sexta-feira, 27 de março de 2015

Dilma nomeia Renato Janine Ribeiro como novo Ministro da Educação

A presidenta da República Dilma Rousseff convidou, nesta sexta-feira (27), o Professor Doutor Renato Janine Ribeiro para assumir o cargo de Ministro da Educação. Ele é formado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), onde hoje é professor-titular de Ética e Filosofia Política. Fez mestrado na Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne, doutorado na USP e pós-doutorado na British Library. Autor de 18 livros e diversos artigos, recebeu o prêmio Jabuti em 2001 na categoria Ensaios e Ciências Humanas. A posse do novo está marcada para 6 de abril.

Editorial: Jornalistas brasileiros assumem a narrativa legal e sem tutela da sociedade

Esta edição do Observatório da Leitura traz boas novidades. A primeira está no Artigo sobre a educação das crianças. Os Saberes na Rede trazem uma reflexão sobre o efeito borboleta na vida humana. O Destaque divulga o editorial It starts with a poster / Começa com um pôster, o primeiro texto bilíngue publicado aqui. O Ensaio Narrar em tempos pós-modernos, da Professora Heidrun Olinto, discorre sobre a obra do escritor John Barth. As Notícias mostram um Cobrador que monta biblioteca dentro de um ônibus, a apresentação da Orquestra de Cordas da Grota, a embarcação que leva livros às populações ribeirinhas no Amazonas, a experiência do contato entre escritores e leitores, a força que uma criança recebe para construir seu sonho, o escritor que vende seus próprios livros e a história do garçom que andou em 52 países. A Imagem mostra uma Acadêmica. O Prazer da Leitura exibe os materiais dos quais são confeccionados os livros, os Clássicos do Cinema trazem o filme Ação entre Amigos, sobre a ditadura, e a Resenha do filme Cinderela. Os Clássicos da Arte mostram coleções de obras em Collections.

O Artigo ‘Jornalistas se mobilizam por uma outra narrativa’ trata da resposta profissional aos protestos da população diante da baixa qualidade dos noticiários da Grande Mídia. Ao invés de aumentar o coro, decidiram escrever sobre a desconfiança dos brasileiros em relação ao papel da mídia monopolista e participando do esforço para divulgarem outra narrativa sobre os protestos. Os ‘Jornalistas Livres e em Defesa da Democracia’, de São Paulo, e ‘Comunicadores pelo Brasil’, de Brasília, assumiram a tarefa. Eles trabalham cooperativamente, refletem uma pauta não controlada pelos donos de jornais, analisam a mídia que assumiu prerrogativas partidárias, já derrubou presidentes e hoje vivem uma crise, resultante do projeto político escolhido pelos eleitores brasileiros.

Press Release 028 – 27 de março de 2015

Editorial
   Jornalistas brasileiros assumem a narrativa legal e sem tutela da sociedade - http://bit.ly/1yiN3jO

Ensaio
   Narrar em tempos pós-modernos - http://bit.ly/1H5tSyS

Artigo
   Jornalistas se mobilizam por outra narrativa - http://bit.ly/1ByXtwQ
   Infantolatria: as consequências de deixar a criança ser o centro da família - http://bit.ly/1FRrTkx
   Manifestação cultural das populações do Tocantins e Pará - http://bit.ly/194a57y

Saberes na Rede
   Caos e efeito borboleta - http://bit.ly/1bBsaeI

Destaque
   It starts with a poster / Começa com um pôster - http://bit.ly/1ByY2XF
 
Notícias
   Cobrador monta biblioteca dentro de ônibus - http://bit.ly/1H5vSaz
   A música não pode parar - http://bit.ly/1MbaEOX
   Barca das Letras distribui livros pelos rios Amazonas e Macacoari - http://bit.ly/1GxcfKc
   Contato com escritores desperta interesse pelos livros - http://bit.ly/1FZlMJx
   Sonho de Kaciane, de 10 anos, começa a ser construído - http://bit.ly/19484bA
   Escritor vira sucesso vendendo o próprio livro nas ruas de Brasília - http://bit.ly/1ByZx8h
   As boas histórias de garçom e mochileiro em 52 países em livro - http://bit.ly/1xFc3a5
   Defesa a Distância, a tecnologia a favor da atividade acadêmica - http://bit.ly/1xkd8nr
 
Imagem
   A acadêmica - http://bit.ly/1F0VmWp

O Prazer da Leitura
   Madeira-celulose-livros - http://bit.ly/1948EWH

Clássicos do Cinema
   Ação entre Amigos - http://bit.ly/1D6bCaY
   Mais “Cinderela” e menos “Cinquenta tons de cinza” - http://bit.ly/1FRr6QJ

Clássicos da Arte
   Collections - http://bit.ly/1D6dqRi

Prof. Dr. Antonio Carlos Ribeiro
Pós-Doutorando – UFT/PPGL
Editor



Se desejar ler os demais Press Release, clique em http://bit.ly/1E35ugR

Infantolatria: as consequências de deixar a criança ser o centro da família

As atividades da família são definidas em função dos filhos, assim como o cardápio de qualquer refeição. As músicas ouvidas no carro e os programas assistidos na televisão precisam acompanhar o gosto dos pequenos, nunca dos adultos. Em resumo, são as crianças que comandam o que acontece e o que deixa de acontecer em casa. Quando isso acontece e elas já têm mais de dois anos de idade, é hora de acender uma luz de alerta. Eis aí um caso de infantolatria.

“O processo de mudança nos conceitos de família iniciado no século 18 por Jean-Jacques Rousseau [filósofo suíço, um dos principais nomes do Iluminismo] chegou ao século 20 com a ‘religião da maternidade’, em que o bebê é um deus e a mãe, uma santa. Instituiu-se o que é uma boa mãe sob a crença de que ela é responsável e culpada por tudo que acontece na vida do filho, tudo que ele faz e fará. Muitos afirmam que a mulher venceu, pois emancipou-se e foi para o mercado de trabalho, mas não: é a criança que entra no século 21 como a vitoriosa. Esta é a semente da infantolatria”, explica a psicanalista Marcia Neder, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Psicanálise e Educação da Universidade de São Paulo (Nuppe-USP) e autora do livro “Déspotas Mirins – O Poder nas Novas Famílias”, da editora Zagodoni.

Em poucas palavras, Marcia define infantolatria como “a instituição da mãe como súdita do filho e o adulto se colocando absolutamente disponível para a criança”. E exime os pequenos de qualquer responsabilidade sobre o quadro: “Um bebê não tem poder para determinar como será a dinâmica familiar. Se isso acontece, é porque os pais promovem”.

Reinado curto

A verdade é que existe um período em que os filhos podem reinar na família, mas ele é curto. “Quando o bebê nasce e chega em casa, precisa ser colocado no centro das ações, pois precisa ser decifrado, entendido. Ele deve perder o trono no final do primeiro, no máximo ao longo do segundo ano de vida, para entender que existe o outro, com necessidades e vontades diferentes das dele”, esclarece Vera Blondina Zimmermann, psicóloga do Centro de Referência da Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A infantolatria ganha espaço quando os pais não sabem ou não conseguem fazer essa adequação da criança à realidade que a cerca e a mantêm no centro das atenções por tempo indefinido. “Em uma família com relacionamento saudável, o filho entra e tem que ser adaptado à dinâmica da casa, à rotina dos adultos”, afirma a psicóloga.

Segurança ou insegurança?

Na casa da analista contábil Paula Torres, é ao redor de Luigi, de cinco anos, que tudo acontece. Entre os privilégios do garoto estão definir o canal em que a TV fica ligada e o dia do fim de semana em que será servida pizza no jantar. “Acho importante a criança se sentir amada e saber que suas vontades são relevantes para a família”, opina.

Ela conta que seu marido, o também analista contábil Luiz André Torres, não gosta muito disso e constantemente reclama que o filho é mimado demais. “Mas bato o pé e defendo essa proteção. Quando o Luigi crescer, será mais seguro para lidar com os adultos, já que suas opiniões são levadas em consideração pelos adultos com quem ele convive desde já”, acredita.

Não é o que as especialistas dizem. “Se o filho fica no nível dos pais, acaba criando para si uma falsa sensação de poder e autonomia que, em um momento mais adiante, se traduzirá em uma profunda insegurança. Ele sentirá a falta de uma referência forte de segurança de um adulto em sua formação”, explica Vera.

“Em uma família com relacionamento saudável, o filho entra e tem que ser adaptado à dinâmica da casa, à rotina dos adultos”
Marcia diz ainda que, ao chegar à idade adulta, esse filho cobrará os pais. “Ele olhará ao redor e verá outras pessoas se realizando independentemente dele. A criança que acha que o mundo tem que parar para ela passar não consegue imaginar isso acontecendo e não está preparada para lidar com a mínima das frustrações. Em algum ponto, acusará os pais de terem sido omissos”.

Para Vera, supervalorizar os pequenos e nivelá-los aos adultos “é o resultado de uma projeção narcísica dos pais nos filhos, que se veem nas qualidades que enxergam em suas crianças”. Marcia concorda: “Isso tudo tem a ver com a vaidade da mãe, que considera aquele filho uma parte melhorada dela própria e, por isso, a criatura mais importante do mundo”.

Os alertas do dia a dia

Muitas vezes, os pais não se dão conta de que estão tratando os filhos como reis ou rainhas, então precisam levar uns chacoalhões da realidade fora de suas casas. “Eles geralmente caem em si quando começa a sociabilização. A escola reclama porque o aluno não respeita as regras, a criança tem dificuldade para fazer amiguinhos porque as outras, com autoestima positiva, não querem ficar perto de alguém que ache que manda em todos”, aponta Vera. “Em um futuro bem imediato, as reações dos colegas podem fazer a criança perceber que precisa mudar. Ela se comportará com eles como faz com a família e receberá a não-aceitação como resposta. Terá de lidar com isso para ter amigos”, afirma Marcia.

Mesmo assim, ela ainda correrá o risco de não conseguir rever seus comportamentos devido a uma superproteção parental, adverte Vera: “Em alguns casos dá para ela se salvar, mas muitos pais preferem culpar o ‘mundo injusto com seu filho perfeito’, o que impede que ela entenda as necessidades dos outros e reforça seus problemas de inadequação para a adaptação social”.

E como fica o casal?

Além de todas as complicações causadas pela infantolatria na vida dos filhos, ela prejudica – e muito – o casal que a promove. “Na relação saudável, o casal continua sendo o mais importante na família mesmo com a chegada da criança. Se os pais mantêm o filho no centro por mais tempo do que o necessário, acabarão se afastando”, alerta Vera.

“Some o casal. O ‘marido’ e a ‘mulher’ passam a ser o ‘pai’ e a ‘mãe’. E se em uma casa a mãe é a santa e o filho é o deus, onde fica o espaço do pai?”, questiona Marcia. “Muitos tentam entrar, reconquistar seu espaço, mas outros simplesmente caem fora”, constata.

O futuro da infantolatria

Sabendo disso tudo, os pais têm condições de se preparar para evitar os estragos na criação dos filhos. Marcia conta que percebe que as pessoas têm encontrado em sua análise uma saída para a tirania infantil.

“Não sou adivinha, mas creio que o novo arranjo familiar, em que os pais também assumem funções na criação dos filhos e as mães seguem carreiras por prazer, vá ajudar a mudar o panorama, assim como os arranjos homoparentais que começam a ser mais comuns”, diz, para complementar: “Creio que todos os comportamentos continuarão existindo, mas temos a obrigação de trabalhar para reverter esse quadro. O filho não é o centro porque quer, mas porque o adulto permite”.

