sábado, 29 de maio de 2021

Dezenas de milhares de brasileiros marcham para exigir o impeachment de Bolsonaro

The Guardian - Gary Miller

29 de maio de 2021

Dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas das maiores cidades do Brasil para exigir a remoção do presidente Jair Bolsonaro por sua resposta catastrófica a uma pandemia de coronavírus que ceifou quase meio milhão de vidas de brasileiros.

Os manifestantes se aglomeraram em mais de 200 cidades e vilas para aquela que é a maior mobilização anti-Bolsonaro desde o início do surto de Covid no Brasil.

“Hoje é um marco decisivo na batalha para derrotar a administração genocida de Bolsonaro”, disse Silvia de Mendonça, 55, uma ativista dos direitos civis do Movimento Negro Unificado do Brasil, enquanto liderava uma coluna de manifestantes pelo dilapidado centro da cidade do Rio.

Osvaldo Bazani da Silva, um cabeleireiro de 48 anos que perdeu o irmão mais novo para a Covid-19, disse: “Não podemos perder mais vidas de brasileiros. Temos que sair às ruas todos os dias até que este governo caia. “Os manifestantes se aglomeraram em mais de 200 cidades e vilas para aquela que é a maior mobilização anti-Bolsonaro desde o início do surto de Covid no Brasil.

   

Os manifestantes chutam a cabeça representando o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante um protesto no Rio de Janeiro no sábado. Fotógrafo: Pilar Olivares / Reuters

No Rio, muitos manifestantes carregaram faixas feitas em casa lembrando seus entes queridos que eles perderam para uma epidemia que matou quase 460.000 brasileiros, o segundo maior número oficial de mortos no mundo depois dos Estados Unidos. “Estou aqui em sua memória”, disse Luiz Dantas, de 18 anos, segurando uma fotografia do avô, Sebastião, falecido em fevereiro aos 75 anos.

“O culpado tem um nome e um nome do meio”, disse Dantas, referindo-se ao presidente de extrema direita de seu país, que repetidamente banalizou o coronavírus como uma “pequena gripe” e sabotou os esforços de contenção, como o distanciamento social ou confinamentos.

“Eu quero justiça”, acrescentou o adolescente, derramando lágrimas enquanto falava.

Irene Grether, uma psicanalista de 69 anos que também estava no comício, disse que dois parentes morreram como resultado da inação de seu governo. “Este governo é mais perigoso que o vírus”, disse ele, enquanto milhares de manifestantes se reuniam perto de uma estátua que homenageia o líder da resistência contra a escravidão, Zumbi dos Palmares.

A sobrinha de Grether, uma economista de 46 anos chamada Ana Paula Carvalho, disse acreditar que Bolsonaro deveria ser levado ao tribunal penal internacional em Haia "por crimes contra o povo brasileiro". “Ele encoraja a morte e a destruição”, disse ele. “O Bolsonaro é uma tragédia brasileira.”

Bolsonaro defendeu sua resposta à pandemia, alegando que sua obstinada oposição ao fechamento visa projetar a subsistência e o emprego brasileiros. Mas Carvalho disse que ao permitir a propagação descontrolada do vírus e não adquirir vacinas suficientes, Bolsonaro destruiu a economia e também vidas. “Hoje o povo brasileiro tem a escolha entre morrer de vírus ou de fome”, disse.

As manifestações de sábado, que também ocorreram em grandes cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Recife e a capital Brasília, bem como dezenas de cidades menores, vêm com Bolsonaro possivelmente em sua pior fase desde que assumiu o cargo em janeiro de 2019.

As pesquisas sugerem crescente raiva sobre o tratamento de Covid por populistas de direita, com 57% da população agora apoiando seu impeachment. Uma investigação do Congresso está investigando a terrível resposta de Bolsonaro à crise de saúde pública com revelações prejudiciais sobre a conduta de seu governo. transmitido todas as noites no noticiário.

Bolsonaro parece particularmente afetado pelo ressurgimento de seu rival político Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente de esquerda que parece prestes a desafiá-lo à presidência nas eleições do próximo ano. Em entrevista recente ao The Guardian, Lula, cujos direitos políticos foram recentemente restaurados, disse não ter dúvidas de que o povo brasileiro se “libertaria” do Bolsonaro em 2022. “Ele poderia ter evitado metade dessas mortes”, disse Lula sobre 'A reação de Bolsonaro', para Covid.

Roberto Anderson, um professor universitário e ambientalista de 67 anos que estava na marcha de sábado, disse que ficou animado com a grande participação que sugeria que a maré finalmente estava se voltando contra o líder radical de direita do Brasil.

domingo, 9 de maio de 2021

Jornalistas salvam filósofo de torturadores

Antonio Carlos Ribeiro                                                                                                         

A narrativa do fato pareceu enviezar um evento desses que capta a atenção pela aparente glória, de um lado; e do horror mais desprezível que se pode impor a seres humanos, de outro. O que deveria ser uma homenagem ao Sheikh Zaied, que deixa a autoridade religiosa e política de sultão dos Emirados Árabes Unidos, com prêmio financeiro de 225 mil euros, que fez a Alemanha despertar desatinada - uma personalidade de cultura, sabedoria, impacto moral e respeitabilidade mundial - para intelectuais que são referências para a cultura ocidental. Do país que guarda as marcas dos seis anos na segunda guerra, e dos 76 que deles nos distanciam. A Reich Kultur deve ter sofrido um impacto tão grande, que jornalistas da revista der Spiegel o convenceram.

