sexta-feira, 20 de maio de 2016

Movimentos protestam por reabertura do Cine Olinda, fechado há mais de 35 anos

Fachada do Cine Olinda, fechado há mais de 35 anos para reforma.
Movimentos de audiovisual defendem a reabertura do espaçoAndré Dib/CineRua

Fechado há mais de 35 anos, o Cine Olinda, que leva o nome da cidade histórica de Pernambuco onde está localizado, voltou a receber hoje (5) uma mostra de filmes. A exibição, no entanto, teve que ser feita do lado de prédio, já que o espaço está fechado para reforma há décadas. A sessão de filmes na rua foi programada justamente para chamar a atenção para o problema, como um protesto.



“Essa reforma é mais velha que eu. Muitas pessoas nem sabem que isso é um cinema. Esperamos que com essa atividade ao lado do cinema as pessoas olhem para ele, saibam da sua existência e cobrem do Poder Público a conclusão da reforma e a abertura desse equipamento cultural”, disse integrante do movimento CineRua Karuna de Paula.

O Cine Olinda, que em 2016 completa 105 anos, foi fechado em 1965. De acordo com pesquisa feita pelo movimento CineRua, após o fechamento, o prédio teve vários fins – de armazém de açúcar a alojamento para desabrigados – até ser desapropriado em 1979. Em 1981, a primeira tentativa de reforma para devolver o cinema ao local não foi concluída.

O prédio é um exemplar da arquitetura Art Déco, típico das décadas de 1920 a 1940, e estava em ruínas até a restauração da estrutura entre 2003 e 2004. A Prefeitura de Olinda concluiu o serviço, mas argumentou na época que não havia recursos para montar o cinema e fazê-lo funcionar.

Quatro anos e uma tentativa frustrada depois, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) assumiu o projeto, mas questões burocráticas prejudicaram o andamento dos trabalhos. A última notícia foi a suspensão do contrato com a empresa que ganhou a licitação para realizar o serviço, em março de 2016.

Em 2008, o Cine Olinda chegou a ser aberto para abrigar alguns eventos, como a Mostra de Cinema Sapo Cururu, e em 2011 foi um dos espaços da Casa Cor, mostra e arquitetura e design. A sala de exibição, no entanto, nunca ficou pronta, reduzindo ainda mais o número de cinemas de rua na região. E Olinda e Recife vários estabelecimentos do tipo já fecharam diante da competição com as grandes companhias exibidoras instaladas em shoppings.

Cinemas de rua

A valorização dos cinemas de rua é a bandeira do movimento CineRua. “A sociabilidade do cinema de rua é diferente do cinema de shopping. A relação de intimidade e de propriedade é diferente. Tomamos como exemplo o Cine São Luiz, o maior daqui [do Recife]. Tem um preço acessível e atrai pessoas que estão saindo do trabalho, marcam encontro com o namorado, estão esperando uma loja abrir ou encontrar uma pessoa. A ida ao cinema pode ser mais ocasional”, disse Karuna de Paula.

A ativista defendeu também a necessidade de espaços para exibição de produções independentes, sobretudo nacionais e pernambucanas, já que cinemas de shopping ocupam quase todas as suas salas com superproduções estrangeiras. “Pernambuco é um dos estados com maior produção atual, e de qualidade. É preciso escoar tudo isso, e os cinemas de rua tem essa característica. Exibem filmes que falam com o local, que problematizam a realidade.”

O CineRua, o movimento Ocupe o Cine Olinda e o Ponto de Cultura Cinema de Animação divulgaram e recolheram assinaturas para um manifesto que será entregue aos órgãos públicos responsáveis pelo cinema, como o Iphan e a Prefeitura de Olinda. “Reivindicamos o Cine Olinda não apenas como sala exibidora de cinema independente, dando vazão a uma importante produção ignorada pelo mercado, mas como um núcleo de formação, produção e exibição, um centro cultural capaz de abrigar pontos de cultura e outros núcleos aglutinadores da produção criativa”, diz um trecho do documento.



Atividades pela reabertura do Cine Olinda incluíram exibição de curtas-metragens, feira de artesãos e música Sumaia Villela/Agência Brasil

No manifesto, os grupos pedem ainda que o Iphan e a prefeitura esclareçam publicamente a atual situação e a gestão do equipamento, “e que se coloque em discussão estratégias e soluções para que ele seja entregue à população ainda este ano”. O manifesto também pede a realização de uma audiência pública em até 30 dias, com participação do Ministério Público, para definir formas de ocupação e de reinício das obras, além da criação de um comitê de fiscalização para acompanhar as providências.

Filmes, música e feira

Na programação estavam em cartaz curtas-metragens que tinham como tema o sítio histórico da cidade e o próprio Cine Olinda. Depois da exibição, os autores participaram de um debate. O encerramento ficou por conta da exibição especial de Noturno em Ré-cife Maior (1981), de Jomard Muniz de Brito, com trilha sonora ao vivo do músico e compositor Johann Brehmer.

Também houve projeções na fachada do prédio, uma feira de artesãos e música, que atraiu muitos moradores das redondezas. Na plateia, duas moradoras da comunidade da Praia dos Milagres levaram os filhos para assistir aos filmes. Uma delas, a empregada doméstica Maria da Conceição Albuquerque da Silva, 42, é personagem de um documentário exibido no local, Milagres, e gostaria de ver o filme dentro do Cine Olinda. “Ficava mais bom, né? Ficava mais bonito, mais legal pra gente assistir.”

A amiga Gilvaneide Araújo, 30, sabia que o prédio era um cinema, mas achava que o espaço estava abandonado. A dona de casa acredita que a comunidade poderia se beneficiar com o equipamento cultural. “Seria ótimo, principalmente pras crianças.”

Por anos, uma salinha de cinema foi montada no Clube Atlântico, ao lado do Cine Olinda, onde a artista plástica Maria Luísa Mendes Lins, 69, conhecida como Isa do Amparo, lembra de ter visto um festival de animação. Nascida na Bahia, ela mora há 35 anos no município – e quando chegou o Cine Olinda já estava fechado.
No manifesto, os grupos pedem ainda que o Iphan e a prefeitura esclareçam publicamente a atual situação e a gestão do equipamento, “e que se coloque em discussão estratégias e soluções para que ele seja entregue à população ainda este ano”. O manifesto também pede a realização de uma audiência pública em até 30 dias, com participação do Ministério Público, para definir formas de ocupação e de reinício das obras, além da criação de um comitê de fiscalização para acompanhar as providências.

Transcrito de http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2016-05/movimentos-protestam-por-reabertura-do-cine-olinda-fechado-ha-mais-de-35

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