Vera enxerga o futuro da situação de forma um pouco diferente. “Nossa sociedade é muito apressada e, no geral, não dá espaço para a preocupação com o outro. Isso tende a potencializar esse tipo de problema, a naturalizar para a criança o fato de que ela é o que mais importa, como aprendeu em casa com o comportamento dos pais em relação a ela”, finaliza.

Mais “Cinderela”e menos “Cinquenta tons de cinza”

Chega de “50 tons de cinza”. O filme da vez é Cinderela. Em sua estréia nos Estados Unidos e na Europa, o filme da Disney foi direto para o topo. A Cinderela é aquela mesma, a menina que tinha a madrasta má, o vestido azul, e depois casa com um príncipe. O filme, que estréia no Brasil semana que vem, tem Cate Blanchett no papel de madrasta e Lily James como Cinderela e é dirigido pelo renomado Kenneth Branagh. Assisti. É otimo.

E é curioso pereceber que depois de tanto tempo a história de Cinderela continue tão fascinante. E não só a dela. A Disney prepara uma versão de “A Bela e a Fera” com Emma Watson no papel de Bela.  

As princesas e os príncipes continuam na moda (e não só entre as crianças). Nenhuma surpresa quando a gente se lembra da quantidade de filmes e seriados que repetem a fórmula “menina perdida que é salva por um príncipe”.

Está aí “50 tons de cinza” para provar. O Mr. Grey é um príncipe, assim como o da Cinderela, só que yuppie e sadomasoquista. O Mr. Big de “Sex and the City” é outro, um príncipe advogado rico com problema de relacionamento.

O príncipe da Cinderela é um principe original. E os problemas da moça são sofrimentos enormes, daqueles melodramáticos de novela mexicana. Existe drama maior do que ter ficado órfã de uma família perfeita e transformada em escrava por uma madrasta má? 
Isso é drama. Drama não é não saber o que vestir ou estar meio gorda (lembram da Bridget Jones?). Ou se sentir insegura e desajeitada (o drama de Anastasia de “50 tons”).

O filme de Branagh mostra fantasia de cair o queixo (das crianças e dos adultos).

Claro. Não espere por uma revolução. A cinderela é linda magra e loira, o que não é novidade na Disney. Um estudo mostra que todas as personagens femininas da Pixar tem o rosto parecido. A imagem da mulher continua padronizada. Verdade.  

Mas se é para se distrair com contos de fadas, que seja com um original! E mais vale um sapato de cristal do que um Manolo Blahnik.

Transcrito de https://br.celebridades.yahoo.com/blogs/nina-lemos/mais-cinderela-e-menos-cinquenta-tons-de-cinza-114518897.html

Defesa a Distância, a tecnologia a favor da atividade acadêmica

Karylleila Andrade*


Vivermos em um mundo integrado, conectado, mediado por fios tecidos pela tecnologia. Depois de passada a sensação de euforia de uma primeira defesa a distância, nos moldes em que a mesma ocorreu, sinto-me em condições de relatar a experiência, pois creio que poderá auxiliar os pares nesta rotina, cada vez mais comum, de uso das tecnologias nos programas de pós-graduação nas universidades no Brasil e no mundo a fora.  Com recursos cada vez mais escassos, os órgãos de fomento vêm, ao meu ver, “obrigando” os programas adaptarem-se às novas dinâmicas de trabalho com o uso dos ambientes virtuais. E aqui valem todos eles!!!

A orientação, desde agosto de 2014, tem sido a distância: messenger, Skype, e-mails, Facebook, Whatsapp, até uso de telefone fixo e celular. Baixei o software Voip. versão 12, e com ele posso falar a vontade, “de graça”, para qualquer telefone fixo no Brasil e para celular, uma média de 0,60 cêntimos por 5 minutos.  E foi assim que se deram os preparativos finais do texto. Neste período, entramos em contato com os membros participantes a fim de fecharmos a data e o horário. Este bem mais complicado, dado o fuso horário de Portugal, Rio Branco e Palmas. Como ponto de partida, estabelecemos o horário de Brasília. E daí fechamos para o dia 19/3, às 14h., data esta que teve de ser alterada, pois em Palmas era feriado. 20 dias antes da data da defesa, a aluna encaminhou o texto, via e-mail e impresso, aos membros da banca.   

Eu já havia participado de bancas via Skype, mas não nestas condições: eu, presidente da banca, cá em Portugal; prof. Alexandre Melo, membro externo, em Rio Branco/AC; prof. Edviges, coorientador, em Araguaína; e profa. Maria José, membro interno, em Palmas, junto com a orientanda Verônica Ramalho. 

O que senti, nos dias que antedeu a defesa, foi um sentimento de impotência e insegurança: o prazo deveria ser atendido (2 anos), preparação da parte de logística e operacionalização (sala adequada, TV, datashow, técnico para acompanhar), e o mais importante, a bendita internet não poderia falhar! E os riscos de problemas técnicos no campus de Araguaína. Então vale a dica fundamental nestas situações: é preciso ter um professor que possa auxiliá-lo a distância na organização logística na UFT. E profa. Maria José foi muito parceira para que minha preocupação se diluísse às vésperas do evento. Verônica também foi responsável pelos encaminhamentos de testes com a internet e operacionalização. Embora no dia 18 de março, logo pela manhã, a internet tenha tido problemas, o que poderia ter prejudicado todo o processo. Mas, ao final, tudo ocorreu dentro do esperado.

Algumas dicas que penso que poderão ser úteis:
  • Agende com antecedência com os membros data e horário. Verifique se não vai haver feriados ou qualquer outra situação, dentro e fora da universidade. 
  • Não deixe de pensar na disposição da sala. A tela (datashow ou TV) deverá estar em uma posição que todos possam se ver e se comunicar. 
  • Reserve a sala, caso ocorra na universidade, com bastante antecedência. Solicite a assistência de um técnico durante todo o período. Isso pode ser fundamental para o sucesso. O ideal é que a sala tenha uma TV de 40 ou 42 polegadas, ou um bom Datashow em funcionamento. Não deixe de fazer um teste no notebook, adicionando todos, leve tb um outro de reserva. Tudo com antecedência!
  • Cadastre todos os membros no Skype e faça testes. Um dia antes, entre em contato e faça um pré-teste.
  • Se a internet na sua casa for mais rápida do que na universidade, organize-se para participar em casa. Mas lembre-se de que você não terá o apoio de um técnico. 
  • No dia da defesa, todos deverão estar conectados com 30 minutos de antecedência para que os testes de som e vídeo possam ser verificados. Os problemas podem surgir antes e durante a defesa.  
  • Alerte a todos que caso ocorra qualquer problema (conexão cair, problemas com o som ou vídeo e outros adversos), o processo deverá ser reiniciado. E deverão aguardar. 
  •  Após a arguição dos membros, peça ao colega membro interno, que tenha em mãos a ATA para leitura, formalização ou qualquer retificação.
  • Entre em contato com a coordenação para verificar como se dará o processo de assinaturas eletrônicas nos documentos, dada a distância quando se encontra no exterior (uma folha enviada por sedex, de Portugal para o Brasil, custa em média 40 euros).
  • E, por fim, muito envolvimento, paciência e dedicação dos pares no processo de defesa, uma vez que poderá ocorrer qualquer problema com o uso da tecnologia. E todos deverão estar preparados para contornar e controlar a situação.


A seguir, um breve depoimento da aluna Verônica Ramalho:
A defesa à distância foi uma experiência inovadora. A ausência do contato presencial e direto com os membros da banca (orientador, coorientador e membro externo), em momento algum, foi empecilho para o bom andamento da defesa, pois os meios tecnológicos podem aproximar as pessoas. Durantes as arguições, os membros fizeram suas considerações e contribuições. A minha apresentação foi compartilhada simultaneamente com os participantes e ocorreu normalmente. Essa experiência foi importante no sentido de que é uma ideia inovadora, e que pode ser adotada com frequência no PPGL, além de diminuir custos, pode ser aperfeiçoada, como, por exemplo, a instalação de uma sala mais bem equipada voltada para essa finalidade.

Que a tecnologia possa sempre nos auxiliar!

*Professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT) Curso de Letras  

Manifestação cultural das populações de Tocantins e Pará

Maria de Fátima Coelho de Sousa

Apresento objetos culturais resultantes do conhecimento etnomatemático de uma determinada cultura ou grupo social, a partir de pesquisas realizadas nas cidades de Filadélfia e Araguaína, no Tocantins e Eldorado do Carajás, no Pará. Esses objetos representam o esforço e a expressão cultural, mostra as identificações do grupo social, refletem a cultura desse grupo social, expressas através das matérias-primas a que têm acesso e às técnicas empregadas na  construção dos objetos.

Os objetos trazem elementos da sua percepção artística, indicam as finalidades dos objetos construídos e suas propostas ornamentais, compostas de miniaturas, utilitários, de valor comercial e uso local. Mas o significativo é a forma como o grupo social classifica as matérias dos objetos que produz e suas aplicações pedagógicas.

Os meus avós maternos e paternos têm sua origem na mesma cultura, viviam do trabalho na lavoura, cultivando vários tipos de plantações, na luta pela sobrevivência, especialmente em épocas marcadas por muitas dificuldades.

A maior delas é a quase completa falta de meios de transporte. As estradas eram precárias. Havia caminhos e picadas por onde eles transportavam tudo no lombo dos cavalos. Um desses produtos era o fumo, do qual meu avô paterno comprava uma arroba dos meus avôs maternos.
Esse contato comercial entre as populações propiciou a circunstância em que meu pai conheceu a minha mãe e se casaram. Os dois foram viver perto da família dela. E continuaram com a mesma cultura recebida. Eles tiveram doze filhos - cinco mulheres e sete homens – tendo perdido o segundo filho com apenas onze anos, por causa da meningite. Eles adotaram outra criança, de sete anos, garantindo a sobrevivência e a educação dos doze. 

Aquela criança viveu conosco até completar dezoito anos. Depois se casou e foi morar em São Paulo, onde vive até hoje. Naquela época, meus pais não tinham condições financeiras, especialmente pela falta de educação. Os filhos e filhas estudaram até o terceiro ano primário. Eles viviam da lavoura, não tinham dinheiro para comprar brinquedos para os filhos. Foi por essa razão que os quatros filhos mais velhos aprenderam com os avós e com os meus pais a fazer artesanatos.

Ao trabalhar no cultivo da roça eles faziam coifo, jacá, caçoar de couro cru do boi, esteiras, abano, vassouras, cordas de palhas do olho do buriti, de bacaba e talos de taboca ou de braço de buriti. Usavam para colocar arroz, feijão, abóbora, pequi e tudo mais que era produzido na roça para o sustento da família.

Foi assim que os meus irmãos começaram a fazer miniaturas de braço de buriti. Aprendi esta arte quando eu tinha uns oito anos, fazendo miniaturas de bonecas, mesas, cadeiras, guarda-roupas, aviões, gaiolas, cavalos, carretas, pilões, mãos de pilão, caçoares, selas, carroças, currais, entre outros objetos.

