meios para denunciar abusos, mas os recursos são frequentemente descritos como inadequados.

Del Harvey, vice-presidente da Equipe de Confiança e Segurança do Twitter, afirma que o site vive em constante processo de avaliação para melhorar ainda mais suas políticas e lidar melhor com casos como o da filha do ator Robin Williams.

A empresa de mídia online Gawker Media diz ter solucionado seus problemas implementando um sistema onde apenas comentadores aprovados têm permissão para postar na seção de comentários. Comentários reprovados costumam ser relegados a uma seção de “pendentes” com um aviso de alerta aos leitores sobre seu conteúdo.

Em 2013, o Facebook enfrentou pressão de ativistas e anunciantes, o que levou a rede social a rever suas páginas de comunidades, evitando assim a publicação de anúncios em páginas com conteúdo gráfico.
Adeptos da tecnologia e ativistas online, por outro lado, alegam já ter oferecido ao Twitter algumas ideias simples para tornar o microblog mais seguro. O programador Jacob Hoffman-Andrews, por exemplo, criou o “Block Together”, um programa que permite aos usuários bloquear novas contas no Twitter ou contas que tenham número baixo de seguidores.

Liberdade de expressão

O que torna boa parte das empresas de tecnologia hesitantes sobre a filtragem de qualquer conteúdo em seus sites é o temor de bloquear a liberdade de expressão. Monitorar conteúdo agressivo individualmente é algo complicado devido ao alto volume de informação na rede, e realizar bloqueio automático de conteúdo (através de palavras-chave) pode atrapalhar eventos políticos. É inegável, por exemplo, a importância das redes sociais durante a Primavera Árabe de 2010 e 2011.

Quando o Facebook esteve sob a pressão de ativistas em 2013, ele também apontou a dificuldade em não afetar a liberdade de expressão ao realizar a filtragem de seu conteúdo. “Avaliar materiais controversos nos obriga a tomar decisões difíceis e desperta preocupações em relação ao equilíbrio da liberdade de expressão e do respeito à comunidade”, declarou a equipe do Facebook em seu blog à época.

“Não alimente os trolls”

O jornalista britânico-americano Nick Bilton diz que já cometeu o “grande erro” de se envolver em discussões em redes sociais e que os episódios lhe renderam mensagens de ódio imediatas e ofensas impublicáveis.

Ele crê que não interessa o tópico abordado. Pode ser Gaza, a Agência Nacional de Segurança dos EUA, Beyoncé, Justin Bieber ou assuntos esotéricos: sempre haverá discursos de ódio na rede. Em artigo para o New York Times, o jornalista se pergunta: o que o usuário deve fazer então? Recusar-se a se manifestar ou a compartilhar links para não incitar a horda?

Bilton consultou uma série de jornalistas “cujo trabalho é ser atacado online” em busca de uma resposta. Boa parte deles disse ignorar as mensagens. Um editor da revista New Yorker afirmou: “A regra do seu envolvimento é nunca se envolver”. Um ex-funcionário da Gawker disse que um dos mantras da empresa é “Nunca reclame, nunca se explique”. Já um colega do New York Times recorreu a uma velha regra da internet: “Não alimente os trolls”.

Bernie Mayer, autor de vários livros sobre resolução de conflitos e professor da Escola de Direito da Universidade de Creighton, em Omaha, observa que, além da velocidade, há outro problema nas discussões digitais: nelas, as pessoas não conseguem captar o tom de uma conversa, a expressão facial e, acima de tudo, o sarcasmo. Mayer diz que é possível ter pistas através de emoticons e nuances gramaticais, mas que, por fim, num embate de 140 caracteres, isso se torna quase impossível.

Para Whitney Phillips, professora da Universidade Estadual de Humboldt, enquanto a internet estiver operando de acordo com uma economia baseada em cliques, os trolls vão existir. “Não é uma questão de saber se estamos ou não estamos vencendo a guerra contra os trolls, mas sim se estamos vencendo a guerra contra a misoginia, o racismo e afins”, diz ela. “A atitude dos trolls é apenas um sintoma destes problemas maiores”.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed812_manifestacoes_de_odio_estao_dominando_a_internet – 19.08.2014 - edição 812

Revoluções Científicas e Transdisciplinaridade

Cartaz do curso a ser ministrado nos campi Palmas e Porto Nacional




Ementa


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Resenha de filme: Fahrenheit 451

Lianja Soares Aquino*

O filme Fahrenheit 451 (Fahrenheit 451. Direção de François Truffaut, com Oskar Werner, Julie Christie, Cyril Cusack. Ficção científica, França/Reino Unido, 1966) transcorre numa cidade em que as casas são à prova de fogo, os bombeiros se destinam a que função? Queimar livros. Assim, inicia-se o filme Fahrenheit 451, dirigido pelo francês François Truffaut. O filme é uma adaptação do romance de Ray Bradbury, estadunidense e escritor de contos de ficção-científica. A trilha sonora usada no filme é de Bernard Hermann, compositor que também teve participação em filmes como, Psicose (Psycho, 1960) de Alfred Hitchcock; Kill Bill (2003), de Quentin Tarantino e Taxi Driver (1976), de Martin Scorcese.  



