Najla Passos
A desconfiança geral em relação
ao conteúdo veiculado pela mídia tradicional e monopolista resultou no
surgimento de vários coletivos de jornalistas e comunicadores interessados em
divulgar uma outra visão sobre os protestos que ocorrem nesta sexta (13) e no
próximo domingo (15) em todo o país. Exemplos são os grupos Jornalistas Livres
e em Defesa da Democracia, sediado em São Paulo, e do Comunicadores pelo
Brasil, com base em Brasília.
Ambos trabalham de forma
colaborativa, divulgando conteúdo produzido por jornalistas independentes de
todo o país e até do exterior, além das matérias e reportagens veiculadas pela
imprensa alternativa. Também realizam análises de mídia, em tempo real, com
críticas e informações qualificadas sobre a orientação da cobertura feita pelos
meios de comunicação tradicional.
No Facebook, o Jornalistas Livres
apresenta assim o seu propósito: “cobertura colaborativa contra a manipulação
da mídia tradicional; pelas narrativas independentes e plurais”. No final da
manhã desta sexta, quase mil pessoas já haviam curtido a página no Facebook e
compartilhavam os conteúdos disponibilizados.
Já o Comunicadores pelo Brasil
explica, em uma espécie de manifesto, que é oriundo do grupo Comunicadores com
Dilma que, durante as eleições, apoiou a candidatura da presidenta eleita.
“Quando a gente se reuniu na campanha, foi para defender o projeto da
candidatura da Dilma, mas já com bandeiras bem delineadas de defesa da luta dos
trabalhadores. Agora, a conjuntura se agravou e precisamos defender também a
democracia. Por isso, decidimos retomar o grupo de forma não personalista”,
explica a jornalista Flávia Azevedo, que integra o coletivo.
De acordo com ela, o grupo
reconhece a insatisfação que toma conta das ruas, mas não apoia o impeachment.
“Não está bom. Defendemos que este governo dê uma virada à esquerda. Mas também
não compactuamos com o golpismo. Por isso, nos somamos aos vários outros grupos
que surgiram no país para fazer uma narrativa diferenciada desta crise, porque
a cobertura da mídia tradicional é claramente desequilibrada”, esclarece.
Para Flávia, mesmo que os
comunicadores admitam que não exista imparcialidade na imprensa, as concessões
de rádio e TV, especialmente, precisam ser mais responsáveis com o que
publicam. “Não se discute a reforma política, não se apresenta visões
diferentes dos fatos. Nós somos pessoas que estão contra o golpe, que defendem
uma virada à esquerda deste governo, mas não encontramos nenhum espaço na
mídia”, acrescenta.
Segundo ela, a alternativa é usar
as redes sociais de forma voluntária e colaborativa, ainda que para se
contrapor aos grupos patrocinados pelo golpismo que dispõem de recursos que os
comunicadores pelo Brasil nunca terão. “Não temos recursos, não temos poder
econômico. E sabemos que as mensagens que eles veiculam no facebook ou no
Whatsapp não são feitas por amadores, que custam muito dinheiro. É uma luta de
Davi contra Golias”, avalia.
Com as hashtags #DilmaVireàEsquerda, para ser usada nesta
sexta, e #RespeiteMeuVoto, para o domingo, o grupo afirma, no manifesto, que
sua maior bandeira é o respeito e a luta pela liberdade de expressão. “O grupo
não se furtará do dever de questionar a forma como os grandes veículos têm
tratado a crise política, tão pouco da tarefa de oferecer uma visão alternativa
dos protestos, em busca de oferecer – pelo menos nas redes sociais – material
oposto àquele que certamente será oferecido pelas mídias hegemônicas”, diz o
documento.
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