O meu irmão mais velho, adotivo, quando tinha dez anos, me ensinou algumas atividades e eu fui usando a criatividade. Hoje eu só uso a imaginação e estou criando novas fórmulas como o cubo transformando o braço de buriti em dado, as pirâmides, as maquetes para construção de prédios e de todos os tipos de objetos que se usa na casa como cama, sofá, armários para livros. Depois veio uma série de objetos de formas geométricas feitos de braços de buriti e casca da árvore da cajazeira.

Recuperar esses objetos e entender como foram criados se tornou muito importante para continuar a cultura dos antepassados, garantindo a continuidade da cultura dos nossos avós, que nossos pais ensinaram aos seus filhos.

Ao estudar matemática e entender o contexto, percebi como ela me ajudaria a criar novas fórmulas, capazes de incentivar os alunos da rede pública e mostrando que seu aprendizado pode ser desenvolvido a partir da própria vida familiar, dentro de casa. Isso me fez valorizar a instrução recebida na família e seu significado para uma boa educação. E a valorizar os pais, sem os quais seria não poderia haver um processo educativo nas unidades escolares.



Clássicos da Arte

Acesse aqui os Clássicos das Artes:

Ditadura Militar no Brasil - VIII

Ação entre amigos (Beto Brant)


Sinopse: Quatro amigos que tentam assaltar um banco; porém, são pegos e brutalmente torturados em 1971. A namorada de um deles que estava grávida, acaba morta. Alguns anos depois, eles descobrem a localização de seu torturador e vão ao seu encontro com a intenção de matá-lo. Porém, acabam descobrindo que eles somente foram torturados porque foram traídos por uma pessoa do grupo.



Madeira-celulose-livros


A acadêmica


As boas histórias do garçom e mochileiro em 52 países em livro

As histórias do mochileiro Mayke Moraes Pinto, que já visitou 52 países, vão virar um livro. O garçom, que vive em Dublin, na Irlanda e está de férias em Varginha (MG) até março, pretende contar todas as histórias que coleciona em suas mochiladas pelo mundo.

"O livro já começou a ser escrito, já estou com pouco mais de 80 páginas prontas e se tudo der certo, a gente tem a intenção de lançá-lo em setembro ou outubro deste ano. Vou relatar tudo o que aconteceu comigo nesses 52 países que visitei. As coisas que eu não conto na minha página na internet, eu vou estar relatando neste livro. Será um livro sem papas na língua", diz Mayke.

O G1 tem acompanhado as viagens do mochileiro, que tem o objetivo de conhecer 100 países antes de morrer. Com apenas uma mochila nas costas, uma máquina fotográfica e um computador pessoal, ele já cumpriu metade de seu objetivo. Mayke chegou a Varginha no início deste mês após ficar 12 meses na estrada e conhecer 19 novos países.

"É estranho (estar em Varginha). Porque nesses 7 anos que eu estou fora, esta é a segunda vez que eu estou vindo pra cá. É muito bom rever familiares e amigos. Mas ao mesmo tempo é estranho, porque eu me sinto como um turista na minha própria cidade e não a sensação de que estou voltando para a casa", conta o mochileiro.

Antes de voltar ao Brasil, Mayke passou por países como Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Turquia, Egito e Israel. Mayke, que gasta todo o dinheiro que ganha no emprego como garçon somente em viagens, diz querer provar para as pessoas que viajar pelo mundo não é tão caro.

"As pessoas têm a ideia errada de que você tem que ter dinheiro para viajar o mundo todo, e não é bem assim. Nesses quatro anos que eu estou na Irlanda, já trabalhei de camareira, lavador de pratos, entregador de jornal e meu último emprego foi de garçon. Tudo que eu ganho eu gasto em viagens. São escolhas. Enquanto outras pessoas compram eletrônicos, carros, casas, eu prefiro investir em viagens. Para mim, este é o melhor investimento", diz Mayke.

Perguntado se voltaria aos países que já visitou, Mayke diz que retornaria a todos, sem exceção. No entanto, tem um país que ele já adotou em seu coração e por ele nutre uma paixão em especial.

"A receptividade que eu tive em todos os países que eu visitei, é de lembrar e marejar os olhos, de dar dor no coração. A Tailândia foi o país que mais me chamou a atenção. Eu estive lá em 2012, passei três meses e foi surpreendente. Foi lindo de Norte a Sul. Mesmo tendo o problema da briga (ele levou um soco e teve o nariz quebrado na saída de uma boate), eu ainda amo aquele país. A cultura do povo tailandês é demais", disse o mochileiro.

Mayke ficará em Varginha até o dia 10 de março, quando então ele retornará para a Irlanda para retomar o trabalho de garçon e juntar dinheiro para viajar por destinos ainda desconhecidos. Seu próximo projeto será fazer uma mochilada por um período maior, de cerca de dois anos, por países da América Central e América do Sul.


Escritor vira sucesso vendendo o próprio livro nas ruas de Brasília

Desde criança, Marcelo Oliver, 26 anos, dava a entender que gostava de brincadeiras mais imaginativas. Muitas vezes, sentado no telhado da sua casa no Maranhão, perdia-se explorando mundos que só existem na cabeça das crianças. Assim, foi desenvolvendo a capacidade de criar histórias e universos que culminaram na escrita do conto A caneta, vendido no Eixo Monumental, no sinal de retorno em frente à Câmara Legislativa.

Nascido em Tocantins, o escritor foi criado no Maranhão e morou em Mato Grosso antes de se fixar em Brasília, há três anos. Marcelo, que já tinha vários contos guardados na gaveta, trabalhou em outras áreas até decidir se dedicar exclusivamente à escrita. A mãe, Maria da Graça Pereira de Carvalho, professora de 57 anos, conta que, quando o filho ainda trabalhava como açougueiro, ele mostrou o conto que viria a ser impresso e disse que, a partir daquele momento, adotaria a profissão de escritor. Isso foi em abril do ano passado. Incentivado pela mãe, Marcelo fez a primeira impressão do livro, que já está na quarta tiragem, com 1.200 exemplares vendidos.

A ideia do conto surgiu durante uma visita ao Museu Nacional. “Eu não sei ao certo o que eu sabia naquela hora, mas tinha certeza que, enquanto olhava os quadros pendurados, alguma coisa estava tomando forma dentro de mim”, conta Marcelo. Enquanto via uma tela com riscos de tinta, ele pensou: “Nossa, isso só pode ter sido feito por alguém que acabou de descobrir a caneta”. Pronto, o conto tomou forma: um bebê, chamado Arthur, arranca a pena de um pássaro, pinta-se com o sangue do animal e mostra ao pai uma nova possibilidade que aquela pena trazia. O homem encontrou elementos que produzissem tinta na floresta em que moravam e começou a escrever, até chamar a atenção do rei, que se surpreendeu com a descoberta. A família ganhou prestígio na corte e o pai de Arthur continuou disseminando a criação da caneta pelo reino.

Marcelo precisou contar não só com o apoio emocional da família, como também com o financeiro. Ele conta que a cobrança para devolver o dinheiro do amigo, que é seu empresário, é muita. Para o escritor, o foco agora é pagar toda a dívida e se representar por conta própria. E depois de quitar a dívida? “Eu quero ir para a televisão, escrever roteiros para filmes, desenhos, novelas”, sonha Marcelo. Enquanto isso não acontece, o escritor espera vender todos os exemplares restantes de A caneta, para imprimir e começar a vender um novo conto.

Sonho de Kaciane, de 10 anos, começa a ser construído


O sonho de Kaciane Caroline Marques, de apenas 10 anos, começou a se tornar realidade. Foi iniciada a construção da sua biblioteca. O espaço cultural não será particular, mas público. O objetivo da iniciativa é incentivar a leitura entre os moradores do Lealdade, bairro carente de Rio Preto, onde mora com a família. "Eu estou muito feliz com o que está acontecendo. Só tenho a agradecer. Quero começar o projeto logo. Vai ficar bonito. Quero incentivar a leitura com meus vizinhos", afirma a menina. Não esconde a alegria com a reviravolta que sua vida sofreu em pouco mais de um mês.

Apesar da pouca idade, Kaciane é uma leitora voraz e contabiliza 407 livros lidos. Enquanto viajava nas histórias, pensou em quão especial seria dividir essa experiência com outras pessoas. Assim, começou a pedir livros pelas redes sociais. Em 11 de dezembro, o Diário contou sua história. Sensibilizados, os leitores se apaixonaram pela iniciativa e começaram a doar livros - 1.500 exemplares já estão espalhados no quarto, corredor, cozinha da casa de Kaciane. A cama se transformou em depósito, o que faz a garota dormir com a mãe. Outras mil unidades estão à disposição.

Chegaram livros de Rio Preto, região e até mesmo de outros Estados, como Rio de Janeiro. A mãe da menina, a diarista Adriana Marques, 43 anos, ajuda na limpeza dos exemplares, sobretudo de literatura, didáticos e de história. Todos são recebidos com carinho e atenção. "A gente tem de ajudar de alguma forma." A direção do London, um dos mais conceituados colégios de Rio Preto, ficou tocada com a atitude e decidiu colaborar. Doou o material de construção e contratou o pedreiro João da Silva e o ajudante Renato Januário para erguer a biblioteca com 14 metros quadrados e uma área coberta de 10 metros quadrados.

Muito animada, a menina fica de olho na obra e a todo instante pergunta quase tempo vai demorar para acabar. O serviço, em fase de alicerce, deve levar três semanas para ser concluído. Ela observa o fundo do quintal e sonha com a presença dos futuros visitantes, em busca de mais de cultura. Assim que o prédio estiver pronto, Kaciane quer abrir a biblioteca, batizada como 'Fomentando Leitores', e oferecer a oportunidade de leitura para os moradores do bairro. Vai organizar os livros em prateleiras, cuidar dos empréstimos e manter o espaço no horário inverso ao da aula.

O professor, escritor e diretor do colégio London, Pedro Acquarone Neto, Pedrinho, decidiu fazer mais e ofereceu bolsa de estudo e material didático gratuitamente para Kaciane estudar do sexto ano do fundamental até o terceiro do ensino médio. Como ela vai cursar o quinto ano, vai para a nova escola em 2016. "Meu sonho está se realizando muito maior do que eu imaginava", afirma a menina, que quer ser jornalista e escritora. Se não fosse a importante ajuda de pelo menos 50 bem-intencionados, a família não teria condição de construir a biblioteca e comprar tantos livros.

Enquanto a obra está em andamento, Kaciane aproveita o tempo livre para fazer o que mais gosta. Já leu pelo menos cinco dos exemplares dos que foram doados. Além de viajar na leitura, gosta de se informar e falar sobre os autores e estilos literários. Importante para uma bibliotecária mirim. Quer, acima de qualquer coisa, que mais pessoas sintam prazer pela leitura.


Contato com escritores desperta interesse pelos livros

Interessada em buscar novas estratégias capazes de atrair o interesse pela leitura entre os alunos do sexto ano do ensino fundamental, a professora Érica Rodrigues, do Colégio Estadual João Gueno, no município paranaense de Colombo, buscou apoio na Universidade Federal do Paraná (UFPR).


A parceria entre as duas instituições levou à realização do projeto Ação Integrada para o Letramento, vencedor da sétima edição do Prêmio Vivaleitura, na categoria 2, destinada a escolas públicas e particulares.


Desenvolvido em 2013 e em 2014, com a participação das professoras Lúcia Cherem e Elisa Dalla Bona, da UFPR, o projeto teve como linhas de trabalho o letramento literário e a literatura em sociedade.

