O ano de 2007 marcou profundamente o setor de tecnologia, com o surgimento de duas categorias de produtos que prometiam mudar o mundo. Enquanto em Cupertino, na Califórnia, Steve Jobs apresentava a primeira versão do iPhone, em outra cidade norte-americana, Seattle, Jeff Bezos, o bilionário por trás da gigante do comércio eletrônico Amazon, se aventurava no mundo do hardware ao lançar um dispositivo para leitura, o Kindle.
Os meses seguintes foram de histeria no mercado. A Apple vendeu 700 mil unidades de seu smartphone somente no primeiro final de semana. Aos poucos, o dispositivo – com tela sensível ao toque e aplicativos que o transformaram em um “canivete suíço” – mostrou que tomaria o lugar do celular tradicional. Da mesma forma, o apetite dos consumidores de livros pelo Kindle e seus e-books era voraz e sinalizava que aquele pequeno dispositivo poderia marcar o início do fim da era do livro impresso.
Quase dez anos depois, só uma das profecias de fato se cumpriu. Segundo dados da consultoria Euromonitor, o número de leitores eletrônicos vendidos no mundo caiu 5,8% em 2015, na comparação com 2014, para pouco mais de 17 milhões de unidades. Isso representa menos da metade do volume de vendas desses produtos no varejo global durante o “boom” das vendas, que ocorreu em 2012. Na época, segundo dados de outra consultoria, a GfK, foram vendidos 40 milhões de unidades de e-readers em todo o mundo.
As perspectivas para os próximos anos são ainda mais sombrias. A expectativa da Euromonitor é de que as vendas globais encolham para 12,7 milhões de unidades em 2020, o que vai representar uma redução de 25,3% no volume de vendas em relação a 2015. As perspectivas, porém, parecem não amedrontar as fabricantes, que ainda apostam no poder de atração dos e-readers para um nicho lucrativo: o de leitores ávidos por compras livros – sejam impressos ou digitais.
É por isso que, na semana passada, a Amazon anunciou a oitava geração do Kindle. O produto ganhou design mais ergonômico, ficou mais leve e fino e a bateria – que já durava seis semanas – foi expandida por meio de uma capa protetora. As mudanças, embora não incluam grandes inovações, tornam a experiência de leitura mais agradável. “Nosso negócio é o livro”, disse o gerente geral do Kindle no Brasil, Alexandre Munhoz, ao Estado. “Vale a pena investir em um hardware, porque sabemos que as pessoas leem mais livros quando usam o Kindle.”
A estratégia não é exclusiva da Amazon. A canadense Kobo, por exemplo, lançou um leitor digital à prova d’água no final do ano passado. “As vendas estacionaram depois de 2012, mas não vejo queda”, diz Samuel Vissotto, diretor geral da Kobo na América Latina. “Os leitores assíduos preferem o e-reader.”
Embora as principais fabricantes invistam em lançar novas versões do e-reader, algumas empresas ganham dinheiro com o segmento há anos com a mesma versão do produto. É o caso da Livraria Saraiva, que colocou o e-reader Lev no mercado em agosto de 2014 e mantém o mesmo modelo na prateleira até hoje. “As vendas se sustentaram, mas não são exponenciais”, diz o gerente de produtos digitais da Saraiva, Gustavo Mondo.
Mais do que evolução tecnológica, o futuro do e-reader depende que os leitores ávidos de livros se mantenham fiéis à plataforma, sem se deixarem seduzir por outras plataformas mais cômodas, como a tela do smartphone. Essa briga, porém, está cada vez mais difícil de vencer. Na Kobo, por exemplo, 75% do tempo dos leitores é dedicado a ler via aplicativos da plataforma, contra 25% por e-readers.
Transcrito de Claudia Tozetto, O Estado de S. Paulo - 18/04/2016
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