Direção e trilha sonora são brilhantes, de acordo com os recursos da época, mas o mais significativo é a reflexão que o filme provoca sobre a manipulação dos programas de TV que incentivam o consumismo, a superficialidade e impõe regras de conduta social para controlar o comportamento da população. A proibição de livros como: novelas, biografias, aventuras, romances e filosóficos é obrigatória neste contexto, com a argumentação de que “A única maneira de ser feliz é garantir que todos sejam iguais, por isso a necessidade de se queimar os livros”.  

A genialidade do filme está em sua atemporalidade. Produzido e divulgado nos anos sessenta (1966), momento de grandes transformações culturais, apoiadas em movimentos como o da geração beat, iniciada pelo escritor Jack Kerauac contra o moralismo rígido do começo dos anos 50, garante ainda, nos tempos atuais, um debate relevante sobre a obra e as relações humanas. A TV, também nesse período, tornou-se um meio de comunicação de massa e os movimentos feministas começaram a eclodir. 

Com a avançada tecnologia dos dias atuais, algumas pessoas arriscam dizer que estamos chegando num período em que os livros impressos sumirão das prateleiras. Outra discussão ainda é o controle das massas através de mídias manipuladoras de opinião. Entre os anos de 1950 e 2014 muitas coisas mudaram, mas os temas propostos pelo filme parecem não ter vencido as barreiras do tempo.  

Nesse ínterim, Montag, protagonista do filme, exerce a função de bombeiro e, junto a sua equipe, queima livros. Montag é objetivo em suas palavras, não questiona as ordens do chefe e é casado com Linda, uma mulher que passa os dias na frente da TV, tomando pílulas e seguindo o sistema vigente. Tudo é muito controlado: horários, trabalho e família. Mas Montag conhece Clarisse. 

Numa conversa informal Montag é questionado por Clarice se nunca havia desejado ler algum livro que queimava. Esta pergunta seria o inicio de uma vida considerada transgressora para Montag, mas despertou sua curiosidade. Ele rouba um livro intitulado “A história pessoal de David Copperfiel, por Charles Dickens” e não conseguiu parar de ler e de roubar outros livros. As histórias que Montag lê e sua relação com os livros levam a questionamentos sobre sua condição de bombeiro e marido. A partir dessas reflexões, as suas atitudes começam a mudar. 

O desfecho do filme não pode ser revelado aqui, pois o lirismo militante em questão é de encher os olhos e alma. O fato é, como disse Jorge Luis Borges, em seu texto A biblioteca de babel: “A Biblioteca é ilimitada e periódica. Se um eterno viajante a atravessasse em qualquer direção, comprovaria ao fim dos séculos que os mesmos volumes se repetem na mesma desordem (que, reiterada, seria uma ordem: a Ordem). Minha solidão alegra-se com essa elegante esperança.” E é com esta esperança de poder ser livre, enquanto leitor e construtor de cultura, que Montag escolhe seguir. 

Para assistir o trailer, clique aqui

Para assistir o filme completo clique aqui  

*Graduada em Letras e mestranda em ensino de Língua e Literatura pela Universidade Federal do Tocantins, UFT, Campus: Araguaína

Press Release 005 – 25.08.2014 – Filme Getúlio

O filme Getúlio (Getúlio. Dir. João Jardim, com Tony Ramos, Drica Moraes, Alexandre Borges. Drama. Brasil. 2014) conta a história do governante que mais tempo exerceu o poder presidencial na história do país, instaurando o trabalhismo e, como estancieiro, virando as costas à reforma agrária.

A obra, que culmina com sua morte em 24 de agosto de 1954, é o ápice do relato dos seus últimos 19 dias, fazendo prevalecer a leitura dramática em detrimento da leitura política do golpismo que, nas palavras de Tancredo Neves, à época Ministro da Justiça, se revelariam nos mesmos líderes do golpe de 1964 - instalando a mais longa ditadura brasileira e a primeira das diversas que sangraram o continente por duas décadas. A trama dispensa um conjunto de elementos fundamentais para entender o golpismo, não dando elementos para uma compreensão histórica e politicamente mais objetiva.

Sua personalidade populista foi cristalizada na imagem do povo carregando seu caixão, do Palácio do Catete até o Aeroporto Santos Dumont - histórica dentro da obra ficcional - que rivalizava com o político-jornalista, Carlos Lacerda - que exerceu a profissão e o mandato com seus piores vícios - perenizando na imprensa o mesmo comportamento udenista dos nossos dias, mas só conseguindo derrubar ainda o Presidente 

João Goulart, até a atual impotência desesperada.

Assista hoje o filme Getúlio na TV Globo, às 22h45

Prof. Dr. Antonio Carlos Ribeiro
Pós-Doutorando – UFT/PPGL
Editor



Se desejar ler os demais Press Release, clique em http://bit.ly/1E35ugR

Press Release 004 – 25.08.2014

Destaque
   Filme: Getúlio
http://bit.ly/1tA9WOJ

Resenha de filme
   Viva a Liberdade
http://bit.ly/1p9SUaX

Resenha de filme
   Fahrenheit 451 - http://bit.ly/1qHuiBK

Cultura
   Ministério da Cultura coloca obras raras ao alcance dos dedos - http://bit.ly/1tBiDZp

Evento
   ABL promove Seminário Brasil, brasis - http://bit.ly/1twjqLV

Evento Acadêmico
   Atividades acadêmicas do curso de Física da UFT – Campus Araguaína -
http://bit.ly/1tBiDZp

