O agente literário americano Bill Clegg virou notícia há quatro anos ao publicar "O Retrato de um Viciado Quando Jovem', livro em que relata seu envolvimento autodestrutivo com álcool e crack. Hoje afastado dos vícios, Clegg vem chamando a atenção por uma nova e bem-sucedida empreitada nos EUA.
Foto: Folha de S. Paulo
Há dois meses, abriu em Nova York sua própria agência, The Clegg Agency, e emplacou dois negócios milionários que agitaram o mercado editorial internacional.
Representados por Clegg, "Fates and Furies", quarto livro de Lauren Groff, e "The Girls", romance de estreia da jovem Emma Cline, foram disputados em leilões nos EUA por 11 e 12 editoras, respectivamente.
O primeiro foi vendido por mais de US$ 1 milhão (R$ 2,4 milhões) e o segundo, por US$ 2 milhões (R$ 4,8 mi), cifras elevadas no mercado de livros.
No Brasil, ambos foram adquiridos pela Intrínseca, por valor não divulgado.
Atencioso e sorridente, o agente literário mais badalado do momento deu entrevista à Folha em plena Feira do Livro de Frankfurt, na semana passada, enquanto promovia concorridos leilões internacionais dos dois títulos.
Ele disse que o primeiro grande evento editorial à frente de sua agência surpreendeu. "Não esperava me sentir tão animado fazendo o que faço há 20 anos, tampouco fechar tantos negócios na própria feira", afirmou —graças aos contatos via internet, a cada ano a feira perde potencial como balcão de negócios.
Aos 44, Clegg é conhecido no mercado editorial pela simpatia e pelo bom gosto para a ficção literária. Ele não divulga a lista de clientes da Clegg Agency, mas cita ao menos dez nomes, a maioria de autores em início e meio de carreira ainda pouco conhecidos do grande público. Todos escrevem em inglês.
Além de Lauren Groff e Emma Cline, estão na lista o contista Daniyal Mueenuddin, o cineasta e autor John Waters, a autora Rivka Galchen, a poeta Mary Jo Bang, a contista Ottessa Moshfegh e David Levithan —este sim famoso por seus best-seller para jovens "Will & Will", feito em parceria com John Green e publicado pela Record.
Há ainda Matthew Thomas e Akhil Sharma, dois que neste ano lançaram romances bem recebidos pela crítica de língua inglesa, "We Are Not Ourselves" e "Family Life".
Não é a primeira vez que Clegg abre seu próprio negócio. No início dos anos 2000, ele fez uma sociedade com a agente Sarah Burnes, mas a desfez abruptamente depois de quatro anos, no auge de seu problema com drogas.
Depois de passar por uma clínica de reabilitação, Clegg ficou oito anos na WME (William Morris Endeavor), uma das maiores agências americanas de autores e artistas.
Ao deixar o emprego neste ano para abrir a Clegg Agency, levou consigo a maior parte dos autores que representava na WME, entre eles Bang, Groff e Sharma. "Eles demonstraram lealdade e crença no projeto", diz.
COMPARAÇÃO
Não só o talento de Clegg mas também seu caráter personalista e o passado junkie rendem nos bastidores comparações com Andrew Wylie, um dos maiores agentes literários hoje, que representa Philip Roth, Norman Mailer e Italo Calvino, entre outros.
Clegg diz nunca ter ouvido a comparação e evita comentários. Ainda que não seja o novo Wylie, o fato é que seus autores ganham algo raro no mercado editorial: atenção.
"O nome dele já era uma chancela importante para obras literárias", diz Otávio Marques da Costa, publisher do selo Companhia, da Companhia das Letras. "Mas, depois dos leilões recentes, todo mundo está de olho no que ele promove", diz.
Há anos, Clegg é amigo de Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, que publicou os dois livros do agente no Brasil —além de "O Retrato...", "Noventa Dias".
A editora paulista disputou a compra dos direitos de publicação de "The Girls" no Brasil, mas nem as boas relações com Clegg evitaram que a Intrínseca fosse vencedora.
A Clegg Agency não interromperá a carreira do agente como escritor. Seu terceiro livro, "Did You Ever Have a Family", sairá nos EUA em 2015 e já foi adquirido pela Companhia das Letras.
Com seus próprios livros agenciados pela WME, ele agora tem como meta aumentar rapidamente o número de autores de sua agência. "Há uma exigência cada vez maior por livros excelentes. Meu papel será encontrá-los e promovê-los. Mas só represento o que absolutamente amo. E não me apaixono com muita frequência", diz.
Fonte: Folha de S. Paulo - 18.10.2014
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