Voltada para alunos e professores, a Feira do Livro de Brasília de 2016, a ser realizada de 16 a 24 deste mês, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, apresentará uma programação com diversas figuras da cultura local e atrações para múltiplas faixas de público. Entre outros, participarão do evento Frei Betto, Vicente Viladarga, André Vianco, Frederico Barbosa, Jô Oliveira, e Felipe Fortuna. O pessoal da internet, com os blogueiros Juliana Cirqueira e Raphaella Barros, também anima os debates.
A Otaloukos, evento anual organizado por um grupo de jovens da Ceilândia, é especialmente conhecida entre os amantes da cultura pop japonesa, principalmente os mangás e animes. Eles estarão na Feira dia 23 de julho, às 14h, para falar daquilo que gostam mais: quadrinhos e mangás.
“Além de mim, três historiadores participarão da discussão. Queremos fazer um recorte histórico, falar de eventos nos quadrinhos”, explica Jean Alysson, membro da Otaloukos que estará coordenando o debate.
Além do pessoal da Otaloukos, Nestablo Ramos, apresentador do programa Enerdizando, falará sobre a produção de quadrinhos no Brasil e sobre Star wars. “Vamos falar sobre a aplicação das marcas no mercado, os filmes e os games, principalmente. Claro, sempre surge um outro tema que não está planejado”, conta. Sobre viver de quadrinhos no Brasil, Nestablo é realista. “O mercado ainda não possibilita viver disso, é preciso ter um bom plano B. Quem é bom em economizar, pode até conseguir, mas quem vai todo ano pra Disney comprar os produtos deStar wars vai ter dificuldade”, diverte-se.
Público nerd
Para quem acredita que Luke Skywalker ficaria deslocado em uma feira literária, Nestablo diz que o público nerd e geek de Brasília podem tornar esse tema bastante relevante. “Só temos ideia do quanto esse público é grande quando participamos dos eventos dedicados a isso, como o Kodama ou o Geek Primer. A Feira do Livro não é exatamente o caso. Claro que literatura engloba quadrinhos, mas essa é uma fatia pequena”, conta.
Ao lado dos jedis e dos sketchs de super-heróis, os clássicos literários têm seu espaço. José Maria Botelho, jornalista, professor e escritor, conduzirá uma palestra onde falará sobre a influência de Euclides da Cunha no trabalho de Guimarães Rosa. “De certa forma, Guimarães recuperou o que Euclides fez, que foi revelar para o Brasil que havia um país apartado da ocupação civilizatória litorânea, um segundo Brasil no interior. Revelou um sertanejo que pensava, lutava e planejava”, conclui.
Filho da escritora Ruth Guimarães, Botelho criou uma familiaridade com a literatura clássica, que vai além de chamar autores renomados pelo primeiro nome. Mesmo assim, ele não deixa os mais modernos fora de sua estante. “Não é uma questão de clássicos versus modernos, mas de conectá-los. É preciso ler ambos, Euclides e Guimarães e os novos, como Milton Antunes”, afirma ele, oferecendo alívio aos que se sentem divididos entre dois mundos.
Botelho participará da Feira do Livro de Brasília pela primeira vez, mas já esteve na Bienal de São Paulo, na Feira do Livro de Buenos Aires e em Frankfurt. Para ele, a importância de eventos como feiras literárias é fundamental, mas desde que haja mediação. “Não dá pra soltar a molecada por aí e deixar por isso mesmo, é preciso haver uma orientação e um estimulo. Esse evento oferece debates, mesas-redondas e palestras.”
A preocupação com o público jovem é um fator recorrente para essa edição da Feira do Livro. Nestablo garante que viu grande pertinência no tema da Feira deste ano, Meu mestre, meu livro (ou, no caso, meu quadrinho). “Nosso país não é famoso pela quantidade de leitores, então qualquer oportunidade de incentivar isso, principalmente na garotada, temos que aproveitar para tentar suprir essa carência.”
Nestablo, que já participou de edições anteriores, afirma que esses eventos são importantes para manter viva a vida cultural de Brasília. “Brasília, mesmo sendo a capital do país, é um pouco esquecida com relação a eventos. Isso só está começando a mudar de uns tempos pra cá. Esses eventos culturais são importantes para movimentar, fazer com que o quadrinista, desenhista, o escritor, saiam da caverna e gerem esse movimento que atrai as pessoas”, afirma.
Transcrito de Correio Braziliense - 11/07/2016
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