sexta-feira, 6 de maio de 2016

Afastamento de Cunha é mais um lance do golpe midiático judiciário

Renato Rovai

Depois de fazer o que se esperava dele, coordenar o processo de impeachment de Dilma, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foi afastado do mandato e do cargo pelo ministro do Supremo Teori Zavascki.

Antes se assegurou que nada iria dar errado. Esperou-se que o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), um golpista que não se intimida de ter praticado as mesmas ações administrativas que estão levando Dilma ao impeachment quando era governador do seu estado, fizesse um relatório condenando-a.

Golpes midiático-legislativo-judicial exigem criminosos competentes

Esperou-se também que não houvesse risco algum de que a ampla maioria do Senado estivesse no barco do impeachment de Dilma, para tirar Cunha do cargo e do mandato.

Mas engana-se quem acha que Cunha será o único.

A suspensão do seu mandato por Teori permite ter alguma clareza sobre as características do golpe em curso.

É um golpe midiático judicial, como já escrito aqui no dia condução coercitiva de Lula.

Os políticos estão apenas fazendo parte do trabalho sujo, mas muitos serão presos e perderão seus cargos neste processo. Como em todos os golpes.

Carlos Lacerda achava que iria se tornar presidente com a queda de Getúlio, mas foi assassinado pela ditadura.

Outra ação que fica muito clara com essa ação espetacular contra Cunha, no dia que ele seria julgado pelo pleno do STF, é que vem chumbo quente contra Lula e Dilma.

Não haveria como prender Lula e deixar Cunha dando as cartas no governo Temer.

E ao mesmo tempo entregar a cabeça do presidente da Câmara é fundamental para que a Lava Jato possa continuar operando sua justiça seletiva. E vá pra cima de novos alvos. o jornalista Luis Nassif já falou que na lista dos procuradores estão advogados e blogueiros.

Qual a participação de Michel Temer nessa armação toda? Certamente não é pequena, mas ainda não se sabe o seu alcance. Temer parece um membro ativo do golpe, mas ao mesmo tempo um pato manco. Que terá de fazer o serviço que lhe for dado, para também não ser golpeado.

Ao denunciar Aécio, Dilma, Lula e uma série de ministros, deputados e senadores, Rodrigo Janot preservou Temer. E com isso também deu dois sinais.

O primeiro é o de que faz o que bem entende com as denúncias que lhe chegam.

O segundo é que Temer está nas suas mãos e precisará dançar o samba que lhe convier.

A república midiática judiciária ainda está dando os seus primeiros passos. Mas não é mais possível apenas assistir o que virá. Talvez seja o momento de ações políticas internacionais mais radicais.

Talvez seja mesmo o caso de Lula e Dilma pedirem asilo e denunciarem que o Brasil é vítima de um golpe de Estado onde o direito de defesa não é mais uma garantia cidadã. E que com base em peças kafkianas pessoas estão sendo encarcerados sob os holofotes midiáticos.

Não só Dilma e Lula, aliás.

Mesmo Renan Calheiros deveria ficar esperto. Ele também corre riscos. Como boa parte dos deputados, senadores, governadores e prefeitos.

A tal mão forte da justiça vai pesar contra quem se colocar em sua frente e contrariar seus canhões, como a Globo.

Dá muita vontade de gritar chupa Eduardo Cunha, mas infelizmente o que seu afastamento prenuncia é algo muito pior do que a sua índole, sua história e sua folha corrida.

Transcrito de http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2016/05/05/afastamento-de-cunha-e-mais-uma-prova-do-golpe-midiatico-judiciario/

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