sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Ler para os filhos melhora vocabulário e reduz mau comportamento

Uma pesquisa feita pela Universidade de Nova York (NYU) em parceria com o Instituto Alfa e Beto (IAB) e o IDados revelou que a rotina de ler para os filhos traz ganhos como 14% de incremento no vocabulário das crianças, 27% de aumento na memória de trabalho, além de crescimento de 25% no índice de crianças sem problemas de comportamento. Os resultados parciais do estudo serão apresentados nesta quarta-feira, no Congresso Nacional, durante audiência pública.


A pesquisa foi realizada com 1.250 responsáveis e 1.250 crianças do município de Boa Vista, em Roraima, onde a administração municipal em parceria com o IAB desenvolve o programa "Família que acolhe", que promove políticas públicas voltadas para a primeira infância na rede municipal integrando as áreas de saúde, assistência social e educação.

- As diferenças nas crianças que leem com os pais são impressionantes. Tanto do ponto de vista de objetivos como vocabulário, como aspectos cognitivos da memória, e também comportamentais. Essa prática reduz a violência e o tratamento brusco em relação à criança. Os responsáveis aprendem a discutir as questões, dá a eles mais instrumentos que não só a chibatada - comenta o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira.

O relatório aponta ainda para um melhor desenvolvimento fonológico das crianças, que auxilia na hora da alfabetização e ocorrência de menos punição física por parte dos pais, que aprendem a conversar com os filhos e buscar novas maneiras de resolver as questões.

O estudo - conduzido por Alan Mendelsohn, professor da Faculdade de Medicina da NYU e Adriana Weisleder, pesquisadora da mesma instituição - analisou durante um ano três grupos diferentes. No primeiro, além do atendimento normal das creches municipais, chamadas "Casas-mãe", os pais recebiam capacitação em habilidades de leitura e interação com as crianças. Além disso, os responsáveis praticavam exercícios para aprender como conversar e interagir com os filhos. A atividade era filmada e posteriormente analisada por eles mesmos, que podiam identificar o que faziam de certo e de errado.

O segundo grupo era composto por pais que tinham apenas o atendimento convencional das casas-mãe e tinham contato com a leitura no ambiente escolar. Já o terceiro grupo era formado por famílias que ainda estão na lista de espera da creche.

- A gente já sabe que ler para criança é bom, que a leitura interativa faz bem. O que o programa acrescenta é um treinamento que envolve sessões interativas com os pais. Eles se veem no vídeo e eles aprendem a analisá-lo. Quando comparamos o grupo que fez nove sessões e levou livro para ler em casa com os demais as diferenças são impressionantes- afirma João Batista.

Mudança comportamental

Nas sessões feitas em grupo a cada três semanas, profissionais treinados pelo IAB orientam os pais a interagir com as crianças durante a leitura. Além de ler durante as sessões, os pais também levam livros para casa.

Daniella Santos é uma da mães que notou diferença no comportamento dos filhos após a inserção da leitura diária conduzida por ela e pelo marido. Gabriel, de 2 anos, que antes era inquieto, agora se interessa pela atividade e consegue se concentrar na história. O menino também perdeu o medo que lhe fazia chorar na hora de ir para o banho.

- O Gabriel era um pouco mais rebelde, não gostava de sentar com a gente para leitura e aí descobri que tínhamos de fazer uma rotina. Agora ele já para, já pede. O comportamento dele era completamente diferente, agora ficou mais tranquilo. Na creche ele tinha receio de ir para o banho, mas comecei a inserir essa questão nas histórias que contava e agora ele não chora mais. Percebi uma independência muito maior para ele- conta Daniella, que também é mãe de Melina, de 3 anos:

- Por conta da leitura, a minha filha já conhece vogais, cores primárias, consoantes. E números de 1 a 10.

Transcrito de O Globo - 06/07/2016

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