quinta-feira, 7 de maio de 2015

Chega a 145 o número de escritores que repudiam prêmio ao jornal satírico 'Charlie Hebdo'

A lista de escritores que assinaram uma carta de repúdio ao prêmio dado pelo PEN American Center ao jornal satírico francês “Charlie Hebdo” continua aumentando e chegou a 145 nomes. No fim de semana, seis escritores — Teju Cole, Peter Carey, Rachel Kushner, entre outros — já tinham comunicado que não participariam da cerimônia de entrega, no dia 5 de maio, por discordarem da homenagem à publicação pelo seu papel na defesa da liberdade de expressão. Agora, nomes de peso como Junot Díaz, Joyce Carol Oates, Lorrie Moore e Francisco Goldman também se juntaram nas críticas ao PEN.

Na carta publicada pelo grupo, aberta a subscrição de outros autores, eles não negam a tragédia que foi o assassinato de 12 pessoas em janeiro, sendo oito colaboradores do jornal, por extremistas islâmicos. Contudo, questionam o critério utilizado na premiação: “Nós não acreditamos em censura. A resposta à expressão de diferentes pontos de vista, mesmo que desagradáveis, com certeza não é a violência ou o assassinato. Contudo, há uma diferença significativa entre apoiar firmemente uma manifestação que vai além do aceitável e, entusiasticamente, premiar essa manifestação.”

O texto questiona ainda o argumento de que o “Charlie Hebdo” ofendia a todas as religiões, sem distinção. Para os autores, o efeito da ofensa não é igual para todos numa sociedade desigual. “Para uma parcela da população francesa que já é marginalizada e vitimizada, uma população marcada pelo projeto colonial francês e que possui uma grande quantidade de muçulmanos, os cartuns de Maomé no ‘Charlie Hebdo’ devem ser vistos como tendo o objetivo de causar ainda mais humiliação e sofrimento.”

No Twitter, a escritora Joyce Carol Oates comentou a decisão de não participar da festa do PEN American Center, apesar de manter o seu apoio à instituição. “É importante apoiar o PEN mesmo se alguém não concorde sempre com suas premiações individuais”. Para a autora, a organização defende a liberdade de expressão, “mas não todas as manifestações, é seletiva. Nenhuma antissemita, por exemplo. Parece razoável”.

Na segunda-feira, em entrevista ao jornal “The New York Times”, o escritor indiano Salman Rushdie tinha feito duras críticas à postura dos colegas. Rushdie viveu na clandestinidade durante anos após receber a “fatwa”, condenação à morte no Irã pelo seu livro “Versos satânicos”.

— Se o PEN, como uma organização em defesa da liberdade de expressão, não pode defender e celebrar pessoas assassinadas por seus desenhos, então, francamente, não é uma organização digna do nome — declarou Rushdie. — O que eu diria tanto para Peter (Carey) e Michael (Ondaatje) quanto para os outros é: espero que ninguém nunca venha atrás de vocês.

Em nota, o PEN informou que promoverá um debate público na próxima terça-feira, sobre o tema na Universidade de Nova York, com a presença de Ed Berenson, diretor do Instituto de Estudos Franceses da universidade, Suzanne Nossel, diretora-executiva da organização, e dois membros da equipe do “Charlie Hebdo”, Gérard Biard e Jean-Baptiste Thoret.

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