quinta-feira, 28 de maio de 2015

Editorial: De Shakespeare à Feira do Escambo, da solidão estúpida à diversidade

Esta edição do Leituras mil destaca a aula do Professor Leandro Karnal na TV Leituras, de Shakespeare, dramaturgo inglês da passagem dos séculos XVI e XVII comparado ao olhar da cultura brasileira. Filósofo culto que nos faz pensar sobre as ‘pessoas felizes’ porque sem alma, vontade e coragem, identificando situações cotidianas onde o encontro com nossas debilidades se mostra imperioso. Desse mergulho inevitável, emergimos para a Feira do Escambo, liderada por Lia Testa, com trocas de momentos da manhã e da noite, de abraços, de leituras de prosa e verso, de livros e outros objetos cotidianos, que nos levam a trocas reais, das triviais às significativas.

Nos Debates, é possível conhecer as 18 razões para ser contra a redução penal e dezenas de outras para desejar a maioridade intelectual da maior parte dos legisladores. Em Destaque a campanha ‘2015 – ano internacional da luz’ da UNESCO, buscando esperanças e luzes em tempos de ódio cinzento. O teólogo Leonardo Boff sugere uma reflexão em busca de recomeço entre os agentes políticos em cena, em Ensaios. Em Notícias, Fernando Morais, jornalista e autor consagrado critica a leitura invisibilizadora e discricionária de O Globo sobre um acidente, sobre a conversa do Papa Francisco com a esposa do pedagogo Paulo Freire, denuncia o racismo dos filhos de imigrantes no Brasil contra haitianos, aqui acolhidos como eles foram nos séculos XIX e XX, e a morte do matemático John Nash, torturado pelos efeitos da esquizofrenia, que lutou para amar sua mulher e filho, até ganhar um Nobel, cuja história ficou registrada no filme Uma Mente Brilhante, no Clássicos do Cinema. Vem ainda uma Resenha de livro sobre o clássico Cem Anos de Solidão, do também Nobel Gabriel Garcia Márquez, uma Imagem da busca de horizontes e o olhar jovem pintado no muro em O Prazer da Leitura.

E por último, o aviso de que paralisamos as postagens, seguindo o ritmo da greve.

Press Release 036 – 28 de maio de 2015

Editorial
   De Shakespeare à Feira do Escambo, da solidão estúpida à diversidade - http://bit.ly/1QdRp45

Debates
   Conheça 18 razões para ser contra a redução da maioridade penal - http://bit.ly/1QdR9Cb

Destaque
   UNESCO – 2015 – ano internacional da luz - http://bit.ly/1GHTAfx

Ensaio
    Sempre é possível uma auto-correção e um recomeço, com Leonardo Boff - http://bit.ly/1J6b1bk

Notícias
   Papa recebe viúva de Paulo Freire e diz que ‘Pedagogia do Oprimido’ - http://bit.ly/1EBobFA
   Jornalista e escritor brasileiro critica a leitura discricionária de O Globo - http://bit.ly/1FjGsbV
   O racismo dos filhos de imigrantes no Brasil contra haitianos - http://bit.ly/1FQVABf
   Morre John Nash, o matemático que inspirou o filme ‘Uma mente brilhante’ - http://bit.ly/1EBnVpX

Clássicos do Cinema
   Uma mente brilhante - http://bit.ly/1EBnOuu
   Cine Clube UFT - O AntiCristo - http://bit.ly/1cXPoMK

Resenha de Livro
   Cem anos de solidão - Gabriel Garcia Márquez - Katiuscia de Sá - http://bit.ly/1QdRhl2

Eventos UFT
   Escambo - http://bit.ly/1FL7qNx

Imagem
   Luz que indica caminhos - http://bit.ly/1FQVSIr
   Feira do Escambo - http://bit.ly/1Rsese1

O Prazer da Leitura
   O olhar no muro - http://bit.ly/1Kstg8j

TV Leituras
   Hamlet de Shakespeare e o mundo como palco, com Leandro Karnal - http://bit.ly/1GHTCEi
   Feira do Escambo na UFT – Araguaína, com Lia Testa - http://bit.ly/1d2x7Oe

Prof. Dr. Antonio Carlos Ribeiro
Pós-Doutorando – UFT/PPGL
Editor

Se desejar ler os demais Press Release, clique em http://bit.ly/1E35ugR

Escambo

Este evento promovido pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), campus Araguaína, Unidade Cimba, proporciona uma tentativa de "burlar" o consumo desenfreado, nos possibilitando apenas negociar à base de troca. Além disso, é um momento de integração entre os diversos cursos da UFT, entre alunos e professores ou entre as mais diferentes pessoas que por ali passarem com este espírito de trocar coisas, que podem ser materiais ou imateriais. 



