Resultado de uma polêmica iniciada nas redes sociais envolvendo o grupo de teatro Os Fofos Encenam e setores do movimento negro, o debate Arte e Sociedade: A Representação do Negro atraiu mais de 300 pessoas ao Itau Cultural, na região da Avenida Paulista, em São Paulo. Na mesa, a ativista e blogueira Stephanie Ribeiro, o diretor de teatro e integrante do Fofos Fernando Neves, o dramaturgo Aimar Labaki, o professor e pesquisador Mario Bolognese, o educador e professor Salloma Salomão, a atriz Roberta Estrela Dalva e o professor Dennis Oliveira discutiram o papel do negro e a sua representação na cultura brasileira.
Após uma apresentação do ator e DJ Eugênio Lima, cada um dos representantes falou durante alguns minutos sobre o tema. Roberta Estrela Dalva falou sobre a complexidade de debater o uso do blackface e outros hábitos racistas que estão entranhados na cultura brasileira.
- Eu não creio que Os Fofos sejam racistas - disse ela. - Mas não podemos deixar que esse tipo de coisa se perpetue. É preciso saber o que jogar fora para que possamos conviver.
Mario Bolognese falou sobre o teatro no circo e o uso das máscaras como recurso que não passa pelo racismo.
- O circo não conhece o uso do blackface da mesma forma que os americanos usavam no teatro e no cinema - disse Bolognese.
Aimar Labaki ressaltou a importância do debate e a necessidade de se discutir o tema da representação do negro e do uso do blackface, mas alertou para a necessidade de evitar que se proíbam as representações.
- Há outras maneiras de se fazer isso - disse ele. - Precisamos encontrar outros meios para conviver com isso que não seja apagar essa representação.
Fernando Neves, diretor da peça A mulher do trem, explicou que a tradição circense enxerga o blackface como uma máscara e todos os personagens tem suas feições exageradas. Ele pediu desculpas pelo uso da máscara, disse que vai tira-la da montagem e chorou ao dizer que não queria que chegasse a isso.
- Não era o que eu imaginava, não era o que eu queria - disse ele, chorando. - Os Fofos não queriam causar dor para ninguém.
Uma onda de protestos nas redes sociais contra o uso do "blackface" na peça "A mulher do trem" fez com que a companhia Os Fofos Encenam e o Itaú Cultural cancelassem a apresentação da peça nesta terça (12). O recurso, que remonta à primeira metade do século XIX nos Estados Unidos, consiste em pintar de preto atores brancos para representar personagens negros - uma empregada doméstica, neste caso. O grupo foi acusado de racismo.
Comédia francesa escrita no século XIX, "A mulher do trem" foi montada pela primeira vez no Brasil em 1920, no Circo Colombo, mantido pelo avô do ator Fernando Neves, que assina a direção da montagem. Escrita por Maurice Hennequin e George Mitchell, tem como cenário a sala de visitas de uma casa da classe média carioca. No dia do casamento, o noivo, mais velho do que a noiva, aconselha o sogro a ser mais enérgico no seu casamento, porque considera a sogra uma ditadora. Ele conta também suas aventuras de solteiro, enfatizando o caso que teve com uma mulher misteriosa, em um trem que fazia o percurso Rio – São Paulo. A sogra, que ouve tudo escondida, planeja uma vingança.
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