O principal objetivo do letramento era o de despertar o interesse dos estudantes pela leitura de obras de literatura. Uma das atividades desenvolvidas foi o trabalho que teve como foco a escritora brasileira infanto-juvenil Índigo, Ana Cristina Ayer de Oliveira.

De acordo com Érica, a leitura do livro A Maldição da Moleira entusiasmou os alunos, o que deu início a um processo de aproximação com a escritora. “Após ter conhecimento da experiência com as turmas, Índigo mandou uma caixa com quatro de seus livros”, revela a professora. “Mandamos uma carta agradecendo, e ela começou a responder às perguntas em seu blogue, dando início a uma interação virtual com os estudantes”.

O interesse dos alunos foi aumentando à medida que estudavam outros textos da escritora e liam reportagens publicadas por ela. “Assim, a vontade de um encontro só aumentava”, revela a professora. “Após muitos esforços, foi marcada uma visita à escola”.

Segundo Érica, a visita, realizada em setembro de 2014, foi um sucesso: “Toda a escola se mobilizou para recebê-la, e os alunos escreveram um livro para presenteá-la”. Índigo postou um comentário sobre o livro dos alunos em seu blogue e os provocou a escrever outro. A provocação foi aceita e, no final de 2014, uma nova obra dos estudantes foi enviada de presente à escritora.

Velhice

Na linha de trabalho denominada literatura em sociedade, Érica estimulou a leitura, no início de 2014, de vários textos sobre a velhice, em diferentes gêneros textuais — filmes, reportagens e blogues —, culminando na leitura de textos literários, como poemas e contos. No fim do semestre, os alunos fizeram uma visita a uma instituição para idosos.

Antes disso, divididos em grupos, eles selecionaram poemas a serem lidos aos usuários da instituição, confeccionaram cartões e elaboraram perguntas a serem feitas aos idosos.

“O primeiro contato foi tão produtivo que gerou o desejo de novos encontros”, diz a professora. Então, mais uma visita foi agendada. Nela, os alunos leram obras cujos personagens eram pessoas idosas e fizeram um lanche com os moradores.

De acordo com Érica, muitos dos idosos há tempos não tinham contato com um livro. “Eles riam das histórias, identificavam-se com os personagens, admiravam as ilustrações, queriam tocar o livro”, explica.

Uma das idosas quis inverter o papel e ler para os estudantes, o que deixou todos emocionados. “A troca de experiências foi riquíssima e sensibilizou os adolescentes”, destaca a professora, que tem graduação em letras e mestrado em educação.

O projeto começou a ser desenvolvido em 2013, em duas turmas de sexto ano do ensino fundamental, e teve continuidade em 2014, com os mesmos alunos, já então no sétimo ano. Os planos de Érica, para 2015, incluem a continuidade do trabalho, com novas atividades e adaptações necessárias a cada turma em que ele será desenvolvido.

“A premiação no Vivaleitura significa o reconhecimento de um trabalho verdadeiro, construído com a participação de várias pessoas comprometidas com uma educação de qualidade”, ressalta Érica.

Além disso, segundo ela, o prêmio renova a convicção de que é sim possível fazer a diferença, “independentemente das dificuldades que existam, desde que haja uma equipe envolvida, disposta a trocar experiências e se ajudar”.

Vivaleitura

O Prêmio Vivaleitura busca estimular, fomentar e reconhecer as melhores experiências de promoção da leitura. A ação é promovida pelos Ministérios da Cultura (MinC) e da Educação (MEC) e a Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI).

O Prêmio integra o Plano Nacional de Livro e Leitura (PNLL) e conta com o apoio do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e da Fundação Santillana.

Transcrito de http://www.blogdogaleno.com.br/2015/01/23/contato-com-escritores-desperta-interesse-pelos-livros

Barca das Letras distribui livros pelos rios Amazonas e Macacoari

Após arrecadar mais de mil e quinhentos livros e gibis com os moradores de Brasília durante o mês de janeiro, a Biblioteca Itinerante Infantil Barca das Letras começará a distribuí-los para comunidades tradicionais do Amapá, viventes ao longo dos rios Amazonas e Macacoari, no período de 2 a 11 de fevereiro. O objetivo é estimular o prazer da leitura, principalmente com as crianças ribeirinhas, as quais já estão acostumadas com as brincadeiras do palhaço Ribeirinho, o animador da Barca das Letras.

A biblioteca nasceu em 2008 e desde então vem espalhando livros por vários municípios da Amazônia Legal. “Aonde nos convidam, vamos lá brincar de ler com a criançada das beiras dos rios. Colocamos todo mundo para viajar no mundo mágico da leitura viva” revela o amapaense Jonas Banhos, idealizador da Barca das Letras. Com a recente divulgação de que mais de meio milhão de candidatos zeraram na redação do Enem e apenas 250 alunos atingiram nota máxima, a ação da Barca das Letras ganha ainda mais importância.

As intervenções lúdicas começam no dia 2 de fevereiro pela manhã, com distribuição de livros para os ribeirinhos aportados no Igarapé das Mulheres em Macapá. No dia 4 de fevereiro a biblioteca chega ao município de Itaubal para brincar com as crianças do Carmo do Macacoari, São Tomé(7/2), Foz do Macacoari(8 e 9/2) e Igarapé Novo(11/2).

Cobrador monta biblioteca dentro de ônibus

O interesse pela leitura do cobrador de ônibus Antônio da Conceição Ferreira, de 42 anos, começou em sua cidade natal Santa Luzia do Tide, no Maranhão. Desde pequeno, gostava de ler os jornais e folhetos que o pai levava para casa como embrulho de objetos. Morador de Sobradinho II (DF), há 11 anos ele transformou o gosto pela literatura no projeto Cultura no Ônibus, que empresta livros para passageiros da linha em que trabalha.  

Cobrador monta estante para os livros diariamente no ônibus em que trabalha
— Dentro do ônibus não há atrativos para os passageiros, então vejo o livro forma de distração e de adquirir cultura.

Ele diz que começou o projeto com uma caixa de papelão em que guardava os livros no ônibus, assim que ele começou a trabalhar na linha circular de Sobradinho II e Plano Piloto em 2003. Hoje, o cobrador monta uma estante com cerca de 15 livros assim que começa o expediente no coletivo.  

No começo, Antônio anotava o nome e dados dos passageiros que pegavam os livros emprestados. Agora ele diz que não se importa mais com a devolução dos volumes.  

— Hoje é livre, os leitores podem ficar totalmente à vontade para pegar os livros. A ideia é que os livros passem de mão em mão. Mas o passageiro de todos os dias sempre devolve.  

Antonio sonha em ampliar o projeto para todos os ônibus do DF.  

— Aí quem pegar o livro em um coletivo em Ceilândia, poderá devolver em outro ônibus no Guará. Vejo o coletivo como uma grande biblioteca.  

Entre os volumes mais procurados, segundo o cobrador, estão os livros de contos, crônicas, romances e autoajuda.  O acervo do cobrador é formado por doações de passageiros e de internautas que acessam o blog do projeto. Em casa ele já reúne um acervo com cerca de oito mil títulos, entre livros, revistas e cordéis.  

Estudante do segundo ano do Ensino Médio, o maranhense diz que já tinha lido vários autores, mas o primeiro livro que teve prazer de ler foi o romance Capitães de Areia, de Jorge Amado.   

— Nenhum outro havia me feito sorrir. A literatura dele é bem distrativa.   

Além do autor baiano, os escritores Clarice Lispector, Carlos Drummond Andrade, Luiz Fernando Veríssimo, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan.  

— Atualmente eu tenho procurado mais a literatura contemporânea, porque é atual

A música não pode parar

A Orquestra de Cordas da Grota: patrocínios são pontuais, para ações como a compra de instrumentos e a construção da sede
Prestes a completar 20 anos, a Orquestra de Cordas da Grota enfrenta uma crise de financiamento que ameaça o seu futuro
Jovens e crianças com estojos de violinos e violoncelos, a música clássica ecoando pelas vielas. Nada disso causa admiração na comunidade da Grota do Surucucu, em Niterói, ao lado da cidade do Rio de Janeiro. Mas esta familiaridade com instrumentos e sons eruditos pode acabar.

A Orquestra de Cordas da Grota é conceituada e, ao longo dos anos, foi ganhando a estrutura necessária para desenvolver o trabalho. Mas os patrocínios são pontuais, para ações como a compra de instrumentos e a construção da sede, e o dia a dia consome dinheiro. Além das despesas estruturais, é preciso levantar verba para oferecer ajuda de custo aos músicos e monitores.

No início de 2014, a OCG se viu sem patrocínio. Com empenho dos alunos, professores e voluntários e vários cortes nas despesas, o projeto continuou. Mas, no fim do ano, veio a constatação dramática: se até o final de fevereiro não tiver sido captada pelo menos parte da verba necessária para cobrir os custos fixos em 2015, as aulas e atividades regulares não serão retomadas em março.

Para tentar levantar o dinheiro, a OCG iniciou uma campanha de doações por meio do site de financiamento coletivo Vakinha. A venda de CDs da orquestra também está sendo intensificada, e a conta para depósito de doações regulares tem sido amplamente divulgada.

Os voluntários não só trabalham sem ajuda de custo, como também são os doadores mais regulares. Márcio Selles e Lenora Mendes são os coordenadores, dando aulas e organizando todo o trabalho. Nayran Pessanha, violista do Quarteto de Cordas da Universidade Federal Fluminense e professor do Centro de Estudo e Iniciação Musical da mesma universidade, é o regente da orquestra principal. Todos contribuem mensalmente.

Horta e aulas

A história do projeto, que inicialmente não tinha nenhuma relação com a música, começa nos anos 1980. A professora aposentada Otávia Paes Selles começou a plantar uma horta no terreno ainda vazio e, aos poucos, foi atraindo as crianças que jogavam no campinho de futebol vizinho. Dona Otávia oferecia também aulas de reforço escolar, oficina de leitura e diversas atividades de artesanato. Remanescentes desta época, os irmãos Katunga e Nem – José Carlos e Ricardo Vidal – e a amiga Raquel Terra lembram, nostálgicos, das tardes de aula, cultivo e artesanato, dos almoços de sábado em que eram servidos legumes e verduras colhidos da horta e de quando ajudaram a construir a cisterna e a “casinha”, primeira edificação do espaço.
A maior conquista do projeto tem sido mudar as vidas das crianças e jovens atendidos
Mas a saudade maior é de dona Otávia, que morreu em 1988. “Ela levava a gente para a casa dela para fazer chocolate, que depois vendia em bazares. Vendia também as peças de artesanato. Fiz muito sapatinho de tricô, muito pano de prato. Mas eu acho que era ela mesma que comprava tudo”, recorda Raquel. “E tinha também os shortinhos. Ela costurava shorts para as crianças, mas o tamanho era um só. Tinha que servir para todo mundo”,  lembra Ricardo. Quando o espaço foi reformado, em 1997, foi mantido um fragmento do antigo edifício, onde foi afixada uma placa em homenagem à fundadora do projeto.

Sem descuidar da horta, do reforço escolar e das atividades artesanais, dona Otávia convenceu o filho, Márcio, a ensinar música às crianças. Recém-chegado dos Estados Unidos – onde ele e a mulher, Lenora Mendes, cursaram mestrado na Sarah Lawrence College –, o músico, inicialmente, resistiu à ideia. Dona Otávia insistiu e Márcio assumiu o ensino de música e fundou a Orquestra, em 1995. Mais tarde, Lenora se uniu ao projeto e se encarregou das aulas de teoria musical e flauta doce.