Das trocas matérias e imateriais: diversas coisas e objetos podem ser trocados, por exemplo, livros, revistas, artigos de vestuários e diferentes objetos de uso pessoal e cotidiano. 

Das trocas imateriais teremos: troca de leituras poéticas e artísticas, trocas musicais, troca de diferentes recadinhos e trocas de imagens fotográficas. A feira também conta com a parceria do Observatório de Leitura que na ocasião estará realizando algumas atividades também.

Esta Feira também tem como intuito aproximar as pessoas e ser um evento bastante divertido, animado e que possa trazer, quem sabe, um outro olhar para as nossas futuras gerações.

O evento foi oganizado pela Profa. Dra. Eliane Testa, do Curso de Letras, e acadêmicos do 5º período (matutino) e 6º período (noturno) de Letras e o Diretório Acadêmico da UFT.

Feira do Escambo




 






































UNESCO – 2015 – ano internacional da luz



Ao proclamar um Ano Internacional com foco na ciência óptica e em suas aplicações, as Nações Unidas reconhecem a importância da conscientização mundial sobre como as tecnologias baseadas na luz promovem o desenvolvimento sustentável e fornecem soluções para os desafios mundiais nas áreas de energia, educação, agricultura, comunicação e saúde.http://bit.ly/ano_luz — com Associação Ambcv Lumiar, Español Intensivo Ecuador, Voluntariado Hospitaleiro Csnsc, Afectos Voluntariado, Afectos Pra Vida Associação, Jose Martinho, Bairros De Lisboa Vários, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Voluntários-Amigos Da Aahsm Lisboa, Utentes Transportes da Carris, Voluntários Proteção Civil Telheiras, Jornal Autarquias e Horticultura Sustentável Wakeseed. 

Hamlet de Shakespeare e o mundo como palco, com Leandro Karnal

Destacamos a fala do filósofo Leandro Karnal sobre 'Corrupção' (31:50 - 33:48)

  

Feira do Escambo na UFT – Araguaína, com Lia Testa

Palavra da coordenadora do evento, Profª Lia Testa


Uma mente brilhante

Homenagem a John Nash, um matemático prolífico e de pensamento não convencional, que consegue sucesso em várias áreas da matemática e uma carreira acadêmica respeitável. Após resolver na década de 1950 um problema relacionado à teoria dos jogos, que lhe renderia, em 1994, o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, Nash se casa com Alicia.

Após ser chamado a fazer um trabalho em criptografia para o Governo dos Estados Unidos, Nash passa a ser atormentado por delírios e alucinações, sendo diagnosticado como esquizofrênico.

O roteiro foi baseado no livro homônimo de Sylvia Nasar, uma biografia muito precisa e abrangente da vida de Nash, adaptado por Akiva Goldsman e produzido por Ron Howard e Brian Graze.


Morre John Nash, matemático que inspirou o filme “Uma Mente Brilhante”

O matemático John Forbes Nash Jr, de 86 anos, que inspirou o filme “Uma mente brilhante”, morreu em um acidente de carro em Nova Jersey, nos Estados Unidos, no sábado (23). Ele estava em um táxi com sua esposa, Alicia Nash, de 82 anos, que também morreu.



Eles estavam em um táxi quando o motorista perdeu o controle do carro e bateu em uma mureta, informou Gregory Williams, sargento da polícia de Nova Jersey, segundo a ABC News. Eles moravam em Princeton.

Nash ganhou o prêmio Nobel de economia em 1994 e trabalhou como pesquisador sênior de matemática na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.

Russell Crowe interpretou Nash em 2001 no filme “Uma mente brilhante” e mostrou a esquizofrenia do matemático, que causava um comportamento paranóico.

O filme ganhou 4 estatuetas no Oscar, em 2002: melhor filme, diretor, melhor atriz coadjuvante e roteiro adaptado.

No Twitter, Crowe escreveu: “Atordoado…..meu coração vai para John, Alicia e família. Uma parceria incrível. Mentes bonitas, corações bonitos”.

No início da semana, Nash estava na Noruega para receber o prêmio Abel para a matemática.  O prêmio é oferecido pela Academia Norueguesa de Ciências e Letras, que reconheceu o trabalho de Nash em equações diferenciais parciais.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/morre-john-nash-matematico-que-inspirou-o-filme-uma-mente-brilhante/

O racismo dos filhos de imigrantes no Brasil contra os haitianos

Túlio Milman

É estarrecedor. Netos e bisnetos de imigrantes torcendo o nariz para a imigração haitiana. Ainda mais no Brasil. Ainda mais no Rio Grande do Sul. Durante a semana, ao apoiar o acolhimento aos caribenhos, ouvi de tudo. “Ignorante, mal-informado, mal-intencionado.” Senti vergonha de ler o que li e de ouvir o que ouvi. Não por mim. Estou acostumado às críticas. Senti vergonha pelo passado. Talvez porque conheça bem duas histórias.



