07.04.2020
OMS alerta sobre afrouxar medidas contra covid-19 muito cedo
A Organização Mundial da Saúde (OMS) não tem
uma recomendação geral para países e regiões afrouxarem medidas que visam
desacelerar a propagação do coronavírus, mas fez um alerta para que as
restrições não sejam retiradas cedo demais, disse um porta-voz da entidade na
terça-feira. "Uma das partes mais importantes é não
abandonar as medidas cedo demais para não ter uma recaída", disse o
porta-voz da OMS Christian Lindmeier em briefing virtual. "É como estar
doente e se você deixar a cama cedo demais e sair cedo demais, você corre o
risco de uma recaída e de ter complicações".
Governo da Argentina
confirma 54 mortes por coronavírus
O Ministério da Saúde da Argentina confirmou 54
mortes por COVID-19 entre os 1.628 pacientes infectados até o momento. A
taxa de letalidade do coronavírus no país é de 3,3% dos casos confirmados, com
média de 71 anos. "O número total de casos confirmados na
Argentina é de 1.628, dos quais 54 morreram", informou o Ministério da
Saúde em seu relatório desta terça-feira (7). Do total de casos de coronavírus,
718 (44,1%) foram detectados em pessoas que viajaram para o exterior, 563
(34,6%) são contatos próximos de casos confirmados, 175 (10,75%) são de
circulação comunitária e o restante está sob investigação. De todos os casos,
43% são mulheres e 57% são homens.
Itália ultrapassa 17 mil mortos
por coronavírus, mas contágios caem
As transmissões da doença na Itália caíram de
3.599 na segunda, para 3.039 novos casos registrados hoje, elevando para
135.586 infectados. O número total de mortos por covid-19 é de 17.127 desde o
início da pandemia. A Itália ultrapassou a barreira dos 17 mil mortos
por conta do novo coronavírus (Sars-CoV-2) nas últimas 24 horas, com a
confirmação de 604 novas vítimas no país, informou a Defesa Civil nesta
terça-feira (07). A Defesa Civil ainda informou que aumentou em 1.555 o número
de pessoas curadas da doença, elevando o dado geral para 24.392, um dado também
maior do que o registrado na segunda, quando 1.022 se curaram.
Maduro tem atuado contra a pandemia de coronavirus
Alexander Gil Dominguez relata as medidas de
isolamento social, informação à população e assistência econômica para a
população no combate ao Covid-19. O povo venezuelano, tem participado
ativamente no combate à pandemia do coronavírus. “O governo da Venezuela
se antecipou realizando propaganda em todos os meios de comunicação possíveis,
sobre as medidas preventivas, decretou estado de emergência, procura informar a
população venezuelana todos os dias, temos uma comissão que sai para informar a
população”. “O povo venezuelano tem participado muito na organização de combate
à pandemia, monitorando casos suspeitos. O país tem 40 hospitais destinados ao
combate à Covid-19, afirmou.
Coronavirus: Japão declara estado de emergência e pacote de 108 trilhões de ienes
"O mais importante
agora é que cada cidadão mude nossas ações. Se cada um de nós puder reduzir o
contato com outras pessoas em ao menos 70%, e idealmente 80%”, declarou o
primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe. O estado de emergência é para
conter a propagação do novo coronavírus em centros populacionais do país. A
autoridade política apresentou um pacote de estímulos nesta terça-feira (7), no
valor de 108 trilhões de ienes ou 5 trilhões de reais, para aliviar os
possíveis impactos econômicos gerados pelo isolamento social. A medida
protetiva vai durar até o dia 6 de maio deste ano, com validade para a capital
do país asiático, Tóquio, e outros seis distritos, com abrangência sobre 44% da
população.
Coronavírus:
Autoridades chinesas destacam abertura e transparência na luta
Cronograma
detalhado publicado nesta segunda-feira (6) comprovou que a China divulgou as
informações sobre a covid-19 e avançou na cooperação internacional sobre a
resposta epidêmica de maneira aberta, transparente e responsável. As
autoridades sanitárias chinesas defendem que o país compartilhou informações e
foi transparente na resposta à epidemia. "A China cumpriu seu dever e
tomou medidas fortes e eficazes o mais rápido possível". A Comissão
Nacional de Saúde (CNS) divulgou uma linha do tempo mostrando que o país enviou
um grupo de especialistas a Wuhan, capital da Província de Hubei, no centro da
China, para investigação no local.
A partir de 3 de janeiro, a China passou a informar regularmente à
Organização Mundial da Saúde (OMS), além de países e regiões relevantes sobre o
surto da tal pneumonia.