Novo rumo
O projeto atende, hoje, cerca de 500 crianças e jovens, espalhados pela sede operacional, na Grota, pelos núcleos em outras comunidades – Jurujuba, Ititioca, Morro do Cavalão, Morro do Estado e Badu – e nos municípios de Maricá e Itaboraí. Quantos já passaram pela orquestra, ninguém consegue contar. “Não temos o número certo, porque não temos muito controle sobre estas informações. Sempre tivemos problemas com a parte administrativa. E isso atrapalha, porque, apesar de o projeto ser reconhecido e considerado sério, esta falha na organização dificulta a captação de patrocínio”, lamenta Lenora.

Coordenadores da Orquestra de Cordas da Grota,
 Lenora Mendes e Márcio Selles
Além das aulas de música, o Espaço Cultural da Grota também abriga uma biblioteca com 500 títulos, mantendo a tradição das oficinas de leitura. Há ainda aulas de desenho, reforço escolar, oficinas de alguns instrumentos e cursos de artesanato. Isso sem contar a orientação atenta e constante de Lenora. “Em geral, oriento quanto à escolha do curso superior, principalmente na área de música. Quase sempre recomendamos que o aluno faça licenciatura, porque ele já sai da faculdade apto a dar aulas. Se quiser depois complementar a formação, apoiamos no que podemos”, esclarece. Mas há também orientações quanto a decisões que dizem respeito à vida pessoal das crianças e jovens. “Quando percebo que alguém está bebendo, fumando, ou quer sair da escola, por exemplo, vou até esta pessoa e chamo para uma conversa. Afinal, a vida será o que a gente construir”, acrescenta.

Retorno

Os alunos mais experientes se tornam professores e monitores. Hoje produtora, Alexandra Seabra iniciou a monitoria aos 13 anos, com apenas três de aprendizado. “Eu ajudava a Lenora com os pequenos”, lembra. Mais recentemente, sofrendo de tendinite, deixou a orquestra principal, mas, formada em licenciatura pelo Conservatório de Música – fez parte do primeiro grupo de bolsistas –, continua dando aulas. Além de lecionar na Grota, Alexandra também dá aulas de musicalização para as crianças de um tradicional colégio particular de Niterói. Paralelamente, integra um grupo, todo de músicos da OCG, que toca em casamentos, festas e eventos.

Para poder diversificar suas opções de trabalho, todos os integrantes da orquestra principal têm CNPJ próprio e emitem nota fiscal, registrados como microempreendedores individuais. Manoel Ferreira, violista, além de cursar licenciatura em Música na UFRJ, é um bom exemplo de versatilidade. Por influência de uma professora da faculdade, Patrícia Michelini, o jovem de 24 anos voltou a tocar flauta doce – primeiro instrumento de todos os alunos da OCG –, entrou para a Orquestra Barroca da UFRJ e uniu-se ao cravista Eduardo Antonello, com quem toca um repertório de música barroca. Fora o trabalho musical, Manoel tem trabalhado com fotografia e vídeo – é quem registra as apresentações da orquestra e, depois de editar o material, publica na internet, ajudando na divulgação. O músico atua ainda como produtor numa produtora de eventos.

Ricardo Vidal: experiência e bom currículo musical não garantem o sustento

Outro futuro é possível

Mesmo com reconhecimento nacional e internacional, a maior conquista do projeto tem sido mudar as vidas das crianças e jovens que atende. Embora as casas da ladeira de acesso não sugiram isso, a Grota sofre com as mazelas comuns às periferias: não há saneamento básico e coleta de lixo em algumas áreas, as chuvas derrubam casas, há violência.

Com tantos obstáculos, era esperado que os jovens da comunidade estudassem precariamente ou largassem os estudos, seguindo uma vida laboral de subempregos e informalidade. Mas a influência do trabalho da OCG mudou esse futuro. Dos jovens atendidos, 50 cursam ou já concluíram a universidade. Muitos estudaram música, enquanto alguns cursaram Direito, Educação Física, Geografia, Física, entre outras carreiras.

A veterana Raquel Terra é um caso exemplar, já que teve o rumo da vida modificado duas vezes. Chegou à horta de dona Otávia defasada em relação à série que cursava e com muitas deficiências. “Eu aprendi a ler, mesmo, aqui”, relata a violoncelista. Melhorou na escola, aprendeu a tocar, participou da Orquestra desde sua fundação. Mas a família se mudou para o município vizinho de São Gonçalo e a menina, aos 11 anos, não podia ir sozinha para as aulas na Grota. Algum tempo depois, já com 17 anos, retornou. Havia deixado a escola, mas voltou a estudar. E acabou contemplada com uma bolsa para cursar licenciatura no Conservatório Brasileiro de Música. Hoje, formada, dá aulas na Orquestra.

Sonhos em risco

Raquel é também um exemplo de como a falta de financiamento põe em risco os benefícios sociais do projeto. Com a crise de financiamento, foi suspensa a ajuda de custo aos músicos, instrutores e monitores. Raquel teve sua renda comprometida e se viu obrigada a procurar emprego. Hoje trabalha como ajudante de cozinha em um restaurante.

Ouvindo Raquel falar sobre o emprego, Ricardo Vidal perguntou à amiga se há vagas abertas no restaurante. Com quase 20 anos de carreira na música, apresentações internacionais no currículo e instrutor de três núcleos da OCG – Badu, Jurujuba e Maricá – o violinista se vê forçado a buscar uma forma de complementar a renda.

Katunga: “Não consigo entender esse preconceito com a
música clássica. Para mim é natural, meu filho de 3 anos
 também fica à vontade ouvindo”
Já Katunga Vidal não depende exclusivamente da OCG. Entre outros trabalhos, dá aulas de música no Afroreggae e toca em festas e eventos. Mas, além de ser um dos mais experientes integrantes da orquestra A, o músico tem um motivo a mais para desejar que o projeto continue: seu filho, Antônio, de 3 anos, já brinca com pandeiros e flautas e está mais do que familiarizado com peças eruditas. “Não consigo entender esse preconceito com a música clássica, as pessoas dizerem que é uma música difícil. Para mim é natural, meu filho também fica à vontade ouvindo.” O desejo do pai é que o pequeno também entre para a OCG.

Carlos: “Minha vizinha tocava violino. 
Me acostumei a escutar música clássica e quis aprender a tocar”
Aos 14 anos, o violinista e flautista Carlos Rodrigues já tem sete de OCG e a previsão é de que comece a dar aulas de teoria em 2015. O jovem fazia parte da banda do Colégio São Vicente, onde era bolsista, e já tocava quando chegou à orquestra. Mas foi por causa do projeto que quis se tornar músico. “Minha vizinha tocava violino aqui e eu ouvia os ensaios dela. Desde os 2 anos acostumei a escutar música clássica e quis aprender a tocar”, conta. Decidido a seguir carreira como instrumentista, o rapaz estuda com afinco e nutre o desejo de tocar com a Filarmônica de Berlim, uma das orquestras mais conceituadas e famosas do mundo. Hoje, o maior obstáculo para a realização do sonho de Carlos é a falta de financiamento.

Transcrito de http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/103/a-musica-nao-pode-parar-1292.html

Começa com um pôster / It starts with a poster

Marcia McNutt*

Cientistas frequentemente lamentam a escassez de comunicadores científicos eficazes – aqueles que podem explicar conceitos complexos para o público, apresentam alternativas cientificamente sólidas aos responsáveis pela política acadêmica, e criam argumentos convincentes do valor da ciência para a sociedade. Alguns programas estelares são projetados para selecionar e treinar articuladores de elite, mas algumas medidas simples podem melhorar as competências comunicacionais de todos os cientistas. A maioria dos pesquisadores aprendem a falar sobre ciência em reuniões.

Se os cientistas não conseguem explicar seu trabalho clara e sucintamente para os seus pares, é altamente improvável que eles possam explicar isso de forma eficaz para não especialistas. Eu recentemente ajudei a julgar trabalhos de alunos em uma grande reunião científica, uma experiência que trouxe à minha atenção a importância da comunicação no início de uma carreira. Eu ofereço algumas dicas sobre como aproveitar ao máximo esse treinamento inestimável.

Eu incentivo alunos a solicitarem uma apresentação de pôster numa grande reunião. Este formato pode ser menos estressante do que falar na frente de um grande público. Além disso, o aluno pessoalmente conversa com membros da comunidade científica que compartilham um interesse em sua pesquisa. O vai-e-vem é um bom treino e um lembrete para os alunos que discutindo suas pesquisas com especialistas ou não especialistas poderiam ter uma conversa de duas vias. Outra vantagem de apresentar um pôster é que o aluno pode adequar a narrativa aos interesses de quem se acerca, em uma troca de perguntas e respostas. Lembro-me de anos atrás, quando um estudante de pós-graduação estava desapontado que sua pesquisa poderia ser descrita "apenas" neste formato, até que um dos gigantes em seu campo passou um tempo considerável em seu pôster para discutir o trabalho. Quando saiu, ele disse: "Eu gostaria de ter pensado aquilo". Mais tarde, ela foi contratada em seu departamento.

Para ser eficaz, pôsteres precisam ser atraentes, bem como informativos. Numa convenção em salão com placas de pôsteres alinhados, os cientistas vão ignorar aqueles com grandes blocos de textos e tabelas de números impenetráveis. Um desenho animado que resume o modelo ou resultados, exposições atraentes de dados e fotos que ilustram o experimento são boas maneiras de chamar a atenção. Formas criativas para mostrar informações pertinentes são um algo a mais. Eu, pessoalmente gosto de pôsteres que começam com a motivação para o trabalho e no final com as descobertas, áreas a serem desenvolvidas, e as implicações mais amplas dos resultados.

Uma conversa de 10 minutos numa grande conferência é mais difícil de organizar e executar efetivamente do que um seminário de uma hora. Erros que os alunos muitas vezes cometem na preparação de slides de uma breve apresentação mostram as mesmas intrincadas figuras multipartes que eles usaram em um trabalho de pesquisa, tem muito texto (e em um tamanho de letra muito pequeno), escolher as cores com contraste insuficiente contra o fundo e usar imagens borradas copiados da Internet. A apresentação é também crítica. O entusiasmo é um dos melhores elementos de qualquer conversa. Os alunos nunca devem apenas recitar de seus slides e nunca devem ir além do tempo. Reconhecer quem o público é e conduzir a conversa de forma adequada são essenciais. Muitos anos atrás, se um cientista usasse jargão desconhecido e dirigisse a apresentação acima da compreensão do público, o falante só poderia ter sido considerado inteligente. Não mais. Hoje, esse falante é visto como um comunicador pobre.

Formar a próxima geração de cientistas para se comunicar bem deveria ser uma prioridade. Departamentos poderiam providenciar que os alunos realizassem apresentações simuladas para outra faculdade, pesquisadores e estudantes com antecedência às suas apresentações em conferências, um ensaio geral antes do evento principal. E os pesquisadores participando de reuniões deveriam gastar algum tempo para julgar alguns trabalhos de alunos, visitar posteres de estudantes, ou assistir palestras de estudantes. Esse feedback para jovens cientistas é inestimável, e os grandes comunicadores que vão surgir podem traçar melhor suas habilidades afiadas de volta a um momento no seu pôster ou no pódio.