Resenha de livro
   O amor nos tempos do cólera – Gabriel Garcia Márquez - http://bit.ly/1pXYxrZ

Grandes Clássicos – Obra Completa
   Eça de Queirós - http://bit.ly/1oR1NA6

Imagens: crianças e leitura
   Meninas leitoras - http://bit.ly/1qGixf1

Prof. Dr. Antonio Carlos Ribeiro
Pós-Doutorando – UFT/PPGL
Editor



Se desejar ler os demais Press Release, clique em http://bit.ly/1E35ugR

Imagem: O prazer da leitura

Meninas leitoras


Imagens: O prazer da leitura

A árvore da leitura


Imagens: O prazer da leitura

Em busca de mais saber


Imagens: O prazer da leitura

Crianças e leitura





Resenha de livro: O amor nos tempos do cólera

O Amor nos Tempos de Cólera e o amor nos tempos da efemeridade – uma reflexão

Má Dias

Gabriel García Márquez é um escritor colombiano, fortemente acusado de ser o precursor do realismo fantástico na literatura latino-americana, bem como o responsável por popularizá-la mundo afora. Para os fãs assíduos do exercício da leitura, esse mestre não passa (e nem deve passar!) despercebido. São deles as melancólicas letras de Cem anos de solidão – letras essas que se perpetuam em outros de seus títulos, como Memória de minhas putas tristes, ou O Amor nos Tempos do Cólera–este último sendo objeto de análise deste artigo e publicado em 1985; três anos depois de ser concedido ao escritor o Prêmio Nobel de Literatura.   




Integrante de uma vasta família(possuía onze irmãos) Gabo sempre se inspirou no universo das relações pessoais – sejam familiares, conjugais ou de poder –e principalmente das relações que levamos com nosso próprio “eu com o mundo”, para compor aquelas que são umas das mais primorosas obras da literatura mundial. García Márquez explora não somente a fábula cotidiana da vivência latina como mero objeto social, mas também suas impressões e consequências carimbadas no íntimo desse povo, traduzidos em marcantes e apaixonantes personagens. Possui como premissa o seu estilo de escrita realista aliado a uma singularidade sobrenatural, sendo esta última uma vivência divinizada por um Deus que se manifesta senão como a figura do próprio homem-personagem – mentor e executor de suas próprias ações neste mundo real e fantástico – sem, necessariamente, apontar onde as barreiras do real e do místico se encontram, pois é exatamente na fronteira dessas duas categorias que a vida, pura e simples, acontece.

O enredo de O Amor nos Tempos do Cólera, inspirado na história de amor dos pais de García Márquez, traz a história de Florentino Ariza: fruto de um caso extraconjugal de sua mãe com um dos grandes nomes da Companhia Fluvial do Caribe, mas sem muitas perspectivas de vida. Florentino é detentor de um amor incondicional, inabalável, eterno (e aqui me desculpe a gama de adjetivos, mas hei de dar uma mínima noção da veracidade de seu sentimento) por Fermina Daza, filha de um comerciante rico, mas não nobre, que chega à cidade na flor da idade, acompanhada apenas de seu pai.

O amor cresce de forma quase que instantânea entre os dois: ela, totalmente pura e regida sob as regras severas do pai; ele, impetuoso e ansioso por consumar seu amor tão legitimado pela certeza. A relação dos dois é baseada numa troca de cartas, na qual Florentino se vê impulsionado a escrever e escancarar toda a sua gama de sentimentos e ternuras por quem ele acredita ser a mulher de sua vida. E assim a história acontece – ou melhor, deveria acontecer; pois, em dado momento, Fermina Daza é obrigada por seu pai a realizar uma viagem para as terras distantes de seus familiares a fim de esquecer, de uma vez por todas, o desqualificado pretendente Florentino Ariza.

Em seu retorno à cidade, o objetivo da viagem traçado pelo pai é alcançado: ao encontrar o pretendente, Fermina o enxerga com olhos que não mais correspondem ao amor; olhos que nada mais são do que piedade para com o pobre rapaz. E o sentimento que invade Florentino Ariza frente à constatação de seu infortúnio e perda deve ser familiar, senão pra todo mundo, para uma grande parcela de corações palpitantes mundo afora.

Não obstante, Florentino Ariza não se deixa abalar de todo. Mesmo com a consumação do casamento da amada com o homem mais importante da cidade, mesmo com a construção da família e da figura pública de senhora soberana que Fermina Daza apresenta em eventos sociais, o pobre homem constrói para si uma vida social e econômica de prestígio e permanece fiel a seu sentimento:

“Florentino Ariza não deixou de pensar nela um único instante desde que Fermina Daza o rechaçou sem apelação depois de uns amores contrariados e longos, e haviam transcorrido a partir de então cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias”.

Neste enredo de Gabo sobre a diversidade, veracidade e persistência do amor, há uma comparação eficaz, escancarada no título da obra: em tempos nos quais a cólera atacava a população de países da América Central de forma devastadora (países esses planados pela crônica escassez generalizada da América Latina),o amor nada mais era do que a própria doença. Sim, o amor nada mais era do que a cólera que os deixava abatidos e cabisbaixos, com dores de barriga ou taquicardia. A única fonte de infecção da cólera é o contato direto com dejetos–coisas que não precisamos mais e expelimos naturalmente pra fora de nosso corpo – de outras pessoas também infectadas pela doença. Pois, enquanto dejeto do amor doutra pessoa, a própria convivência perturbadora do homem para consigo não seria a única fonte dos amores contrariados, da infecção pela desilusão? A cólera é altamente contagiosa e pode matar em poucas horas se não for tratada; será o mesmo com o amor? (Ação essa legitimada por outras personagens da literatura, como, por exemplo, Werther, de Goethe). Possivelmente, sim, há tempos atrás. Mas não mais.