Epidemia do coronavírus não
chegou ao pico e se agrava na França, diz ministro
O pico da epidemia do
novo coronavírus ainda não foi atingido na França, disse nesta terça-feira (7)
o ministro da Saúde, Olivier Véran. Devido ao número significativo de
pacientes que ainda são hospitalizados diariamente em estado grave nas unidades
de tratamento intensivo, a epidemia está "em fase de agravamento" na
França que registra quase 9.000 mortes provocadas pela covid-19 desde 1°
de março, das quais 6.494 ocorreram nos hospitais e 2.417 em casas de repouso
para idosos. Em 24 horas, o país teve 833 óbitos adicionais, balanço de alta,
em comparação à véspera. O total de casos confirmados da covid-19 chegou a 98.010.
Por que a maior potência do mundo enfrenta tão mal a pandemia de coronavírus?
"O mundo está passando por tempos de pandemia. Não é uma crise de saúde exclusivamente; é política, econômica, social e de valores", escreve o jornalista cubano Randy Alonso Falcón. "Juntamente com as doenças associadas, a pobreza é um fator agravante para aqueles que contraem a covid-19. O ‘salve-se quem puder’ não funciona, o neoliberalismo mostra seus limites trágicos", argumenta. "Torne a América grande" - continuam dizendo os pôsteres da campanha eleitoral de Donald Trump espalhados pelo país. "Enquanto isso, a nação do norte se tornou o epicentro mundial da pandemia de covid-19". Alguém mais inteligente e sensível, Noam Chomsky, considerou as ações do presidente péssimas e classificou essa crise como “outro exemplo de falha do mercado, assim como a ameaça de uma catástrofe ambiental […] O ataque neoliberal deixou os hospitais despreparados.
Entrevista
“Os profetas do neoliberalismo viraram promotores da economia social. É preciso voltar aos imperativos sociais”
Um dos maiores especialistas
em relações internacionais, Bertrand Badie afirma que a crise desatada pela
Covid-19 está evidenciando de forma dolorosa a verdadeira face da globalização
Bertrand Badie, em seu escritório do Instituto
de Estudos Políticos em 2016.PATRICE NORMAND / AFP / CONTACTOPHOTO /
Que um vírus originado em um mercado de Wuhan tenha
se espalhado pelos cinco continentes em
apenas algumas semanas, causando uma das crises sanitárias mais graves da
história da humanidade não surpreende Bertrand Badie, um
dos maiores especialistas franceses da globalização. O
cientista político de 69 anos, professor emérito no Science Po (Instituto de
Estudos Políticos de Paris) e pesquisador associado ao Centro de Estudos e
Pesquisas Internacionais (CERI), há décadas defende que a ação individual de um
dos 6 bilhões de habitantes do planeta pode ser mais importante do que a
decisão de qualquer Governo. Em um “mundo único” em que as
fronteiras já não impedem que o que acontece em um país tenha efeitos imediatos
nos outros, onde a interdependência entre os diferentes setores de atividade
humana jamais havia sido tão importante e a mobilidade, tanto humana como de
mercadorias, tão veloz, “um aperto de mãos em Wuhan” pode colocar em xeque toda
a humanidade, afirma. Por isso, o autor do recente ensaio L’Hégémonie
Contestée acha que a crise atual precisa abrir nossos olhos para a
importância da dimensão social da mundialização, abandonando o dogma neoliberal que
se limita a conceber o ser humano como um simples ator econômico para abraçar
um multilateralismo inclusivo.
Pergunta. Acha
que a pandemia do coronavírus revelou o verdadeiro rosto da globalização?
Resposta. Penso
que, até essa crise, a opinião pública e, o que é ainda mais surpreendente, os
dirigentes dos diferentes países do mundo ignoravam e pretendiam ignorar o que
esse fenômeno realmente significa. A mundialização muda profundamente o próprio
significado da alteridade. O outro, em nosso antigo sistema westfaliano, era o
inimigo potencial; depois, com o livre comércio e a aceleração das trocas
comerciais, o outro se transformou em um competidor, um rival, e não vimos que,
no plano social, estava sendo criada outra definição de alteridade, em que o
outro era um parceiro cujo destino está profundamente ligado ao nosso. Isso
significa que entramos em mundo que já não é o da hostilidade e da competição,
e sim necessariamente o da solidariedade, porque agora se quero sobreviver e,
ainda mais, ganhar, preciso me assegurar de que o outro sobreviva e que o outro
ganhe, e temos muita dificuldade em admitir isso. Essa dificuldade nos levou
nesse contexto de crise a escutar idiotices como “é um vírus chinês” e “o vírus
é um inimigo do povo americano”, como afirmou o presidente dos Estados Unidos. Donald Trump não entendeu que o
verdadeiro significado da mundialização está na criação de necessidades de
integração social que devemos satisfazer urgentemente, do contrário nos
encaminharemos ao desastre.