 Treinar a próxima geração de cientistas para 
se comunicar bem deveria ser uma prioridade


*Editora-Chefe do Science Journals 
 Tradução: Alessandra M. Assis
Ciência 6 de março 2015, v. 347 questão 6226 p. 1047 (www.sciencemag.org)


It starts with a poster

Marcia McNutt*

Scientists frequently lament the scarcity of effective scientific communicators — those who can explain complex concepts to the public, present scientifically sound alternatives to policymakers, and make cogent arguments for the value of science to society. A few stellar programs are designed to select and train elite articulators, but some simple steps can improve the communicationskills of all scientists. Most researchers learn how to talk about science at meetings. 

If scientists cannot explain their work clearly and succinctly to their peers, it is highly unlikely that they can explain it effectively to nonspecialists. I recently helped to judge student papers at a large scientific meeting, an experience that brought to my attention the importance of such communication nearly in one’s career. I offer a few tips on how to make the most of this invaluable training.

I encourage students to request a poster presentation at a large meeting. This format can be less stressful than speaking in front of a large audience. Furthermore, the student personally converses with members of the scientific community who share an interest in his or her research.The back-and-forth is good training and a reminder to students that discussing their research with experts or nonexperts should be a two-way conversation. Another advantage of presenting a poster is that the student can tailor the narrative to the interests of whoever stops by, in a Q&A exchange. I recall years ago when a graduate student was disappointed that her research would be described “only” in this format, until one of the giants in her field spent considerable time at her poster to discuss the work. As he left, he said, “I wish I had thought of that”. She was later hired into his department.

To be effective, posters need to be eye-catching aswell as informative. In a convention hall lined with poster boards, scientists will bypass those with large blocks of texts and tables of impenetrable numbers. A cartoon that summarizes the model or findings, attractive displays of data, and photos that illustrate the experiment are good ways to grab attention. Creative ways to display pertinent information are a definite plus. I personally like posters that begin with the motivation for the work and end with the findings, areas for follow up, and broader implications of the results. 

A 10-minute talk at a major conference is more difficult to organize and effectively deliver than an hour-long seminar. Mistakes that students often commit in preparing slides for a brief presentation are to show the same intricate multipart figures that they used in a research paper, have too much text (and in a font size too small), choose colors with insufficient contrast against the background, and use blurry images copied from the Internet. The delivery is also critical. Enthusiasm is one of the very best elements of any talk. Students should never merely recite from their slides and should never ever go over time. Recognizing who the audience is and pitching the talk appropriately are essential. Many years ago, if a scientist used unfamiliar jargon and aimed the presentation over the heads of the audience, the speaker might just have been considered smart. No longer. Today, such a speaker is viewed as a poor communicator.

Training the next generation of scientists to communicate well should be a priority. Departments could arrange for students to hold mock presentations for other faculty, researchers, and students in advance of their presentations at conferences—a dress rehearsal before the main event. And researchers attending meetings should take some time to judge a few student papers, visit student posters, or attend student talks. This feedback to young scientists is invaluable, and the great communicators that will emerge may well trace their sharpened skills back to a moment at their poster or at the podium.

Training the next generation of scientists 
to communicate well should be a priority


*Editor-in-Chief do Science Journals
Science 6March 2015, Vol 347 Issue 6226 page 1047(www.sciencemag.org)


Caos e efeito borboleta

Link

Jornalistas se mobilizam por uma outra narrativa sobre os protestos

Najla Passos

A desconfiança geral em relação ao conteúdo veiculado pela mídia tradicional e monopolista resultou no surgimento de vários coletivos de jornalistas e comunicadores interessados em divulgar uma outra visão sobre os protestos que ocorrem nesta sexta (13) e no próximo domingo (15) em todo o país. Exemplos são os grupos Jornalistas Livres e em Defesa da Democracia, sediado em São Paulo, e do Comunicadores pelo Brasil, com base em Brasília.

Ambos trabalham de forma colaborativa, divulgando conteúdo produzido por jornalistas independentes de todo o país e até do exterior, além das matérias e reportagens veiculadas pela imprensa alternativa. Também realizam análises de mídia, em tempo real, com críticas e informações qualificadas sobre a orientação da cobertura feita pelos meios de comunicação tradicional.
No Facebook, o Jornalistas Livres apresenta assim o seu propósito: “cobertura colaborativa contra a manipulação da mídia tradicional; pelas narrativas independentes e plurais”. No final da manhã desta sexta, quase mil pessoas já haviam curtido a página no Facebook e compartilhavam os conteúdos disponibilizados.

Já o Comunicadores pelo Brasil explica, em uma espécie de manifesto, que é oriundo do grupo Comunicadores com Dilma que, durante as eleições, apoiou a candidatura da presidenta eleita. “Quando a gente se reuniu na campanha, foi para defender o projeto da candidatura da Dilma, mas já com bandeiras bem delineadas de defesa da luta dos trabalhadores. Agora, a conjuntura se agravou e precisamos defender também a democracia. Por isso, decidimos retomar o grupo de forma não personalista”, explica a jornalista Flávia Azevedo, que integra o coletivo.

De acordo com ela, o grupo reconhece a insatisfação que toma conta das ruas, mas não apoia o impeachment. “Não está bom. Defendemos que este governo dê uma virada à esquerda. Mas também não compactuamos com o golpismo. Por isso, nos somamos aos vários outros grupos que surgiram no país para fazer uma narrativa diferenciada desta crise, porque a cobertura da mídia tradicional é claramente desequilibrada”, esclarece.

Para Flávia, mesmo que os comunicadores admitam que não exista imparcialidade na imprensa, as concessões de rádio e TV, especialmente, precisam ser mais responsáveis com o que publicam. “Não se discute a reforma política, não se apresenta visões diferentes dos fatos. Nós somos pessoas que estão contra o golpe, que defendem uma virada à esquerda deste governo, mas não encontramos nenhum espaço na mídia”, acrescenta.

Segundo ela, a alternativa é usar as redes sociais de forma voluntária e colaborativa, ainda que para se contrapor aos grupos patrocinados pelo golpismo que dispõem de recursos que os comunicadores pelo Brasil nunca terão. “Não temos recursos, não temos poder econômico. E sabemos que as mensagens que eles veiculam no facebook ou no Whatsapp não são feitas por amadores, que custam muito dinheiro. É uma luta de Davi contra Golias”, avalia.

Com as hashtags  #DilmaVireàEsquerda, para ser usada nesta sexta, e #RespeiteMeuVoto, para o domingo, o grupo afirma, no manifesto, que sua maior bandeira é o respeito e a luta pela liberdade de expressão. “O grupo não se furtará do dever de questionar a forma como os grandes veículos têm tratado a crise política, tão pouco da tarefa de oferecer uma visão alternativa dos protestos, em busca de oferecer – pelo menos nas redes sociais – material oposto àquele que certamente será oferecido pelas mídias hegemônicas”, diz o documento.

Narrar em tempos pós-modernos: 1001 Sherazades

Heidrun Krieger Olinto (PUC-Rio)
I myself have always aspired to write Barton's version of The 1001 nights
complete with appendices and the like, in twelve volumes, and for
intellectual purposes I needn't even write it.
John Barth


O conto que abre a coletânea Lost in the Funhouse, de John Barth, com suas dez palavras, é, segundo o próprio autor, provavelmente a mais curta narrativa em língua inglesa e, ao mesmo tempo, infinita (Barth, 1984). Intitulada "Frame-Tale", eis a história escrita em maiúsculas nas margens de duas páginas, frente e verso:

ONCE UPON A TIME THERE WAS A STORY THAT BEGAN

Sua leitura é orientada por um minúsculo manual para o usuário com as recomendações de cortar a folha de papel na linha tracejada, torcer os lados e juntar, em seguida, AB com ab e CD com cd. Como resultado, emerge um anel de Möbius de estrutura uni, bi, ou tridimensional, e, de acordo com a direção do nosso olhar, a sua leitura pode iniciar-se ou terminar em qualquer ponto.

Neste IX Seminário Internacional, A Situação da Narrativa no Início do Século XXI, dedicado a Sherazade, gostaria de prestar certa homenagem a John Barth, escritor, teórico e professor universitário, confessada e perdidamente enamorado da bela narradora, e que, em todas as esferas de seus interesses profissionais, ajudou a transformá-la em musa do pensamento pós-moderno. Se existe algum tipo de consenso com respeito a este problemático termo, ele se articula em torno desta figura emblemática, celebrada de forma incondicional, visível não apenas na produção literária contemporânea, mas igualmente nos espaços de sua teorização e nos projetos didáticos vinculados a novas estratégias de leitura.

Inicio, então, a minha história com era uma vez uma história que começava assim: Dizem as crônicas dos antigos sultões da Pérsia que Shariar herdou do seu pai um Império que se estendia muito além da Pérsia, incluindo a Índia e a China, restando para o irmão Shazenam a província da Tartária. Eis a primeira moldura para uma narrativa sobre os infortúnios de dois irmãos que, traídos pelas respectivas esposas, passam a vagar pelo mundo até um dia se transformarem em espectadores de um novo episódio, envolvendo como protagonista um gênio maligno, que esconde no fundo do mar, numa caixa de vidro trancada a sete chaves, uma bela mulher, que, por seu lado, conta a história do seu rapto no dia do seu casamento, seguido por incontáveis traições.

O relato emoldurado em terceiro grau transforma-se em moldura para contar a desgraça de milhares de virgens-de-uma-noite-só, vítimas do sultão que não perdoa a infidelidade das mulheres.

E é apenas a partir deste momento do enquadre da história dentro da história dentro da história dentro da história que surge - não na posição de narradora, mas na qualidade de ouvinte, atenta mas teimosa - a decantada filha do Grão-vizir, totalmente imune aos apelos do pai, que, por meio de fábulas exemplares ("O boi e o burro" e "O mercador e sua mulher", por exemplo) se esforça em fazê-la desistir do seu plano suicida de salvar as companheiras-virgens do inevitável destino nos braços fatais do sultão.

"Não adianta, meu pai - ela disse - nem essa, nem todas as histórias deste mundo me afastarão do meu plano" (Ladeira, 1992: 18).

O que pensar dessa curiosa falta total de ressonância das histórias contadas, justamente nos ouvidos daquela que se transformou em figura mágica do poder sedutor da palavra imaginária, expressa magistralmente pela equação: narrar = viver?

Sherazade, bela, curiosa, mais instruída do que todas as mulheres de seu tempo, lendo muito, conhecendo artes e ciência, filosofia, medicina, e fazendo versos superiores aos dos mais famosos poetas, pretende salvar-se, paradoxalmente, pelo efeito encantatório da fabulação a que ela própria resiste? Como entender a contradição aparente em torno dessa estranha imunidade?
Uma segunda pergunta permite situar as questões que motivam as minhas reflexões sobre a indagação temática deste Seminário: Saudades de Sherazade?

Por que razão esses contos - inumeráveis - de autoria anônima e de origem diversa, circulando no mundo árabe desde o século VIII (na Pérsia, na Mesopotâmia, na Índia, no Egito), articulados e rearticulados a partir de múltiplas tradições orais e transmitidos em cadeia ininterrupta até serem colhidos por escribas desde o século XI, marginalizados, no entanto, e invisíveis no cânone da literatura árabe erudita, por causa do estigma de sua função de entretenimento nas casas de café, por que motivo, afinal, essas pouco mais de duzentas historinhas fascinaram o tão sofisticado e filosófico século XVIII europeu por ocasião de sua primeira tradução para o francês, por Antoine Galland?

