Alana Rodrigues
Quais são os obstáculos enfrentados por ex-presidiários que tentam voltar ao mercado de trabalho? A pergunta é respondida no livro-reportagem "Depois das Grades", escrito pelos jornalistas Rebecca Vettore e Lucas Carvalho, como trabalho de conclusão de curso, apresentado no Centro Universitário Anhanguera e publicado no mês passado pela editora Farol do Forte.
Para produzir a obra, eles ouviram, além dos próprios ex-presos, ONGs, profissionais da área do direito e da psicologia e órgãos públicos. A ideia surgiu depois que a dupla fez um trabalho sobre menores infratores. “Um assunto puxou o outro. A gente queria falar de uma realidade que a gente raramente vê na grande mídia”, explica Lucas.
Entre as histórias que contam ao longo da obra, eles destacam a de Hermes de Souza, um ex-presidiário que criou a ONG Nova União da Arte. A entidade transformou uma região da zona leste. O lugar que era conhecido como um lixão, por conta da criminalidade e do saneamento quase inexistente, hoje é repleto de projetos de apoio social e cultural. "A história foi tão bacana que o que era pra ser apenas um exemplo acabou virando um capítulo inteiro, focado apenas nele", relatam.
Por se tratar de um tema delicado, uma das principais dificuldades que tiveram foi conseguir entrevistar as fontes principais, no caso os ex-presidiários, e alguns órgãos públicos, em especial do governo. “Às vezes, você tem ideia de uma reportagem, mas não para pra pensar o quão difícil é falar com as fontes”, observa.
Outro desafio dos estudantes, que optaram por desenvolver cada parte do livro, desde a capa até a edição do produto final, foi diagramar. "Às vezes, você pensa em não fazer e passar para outra pessoa, mas a gente escolheu fazer porque a gente queria estar presente em todo o processo", comenta Rebecca.
Para ambos, o TCC é uma oportunidade de aprender coisas novas e reforçar conteúdos vistos ao longo do curso. Além da diagramação e da fotografia, eles citam a importância da estrutura do livro e a "arte da entrevista".
"Não é só juntar um monte de texto. Tem que ter uma linha, uma ideia, uma ideia inteligente para que as pessoas entendam a história", diz Rebecca. "Falar desse tema com algumas pessoas era difícil. É preciso pensar como perguntar, como abordar, fazer a pergunta de um modo que não fique ofensivo", acrescenta Lucas.
A jornalista destaca ainda que o orientador é peça-chave no trabalho, mas é preciso defender a ideia do TCC, equilibrando as sugestões com o objetivo do grupo. "É um aprendizado de reunião de pauta. Você vender a sua ideia e convencer o seu chefe, professor, nesse caso, de que aquela ideia vale a pena. E saber ouvir também", compara Lucas.
Conselhos
O principal conselho da dupla é organização. Lucas recomenda fazer um planejamento cedo, de preferência, nas férias do ano anterior à produção do trabalho. "Isso é muito importante, até porque, às vezes, você não sabe que tipo de dificuldade vai encontrar. Então, quanto mais cedo começar, melhor vai lidar com os imprevistos que devem aparecer".
Rebecca destaca que é preciso pensar em um tema que, além de gostar muito, tenha, realmente, importância jornalística e para a sociedade. Ela indica ainda uma avaliação de tudo o que é necessário para a entrega do trabalho, inclusive aspectos mais técnicos.
"Para o livro, por exemplo, a gráfica, onde vai imprimir, fazer testes e perguntar bastante. Sofremos com isso, porque não sabíamos exatamente qual era o tamanho do livro na diagramação", exemplifica.
Para os jornalistas, o TCC é o principal trabalho da faculdade. "Depois de quatro, cinco anos de curso, você chega ali no ápice e mostra o que aprendeu para o mercado", destaca Lucas. "Nosso objetivo desde o começo não foi só fazer um livro. Queríamos um livro que fosse publicável. Foi o que a gente acabou fazendo depois de entregar o trabalho", completa Rebecca.
Transcrito dePortal Imprensa - 06/09/2016
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