Do final da década de 1980 até 2013, Clarice Lispector ficou praticamente esquecida pelos leitores alemães. Foi daí que a Schöffling & Co publicou O lustre, que ganhou grande repercussão e foi eleito como um dos melhores livros do ano por um programa de rádio. Em poucos dias, a editora viu a tiragem de três mil exemplares se esgotarem nas livrarias alemãs. O sucesso fez a Schöffling investir na compra de outros dois títulos que saíram agora, em fevereiro: A hora da estrela, traduzida por Luis Rubi (que também traduziu O lustre), e Perto do coração selvagem, romance de estreia da autora, traduzido por Ray-Güde Mertin e Corinna Santa Cruz.
A biografia de Clarice, escrita por Benjamin Moser, também é publicado pela Schöffling e a editora está em negociações avançadas para publicar Todos os contos, coletânea organizada por Moser apontada pelo New York Times como um dos melhores livros de 2015 e que ganhará sua versão brasileira pela Rocco.
A editora recebeu, na manhã desta segunda-feira (22), a visita de uma missão de editores independentes brasileiros que estão na Alemanha durante essa semana para uma série de encontros com o objetivo de estreitar as relações entre os dois países. O grupo de editores está no País a convite do governo alemão e ciceroneado pela Feira do Livro de Frankfurt. A missão é composta por Arnaud Vin (Grupo Autêntica), Beatriz Nunes de Sousa (Tordesilhas / Alaúde), Daniel Pellizari (Estação Liberdade), Isabel Diegues (Cobogó), Isabella Santiago (Zahar), Iuri Pereira (Hedra), Maria Warth (Pallas) e acompanhada pelo PublishNews.
Além de ser a casa de Clarice Lispector na Alemanha, a Schöffling é conhecida por duas linhas editoriais bastante distintas. A primeira, uma coleção de calendários com citações literárias, em especial uma linha que traz gatos estampados. As “folhinhas” são responsáveis por financiar a segunda, com títulos literários, de ensaios e de memórias do Holocausto. Em média, a casa publica 25 títulos por ano, mais três ou quatro calendários.
Sabine Baumann, editora da Schöffling, foi quem recepcionou os editores brasileiros e a eles indicou um dos livros do catálogo da Shöffling. Lançado em 2011, Kaiserhofstraße 12, de Valentin Senger, conta a história de um homem judeu que, durante o Holocausto, esconde as suas origens e finge não ser judeu. O título integrou o festival One city, one book, que convidou todos os moradores de Frankfurt a fazerem uma leitura compartilhada da obra. “Durante o festival, fizemos tours guiados passando pelos endereços citados no livro. Ao fim, as pessoas perguntavam excitadas qual seria o próximo livro”, lembrou Sabine.
Reflexos da homenagem ao Brasil na Feira de Frankfurt
Depois do encontro com a equipe da Schöffling, os editores brasileiros fizeram uma reunião com Michael Kegler, que se apresentou como “tradutor e divulgador de literaturas de língua portuguesa” na Alemanha. Na contabilidade de Michael, em 2011, quando começou a desenhar a homenagem do Brasil na Feira do Livro de Frankfurt, havia 60 títulos de autores brasileiros traduzidos para o alemão. Mais da metade, eram livros de Paulo Coelho. A outra metade, eram clássicos ou livros fora do catálogo. O cenário mudou no ano seguinte. “Com o apoio do Programa de Tradução da Biblioteca Nacional, entre 2011 e 2013, esse número dobrou. Os números divergem um pouco, mas foram algo entre 50 e 70 títulos lançados nesse período”, disse Michael.
O tradutor, no entanto, lamenta que, no ano seguinte, esse número caiu praticamente a zero. Em 2014, foram publicados na Alemanha O mundo inimigo, de Luiz Ruffato, pela Assoziation A; o e-book Bandeira negra, amor, de Fernando Molica, pela Edition Diá, e Noites de alface, de Vanessa Bábara, pela A1 Verlag. “Estamos cientes que nunca mais vamos chegar aos números de 2013, mas se chegar a dez títulos por ano já é um sucesso”, disse. “Dois mil e treze [ano em que o Brasil foi homenageado] foi muito bom. O problema foi a falta de continuidade”, observou o tradutor.
Em 2015, o número voltou a crescer. Foram publicadas traduções de livros de André Sant´Anna, Beatriz Bracher, Caio Fernando Abreu, Carola Saavedra, Daniel Munduruku, Luiz Ruffato, Marcelo Pimentel e Vanessa da Matta.
“Carola Saavedra, por exemplo, é um caso raro de escritora brasileira que chegou a ter um segundo título publicado na Alemanha [em 2013, publicou Paisagem com dromedário e em 2015, Flores azuis]. Hoje ela já não é conhecida como ‘autora brasileira’ e sim como ‘escritora’. Temos que sair dessa bolha de ser literatura brasileira e passar a ser literatura universal”, defendeu Michael.lemanha
Transcrito de Leonardo Neto - Publishnews
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