P. O
senhor defende que é a fraqueza, e não a força, que rege o mundo globalizado em
que vivemos. A que se refere?
R. Em
um mundo inclusivo, interdependente e móvel, é o fraco que decide enquanto o
poderoso está perpetuamente em uma posição reativa e defensiva. Devemos levar
muito a sério as novas necessidades de segurança humana já que dos segmentos de população mais inseguros, frágeis em termos de saúde, economia,
alimentação e condições climáticas, vem necessariamente o risco mais agudo da
crise. Não devemos nos esquecer que esse vírus nasceu em um mercado de Wuhan caracterizado por uma grande precariedade
sanitária. A vulnerabilidade de nossas sociedades extraordinariamente
sofisticadas é, em última instância, bem alta. Entramos em um mundo invertido
em que a lógica da fraqueza é a lei. Isso se observa em outros conflitos que ameaçam
o planeta como o Sahel, Oriente Médio, a bacia do Congo e o Chifre da África,
que continuam sendo áreas de grande fraqueza e que, de certo modo, conformam a
agenda internacional.
P. Por
que os Estados continuam priorizando o investimento militar para garantir sua segurança, sem se
preocupar com os focos de vulnerabilidade que o senhor menciona?
R. Vivemos
durante séculos e séculos com a ideia de que o que nos ameaça e causa nossa
insegurança é de natureza militar e interestatal. No mundo de hoje gasta-se por volta de dois trilhões de dólares (10 trilhões de reais) em orçamento
militar. Precisamos admitir que essa competição só adula a arrogância dos
Estados e não tem nenhuma eficácia em termos humanos. O Programa das Nações
Unidas ao Desenvolvimento deixou claro em um relatório de 1994 que a principal
ameaça ao mundo era a humana, a alimentar, a sanitária, a ambiental, entre outras, e ninguém, nenhum líder
do planeta levou a sério essa advertência, seguindo os incertos caminhos do
investimento militar. Se pelo menos essa crise servir para que os dirigentes
que até agora não estavam à altura de sua responsabilidade, e que não quiseram
ver o que estava diante de seus olhos, levem a sério, então terá servido para
algo.
P. O
que lhe inspira a guinada keynesiana que de repente impregna o discurso
de alguns políticos mais conhecidos por sua orientação liberal como Donald
Trump e Emmanuel Macron?
R. É
preciso lembrar que o social foi assassinado pelo neoliberalismo e relegado a
um mero efeito de goteira. A famosa fórmula tão elogiada pelo Banco
Mundial de
que “o crescimento é bom para os pobres” porque acabarão se beneficiando de
seus efeitos, reflete a maneira como o social foi concebido nos últimos 30
anos. Se hoje os profetas do neoliberalismo estão se transformando em
promotores da economia social é porque concebem, diante da catástrofe atual,
que já não será possível fazer o mesmo que antes e que será necessário voltar
aos imperativos sociais.
P. Acha
que essa mudança social será duradoura?
R. É
muito cedo para saber se irá se manter após a crise ou se as velhas práticas
voltarão. Há um sinal de otimismo, entretanto, no fato de que o novo foco dessa
direita que se confundia com o ultraliberalismo, responsável pelo
desmantelamento dos serviços públicos, foi anterior à crise sanitária. O ano
de 2019 foi extremamente turbulento com a proliferação de movimentos
sociais em todo o mundo e isso teve consequências. A prova disso é, por
exemplo, o tom social adotado por Boris Johnson no Reino Unido durante as últimas
eleições legislativas. A ideia de investir em questões sociais praticamente se
transformou no slogan do Partido Conservador Britânico. Acho que isso significa
que essa redescoberta do social não depende totalmente do medo ao coronavírus,
há algo mais, e isso me faz pensar que, aconteça o que acontecer, nunca voltará
a ser o mesmo.
Devemos
levar muito a sério as novas necessidades de segurança humana
P. A
União Europeia está sendo muito criticada por sua incapacidade de proporcionar uma solução comum contra a pandemia da
Covid-19...
R. Essa
é, de fato, a grande decepção dessa crise, e talvez o ponto mais obscuro. A
Europa esteve até agora, e quero ser muito cuidadoso com minha formulação, em
um nível zero de integração. Ou seja, uma incapacidade total, não digo parcial,
para dar uma resposta integrada a uma crise que, comparada com todas as que
enfrentamos, é exatamente a que precisa de mais solidariedade. Esse fracasso
pôde ser observado tanto no plano sanitário, com a ausência de coordenação entre Estados membros —cada Estado faz do seu jeito e
frequentemente de maneira contraditória—, como econômico, com um BCE (Banco
Central Europeu) cuja primeira ação foi totalmente desastrosa e causou uma
espécie de quebra nas Bolsas que poderia ter sido ainda mais considerável.
