Maria de Fátima Coelho de Sousa

Os objetos trazem elementos da sua percepção artística, indicam as finalidades dos objetos construídos e suas propostas ornamentais, compostas de miniaturas, utilitários, de valor comercial e uso local. Mas o significativo é a forma como o grupo social classifica as matérias dos objetos que produz e suas aplicações pedagógicas.
Os meus avós maternos e paternos têm sua origem na mesma cultura, viviam do trabalho na lavoura, cultivando vários tipos de plantações, na luta pela sobrevivência, especialmente em épocas marcadas por muitas dificuldades.

Esse contato comercial entre as populações propiciou a circunstância em que meu pai conheceu a minha mãe e se casaram. Os dois foram viver perto da família dela. E continuaram com a mesma cultura recebida. Eles tiveram doze filhos - cinco mulheres e sete homens – tendo perdido o segundo filho com apenas onze anos, por causa da meningite. Eles adotaram outra criança, de sete anos, garantindo a sobrevivência e a educação dos doze.
Aquela criança viveu conosco até completar dezoito anos. Depois se casou e foi morar em São Paulo, onde vive até hoje. Naquela época, meus pais não tinham condições financeiras, especialmente pela falta de educação. Os filhos e filhas estudaram até o terceiro ano primário. Eles viviam da lavoura, não tinham dinheiro para comprar brinquedos para os filhos. Foi por essa razão que os quatros filhos mais velhos aprenderam com os avós e com os meus pais a fazer artesanatos.

Foi assim que os meus irmãos começaram a fazer miniaturas de braço de buriti. Aprendi esta arte quando eu tinha uns oito anos, fazendo miniaturas de bonecas, mesas, cadeiras, guarda-roupas, aviões, gaiolas, cavalos, carretas, pilões, mãos de pilão, caçoares, selas, carroças, currais, entre outros objetos.
O meu irmão mais velho, adotivo, quando tinha dez anos, me ensinou algumas atividades e eu fui usando a criatividade. Hoje eu só uso a imaginação e estou criando novas fórmulas como o cubo transformando o braço de buriti em dado, as pirâmides, as maquetes para construção de prédios e de todos os tipos de objetos que se usa na casa como cama, sofá, armários para livros. Depois veio uma série de objetos de formas geométricas feitos de braços de buriti e casca da árvore da cajazeira.
Recuperar esses objetos e entender como foram criados se tornou muito importante para continuar a cultura dos antepassados, garantindo a continuidade da cultura dos nossos avós, que nossos pais ensinaram aos seus filhos.
Ao estudar matemática e entender o contexto, percebi como ela me ajudaria a criar novas fórmulas, capazes de incentivar os alunos da rede pública e mostrando que seu aprendizado pode ser desenvolvido a partir da própria vida familiar, dentro de casa. Isso me fez valorizar a instrução recebida na família e seu significado para uma boa educação. E a valorizar os pais, sem os quais seria não poderia haver um processo educativo nas unidades escolares.
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