terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Maioria dos países descumpriu meta de reduzir analfabetismo, diz UNESCO

Ana Carolina Moreno

De 139 países participantes de um levantamento de dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), só 39 (ou 28% do total) comprovaram ter cumprido a meta 4 do programa Educação para Todos, que previa a redução de 50% nos índices de analfabetismo até 2015. O Brasil está no grupo de 100 países que descumpriram a meta.

Na terceira edição do Relatório Global sobre Aprendizagem de Adultos e Educação (Grale III, na sigla em inglês), divulgada nesta quarta-feira (15), a Unesco afirmou que, segundo as informações enviadas pelos países, o mundo tinha, em 2015, 758 milhões de adultos sem capacidade de ler e escrever uma simples frase.

Desses, 115 milhões são jovens, ou seja, tinham entre 15 e 24 anos de idade. Isso quer dizer que cerca de 85% dos analfabetos no mundo pertencem a gerações distantes de idades consideradas propícias para a vida escolar e, portanto, que oferecem mais obstáculos para a aprendizagem.

Educação pela Leitura

O documento se baseia em pesquisas de monitoramento respondidas por 139 estados-membros da Unesco, "com a finalidade de elaborar um retrato diferenciado da situação global da aprendizagem e da educação de adultos (AEA)". Segundo o relatório, foram avaliados os progressos dos países que assinaram, em 2009, o Marco de Ação de Belém, que inclui propostas de políticas em três áreas: saúde e bem-estar; emprego e mercado de trabalho; e vida social, cívica e comunitária.

Apesar do fracasso no cumprimento da meta, 85% dos países que participaram do levantamento dizem que " a alfabetização e as habilidades básicas eram uma prioridade principal de seus programas de aprendizagem e educação de adultos", e 46% deles disseram que "o investimento inadequado ou mal direcionado é um fator importante que impede a aprendizagem e a educação de adultos de causarem impacto maior na saúde e no bem-estar".


Mulheres sofrem mais

A falta de educação de qualidade para jovens e adultos afeta mais as mulheres do que os homens. Segundo o relatório da Unesco, "a maioria (63%) dos adultos com baixas habilidades de alfabetização é formada por mulheres". Além disso, os dados mostram que a taxa de meninas fora da escola é mais alta que a de meninos: uma em cada dez meninas (9,7%) não está na educação formal nos 139 países participantes da pesquisa, enquanto a taxa de meninos fora da escola é de 8,3%.
O órgão afirma que "a educação é essencial para a dignidade e os direitos humanos, e é uma força para o empoderamento" e que "a educação de mulheres também tem grandes impactos nas famílias e na educação das crianças, influenciando o desenvolvimento econômico, a saúde e o engajamento cívico de toda a sociedade".

15% dos analfabetos de 139 países são jovens


Educação para Todos

Desde 2000, a Unesco monitorou os dados enviados pelos seus 195 países-membros relacionados à educação para acompanhar a evolução das políticas rumo ao cumprimento de seis metas:
Expandir a educação e os cuidados na primeira infância, especialmente para as crianças mais vulneráveis.

Garantir que em 2015 todas as crianças, especialmente meninas, crianças em situações difíceis e crianças pertencentes a minorias étnicas, tenham acesso a uma educação primária de boa qualidade, gratuita e obrigatória, além da possibilidade de completá-la.

Assegurar que as necessidades de aprendizagem de todos os jovens e adultos sejam satisfeitas mediante o acesso eqüitativo à aprendizagem apropriada e a programas de capacitação para a vida.

Atingir, em 2015, 50% de melhoria nos níveis de alfabetização de adultos, especialmente para as mulheres, e igualdade de acesso à educação fundamental e permanente para todos os adultos.

Eliminar, até 2005, as disparidades existentes entre os gêneros na educação primária e secundária e, até 2015, atingir a igualdade de gêneros na educação, concentrando esforços para garantir que as meninas tenham pleno acesso, em igualdade de condições, à educação fundamental de boa qualidade e que consigam completá-la.

Melhorar todos os aspectos da qualidade da educação e assegurar a excelência de todos, de modo que resultados de aprendizagem reconhecidos e mensuráveis sejam alcançados por todos, especialmente em alfabetização, cálculo e habilidades essenciais para a vida.


Em abril de 2015, o órgão da ONU anunciou que Cuba foi o único país latino-americano a cumprir todas as seis metas.

O Brasil, por sua vez, só cumpriu duas das seis metas: a segunda, sobre educação primária, e a quinta, sobre a igualdade de gênero. Porém, o governo federal contestou as informações da Unesco e afirmou que também cumpriu a primeira meta, que fala sobre os cuidados com a educação na primeira infância.

Fonte: G1 - 16.02.2017

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