P. Christine Lagarde corrigiu isso ligeiramente depois, concorda?
R. É
verdade que existiu uma pequena inflexão, em ritmo forçado, mas a verdade é que
continuamos sem ter acordo sobre os Eurobônus (ou coronabônus), no meu
entendimento, a maior expressão do que se pode fazer juntos para enfrentar a
crise financeira que se aproxima no horizonte. O problema é que ainda que
consigamos chegar a uma solução comum, o dano já está feito. Estamos vendo o
verdadeiro rosto da União Europeia e suas lacunas no plano da solidariedade.
Outro aspecto com o qual precisamos nos preocupar é por que não importa qual
seja a questão na UE, encontramos essa distância entre o norte e o sul? E isso
desde Maastricht. Acabará tendo efeitos catastróficos e podemos até nos
perguntar se algum dia acabaremos por ter duas Europas.
P. O
que resta da governança global diante da retomada soberanista que estamos vendo
nos últimos anos?
R. A
inoperância da Europa é um reflexo do fracasso da governança mundial. A ação
da OMS se reduz a ler todas as noites um comunicado em um inglês aproximado para pedir
aos Estados que façam alguma coisa, o que é verdadeiramente desastroso quando a
OMS deveria ter sido a task force no assunto, o órgão que
coordena as políticas de saúde, que organiza a ajuda técnica e médica e,
principalmente, que produz normas. O grande perigo é justamente a falta de padrões comuns, e que cada país continue operando por
sua conta e à sua maneira.
P. A
solução para sair dessa crise está, de acordo com o senhor, em mais
multilateralismo e decisões comuns. O mundo atual, entretanto, está cheio de líderes nacionalistas, de Trump, passando por Bolsonaro, a Johnson. É paradoxal, não acha?
R. Acho
que podemos dizer que os planetas nunca estiveram tão mal alinhados. Há uma
necessidade de governança local como nunca em nossa história, e ao mesmo tempo
um auge de nacionalismo que não havia sido visto até agora. Ambos são
inconciliáveis. De modo que a única razão à esperança é que o nacionalismo é
uma ideologia vazia que não tem nada a oferecer. Todas as tentativas de gestão
estritamente nacional da crise falharam. Líderes como Johnson, Trump e até
Bolsonaro, que partiram de premissas nacionalistas, e
negacionistas,
precisaram mudar seu discurso, cada um a sua maneira. Além disso, o
desprezo desses políticos liberais pelos desafios sanitários nos leva a outro
ponto essencial que abordei no ensaio L´impuissance de la Puissance,
que é a flagrante impotência de um país como os Estados Unidos diante dessa
pandemia. A evolução da crise nos EUA é aterrorizante e em parte se deve a essa
concepção herdada da Escola de Chicago de total cegueira diante das
ameaças e dramas coletivos.
P. Há
outras grandes ameaças, como a mudança climática, que requerem uma ação conjunta a curto
prazo. Acha que o coronavírus mudará a mentalidade dos políticos mais céticos
sobre a necessidade de investir recursos antes que não se possa mais voltar
atrás?
R. Logicamente,
esse raciocínio é imparável. Humanamente já é diferente e politicamente, ainda
mais. Humanamente, é difícil olhar os dois objetivos ao mesmo tempo ainda que
estejam muito ligados, mas politicamente, o fato de que a luta contra o
aquecimento global signifique gastos, esforços, sacrifícios a curto prazo para
se ter conquistas a longo prazo transforma esse investimento em algo
politicamente suspeito. Após essa crise, os Estados terão que investir muito
para reconstruir a economia global. Aceitaremos gastar e investir muito
pelo clima, ou seja, acrescentar gastos aos gastos? Sou bem pessimista.
P. Sairá
algo bom dessa crise?
R. Sempre
há esperança. O próprio de uma crise, aumentar o medo, é o que permite
o desenvolvimento da criatividade humana e
social.
A crise econômica de 1929 que levou os nacionalistas a vencer nas urnas, também
inventou o keynesianismo e permitiu que a economia nacional se revitalizasse
até a vingança do neoliberalismo nos anos oitenta. Também foram as grandes
guerras, e as mais mortíferas, que trouxeram, pelo menos na Europa, invenções
absolutamente extraordinárias e que por fim permitiram a resolução de problemas
que não poderiam ser resolvidos em contextos de paz e mobilização. Quanto mais
forte essa crise for, portanto, mais romperá os esquemas e os círculos viciosos
e por isso acho que algo positivo pode sair dela. Quando, como e por quê, não
sabemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário