terça-feira, 14 de abril de 2020

Notícias Coronavirus 19

15.04.2020

Brasil pode ter 12 vezes mais casos de Covid-19 do que número oficial

O Brasil pode ter 12 vezes mais casos de coronavírus do que os divulgados oficialmente pelo Ministério da Saúde (MS), considerando a pouca quantidade de testes e longas esperas para confirmar os resultados, de acordo com estudo divulgado. Pesquisadores de um consórcio de universidades e institutos do país examinaram a proporção de casos que resultaram em mortes até 10 de abril, considerando casos em que houve recuperação ou morte e excluindo pacientes ainda em tratamento.



Municípios pequenos não têm estrutura para transferir pacientes

Em país continental e desigual como o Brasil, o combate à Covid-19 impõe desafios logísticos quando a doença já contabiliza 1.532 mortes e aponta para uma perigosa tendência de interiorização. Municípios pequenos não saem como enfrentar a disseminação do coronavírus nas próximas semanas. A doença cujos cuidados de pacientes graves dependem de uma estrutura hospitalar complexa que esses locais nunca tiveram já chegou ao limite. A ordem é enviar pacientes que necessitem de cuidados intensivos aos hospitais de referência das chamadas cidades polo. Mas as redes regionais de saúde precisam se reorganizar para atender a alta demanda da pandemia e garantir as transferências de forma segura.

SUS se organiza em 451 regiões de saúde com cidades de referência
O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro é organizado em 451 regiões de saúde, com cidades de referência para garantir capilaridade no atendimento à população. O desafio maior é nas regiões onde há um verdadeiro apagão de UTIs - nas quais estão 14,9% da população - que depende unicamente do SUS. A situação é mais complexa em muitos municípios em que faltam desde UTIs móveis para transportar pacientes mais graves até profissionais especializados para operá-las, como no Ceará. No imenso Amazonas, com imensa territorialidade, os prefeitos cobram transporte aéreo disponível para os casos graves, numa doença de evolução rápida.

Cidades Polo com UTI pedem médicos intensivistas
Pacientes mais graves das cidades pequenas sofrem com o fluxo histórico ao ser encaminhados das cidades-polo, sobretudo se precisam de cuidados hospitalares mais complexos. Essas cidades-polo - geralmente com mais de 70.000 habitantes – onde se concentram as unidades de terapia intensiva, que exigem um alto investimento para a implantação - com a compra de equipamentos - e a manutenção - com equipes de intensivistas especializados como médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde - para atender a determinados grupos de municípios. Esse contingente populacional estão nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, em que 72% das regiões de saúde, o número de leitos de UTI pelo SUS é inferior ao considerado adequado em um ano típico, sem a influência da Covid-19.

Governadores e prefeitos lutam pelas populações, num país sem governo
Nas regiões das quais o programa Mais Médicos - criado pela ex-presidenta Dilma Rousseff - foi expulso por Bolsonaro, o caos se agravou com a ausência de médicos cubanos, erro lamentado das cidades às universidades e governos estaduais. Governadores do nordeste se reuniram para expandir redes locais, criar mais leitos em cidades de referência, enfrentar a escassez global de insumos, até terem recebido equipamentos e recursos do Planalto, tardiamente. Os prefeitos adotaram o isolamento social para retardar a chegada da pandemia, adaptar os pequenos hospitais, receber pacientes com outras doenças - abrir espaço para a transferência de pacientes da Covid-19 - e desafogar os hospitais de referência e manter a observação em leitos de enfermaria nas cidades-polo, caso precisem ser entubados rapidamente.

Reitor da Unifesspa se manifesta sobre o Coronavirus e faz propostas

O Prof. Dr. Maurilio Monteiro, reitor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, apresenta proposta de procedimentos para aplicação nos campi da Unifesspa e divulgação para o grande público:
A comunidade universitária influencia os caminhos que nossa cidade pode percorrer. Quando a decisão acerca do rumo a ser trilhado envolve a saúde e a vida de pessoas a nossa intervenção é imprescindível. Este é o caso da necessidade da adoção, disseminação e defesa de medidas capazes de reduzir a transmissão da Covid-19.


Em todo o mundo a comunidade científica tem ajudado de diversas formas a salvar vidas, uma delas é a proposição de políticas públicas baseadas em modelagens matemáticas que já demonstraram quão as medidas de distanciamento social são eficazes e necessárias para combater o vírus e salvar vidas.

Um desses modelos (SEIR) quando aplicado à Rondon do Pará estima que se no 30º dia após o primeiro caso de contágio comunitário (aquele cuja origem seja a própria cidade) forem adotadas medidas (rotinas de higiene, uso de máscaras e, sobretudo, distanciamento social) capazes de reduzir em 60% a taxa de transmissão, no 100º dia depois haveria 130 pessoas contaminadas e já recuperadas, estariam hospitalizadas 5 pessoas, havendo tempo preparar a estrutura hospitalar e reduzir o número de internações, o que, por si só, salvaria dezenas de vidas. Todavia, pela letalidade da doença poderiam morrer 2 pessoas nesses 100 dias (veja o Gráfico 1).


Nestas mesmas circunstâncias, se as medidas para reduzir a transmissão do vírus forem mais frouxas, menos eficazes e capazes de reduzir a transmissão do vírus em tão-somente 40%, o modelo matemático estima que poderíamos vivenciar um quadro gravíssimo pois, no 100º dia após a primeira contaminação, teríamos 92 pessoas no período de incubação do vírus; 42 pessoas contaminadas circulando pela cidade, a maioria assintomática; mais 41 necessitando de internação hospitalar; e infelizmente os mortos poderiam chegar a 6, ou seja quase 3 vezes a mais em ralação ao cenário com medidas mais eficazes para reduzir a transmissão.

Além do que, a necessidade de internações hospitalares cresceria continuamente e alcançaria seu pico no 200º dia momento em que seriam demandados 269 leitos para atender os acometidos pela Covid-19 (veja o Gráfico 2, note que as ordenadas estão em escala diferenciada do gráfico 1).


Mesmo sendo apenas uma simulação, tome-a como um alerta concreto que se soma evidências empíricas e aos estudos científicos que indicam os graves riscos à saúde pública com os quais nos deparamos, portanto, é muito importante que você, juntamente com toda comunidade da Unifesspa, adote dissemine e defenda todas as medidas capazes de reduzir a transmissão da Covid-19.
Um abraço
Maurilio Monteiro

A modelagem foi realizada recorrendo-se ao algoritmo disponibilizado em https://gabgoh.github.io/COVID/index.html e tendo por base os seguintes parâmetros:
Tamanho da população: 52.575
R0: 2
Duração do período de incubação: 5,2 dias
Período infeccioso, 2,9 dias
Taxa de mortalidade, 2%
Tempo desde o final da incubação até o óbito: 32 dias
Tempo de internação: 25 dias
Tempo de recuperação para casos leves: 11,1 dias
Taxa de internação: 15,00%
Tempo até internação: 5 dias

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