LONDRES — Com o lançamento do Kindle, em 2007, a teoria de que "o papel é para onde as palavras vão para morrer" se difundiu. Desde então, houve um boom do livro digital, e o mais novo modelo do dispositivo da Amazon vem na esteira do Kindle Unlimited, um serviço que favorece a compra de vários e-books. Mas os resultados atuais têm mostrado uma outra realidade, na qual o formato físico continua dominando e cresce bem mais que o digital.
Em 2013, os consumidores britânicos gastaram 2,2 bilhões de libras em cópias impressas, em comparação com apenas 80 milhões em e-books. Em novembro do ano passado, as estatísticas da Associação de Editoras Americanas mostraram que as vendas de livros digitais subiram apenas 4,8% em um ano, enquanto as de livros de capa dura avançaram 11,5%. A análise da Nielsen BookData mostrou que, entre maio e junho do ano passado, houve uma queda de 26% nos e-books em comparação com o mesmo período de 2012.
Então os "convertidos" ao digital voltam timidamente à livraria? E por que motivos? A teoria principal é a de que a experiência de leitura dos e-books simplesmente não é rica o suficiente. Não há "cheiro de livro", o movimento das páginas e a praticidade de avançar rápido o suficiente. Um estudo mostrou que, em um grupo que leu o mesmo livro, os "leitores digitais" lembraram menos de detalhes da história. A conclusão foi a "falta de solidez", que seria provocada pela ausência de referência das páginas e da posição das informações no e-book.
"Guardo uma memória muito física de um livro por algum tempo depois de lê-lo. Lembro de uma cena particular ou de uma fala aparecendo em certo ponto de uma página à esquerda ou à direita, no topo ou na parte de baixo, e também a numeração, a posição", diz Scott Pack, editor do selo The Friday Project, da HarperCollins.
Em setembro deste ano, o portal especializado The Bookseller descobriu em uma pesquisa que quase 75% dos jovens de 16 a 24 anos preferiam ler no papel que em e-books. Quando perguntados sobre os motivos, o que mais se destacou foi a opção "Quero prateleiras que não fiquem vazias". E faz sentido: a disposição física de uma coleção de livros explica, de certa forma, a personalidade de uma pessoa.
"Acredito que o leitor de 2020 ou 2030 terá duas livrarias, uma física e uma digital, como diferentes tipos de livros e publicações em cada", acredita Pack. "Apesar de não ter qualquer problema com ler algum autor qualquer no e-book ou no meu Kindle, os meus preferidos precisam sempre estar no formato impresso. Continuo abismado com edições feitas com design cuidadoso e boa impressão."
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