Esta é uma visão romântica? É uma visão utópica e dramática? É uma visão ultrajante do amor? Talvez. Mas é curioso perceber que tal sentimento tão amplo não mais se constrói como no século XIX (não chamaria de evolução esse novo caráter do sentimento, mas de sua nova forma de florescer), e que as peculiaridades envolvidas em sua execução se distanciam de forma absurda com a nossa realidade.

Não se consegue mais criar esse tipo de sentimento e nem saber se é possível sua existência perante a nossa disponibilidade dos dias atuais – diante das novas tecnologias comunicacionais ou facilidades de locomoção. Ao passo que o telégrafo foi, em certa época, de extrema necessidade para a consumação daquele amor quase impossível (Florentino Ariza se comunicava por este meio com Fermina Daza durante sua viagem de esquecimento, além das cartas), temos em nossos dias os meios de comunicação como armas letais para o amor. Isso porque nos vemos 24 horas por dia à mercê das pessoas por meios que nos parecem indispensáveis – a bolinha verde do Facebook; o status online no WhatsApp ou o SMS respondido imediatamente.

O conhecimento sobre alguém baseado em perfis e fotos, recusas e contradições geradas por gostos pessoais, compartilhamentos ou comentários que inibem uma conversa face a face, relacionamentos escancarados nas redes sociais e a falta de contato real não levam à idealização virtual, que extingue a projeção de um amor sensível?

Florentino Ariza só não morreu de desespero ou saudades, enquanto sua amada estava na tal viagem de esquecimento, porque na época já havia o telégrafo – nada mais que uma necessidade que escoa pelo ralo quando pensamos a comunicação atual. e que foi inspirada na história do pai de García Márquez, telégrafo, que construiu uma rede para se comunicar com a amada, sua mãe, que assim como Fermina Daza, foi obrigada a fazer uma “viagem de esquecimento”. Aliás, o ideário do telégrafo foi inspirado na história do pai do autor de O amor nos tempos de Cólera, que, enquanto telegrafista, construiu uma rede para se comunicar com a amada. Isso porque, assim como Fermina Daza, a mãe de Gabriel García Márquez também teve de passar por uma “viagem de esquecimento”.   No enredo, foi a distância – e a distância, se ainda possível – que tornava o amor como a cólera; o amor como algo que consome mais do que seu espírito, mais do que sua própria carne. O amor não morria de tanto esperar. Ao contrário; fortalecia-se, construía-se no imaginário e aproveita-se a cada segundo de consumação; o amor era como outra doença mortal qualquer. Ele era real. Fantástico, mas real. 

A cólera é uma doença que, hoje, não assusta mais como antes, foi domada. Terá seu equivalente subjetivo percorrido o mesmo caminho? Amores transladados, fragilizados, mal construídos… Inexistentes. Não se faz aqui uma análise crua ou denotativa do amor, mas uma reflexão, que se estende por todas as categorias que envolvem as relações interpessoais: será que perante essa efemeridade de todas as coisas, nós, indivíduos do século XXI, conseguiríamos sentir algo parecido com a veracidade de Florentino Ariza em sua intensidade, beleza e momentaneidade – sem deixar-nos levar por platonismos, mas sim por cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias de espera? Será que nosso estilo de vida –hoje pautado em vias de desapego e autoajuda, de consumo exacerbado e de fluidez – extingue a execução de determinadas sensações que, em séculos anteriores, forjaram toda a utopia e nostalgia que pautamos como ultrapassada e romanticamente chamamos de amor?

Determinadas sensações que, atualmente, só nos arrancam lágrimas dos olhos em leituras de obras tão delicada como a de Gabriel García Márquez…O próprio autor, no referido título, bate o martelo na questão: O Amor Nos Tempos de Cólera – o amor nos tempos do amor; os tempos em que se era mais possível, ingênuo e sincero a edificação de tal sentimento, diferente do amor no tempo da efemeridade, do fácil “ir e vir”, que, para nós, o torna tão longínquo e infiel.

Fica aqui o que pode ser uma reflexão – não generalizada, claro –sobre o amor ou sobre as relações interpessoais em nosso cotidiano. Mas adianto: pode ser apenas manipulação da ternura de Florentino Ariza – ou seria de Gabo? –em meu ser sensível e moderno; que me leva a escrever essas palavras e desejar ser infectado por um amor como nos tempos do cólera.

Para assistir o trailer do filme clique aqui

Transcrito de http://literatortura.com/2014/03/o-amor-nos-tempos-colera-e-o-amor-nos-tempos-da-efemeridade-uma-reflexao/

Destaque: filme Getúlio

Antonio Carlos Ribeiro

O filme Getúlio (Getúlio. Dir. João Jardim, com Tony Ramos, Drica Moraes, Alexandre Borges. Drama. Brasil. 2014) conta a história do governante que mais tempo exerceu o poder presidencial na história do país, instaurando o trabalhismo e, como estancieiro, virando as costas à reforma agrária.