Desconsiderado o prêmio, a partir das histórias de todos conhecidas, da bagagem cultural e grandes contribuições, momento em que Jürgen Habermas declina da homenagem e volta à sua filosofia e sociologia que, junto com os colegas da Escola de Frankfurt, construíram o esteio da Cultura Ocidental, sobretudo em seus piores momentos. Certamente, um intelectual desta grandeza pode ter sofrido o efeito do ocaso intelectual, o descaso de jovens intelectuais, sua confrontação descontextualizada e incapacidade de entender professores de outro momento histórico que, na pior das hipóteses, abriram os caminhos pelos quais trilharam. Aos 91 anos, ele rejeita receber o prêmio na suntuosa Abu Dhabi. As diversas razões são a condição dos direitos humanos nos Emirados Árabes Unidos, da tortura, dos que rejeitam o regime e do encarceramento de líderes do movimento civil.


Jürgen Habermas

Sem autoridade mundial que conteste e imponha direitos consagrados em documentos aceitos ao redor do mundo, cartas solenes seriam pesarosas, além do sofrimento imposto à sua gente. Além de grandes arranha-céus em mercados verticais, cujos vitrais pretendem a negação do acesso. Ao que parece, 'Abu Dhabi' concentra riquezas, recursos, poder político, religioso e econômico que desperta a atenção do mundo ocidental, como o autódromo que acolheu as corridas de carros da Fórmula 1 em 2020, construído na capital como exibição de segurança, com 'cockpit' de última geração para pilotos e equipes de diversos continentes. Confronta recursos e estruturas naturais que dependem de forças e as querem controlar, impondo-se ao mundo. Além disso há direitos humanos que podem ser aniquilados como protesto contra a violência do genocídio e a destruição de instituições, a serem entregues ao nada.

Parece haver um ressentimento agudo, feroz, furioso e guiado por uma lista interminável de poderes dos quais querem se apossar, mesmo sem o discurso articulado, organizado e integrador, como se os séculos os distanciassem de qualquer possibilidade de afirmação.

Essa situação ilumina o conflito da direita brasileira: superada, desarticulada, insegura de si mesma, disposta a desarticular conquistas, destruir sem construir as próprias conquistas, que se assemelhem aos avanços do país das duas primeiras décadas, amarradas a quem se agarrou a estruturas precárias de poder, sem encontrar espaços de afirmação que não implique em usurpar o que não pode construir.


Jürgen Habermas

O filósofo e sociólogo capaz de devolver um prêmio que não lhe corresponde, ainda é o mais vivo e influente do mundo. O catedrático - discípulo de Adorno, colega de Horkheimer, Marcuse, Fromm e Benjamin - é o último dinossauro da Escola de Frankfurt, sustenta seus enunciados e julgamentos sobre temas essenciais. Aos 91 anos, lida com temas como imigração, nacionalismos, mídias digitais e crises da filosofia. Neste universo caótico de perdas, homicídios e genocídios, como gratos pelas ferramentas e recursos que vão nos ajudar na reconstrução do país.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Violência contra jornalistas e indígenas se agrava

AKB

"A profissão, sob o governo Bolsonaro, se torna cada vez mais de risco e perigo", disse o ex-ministro José Dirceu. A situação de ataques covardes de bandos, caracterizados por terem o volume de massa muscular em proporção inversamente proporcional ao de massa encefálica, despontam e crescem especialmente nas capitais, tentando conter o volume de denúncias contra o governo Bolsonaro.                                                                                       

 
                            Ex-ministro José Dirceu sai em defesa de jornalistas e indígenas

A força da ideologia esvaziada, com os berros do capitão sem tropa e nem conquistas sequer no médio prazo, desmorona a articulação e se torna letal contra jornalistas no exercício da profissão. 'Não bastam denúncias. É preciso por fim aos atentados do governo Bolsonaro contra a Constituição'.

A necessidade de garantir a liberdade de trabalho dos jornalistas não será com Bolsonaro, que na posse 'trancou' a imprensa numa sala vazia, sem móveis, telefone, internet, como se quisesse impedir a difusão de notícias.

Já passou o tempo de revogação da famigerada Lei de Segurança Nacional (LSN), a quem o ministro da Justiça ameaçou Renato Aroeira, Ricardo Noblat, Helio Schwartsman e Felipe Neto. Sem resultados.

"Não bastam apenas denúncias. É preciso exigir do Congresso Nacional e da Suprema Corte que coloquem um fim a esse atentado contra a Constituição Federal", afirmou José Dirceu.

Leis têm sofrido crescente violação, especialmente direitos e garantias constitucionais, e Bolsonaro sempre ensurdece. O uso e sobretudo o abuso da LSN para calar a liberdade de expressão e manifestação, estimula ataques a jornalistas e órgãos de imprensa.

    Liderança indígena Sônia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)

Os alvos são jornalistas e lideranças indígenas como Sonia Guajajara e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que acusam o presidente da República de crimes ambientais. Fato mundialmente conhecido.