Jornalista que cobre votação de processo para TV da China diz que tem dificuldade para
traduzir para público de seu país o que ocorre no Brasil. Segundo ela, chineses
estão preocupados com impacto de decisão sobre as Olimpíadas
A jornalista Tanli Yang, 28, é uma das correspondentes internacionais que estão acompanhando o processo de impeachment no Congresso Nacional. Repórter da CCTV, a TV nacional chinesa, ela fala sobre a dificuldade de relatar ao público do outro lado do mundo o controverso cenário político em que o país está imerso. “É muito difícil. Acho que esse é o problema: nem o brasileiro consegue entender direito, então nem os chineses, né”, conta Tanli, também conhecida como Olívia – nome dado pela professora de português no Brasil para facilitar.
A jornalista já trabalhou na África e há dois anos e meio mora no Rio de Janeiro, onde fica o escritório da emissora. “Gosto muito do país”, diz Tanli, que chegou a Brasília com a missão de cobrir a votação do impeachment quinta-feira à noite. A última vez em que esteve na capital foi em 2014, para noticiar a visita oficial do presidente chinês, Xi Jinping.
Para ela, o público chinês está interessado em saber de que maneira a crise política pode vir a afetar a economia do país e, principalmente, a realização dos Jogos Olímpicos. “Queremos saber especialmente se isso vai influenciar a segurança do país”, conta Tanli.
Como tem sido cobrir esse momento político do país?
Pessoalmente, eu nunca imaginei que o Brasil ia chegar nesse ponto, porque no nosso trabalho sempre que acompanhamos as novidades no país observamos o lado positivo. O Brasil desde 2009 passou por um desenvolvimento muito rápido, entrou para o BRICS [bloco de cooperação internacional formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], conseguiu sediar a Copa do Mundo e agora as Olimpíadas. Mas, de repente, desde 2011 e 2012 começou essa recessão da economia e em seguida a política entrou numa confusão. Nós queremos descobrir o que levou o país a chegar a este ponto. Até esse momento o país estava muito bem e de repente esse sufoco. A China e Brasil têm uma relação diplomática muito boa, então os chineses e o governo chinês sempre desejam o bem para o Brasil. A gente vai fazer muitas reportagens questionando qual seria a saída para o país, como o Brasil poderia se recuperar dessa crise e voltar a se desenvolver.
Como traduzir para o público chinês todo o bastidor que envolve esse processo, como a Operação Lava Jato ou o fato de que o presidente da Câmara, que conduz o impeachment é réu no Supremo Tribunal Federal?
É muito difícil. Acho que este é o problema: nem o brasileiro consegue entender direito, então nem os chineses, né. Acho que talvez isso signifique que o Brasil – assim como a China – é um país em desenvolvimento, ainda tem muitas coisas que a gente precisa melhorar para evitar essa situação um pouco estranha para todo mundo.
O público na China tem algum posicionamento sobre o impeachment?
Acho que os chineses ainda estão meio confusos sobre o que aconteceu no Brasil. Sinceramente eu acho que o Brasil é um país muito longe da China, são 24h de voo. Não é uma realidade próxima. Os chineses conhecem mais o futebol brasileiro, mas a política é uma coisa muito nova para eles. O que a gente está fazendo é exatamente explicar pouco a pouco o que aconteceu com a política no país. Eu acho que os chineses estão mais interessado em saber como isso vai influenciar as Olimpíadas que vão acontecer em agosto, porque eles têm uma paixão muito grande pelos Jogos Olímpicos, a delegação de lá é uma das maiores. Queremos saber especialmente se isso vai influenciar a segurança do país, por exemplo. Isso vai influenciar na economia do país? Quais são os desafios para o Brasil, sendo que daqui a três meses ainda sediará o maior evento esportivo? Eu acho que talvez isso não seja um lado muito positivo para mostrar o Brasil, mas acho que cada país tem sua própria maneira de resolver seus problemas. Qualquer decisão tomada pelo povo brasileiro, pelo Legislativo, será respeitada.
Como jornalista, você teve alguma dificuldade na cobertura?
Não, eu acho que o Brasil tem um ambiente muito livre. Falar com qualquer órgão é fácil, sempre conseguimos. Até entrevistamos ano passado a Abin. Isso significa que aqui tem um ambiente muito aberto.
Transcrito de http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/%E2%80%9Cnem-os-brasileiros-entendem%E2%80%9D-diz-correspondente-chinesa-sobre-impeachment/
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