E quais as razões e circunstâncias que transformaram a bela Sherazade em musa incontornável de inumeráveis escritores contemporâneos, rotulados ou não de pós-modernos?

Um olhar sobre algumas hipóteses permite - eventualmente - sinalizar algumas pistas.

Não é de todo improvável supor que o material das histórias "extraordinárias, assombrosas" - das histórias fantásticas, instrutivas, exemplares, anedotas, lendas, histórias de amor, de aventura e viagem -, que compõem a coletânea, de certo modo aberta, dos contos das Mil e Uma Noites, tenha encantado um público ocidental, não apenas pela oferta exótica e pelo efeito de estranhamento diante de um mundo desconhecido, mas também pelo efeito de compensação diante de uma reflexão filosófica árida, sisuda, moralista, alheia a sensibilidades e a sensorialidades.

Os argumentos de John Barth permitem atualizar a questão. Em 1984, por ocasião de um colóquio sobre o fantástico na Universidade de Florida Atlantic, em Boca Raton, ele aproveita a oportunidade de falar mais uma vez sobre "my friend Sherazade" (Barth, 1984:218).

Era uma vez - assim ele inicia a sua conferência intitulada "Tales within Tales within Tales" - que eu escrevi em 1971 uma história sobre Dunyazade, a irmã menor de Sherazade, que estava sentada ao pé do leito nupcial durante 1001 noites, observando o rei fazer amor e escutando todas essas histórias antigas, assombrosas e fantásticas. Na versão de Barth, Sherazade é assistida neste empreendimento narrativo por um gênio americano da segunda metade do século XX, que surgiu misteriosamente por entre as estantes de seus livros por translação temporal e espacial. Este escritor, desde muito jovem apaixonado e inspirado por ela, consente em fornecer-lhe do seu futuro narrativo aquelas histórias do passado narrativo que Sherazade precisava para poder lidar com o seu perigo presente. O gênio americano conhece todas as histórias naturalmente do seu exemplar pessoal do livro de contos das Mil e Uma Noites e a assistência dada a Sherazade permite-lhe solucionar não só os problemas dela, mas também os seus próprios pesadelos e inquietações, que são iguais aos de todos os narradores: o que fazer para escrever mais um romance, mais um e mais um? Em outras palavras, o que fazer para salvar sempre de novo o pescoço do escritor? "Como eu gostaria que essa fantasia fosse real, como gostaria eu de ser aquele gênio e falar com a bela, talentosa e sábia Sherazade!", diria o autor no referido colóquio (Barth, 1984:238).

Na versão ficcional de John Barth, Dunyazadíada, o mundo narrado se localiza nos anos 70, portanto historicamente no tempo dos movimentos pelos direitos civis, em especial da emancipação da mulher, e o momento exato é o fim da milésima primeira noite em que Dunyazade, aliás Duny - irmãzinha menor que durante trinta e seis meses assumia o papel de ouvinte passiva - se transforma em protagonista, narrando em primeira pessoa a sua versão para um novo ouvinte, o irmão do sultão (Barth, 1986). Eis então a estória de Duny:

Sherry estava no último ano da Faculdade de Artes e Ciências na Universidade de Banu Sasan, era rainha da festa da faculdade, oradora da turma, atleta destacada na equipe universitária, tinha uma biblioteca particular de mil livros e a média mais alta na história do campus, de modo que todos os departamentos de pós-graduação do Oriente estavam atrás dela, oferecendo bolsas de estudo. Ela, no entanto, tinha largado a universidade no último semestre para se dedicar em tempo integral à pesquisa sobre a estratégia mais adequada a ser adotada para impedir Shariar de massacrar todas aquelas jovens mulheres e, além do mais, destruir psicologicamente o seu pai.

Ciências Políticas, a primeira opção, não a levou a nada porque o sultão poupava as filhas de oficiais do exército mais graduados e escolhia as vítimas entre famílias intelectuais e outras minorias liberais. Aliás, o ódio pelas mulheres era tolerado e até apoiado pelas instituições tradicionais. Ainda por cima, Shariar mandava assassinar apenas virgens de casta superior, o que, calculadamente, impedia a formação de uma base popular para uma guerra de guerrilha.

Em todo o caso, Sherry começava a achar pior a represália de uma invasão externa com a ajuda do irmão do que a própria política do sultão, de uma virgem-por-noite. Daí Sherry e Duny desistirem das Ciências Políticas e tentarem Psicologia, que, no entanto, se revelava logo outro beco sem saída, porque Sherry descobria que a ira do sultão por ter sido chifrado era menos em decorrência de grilos específicos de sua psique do que de algum tipo de patologia, devido a problemas culturais e à sua posição de monarca absoluto.

Daí, quando nada mais funcionava, Sherry voltou-se, por estranho que possa parecer, para o seu primeiro amor, a mitologia e o folclore, aprofundando-se em todos os enigmas, adivinhações e temas secretos que pôde desencavar.

Precisamos de um milagre, Duny - ela disse - e os únicos gênios que eu já encontrei existiram em livros e não em anéis de mouros ou lâmpadas de judeus. A mágica está nas palavras abracadabra, abre-te sésamo e todas as outras - mas a verdadeira mágica está em entender quais as palavras que funcionam, quando e para quê. O truque está em aprender o truque (Barth, 1982:10).

Pequena Duny - ela disse com ar sonhador - faça de conta que tudo isso é a trama de uma história que estamos lendo e que você e eu e papai e o Rei somos todos personagens de ficção. Nesta história, Sherazade encontra um meio de fazer o Rei mudar de opinião sobre as mulheres e transformá-lo em marido gentil e carinhoso. Não é difícil imaginar uma história assim, é? Ora, seja qual for o meio encontrado - um passe de mágica, ou uma história mágica com a resposta, ou qualquer coisa mágica - tudo se resume a certas palavras na história que estamos lendo e essas palavras são feitas com as letras do nosso alfabeto" (11).

Foi nesse instante que apareceu um gênio do nada, no meio das estantes dos livros, um sujeito de pele clara, de uns quarenta anos, sem barba e calvo como um ovo, parecendo tão assustado quanto nós duas.

"Você é realmente Sherazade? - ele perguntou - Nunca tive um sonho tão claro e real!"(11). Parecia-lhe um sonho tornado realidade. Ele era um escritor de contos numa terra no outro lado do mundo e se encontrava numa profunda crise de inspiração, tendo o seu trabalho chegado a uma paralisia total.
Houve um tempo, segundo ele, em que o povo do seu país gostava de ler, mas nos tempos atuais os únicos leitores de ficção eram críticos, outros escritores e estudantes de Letras contrariados porque se pudessem escolher novamente prefeririam música e desenhos a palavras.

Sua própria carreira tinha alcançado um hiato, pois ele não queria nem repudiar e nem repetir realizações passadas; aspirava a ir além delas em direção a um futuro com o qual estas não estavam em sintonia e, ao mesmo tempo, queria retornar às fontes originais da narrativa.

"Meu projeto - ele nos disse - é aprender onde ir, descobrindo onde estou e revisando onde estive - onde nós todos estivemos"(12).

Segundo ele, existe um tipo de caracol que vai construindo sua casca com qualquer coisa que aparece à sua frente à medida que caminha, e, instintivamente, planeja sua trilha na direção do melhor material disponível para sua casca; carrega sua história nas costas, vive nela, acrescentando novas e maiores espirais do presente, conforme cresce.

Podemos abandonar, neste ponto, a história de Dunyazade, porque os tópicos temáticos sobre a arte de narrar e sobre a arte de ler/ouvir encontram-se, ainda, discutidos de forma magistral em dois ensaios de John Barth, que se transformaram em manifestos programáticos, hoje clássicos, do projeto pós-moderno na literatura.

Não foram as histórias inventadas por Sherazade que seduziram John Barth, mas, antes, a sua narradora e as circunstâncias extraordinárias do seu gesto narrativo. Em outras palavras: a situação de Sherazade e as convenções narrativas da história moldura; o significado das Mil e Uma Noites; a relação terrível mas fecunda entre a narradora e a sua audiência; o ultimato de publicar ou perecer (publish ou perish) e as suas conseqüências fatais; e ainda o papel crucial da pequena Dunyazade ao pé da cama, que no final se transforma de ouvinte em contadora de histórias.

O que interessa a John Barth de modo especial é o fenômeno estrutural das histórias inseridas em histórias, um fenômeno que, de certo modo, implica a narração de histórias sobre histórias e, mais ainda, histórias sobre a arte de narrar histórias. Trata-se de um problema tão antigo, persistente e onipresente como os próprios impulsos narrativos.

Uma segunda resposta diz respeito às categorias de realidade e de ficção. Jorge Luis Borges, inspirado por Schopenhauer, estabeleceu uma equivalência entre realidade e ficção, no sentido de tratá-las como representação a partir do uso de categorias, relações, conceitos de tempo e de espaço, como ficção nossa, traduzível como fantasia compartilhada. Em outras palavras, a diferença entre a fantasia que chamamos de realidade e a fantasia que consideramos fantasia depende dos nossos consensos culturais.

Neste sentido, Gabriel García Márquez, citado por John Barth, acha, por exemplo, que o surrealismo que os gringos acreditam encontrar em sua ficção corresponde, na verdade, à realidade da vida cotidiana em seu país.

Em relação a Borges, John Barth lembra a sua fascinação pela idéia de que o erro de um copista pudesse provocar um regresso infinito, ao transformar, na 602.ª noite, a própria Sherazade em narradora dos contos das Mil e Uma Noites, rompendo, assim, o enquadre lógico das histórias emolduradas, inserindo o narrador exterior no mundo por ele mesmo narrado.

A razão do interesse de Borges por essa estrutura em abismo - que encerra uma história na outra, na outra, na outra, na outra... - é insinuada pelo próprio autor a partir da "perturbação metafísica" que esse tipo de narrativa provoca. Esses contos, dizia Borges, inseridos em outros contos, que se articulam como aquelas esferas chinesas, dentro das quais há outras esferas, produzem um efeito curioso, quase infinito, como uma espécie de vertigem (Borges, 1985:84).

Sua explicação é simples: quando os personagens de uma obra se transformam em leitores ou autores de ficção, eles nos lembram os aspectos fictícios de nossa própria existência (Barth, 1967:33).
Essas histórias, que se estendem simultaneamente para o "mundo real" e para o "mundo da ficção", interrogando posições narratológicas e temáticas, representam, neste contexto, eventuais respostas contemporâneas para o realismo, na comunicação literária atual. E, como já sabemos, respostas históricas e, por isso, volúveis.

Ainda que John Barth tente atenuar o peso destas reflexões filosóficas discursivas na literatura contemporânea, elas emergem natural e permanentemente no interior de sua obra, seja pelas viagens no tempo, seja pelas contaminações constantes da realidade pelo irreal ou pela própria fórmula estrutural do texto dentro do texto. Estes procedimentos, que acentuam anacronismos, reversibilidades no tempo, travessias entre supostos espaços reais e ficcionais, aprofundam tópicos temáticos que formavam exaustivamente o repertório e o horizonte de indagações acerca da literatura, especialmente em suas configurações modernistas e pós-modernistas.

