sexta-feira, 27 de maio de 2016

Como o mercado editorial passa pela crise no Brasil

Tatiana Notaro

Nem o mercado editorial deixou de ser abatido pela crise pela qual passa o País, que atinge as finanças públicas e o consumo das famílias. O fardo é grande para as maiores empresas do setor, cujo maior cliente é o Governo Federal e seu Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que estava com dificuldades para quitar a encomenda de mais de 120 milhões de livros para 2016.

Do outro lado, as editoras “independentes” têm passado quase incólumes, já que dependem do cliente e da sua vontade de adquirir o livro, mesmo em condições financeiras adversas. Os formatos artesanais e informais são o diferencial na contenção de custos que garante essa curva ascendente, no assunto que volta à tona hoje, quando se comemora o Dia Mundial do Livro, instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), desde 1995.



Sócia-editora da Livrinho de Papel Finíssimo, Sabrina Carvalho diz que o mercado independente já está consolidado no País. “Desde Frei Caneca que já se editava de forma independente em Pernambuco. Não inventamos a roda, mas já somos relativamente antigos nesse mercado”, comenta sobre a empresa que completa 10 anos em 2017, com 120 títulos publicados.

O cunho pouco comercial, que não faz da curadoria uma ferramenta econômica, também movimenta o setor. “As pessoas descobrem que podem se publicar e que isso é mais possível que impossível”, diz. Existem formatos como “orçamento” ou “parceria”, além do serviço de “assessoria editorial”.

O movimento cartonero surgiu, em 2003, em uma Argentina em crise. O preço do papel levou ao uso do papelão reciclado e isso não só foi um enfrentamento ao problema como movimentou a atividade de catadores, de onde surgiram grupos como Dulcinea Catadora (SP) e Severina Catadora (PE). O formato, utilizado hoje pela editora Mariposa Cartonera, tem resultados reais: o livro “aDeus”, do poeta Miró da Muribeca, lançado em 2015 já está próximo dos 3 mil exemplares vendidos.

“É o mais vendido até agora. Trabalhamos com pequenas tiragens. Custam entre R$ 15 e R$ 20“, diz o editor do selo, Wellington de Melo. Na Região Metropolitana do Recife, segundo Melo, existem cinco editoras desse tipo; no Estado são 15.

Os números são cruéis com o mercado editorial brasileiro. Se em 2015, a boia de salvação foram os livros de colorir, que evitaram a queda de faturamento do segmento, o primeiro “Painel de Vendas de Livros de 2016” (divulgado pelo Sindicato Nacional dos Editores/ Nielsen) mostra alta desse quesito no início do ano com relação ao mesmo período passado: as receitas saltaram de R$ 145,061 milhões para R$ 166,678 milhões.

O volume de exemplares, no entanto, ficou quase estável. Além do encarecimento do livro, pesaram o curto espaço de tempo do início do ano à volta às aulas. Até as livrarias - que ficam com entre 30% e 50% do valor da capa - estão desenvolvendo caminhos exclusivos para o produto alternativo, com estabelecimentos que mantêm o preço acessível.

“Temos a Tatuí, a Patuá. Mas, no Recife, ainda não existe”, acrescenta Sabrina. Trata-se de um mercado que trabalha em parceria. “Estou editando um livro com um parceiro de Porto Alegre, que sairá com selo das duas editoras”, diz.

Transcrito de http://www.blogdogaleno.com.br/2016/04/27/como-o-mercado-editorial-passa-pela-crise-no-brasil

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