A obra, que culmina com sua morte em 24 de agosto de 1954, é o ápice do relato dos seus últimos 19 dias, fazendo prevalecer a leitura dramática em detrimento da leitura política do golpismo que, nas palavras de Tancredo Neves, à época Ministro da Justiça, se revelariam nos mesmos líderes do golpe de 1964 - instalando a mais longa ditadura brasileira e a primeira das diversas que sangraram o continente por duas décadas. A trama dispensa um conjunto de elementos fundamentais para entender o golpismo, não dando elementos para uma compreensão histórica e politicamente mais objetiva.

Sua personalidade populista foi cristalizada na imagem do povo carregando seu caixão, do Palácio do Catete até o Aeroporto Santos Dumont - histórica dentro da obra ficcional - que rivalizava com o político-jornalista, Carlos Lacerda - que exerceu a profissão e o mandato com seus piores vícios - perenizando na imprensa o mesmo comportamento udenista dos nossos dias, mas só conseguindo derrubar ainda o Presidente João Goulart, até a atual impotência desesperada.

Para assistir o trailer do filme clique aqui

Assista hoje o filme Getúlio na TV Globo, às 22h45

*Pós-Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Campus Araguaína

Resenha de Filme: Viva a Liberdade

Antonio Carlos Ribeiro*

O filme Viva a Liberdade (Viva La Libertà). Direção de Roberto Andò, com Toni Servillo, Valerio Mastandrea, Valeria Bruni Tedeschi. Comédia, drama. Itália, França, 2013. Conta uma história hilária e requintada, cujos detalhes de crueldade só aparecem quando comparados à realidade brasileira. Um político que exerce a função de primeiro ministro e ao mesmo tempo é o secretário-geral do partido, está envolvido em escândalos que impactam a sociedade economicamente, e por isso sofre hostilizações na rua, na TV e até na assembleia do partido político. Como na Europa a imprensa sofre menos influência das elites e mais pressões da população bem informada, não consegue pressionar o judiciário (Ação Penal 470) e nem invisibilizar escândalos (A Privataria Tucana), com os leitores do livro impresso e virtual. 



A história política da Itália – que tem escândalos conhecidos como os do primeiro ministro Silvio Berlusconi (maior rede de TV, máfia, pressões sobre diversos setores, prostituição e prostituição infantil) – resultam sempre em desvio de recursos de áreas fundamentais da cidadania. Essa temática é tratada de forma hilária nesta comédia de Roberto Andò, usando a capacidade artística do ator Toni Servillo, muito premiado pelo filme ‘A Grande Beleza’.

Ele assume a personalidade de irmãos gêmeos, que não se veem há 25 anos e são muito distintos, da formação ao caráter, passando pela profissão. Enrico Oliveri, o primeiro, representa o partido italiano nas eleições presidenciais, mas enfrenta uma crise de credibilidade - acentuada por certa esquizofrenia ideológica que ameaçam levar o partido ao caos – que lida com alto grau de rejeição popular, sem condições de apresentar qualquer alternativa para resolver crise grave. Diante da hostilidade, sem alternativas e sofrendo de depressão, decide desaparecer. 

Para resolver a crise de liderança, o assessor Andrea Bottini (Valerio Mastandrea) decide pactuar com a mulher do senador, Anna Oliveri (Michela Cescon), e chamam o irmão gêmeo do político, Giovanni Ernani, filósofo e professor, para substituir o irmão trânsfuga e deprimido, enquanto buscam uma solução. Mesmo tendo sido internado em manicômio, este assume a função e acaba mudando a vida do partido e dando esperança para a população.

A cultura filosófica e certos parâmetros éticos, além da autenticidade para a tarefa o fazem reconquistar a confiança popular. “Os partidos são medíocres porque as pessoas são medíocres; o partido é corrupto porque as pessoas também o são”. Fala a verdade, sai para dançar, responde sem medo, tem um discurso direto, a ponto de enfrentar as críticas e aflorar reflexões, mostrando-se um político democrático, voz do povo e símbolo da mudança. Enquanto o primeiro viaja pela França, hospeda-se na casa de uma amiga, casada com um diretor de cinema e com uma filha, muda ares e costumes, até sair da depressão, superar a apatia. 

A trama parece sugerir que na arte estão respostas à repetitiva vida política e aos intermináveis ciclos de corrupção, na vida dos dois irmãos – outra metáfora – como a insistir que o político corrupto, fustigado pelo povo, pressionado pelo partido que responderá a processos e o gestor público afeiçoado ao bem e amante da sabedoria (philo + sophia) podem habitar a mesma pessoa, cabendo a esta decidir como vai agir e que biografia terá. Quando Enrico busca um set de filmagem, pode buscar no discurso imagético um novo roteiro que o dignifique.

E quando Giovanni, agindo como Enrico, celebra um acordo com a embaixadora argentina dançando um tango, quer uma ética que parta da justeza dos corpos e dos movimentos precisos e chegue ao cotidiano da cidade, sem perder de vista que os pobres também têm direito ao belo, à saúde, à inteligência, a se verem como sujeitos de valor e a dar seu contributo à sociedade. Andò deixa um recado claro: a política pode ser inteligente – já que a corrupção é uma grande estupidez e o desprezo do povo que lhe confiou aquela tarefa é o máximo da insensatez. 

