Autor dos best-sellers “1808”, “1822” e “1889”, o jornalista e escritor percorrerá três continentes para realizar pesquisas e entrevistas sobre o assunto.
O suspense chegou ao fim. Após vender cerca de dois milhões de livros e conquistar leitores do Brasil e do mundo com os títulos “1808”, “1822” e “1889”, o jornalista Laurentino Gomes divulgou o tema de seus futuros trabalhos: o período da escravidão no Brasil.
Não à toa, o anúncio foi feito na semana em que comemoramos os 127 anos da abolição da escravatura no país. Para Laurentino, no entanto, a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, pode ser considerada um “passivo histórico que os brasileiros ainda não conseguiram resolver”.
Assim como em suas primeiras obras – que cobrem da chegada da família real à proclamação da República –, o escritor assinará três livros-reportagem sobre a escravidão. O primeiro título está previsto para 2019. O projeto deve ser encerrado em 2022 e será publicado pela Editora Globo.
Para produzir a trilogia, Laurentino percorrerá três continentes – África, América e Europa – com o objetivo de entrevistar pessoas e visitar dezenas de lugares relacionados à história da escravidão, como os pontos de onde partiam os navios negreiros na costa africana e as regiões de desembarque no Brasil, no Caribe e nos Estados Unidos.
Seis vezes ganhador do Prêmio Jabuti, a mais importante premiação da literatura nacional, Laurentino Gomes realiza neste mês o lançamento da edição portuguesa de seu mais recente livro, “1889”. E é do país lusitano que o escritor concedeu, via e-mail, uma entrevista exclusiva ao “Periscópio” – a primeira sobre a nova trilogia.
Morador de Itu há cinco anos, o jornalista nascido em Maringá demonstra entusiasmo em relação àquele que considera “o tema mais importante de toda a história do Brasil”. E mais: garante que a escrita final dos novos livros acontecerá em sua residência ituana, mantendo a “fórmula de sucesso” já adotada com os trabalhos anteriores.
JP – Como surgiu a ideia de escrever uma série de livros-reportagem sobre a escravidão?
Laurentino – Essa é uma ideia que foi crescendo ao longo da trilogia “1808”, “1822” e “1889”. Nos três livros eu tratei bastante da escravidão. Quando a corte de Dom João chegou ao Rio de Janeiro, em 1808, de cada três brasileiros um era escravo. O tráfico negreiro era na época o maior negócio do Brasil e, talvez, até de Portugal, mobilizando milhares de pessoas e centenas de navios nas costas nos dois lados do Oceano Atlântico. Os homens mais ricos do Rio de Janeiro eram todos traficantes de escravos e foram os que mais deram contribuições à corte portuguesa, tanto com dinheiro quanto com apoio político.
Na Independência, o Brasil rompeu os vínculos com Portugal, mas manteve inalterada a situação social até então vigente. Uma tentativa de José Bonifácio de Andrada e Silva de acabar com o tráfico negreiro foi um dos motivos para o fechamento da Constituinte em 1823. Há uma sensação de orfandade da Independência brasileira porque os escravos viram que as ideias libertárias defendidas pelos brancos na época não os incluíam.
O Brasil foi o último país do hemisfério ocidental a acabar com o tráfico, em 1850, e também o último a abolir a escravidão, em 1888. A principal consequência foi a queda da monarquia e a Proclamação da República no ano seguinte. Tudo isso foi me convencendo de que era preciso escrever uma nova trilogia tratando exclusivamente sobre esse assunto. É o que farei nos próximos anos.
JP – Assim como seus livros anteriores, as novas obras farão parte de uma trilogia. Por que o senhor optou por esse formato de trabalho?
Laurentino – Esse também foi um plano que ganhou forma ao longo do caminho. No início, eu queria escrever apenas um livro, sobre a fuga da corte de Dom João para o Brasil. A repercussão de “1808”, no entanto, me forçou a escrever outras duas obras com datas na capa: “1822” e “1889”. Ou seja, virou uma trilogia sem planejamento prévio.
No caso da escravidão, acredito que o tema é amplo demais para caber em um só livro. Esse é, no meu entender, o tema mais importante de toda a história do Brasil. Por isso, virou candidato a mais uma trilogia.
JP – O sucesso dos livros “1808″, “1822″ e “1889″ ajuda ou atrapalha o processo de produção das novas obras?
Laurentino – Acho que mais ajuda do que atrapalha. Milhões de pessoas já leram e gostaram dos três livros anteriores e, acredito, receberam com generosidade também essa nova trilogia. Além disso, o fato de eu já ser um escritor relativamente conhecido no Brasil e no exterior facilita bastante o acesso a fontes de pesquisas e especialistas no tema. Bastou divulgar o tema dessa nova trilogia e dezenas de pessoas já se candidataram a me ajudar. Isso me deixa muito gratificado.
JP – Em função de sua importância histórica, Itu apareceu em alguns capítulos de seus livros anteriores. De que maneira a história da nossa cidade também se relaciona à temática dos novos trabalhos?
Laurentino – Itu teve participação importante em quase todos os ciclos e eventos da história brasileira até a Proclamação da República. Teve papel de destaque na Independência, no período da Regência, ao longo de todo o Segundo Reinado e, por fim, na queda da monarquia e na consolidação do novo regime com Prudente de Morais e Campos Salles. Então, esse é um bom lugar para pesquisar e escrever sobre História. Até o ar ajuda!
JP – Em entrevistas anteriores, o senhor comentou que boa parte do livro “1889″ foi escrita em sua residência, em Itu. Essa “fórmula de sucesso” será repetida com a nova trilogia?
Laurentino – Desta vez, pretendo morar algum tempo no exterior, muito provavelmente em Portugal e nos Estados Unidos. Também farei viagens à África, para conhecer os locais de onde partiam os navios negreiros, e a outras regiões brasileiras, para conhecer quilombos, museus e outros locais relacionados ao tema. Mas a escrita final dos livros certamente acontecerá na minha casa em Itu, mantendo portanto uma tradição até agora muito bem sucedida. Itu me dá muita sorte e não pretendo mudar nada nesse aspecto.
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