Um olhar sobre os dois textos do autor, antes mencionados, "The Literature of Exaustion", de 1967, e "The Literature of Replenishment", de 1980, não deixa dúvida sobre os seus compromissos assumidos e sublinham, mais uma vez, as ligações amorosas com a sublime Sherazade.

John Barth, um dos primeiros escritores a ser chamado de pós-moderno, tenta entender ele próprio o que esse rótulo pode significar, por ocasião de um curso sobre o assunto, em 1980, a convite da Universidade de Tübingen, na Alemanha. Na ausência de uma definição a partir de marcas convergentes, ele se declara de antemão avesso a ser membro de um clube do qual não fazem parte, igualmente, o escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez e o italiano Italo Calvino. Uma análise superficial de sua própria produção ficcional pareceu-lhe curiosamente atravessada por traços estéticos pré-modernistas, modernistas e pós-modernistas, não apenas em obras sucessivas, mas igualmente numa mesma obra. O exemplo revela uma literatura indiferente em relação a fronteiras legitimadas por vínculos nacionais e mostra, ao mesmo tempo, a presença sincrônica de marcas históricas e estéticas heterogêneas.

Mas o que, afinal, estava em questão e perturbava os escritores e críticos da literatura, quando John Barth publicava em 1967 o primeiro dos dois ensaios teóricos? A progressiva megacomercialização da indústria livresca vinculada ao mercado da multimídia tinha motivado algumas mudanças de atitude nos hábitos de leitura. Livros que se ofereciam ao leitor em forma de fita cassete, sob a bandeira de listen for pleasure, para acompanhar o seu tricotar caseiro e o seu jogging social, e, ainda, os contratos de editoras para tiragens acima de duzentos mil exemplares, combinados com a venda de direitos para TV, cinema e vídeo, souvenirs, camisetas, jogos, posters e cosméticos, não só tornaram a relação texto/leitor intransparente, como deslocaram os acentos tradicionais. Assim, Judith Krantz, do alto da edição de três milhões de exemplares de Princess Daisy, se mostrava indiferente à crítica arrasadora das instituições literárias acadêmicas, porque se dizia amada pelas multidões e levada a sério pelos editores e banqueiros. Em compensação, críticos como Leslie Fiedler, nos anos 70, declaradamente a favor do que então chamavam de democracia cultural, ensaiam retiradas cautelosas durante a década de 80, constatando que "no fundo sabemos que literatura é o que ensinamos nos departamentos de Letras ou, dito de outro modo, o que ensinamos nos departamentos de Letras é literatura" (Förster, 1986:30).

John Barth, por seu lado, ao citar o diálogo entre dois escritores contemporâneos rotulados de pós-modernos, revela a sua própria posição a respeito. A confissão do escritor John Gardner, de que ele gostaria que os seus livros fossem amados por todo o mundo, é questionada pelo escritor William Gass a partir do argumento de que ele, com esta posição, confunde amor com promiscuidade. E, do mesmo modo, como este último não gostaria que a sua filha fosse amada por todos os homens, tampouco queria que isto acontecesse com os seus próprios livros (1984:203). Em outra passagem do mesmo texto, ao caracterizar o seu escritor pós-moderno ideal, Barth retoma a delicada relação entre o autor e o público leitor, do seguinte modo: ele certamente não pode aspirar a atingir e a emocionar os fãs de James Michener e Irving Wallace, sem falar dos analfabetos lobotomizados dos meios de comunicação de massa. Mas deveria, isto sim, aspirar a comover e a encantar um público mais amplo do que aquele círculo reduzido, que Thomas Mann chamava de primeiros cristãos, ou seja, os devotos profissionais da Grande Arte (203).

Em todo caso, uma das questões adormecidas durante longo tempo na esfera do ensino da leitura de literatura volta a ter espaço. Uma questão que Umberto Eco e John Barth, que com frequência se citam mutuamente, têm colocado com insistência.

Umberto Eco, por exemplo, analisa com interesse profundo uma pergunta feita por Leslie Fiedler acerca da curiosidade em saber se ainda terá vez algo que possa ser lido com a mesma paixão tanto na cozinha, como na sala e no quarto das crianças, algo como A Cabana do Pai Tomás. Mas quando Fiedler ensaia colocar Shakespeare ao lado dos que sabiam divertir, juntamente com ...E o Vento Levou, Umberto Eco atenua esta sua afirmação: "Todos sabemos que se trata de um crítico por demais sutil para acreditar nisso" (1985:60). Mas o que importa nesta questão é o libelo de Fiedler a favor do rompimento da barreira, antes de mais nada, erguida para separar a esfera da arte da experiência da fruição prazerosa.

Eco dizia em O Pós-escrito a O Nome da Rosa, com todas as letras: "Eu queria que o leitor se divertisse" (Eco, 1985:48). Para ele, a redescoberta, não só do enredo, mas também do prazer, viria a ser realizada pelos escritores e teóricos americanos do pós-modernismo. John Barth, por seu lado, cita como síntese pós-modernista o livro Cosmicômicas, de Italo Calvino (1992). Trata-se de

fábulas da era espacial maravilhosamente escritas, terrivelmente sedutoras - que John Updike chamou de sonhos perfeitos - cuja matéria é tão moderna quanto a nova cosmologia e tão antiga quanto os contos folclóricos, mas cujos temas são o amor e a perda do ser amado, a mudança e a permanência, a ilusão e a realidade, sem excluir boa parte da realidade especificamente italiana. Como todo escritor dotado de grande imaginação, Calvino alça vôo a partir de fatos pontuais e tangíveis: além das nebulosas, dos buracos negros e do lirismo, encontra-se, também uma porção de pasta, de bambini e de mulheres sedutoras (Barth, 1984:204).

Trata-se de aventuras cosmicômicas que transformam reflexões filosóficas e teorias científicas sobre a origem e a evolução do universo em deliciosas histórias, cheias de humor, emoção e pensamentos terrestres. Histórias do livro, delirantes e hilariantes, inspiradas em Giordano Bruno, Beckett, Lewis Caroll, Borges e no marinheiro Popeye. Formulam-se, ainda, sisudos tratados filosóficos e enunciados extraídos do discurso científico que estimulam a fantasia inesgotável do autor e excitam a imaginação adormecida do leitor. Em suma, trata-se de uma caixinha de surpresas que nunca deixa de explorar os múltiplos caminhos da arte de narrar.

John Barth incita todos a ler esse escritor pós-modernista autêntico o quanto antes, "sobretudo porque a sua ficção é ao mesmo tempo deliciosa e rica em proteínas" (404).

Algo semelhante poderia dizer-se a respeito das próprias reflexões teóricas de Calvino, preparadas para ser discutidas em seis conferências na Universidade de Harvard no ano letivo de 1985-86. O título em inglês dado por ele ao ciclo de palestras era Six memos for the next millennium. As palestras nunca chegaram a acontecer; Calvino morreu antes e a última nem sequer foi escrita.
Feitas de divagações, memórias, trechos autobiográficos, essas conferências tematizavam a crise contemporânea aguda da linguagem e identificavam as qualidades que orientam as atividades dos escritores e da literatura pela leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. Na perspectiva atual, elas são vistas como precioso legado do milênio do livro para a geração do ano 2000. Assim pelo menos o querem orelha e contracapa que apresentam o livrinho de cento e poucas páginas como testamento artístico de um dos protagonistas literários do fim do segundo milênio (Calvino, 1990). Sendo o primeiro escritor italiano a ser convidado a participar desse ciclo tradicional, realizado pela Universidade de Harvard, Calvino preparou-se para a tarefa com esmero e com a responsabilidade especial de representar uma tradição literária secular. Assim, a primeira das seis - ou melhor, cinco - propostas, com o título de "Leveza", baliza-se em figuras consagradas da filosofia, da ciência e da literatura, fazendo desfilar, desordenadamente, em vinte e seis páginas, nomes tais como Ovídio, Lucrécio, Kundera, Boccaccio, Cavalcanti, Dante, Emily Dickinson, Henry James, Shakespeare, Cervantes, Rabelais, Cyrano de Bergerac, Jonathan Swift, Newton, Giordano Bruno, Luciano de Samósata, Ludovico Ariosto, Leopardi, Galileu, Voltaire, Leibniz, Pitágoras. A conferência explora caminhos novíssimos ou antigos, estilos e formas no universo infinito da literatura, articula o imaginário da literatura com diferentes ramos da ciência, destacando mensagens do ADN, impulsos neurônicos, quanta, neutrinos e informática, fazendo com que realidades físicas coexistam ao lado de fábulas mitológicas. Desliza para terrenos da antropologia e da etnologia, incluindo mulheres, bruxas e a Santa Inquisição. Matéria misturada confusamente ao sabor do acaso: "Há demasiados fios intrincando-se em um discurso? Qual deles devo puxar para ter em mãos a conclusão?" (Calvino, 1990: 39).

Não é difícil imaginarmos a continuação da história da história da história das 1001 noites no início do nosso novo milênio. Provavelmente as novas sherazades se teriam matriculado em Estudos Culturais, multi, trans e pós-culturais e nos Estudos Pós-coloniais, com atenção especial aos Estudos Orientais. E certamente teriam ensaiado novas formas de escrita inspiradas pelas imagens e pelas novas tecnologias midiáticas e intermidiáticas.

O que John Barth pretendia sinalizar ao usar o termo exaustão referia-se explicitamente tanto aos conteúdos de um realismo ingênuo na literatura, alheio a todo um novo repertório de questões sobre as complexas relações entre ficção e realidade, e as suas formas de representação, quanto às formas metalingüísticas radicais que se tinham transformado, no alto modernismo, em tópico temático quase exclusivo para a discussão sobre a própria arte de escrever.

"Eu não sou filósofo, dizia ele, eu sou contador de histórias" (Barth, 1984:222).
Tampouco se tratava de opções excludentes de extremidades polares. O escritor pós-moderno se balança nas zonas intermezzo do isto e aquilo e não do isto ou aquilo. Cuidando da razão e do coração com virtuosismo, maestria e paixão. Eis a sua fórmula da plenitude.

E eis também uma resposta à nossa pergunta inicial. Como explicar o curioso paradoxo da certeza da força de sedução que Sherazade depositava em sua própria capacidade narrativa, quando este ato exercido pelo pai demonstrara exatamente o efeito contrário? Uma reflexão sobre a paixão avassaladora do gênio americano pela contadora árabe secreta uma possível chave.

Trata-se, em última instância, do equilíbrio instável entre os contos narrados e a arte de narrá-los que se aproxima do projeto estético revigorado de John Barth expresso, repito, pela sinergia razão - coração - virtuosismo - maestria - paixão. Diante deste ideário, o destino das pobres histórias exemplares, de advertência, do Grão-vizir, estava selado de antemão.

Certamente, a Sherazade do novo milênio encontrará novas soluções fantásticas, assombrosas, que hoje mal podemos intuir.

Saudades dela? Não precisamos. Ela está entre nós, aqui e agora.

Referências bibliográficas:

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ECO, Umberto. Pós-escrito a "O nome da rosa". Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
FÖRSTER Hans. The end of intelligent writing? Buchmarkt und literarische Situation in den USA zu Beginn der achtziger Jahre. Zeitschrift für Anglistik und Amerikanistik, n. 34, p. 25-32, 1986.
LADEIRA, Julieta de Godoy. As mil e uma noites. São Paulo: Scipione, 1992.


Transcrito de http://www.letras.puc-rio.br/unidades&nucleos/catedra/revista/7Sem_06.html