O talento da direção de Andò e a arte da representação de Servillo são uma denúncia do brilhantismo e da demência humana nos seus extremos. Um porque sabe dirigir e dar plena liberdade de criação do personagem ao ator. E outro porque sabe explorar sua arte, provoca a empatia do público que se vê no corrupto e no filósofo, e que ao encarnar os dois lados diametralmente opostos da condição humana sugere que a genialidade e a insanidade se encontrem em algum momento, devolvendo ao público a decisão sobre o perfil pelo qual desejam ser conhecidos.

Para ver o trailer do filme, clique aqui

Para ver o filme completo, clique aqui

*Pós-Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Campus Araguaína

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Eventos: ABL promove Seminário: Brasil, brasis


Seminário Brasil, brasis da ABL debate o tema
A literatura infantil e juvenil na atualidade

O segundo “Seminário Brasil, brasis” de agosto vai debater na Academia Brasileira de Letras o tema “A literatura infantil e juvenil na atualidade”. A coordenação é do Acadêmico Domício Proença Filho, Secretário-Geral da ABL, e as palestrantes são a Acadêmica e escritora Ana Maria Machado, a Secretária-geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Elizabeth Serra, e a artista plástica, autora e ilustradora Graça Ramos. O evento está programado para o dia 28 de agosto, quinta-feira, às 17h30min, no Teatro R. Magalhães Jr., na Avenida Presidente Wilson 203, Castelo, Rio de Janeiro. Entrada Franca.

Serão conferidos certificados de frequência.

Os eventos do “Seminário Brasil, brasis” têm transmissão ao vivo pelo portal da ABL e são patrocinados pelo Bradesco.

Saiba mais

Ana Maria Machado, em muitas de suas palestras no Brasil e no exterior, tem afirmado que “o livro pode ser lido e relido, independentemente das novas tecnologias. Pode-se falar com os personagens, imaginá-los. A palavra muda as pessoas, as pessoas mudam o mundo. A leitura liberta”. A Acadêmica ocupa, desde 2003, a Cadeira número 1 da ABL. Recebeu em 2000 a Medalha Hans Christian Andersen, considerada o Nobel da Literatura Infantil, outorgada pelo IBBY (International Board on Books for the Youth). Seus livros venderam mais de vinte milhões de exemplares e têm sido objeto de numerosas teses universitárias – inclusive fora do Brasil. Sua obra para crianças e jovens está traduzida e publicada em mais de 20 países.

Elizabeth Serra afirma que a FNLIJ é a única instituição no país totalmente voltada para o direito de todas as crianças e jovens terem acesso à cultura escrita, por meio da leitura de livros de qualidade, em particular da literatura, como base para uma educação integrada à formação cultural: “A Fundação está presente, de maneira direta e indireta, em todas as ações de promoção da leitura literária em nosso país”.

Graça Ramos é artista formada em Artes Plásticas pela UFBA e Mestre em Artes Plásticas, pela Pennsylvania State University, Estados Unidos. Em 1997, concluiu Doutorado em Belas Artes pela Escola de Belas Artes da Universidade de Sevilla, Espanha. Sua arte serviu como ilustrações para livros de Antônio Sobrinho, Fernando Coelho, Regina Matos, Revistas Plages (França) e outros.

Transcrito de http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=16528&sid=1015

Eventos: Atividades Acadêmicas do Curso de Física da UFT - Campus Araguaína

Veja os cartazes dos eventos do curso de Física no Campus Araguaína e participe:

II Semana Acadêmica Integrada de Física da UFT SAIFUFT, de 2 a 6 de setembro



e

I Encontro de Física do Entorno do Bico do Papagaio, de 4 a 6 de setembro 





terça-feira, 19 de agosto de 2014

Ministério da Cultura coloca Obras Raras ao alcance dos dedos

Ana Saggese*

No dia 28 de janeiro de 1808, Dom João de Bragança, príncipe-regente de Portugal, assinou a carta deAbertura dos Portos às Nações Amigas. O decreto, feito quatro dias depois da chegada da família real no Brasil, marcava o fim do pacto colonial e abria nossos portos às nações amigas para o livre comércio dos produtos brasileiros.


Reprodução da carta de D. João que abre os portos brasileiros em 1808:
um dos documentos disponíveis para consulta na Biblioteca Nacional Digital.

Esse fato, estudado nos livros de história, pode ser hoje acessado por qualquer estudante do planeta por meio da internet. E sem custo algum. Essa é apenas uma das muitas surpresas que a Biblioteca Nacional Digital (BNDigital) apresenta entre os mais de 740 mil itens que já foram digitalizados, ou, mais de dez milhões de páginas digitalizadas. Esse trabalho de digitalização começou em 2006 e, a partir de 2008, a BNDigital passou a receber aporte financeiro do MinC.

Você também pode ter acesso à primeira edição de Os Lusíadas, de 1572, de Camões; ou a Bíblia de Moguncia, de 1462. E a outras raridades, como a Coleção Thereza Christina Maria, doada à biblioteca pelo próprio Imperador Dom Pedro II. Com partituras, mapas, gravuras e fotos, a coleção é considerada Memória do Mundo pela UNESCO.

Para Ângela Monteiro Bettencourt, coordenadora da BNDigital, a digitalização do acervo vai democratizar e preservar os documentos. "É um trabalho para todos os brasileiros se orgulharem," diz Ângela. Os documentos são digitalizados em alta resolução, numa cópia fac-similar perfeita. Depois, a população pode consultá-las à vontade, sem precisar manipular o original e correr o risco de estragá-lo.

