sexta-feira, 13 de maio de 2016

Leitura é aliada no tratamento de crianças internadas em Belém

Enquanto a pedagoga Silvia Lobato mostra um livro de páginas coloridas e textos curtos sobre a história de Cinderela, a pequena Elilde Miranda, 10 anos, acompanha cada movimento de caras e bocas da narradora para descrever o quanto a heroína sofria com a inveja das irmãs e da madrasta. Da mesma forma que a mágica da fada madrinha conseguiu libertar Cinderela, por pelo menos um momento Elilde e várias crianças do setor de pediatria do Hospital Santa Casa de Misericórdia têm a oportunidade de esquecer um pouco os dias de internação e embarcar no mundo da literatura infantil. A iniciativa é uma parceria do hospital com o projeto Livro Solidário, da Imprensa Oficial do Estado e Núcleo de Articulação e Cidadania (NAC).



Os livros são doados pela Imprensa Oficial para a biblioteca da Santa Casa, que também recebe carrinhos de leitura para que os exemplares possam ser levados às salas e corredores do hospital. A maior demanda é no setor pediátrico, que recebe o carrinho duas vezes por semana. “Nosso público é formado por crianças e adolescentes. Levamos o carrinho para um espaço onde as crianças que podem sair do leito se reúnem para ouvir histórias e ler. Os pacientes que estão mais debilitados e não podem sair recebem os livros no leito para fazermos as mesmas atividades. É um momento importante, pois podemos interagir com as crianças e com os pais e ajudá-los a relaxar um pouco durante o período de internação”, diz Regina Coimbra, responsável pela biblioteca da Santa Casa.

Descontração – A chegada do carrinho é um dos momentos mais esperados da semana. As crianças já estão sentadas nas cadeirinhas coloridas, algumas acompanhadas dos pais. As meninas, que são a maioria, escolhem livros de princesas. Depois da leitura, cada uma pode buscar o livro que quiser e ler. Quem não consegue pede ajuda. O importante é que ninguém fique sem uma história para ler ou ouvir. Algumas crianças estão internadas há dias ou meses, e por isso toda a rotina da família muda também.

“É importante termos um momento desses para as crianças, pois elas ficam mais alegres, conhecem outras crianças, brincam e se divertem. É bom vê-las se distraindo, pois a doença afeta tanto a mente dos pais quanto a dos filhos. O que mais nos abate é vê-los doentes, e nesse momento especial a gente percebe que eles esquecem a dor”, diz Josefa Fonseca, 32, mãe de Leno Fonseca, 1 ano, que passa pela segunda internação.

A chegada dos livros e do carrinho da Imprensa Oficial possibilitou a ampliação do trabalho de leitura, que já é desenvolvido há dez anos pela pedagoga da Santa Casa, Silvia Lobato. “Pela leitura trabalhamos com a imaginação, sentimentos, questões culturais e comportamento, pois algumas destas crianças têm um rompimento cultural e familiar quando chegam aqui. A leitura é uma porta para várias aprendizagens e uma forma de terapia. A gente percebe que elas conseguem aceitar mais a presença dos médicos e do tratamento”, explica a pedagoga, que é responsável em ler e contar as histórias.

Elton Ribeiro de Souza, 36, veio de Santarém com a filha Natalia Santos de Souza, 10, em busca de atendimento. Ele foi encaminhado diretamente ao setor pediátrico da Santa Casa e descobriu que o local oferece muito mais do que o tratamento tradicional. “Gostei da rapidez com que ela foi internada aqui, e além das opções de tratamento, a gente tem esse momento de lazer, que é muito importante. Converso muito com ela, distraio, leio, e isso evita a depressão. Ficar longe de casa é difícil”, diz Elton, que está há quase uma semana fora de casa, mas fica feliz ao ver a filha se interessar pelos livros e histórias.

Princesas – Elilde Miranda, 10, gosta de princesas, de pintar, das cores azul, vermelha e marrom. Gosta de pegar e folhear cada livro e imaginar as histórias. Ela tem dificuldades de leitura, mas não se intimida com o desafio, assim como a pequena Sandy Brandão, 11, que adora livros com bichinhos, caça-palavras e os gibis da Turma da Mônica, onde se diverte vendo o Cebolinha aprontar e fugir da Mônica. “Gosto muito de vir aqui e de ler. Não sei ler muito bem ainda, mas gosto dos livros e das histórias. Já sei várias letras e números e minha mãe sempre me ajuda bastante”, diz Sandy, que também adora vermelho e a roupa da Mônica.

“Gosto das princesas e de como contam as histórias para nós. É legal vir aqui, pegar os livros e também olhar para a janela. Dá para ver quase toda cidade, e a gente se sente um pouco melhor”, diz Elilde, referindo-se à imensa porta de vidro do salão localizado no sétimo andar do hospital. De lá, ela e a mãe olham juntas e imaginam quando voltarão para Barcarena. Enquanto isso não acontece, Cinderela e tantas outras princesas esperam por elas na estante de livros.

O projeto Livro Solidário é desenvolvido pela Imprensa Oficial em parceria com o Núcleo Articulação e Cidadania, que leva livros recebidos por doação às mais diversas instituições, como escolas, hospitais, casas penais e associações comunitárias. Os materiais são selecionados e recebem tratamento adequado para chegar em perfeito estado ao destinatário. Esta semana começou uma série de entregas de livros para os hospitais parceiros do projeto. Ao todo, oito hospitais receberão o acervo, que tem como objetivo incentivar a leitura e celebrar o Dia Nacional do Livro Infantil, comemorado na segunda-feira (18/4).

Segundo a coordenadora do Livro Solidário, Carmen Palheta, a finalidade das doações é aumentar e renovar o acervo de livros nos carrinhos de leitura e nas brinquedotecas das instituições de saúde que desenvolvem a terapia da leitura. “Essa é uma atividade que está sendo aplicada em vários hospitais como alternativa para abrandar o tempo de espera ou internação dos pacientes e parentes, além de estimular o hábito da leitura. É uma experiência que envolve também diversos órgãos que participam do projeto colaborando com doações de material e livros”, explica.

Transcrito de Agência Pará de Notícias - 16/04/2016

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