Em cada abertura das paredes do Bar do Ari, dezenas de livros se espremem e dividem espaço, fazendo o local se converter em um híbrido de bar e mini-biblioteca. A inovação do bancário aposentado Ari Carlos Carvalho, começou como uma motivação pessoal, antes de cair no gosto dos clientes.
Em 2010, poucos anos após a inauguração do bar na nova sede, estrategicamente localizada de frente para a movimentada Estação Werneck, do metrô, em Jardim São Paulo, ele resolveu arrumar uma forma de ocupar o tempo ocioso no trabalho. Praticamente todas as horas do dia, se não estivesse dormindo, estava no bar. “Trabalho de 7 da manhã até 10 da noite, domingo a domingo. Sabe como é, velho não pode parar”, brinca no auge de seus 60 anos, vividos por 53 anos em Jardim São Paulo e o restante no bairro do Totó. Começou a levar livros como distração, para passar o tempo enquanto a presença de clientes dava uma folga. “Não tinha tempo de ler fora daqui. Chegava muito cedo e saía muito tarde, tive que trazer os livros pra cá”, resume o recifense.
Levou o primeiro livro, depois mais um e mais outro. Os clientes começaram a se interessar. Pediam para folhear enquanto esperavam uma refeição ou entre um gole e outro de cerveja. A clientela fiel começou a pedir por mais livros e assim foi feito. Hoje, afirma ter mais de 1000 livros, parte no bar e a maior parte em casa, onde o acervo, vez por outra, passa por manutenção.
O hábito de leitura é algo que o ex-bancário traz da infância. O pai era um ferroviário com pouca instrução escolar. Apesar do que a realidade sugeria, criou gosto pela leitura. “Ele lia demais, você não faz ideia. Ele sabia demais sobre história, muito mesmo, era um estudioso”, relata. Ainda assim, quando criança, Ari se inclinava mais para a matemática. “Minha irmã que pegava muito no meu pé. Exigiu muito de mim. Comecei a ler mais, estudar mais”.
Do pai, também herdou o gosto pela História Antiga, além de livros épicos e enciclopédias. “Recentemente li a Odisseia. É um livro de uma linguagem muito difícil, mas achei muito bom. Mas o livro que mais gosto mesmo é a Enciclopédia Larousse, adoro ler ele, tem muitas curiosidades”. De obras ficcionais, nada atual. Apesar de nunca ser fã, lia a Machado de Assis e José de Alencar. “Nos tempos de escola não tinha escolha, né?”.
Assim como o pai, tentou fazer do gosto pela leitura uma realidade na vida de seus filhos. Mesmo tendo que utilizar formas não tão democráticas para convencer o casal a executar as ordens de leitura. “Eles me chamavam de Hitler, tinham que ler a pulso”, brinca. Reitera, porém, que hoje os dois estão formados em Administração, como se dissesse que tudo valeu a pena. Ao que parece, passou não apenas o valor da leitura, mas o tino administrativo. Na zona oeste recifense aprendeu a inovar para fidelizar a clientela.
Transcrito de http://celuloseonline.com.br/bar-de-recife-oferece-clientes-bebida-refeicao-e-livros/
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