Com 300 mil acessos por mês, a BNDigital se orgulha de incluir a maior hemeroteca brasileira.

* Assessora de Comunicação, Ministério da Cultura, Governo Federal

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Press Release 003 – 18.08.2014

Imagem
   Veja a imagem e reflita - http://bit.ly/1m5UaWD

Resenha de filme
   Tarja Branca - http://bit.ly/1pAlr8v

Cultura
   Furtado, a bolinha de papel e outros negócios do jornalismo brasileiro - http://bit.ly/XpYrim

Evento Acadêmico
   ABRALIN em cena no Tocantins - http://bit.ly/1rFCPHg

Resenha de filme
   Trem noturno para Lisboa - http://bit.ly/1pSSbca

Homenagem
  Robin Williams e o professor de literatura que sabia a que veio - http://bit.ly/VuOvC7

Homenagem
   Quando o dia ficou mais cinza; homenagem a Rubem Alves - http://bit.ly/1pnQfZS

Grandes Clássicos – Obra Completa
   Literatura Infantil - http://bit.ly/1oR1NA6

Museus Virtuais
  Viajar e visitar museus sem pagar - http://bit.ly/1oR1NA6

Imagens: O prazer da leitura
   A árvore da leitura - http://bit.ly/1pxCY1A

Imagem
   Sísifo encontra Indiana Jones - http://bit.ly/1pa1lSw

Prof. Dr. Antonio Carlos Ribeiro
Pós-Doutorando – UFT/PPGL
Editor

Se desejar ler os demais Press Release, clique em http://bit.ly/1E35ugR

domingo, 17 de agosto de 2014

Imagem: Sísifo encontra Indiana Jones

Para entender: na mitologia grega, Sísifo foi condenado para todo o sempre a empurrar uma pedra até ao cimo de um monte, caindo a pedra invariavelmente da montanha sempre que o topo era atingido. Este processo seria sempre repetido até à eternidade - leia mais aqui.
Já se viu no ponto de contato entre opostos, como o avançado e o retrógrado?
Sentiu perplexidade ao deparar-se com conquistas fundamentais de sociedade e seus piores retrocessos?
Experimentou a contradição entre visões arcaicas, coloniais, pré-urbanas e o novo, inusitado, inovador?
Quando estas realidades antagônicas podem se encontrar?


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Quando o dia ficou mais cinza; homenagem a Rubem Alves



“A vida é tão boa”, costumava dizer o notável escritor e educador Rubem Alves, morto na tarde deste sábado, dia 19 de julho. Rubem tinha 80 anos e, desde 10 de junho, estava internado no Centro Médico de Campinas, interior de São Paulo, com infecção pulmonar e insuficiência respiratória. De acordo com o jornal Estado de Minas, em 2010 ele já havia enfrentado um câncer, além de problemas no coração e na coluna, que o obrigaram a passar por cirurgias. Rubem teve falência múltipla de órgãos.



Mineiro da cidade de Boa Esperança, onde nasceu em 15 de setembro de 1933, Rubem publicou mais de 160 títulos, entre livros de pedagogia, poesia, filosofia, literatura para crianças e ensaios. “Um livro são pedaços de mim espalhados ao vento como sementes”, descrevia.

Nós, do Instituto Paulo Freire, não poderíamos deixar de homenagear e agradecer a este grande homem, pelo legado que nos deixa. Para tanto, compartilhamos as palavras de sua filha, Raquel Alves, que escreveu na página oficial do escritor no Facebook.

“Seria injusto pensar nele com dor. Uma pessoa que só tem beleza nos olhos e amor no coração – o tempo todo – alma, pura alma…

Quero sinceramente que acima de tudo as pessoas que o amam desejem o melhor para ele, independente do que isso represente.

Acima de tudo o AMOR, a gratidão pelas palavras dele que serão eternas. Não há nada mais positivo e mais bonito que isso! E vamos com fé…

Agradecemos muito o carinho e boas energias de todos vocês!

Que as cores do crepúsculo mais belo preencham o coração de todos.

Raquel Alves”

Homenagem: Robin Williams e o professor de literatura que sabia a que veio

"Oh, Captain, my Captain".

Robin Williams podia não ser a melhor pessoa do mundo, mas teve no currículo memoráveis obras cinematográficas. Cito as que mais me marcaram: Sociedade dos Poetas Mortos, O Gênio Indomável, Patch Adams, O Homem Bicentenário e Bom Dia, Vietnam.




E dentre as comédias, o gênero pelo qual ele era mais conhecido, as que mais curti foram: Uma Babá quase perfeita, Jumanji, A Gaiola das Loucas e Uma noite no Museu.

Além disso, Williams era ótimo dublador e imitador, daí impossível não lembrar dele como o gênio da lâmpada em Alladin e o Ramon em Happy Feet.

Sim, ele vai fazer falta.

Para ver a última e marcante cena de Sociedade dos Poetas Mortos clique aqui

Resenha de filme: Livro, amores e ditaduras

Antonio Carlos Ribeiro

O filme Trem noturno para Lisboa (Night Train to Lisbon), dirigido por Bille August, diretor dinamarquês de As melhores intenções e que estreou dia 29 de novembro, mostrando um professor de filosofia, notívago e culto que, ao impedir o suicídio de uma jovem é sugado para dentro de uma trama intensa e atual.

Ao abandoná-lo, ela deixa um casaco, um livro e uma passagem de trem. Ele embarca para Lisboa. A viagem o leva não apenas da Suíça para Portugal, mas para as vidas que fizeram sentido ao participar da resistência, se manifestarem e viverem emoções inusitadas, no fim da mais longa ditadura da Europa moderna, de quase meio século, com a Revolução dos Cravos em 25 de Abril de 1974.



O leitmotiv foi o livro que o fez defrontar-se com a história de um jovem estudante de medicina da Universidade de Coimbra, Amadeu de Almeida Prado – de personalidade densa como a situação histórica, determinado a usar sua formação, condição social e memória para não sucumbir – e a atuação de um colega do curso de Farmácia e da rede de resistência política.

As frases de Prado em seu livro despertam a atenção do professor, pela força que continham, pelo senso prático e pela cosmovisão que mostravam. A viagem não foi apenas do sul ao oeste europeu, mas pelas páginas do livro, que deixaram Raimund Gregorius encantado com a intensidade da vida destes jovens, rompendo com a ideia de ser metódico, culto e às vezes entediante.

O discurso de Prado na formatura da escola provoca reações claras de reprovação dos que deixaram o auditório, do padre Bartolomeu (Christopher Lee) que confirma sua agudeza e capacidade de expressão, e do pai, um juiz e sempre crítico de suas opções. É dessas pessoas que angariam respeito porque rompem paradigmas, amam, sofrem e pagam preços altos, sem perder a dignidade, perturbadoramente íntegra.

Nessas circunstâncias, o professor de Filosofia fica impressionado com garoto genial de 17 anos, que estuda numa escola católica, escreve um diário para não ser engolido pelos dias e discursa na formatura: ‘querias ser imortal? Mas apenas através da morte a vida tem valor’, ‘o que faremos com o tempo que teremos pela frente em aberto e sem forma, leve como uma pluma em sua liberdade e pesado como chumbo em sua incerteza?’

‘É um desejo, um sonho nostálgico, voltar a um determinado ponto da vida e poder tomar um rumo completamente diferente daquele que fez de nós quem somos’, filosofa o jovem médico, ‘estamos fazendo o bastante?’ e ‘estamos lutando pela vida em sua plenitude?’, ‘Se é verdade que vivemos apenas uma parte da vida que há em nós, o que acontece com o resto?’ Seus gritos arrancam do tempo as respostas que este reluta em dar.

Depois de desatar os nós da trama, clarear as reviravoltas existenciais e entender as loucuras das paixões, Gregorius desabafa para Martina, a oftalmologista que prescreve seu novo óculos: ‘Ele fala de coisas que sempre me preocuparam por anos’, ‘suas palavras e seu mundo são tão fortes que fazem o meu parecer insignificante’ e ‘eles viveram’.

Nos entrecortes, algumas cenas são intrigantes, como a que salva a vida do ‘carniceiro de Lisboa’ e é hostilizado pela vizinhança. Quando a circunstância o coloca diante deste dilema, ele opta por não se trair. É movido por duas paixões, a profissão e o ideal revolucionário, por isso cometer um crime seria negar as duas, e ainda sucumbir àquilo que mais nega. Vive as duas contradições em dilema intelectual, só encontrando respostas na prática.

Outra cena é a da reunião da resistência, a convite do melhor amigo, cuja namorada – Estefânia – sente uma paixão arrebatadora por Prado, a partir de suas intervenções. Sua beleza arrebata sentidos, a faz incisiva ao perguntar sobre o pai – um juiz da ditadura – e a faz movimentar-se com um planeta em torno do sol.

Situações imprevistas, mas possíveis, que trazem uma intensidade, uma catarse e uma autenticidade, pela expressão corajosa dos sentimentos, numa situação já tensa. Isto exige deles nada menos que plena humanidade, assumindo os riscos e a vulnerabilidade, levando muitas vezes a viver o momento (carpe diem – aproveite o dia), do latim da poesia romana, mas pouco interessante para adolescentes.

Um senão grave. Ouvir um filme que transcorre em Portugal com diálogos em inglês é ofensivo aos países lusófonos. Não bastasse o fato da língua portuguesa ser falada nos cinco continentes, é marca fundamental do período das grandes navegações. Se a acusação é a de serviço ao colonialismo, somos absolvidos. As demais também são. É a língua oficial de cinco países, a quinta mais falada no mundo – aproximadamente 268 milhões de pessoas – e a quarta do mundo ocidental. Enquanto os europeus desconhecem a língua que nos trouxeram, finjamos ouvir na língua de Camões o que aparece em inglês. A única falha de August foi grave, sobretudo pela co-produção portuguesa.

No diálogo de despedida com Martina, Gregorius se mostra encantado com a história desses jovens – ‘vidas cheias de vitalidade e intensidade’ – ‘tanta que os separou’, atalha a médica – ‘mas eles viveram’, interrompeu o suíço, julgando ter proferido a frase definitiva. Ela reage, firme e ritmada: ‘Por que você apenas não fica?’ ('Why don't you just stay), criando a possibilidade das paixões do passado no presente.

Para ver o trailer do filme, clique aqui

Para ver o filme completo, clique aqui

*Pós-Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Tocantins (UFT/Capes) - Campus Araguaína - e Pesquisador da Cátedra UNESCO de Leitura