15.04.2020
Brasil pode ter 12 vezes mais casos de Covid-19 do que número
oficial
O Brasil pode ter 12 vezes mais casos de coronavírus do que os
divulgados oficialmente pelo Ministério da Saúde (MS), considerando a pouca
quantidade de testes e longas esperas para confirmar os resultados, de acordo
com estudo divulgado. Pesquisadores de um consórcio de universidades e
institutos do país examinaram a proporção de casos que resultaram em mortes até
10 de abril, considerando casos em que houve recuperação ou morte e excluindo
pacientes ainda em tratamento.
Municípios pequenos não têm estrutura para transferir
pacientes
Em país continental e
desigual como o Brasil, o combate à Covid-19 impõe desafios logísticos quando a
doença já contabiliza 1.532 mortes e aponta para uma perigosa tendência de
interiorização. Municípios pequenos não saem como enfrentar a disseminação do coronavírus nas próximas semanas. A doença cujos
cuidados de pacientes graves dependem de uma estrutura hospitalar complexa que
esses locais nunca tiveram já chegou ao limite. A ordem é enviar pacientes que
necessitem de cuidados intensivos aos hospitais de referência das chamadas
cidades polo. Mas as redes regionais de saúde precisam se reorganizar para atender
a alta demanda da pandemia e garantir as transferências de forma segura.
SUS se organiza em 451 regiões de saúde com
cidades de referência
O Sistema Único de Saúde
(SUS) brasileiro é organizado em 451 regiões de saúde, com cidades de
referência para garantir capilaridade no atendimento à população. O desafio
maior é nas regiões onde há um verdadeiro apagão de UTIs - nas quais estão 14,9% da população - que depende
unicamente do SUS. A situação é mais complexa em muitos municípios em que
faltam desde UTIs móveis para transportar pacientes mais graves até
profissionais especializados para operá-las, como no Ceará. No imenso Amazonas,
com imensa territorialidade, os prefeitos cobram transporte aéreo disponível
para os casos graves, numa doença de evolução rápida.
Cidades Polo com UTI
pedem médicos intensivistas
Pacientes mais graves
das cidades pequenas sofrem com o fluxo histórico ao ser encaminhados das
cidades-polo, sobretudo se precisam de cuidados hospitalares mais complexos.
Essas cidades-polo - geralmente com mais de 70.000 habitantes – onde se concentram
as unidades de terapia intensiva, que exigem um alto investimento para a
implantação - com a compra de equipamentos - e a manutenção - com equipes de
intensivistas especializados como médicos, enfermeiros e outros profissionais
da saúde - para atender a determinados grupos de municípios. Esse
contingente populacional estão nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, em que
72% das regiões de saúde, o número de leitos de UTI pelo SUS é inferior ao
considerado adequado em um ano típico, sem a influência da Covid-19.
Governadores e prefeitos
lutam pelas populações, num país sem governo
Nas regiões das quais o programa
Mais Médicos - criado pela ex-presidenta Dilma Rousseff - foi expulso
por Bolsonaro, o caos se agravou com a ausência de médicos cubanos, erro lamentado
das cidades às universidades e governos estaduais. Governadores do nordeste se
reuniram para expandir redes
locais, criar mais leitos em cidades
de referência, enfrentar a escassez global de
insumos, até terem recebido equipamentos e recursos do Planalto,
tardiamente. Os prefeitos adotaram o isolamento social para retardar a chegada
da pandemia, adaptar os pequenos hospitais, receber pacientes com outras
doenças - abrir espaço para a transferência de pacientes da Covid-19 - e desafogar
os hospitais de referência e manter a observação em leitos de enfermaria nas
cidades-polo, caso precisem ser entubados rapidamente.
Reitor da Unifesspa se
manifesta sobre o Coronavirus e faz propostas
O Prof. Dr. Maurilio Monteiro, reitor da Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará, apresenta proposta de procedimentos para
aplicação nos campi da Unifesspa e divulgação para o grande público:
A comunidade universitária influencia os caminhos
que nossa cidade pode percorrer. Quando a decisão acerca do rumo a ser trilhado
envolve a saúde e a vida de pessoas a nossa intervenção é imprescindível. Este
é o caso da necessidade da adoção, disseminação e defesa de medidas capazes de
reduzir a transmissão da Covid-19.
Em todo o mundo a comunidade científica tem ajudado
de diversas formas a salvar vidas, uma delas é a proposição de políticas
públicas baseadas em modelagens matemáticas que já demonstraram quão as medidas
de distanciamento social são eficazes e necessárias para combater o vírus e
salvar vidas.
Um desses modelos (SEIR) quando aplicado à Rondon
do Pará estima que se no 30º dia após o primeiro caso de contágio comunitário
(aquele cuja origem seja a própria cidade) forem adotadas medidas (rotinas de
higiene, uso de máscaras e, sobretudo, distanciamento social) capazes de
reduzir em 60% a taxa de transmissão, no 100º dia depois haveria 130 pessoas
contaminadas e já recuperadas, estariam hospitalizadas 5 pessoas, havendo tempo
preparar a estrutura hospitalar e reduzir o número de internações, o que, por
si só, salvaria dezenas de vidas. Todavia, pela letalidade da doença poderiam
morrer 2 pessoas nesses 100 dias (veja o Gráfico 1).
Nestas mesmas circunstâncias, se as medidas para
reduzir a transmissão do vírus forem mais frouxas, menos eficazes e capazes de
reduzir a transmissão do vírus em tão-somente 40%, o modelo matemático estima
que poderíamos vivenciar um quadro gravíssimo pois, no 100º dia após a primeira
contaminação, teríamos 92 pessoas no período de incubação do vírus; 42 pessoas
contaminadas circulando pela cidade, a maioria assintomática; mais 41
necessitando de internação hospitalar; e infelizmente os mortos poderiam chegar
a 6, ou seja quase 3 vezes a mais em ralação ao cenário com medidas mais
eficazes para reduzir a transmissão.
Além do que, a necessidade de internações
hospitalares cresceria continuamente e alcançaria seu pico no 200º dia momento
em que seriam demandados 269 leitos para atender os acometidos pela Covid-19
(veja o Gráfico 2, note que as ordenadas estão em escala diferenciada do
gráfico 1).
Mesmo sendo apenas uma simulação, tome-a como um
alerta concreto que se soma evidências empíricas e aos estudos científicos que
indicam os graves riscos à saúde pública com os quais nos deparamos, portanto,
é muito importante que você, juntamente com toda comunidade da Unifesspa, adote
dissemine e defenda todas as medidas capazes de reduzir a transmissão da
Covid-19.
Um abraço
Maurilio Monteiro
A modelagem foi realizada recorrendo-se
ao algoritmo disponibilizado em https://gabgoh.github.io/COVID/index.html e
tendo por base os seguintes parâmetros:
Tamanho da população: 52.575
R0: 2
Duração do período de incubação: 5,2 dias
Período infeccioso, 2,9 dias
Taxa de mortalidade, 2%
Tempo desde o final da incubação até o
óbito: 32 dias
Tempo de internação: 25 dias
Tempo de recuperação para casos leves:
11,1 dias
Taxa de internação: 15,00%
Tempo até internação: 5 dias
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