A primeira é do Haiti contemporâneo. Estive lá duas vezes na condição de jornalista. Em 1995, pensei: “Impossível piorar”. Quando voltei, em 2009, vi que eu estava errado assim que desembarquei em Porto Príncipe.

A segunda história que conheço bem é a da minha família – a mesma das famílias de milhões de gaúchos. Imigrantes miseráveis, sem dinheiro e cheios de esperança que cruzaram o mar e o mundo em busca de uma nova vida. Aqui chegaram, aqui foram acolhidos, aqui viraram iguais aos outros e iguais entre si.

Os tempos eram outros, argumentam. Sim, eram outros. Mas os dramas e a essência das pessoas são os mesmos. É o ângulo pelo qual enxergo a questão. O direito à liberdade é o mesmo. O sonho é o mesmo.

Quando os europeus chegaram, faltava mão de obra. Hoje, sobra. Mesmo assim, é impossível que um país tão grande não consiga organizar esse novo fluxo imigratório.

Criar incentivos para a colonização de áreas menos habitadas, estimular o preenchimento de vagas em locais onde elas estão disponíveis.

Há uma outra questão camuflada nesse debate. Camuflada, mas fundamental. O racismo. Se os novos imigrantes que chegam ao Brasil e ao Rio Grande fossem loiros de olhos claros, a celeuma seria bem menor. Mas são negros, são pobres, são sós. Têm nomes estranhos e falam uma língua estranha, o creole.

Outro dia, fui abastecer meu carro em um posto de Porto Alegre. A frentista era haitiana. Orgulhosa por estar trabalhando. Vi o brilho no olho dela. Me lembrei dos meus avós. E saí me perguntando como seres humanos podem esquecer tão rapidamente das suas próprias trajetórias.

O Haiti não é aqui.

Aqui é o Brasil.

Não temos o direito de negar a essa gente as oportunidades que nossas famílias tiveram em um passado não tão distante. Nem que tenhamos que nos sacrificar um pouco mais para isso.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-racismo-dos-filhos-de-imigrantes-no-brasil-contra-os-haitianos/

Fernando Morais e as babás que não têm nome

Fernando Brito

No Facebook, o escritor Fernando Morais chama a atenção para o "infográfico" que O Globo publica na cobertura – que virou novela – do acidente – felizmente sem graves consequências – do apresentador Luciano Huck e sua família.



Como você vê, todas as pessoas que estavam no avião e que correram riscos iguais não são iguais.

A família Huck e os pilotos têm nome, as babás, não, embora, provavelmente, tenham pais, mães, irmãos e, talvez, filhos.

Não se chamam Helena, Maria, Antônia, nem mesmo Cleide ou Dilcéia.

Aliás, em poucos lugares, entre eles o boletim médico da Santa Casa, pode se saber que se chamavam Marciléia Garcia e Francisca Mesquita.

Embora suas vida valham tanto quanto a de qualquer outro, que merece ser identificado por seu nome.

O anonimato das babás é um ato falho do pensamento elitista que toma conta, inconscientemente, de nossos profissionais de imprensa.

Como toma conta das mentes de todos os que orbitam a elite dominante, seja econômica, seja (aspas necessárias) "culturalmente".

Quem puder achar, leia o livro "A história de Garabombo, o Invisível", do magnífico Manoel Scorza, peruano que se dedicou a contar a vida e a luta dos descendentes dos pré-colombianos do altiplano andino.

E como e por que era invisível aquele índio, que servira, porém, ao Exército peruano, onde acabara, por motivo fútil, mofando numa prisão?

Uso os excertos do ótimo trabalho de Elda Firmo Barros, da Universidade Federal Fluminense, para explicar.

− Não me viram. − Mas eu vejo você! − É que você tem nosso sangue, mas os brancos não me vêem. Passei sete dias sentado na porta da repartição. As autoridades iam e viam, mas não olhavam para mim. (...) Na prisão, compreendera a verdadeira natureza de sua doença. Não o viam porque não queriam vê-lo. Era invisível como eram invisíveis todas as reclamações, os abusos e as queixas.

Talvez, porém, eles tenham um momento em que são vistos: aquele em que votam.

E, por isso, neste momento, não lhes são indiferentes. Mas são odiados.

http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/182468/Fernando-Morais-e-as-bab%C3%A1s-que-n%C3%A3o-t%C3%AAm-nome.htm

Papa recebe viúva de Paulo Freire e diz que ‘Pedagogia do Oprimido’

Ana Maria Araújo foi recebida por Francisco em uma audiência privada; no encontro, ela entregou uma carta na qual elogia o papado e pede ajuda para que sejam abertos os arquivos do Vaticano, na tentativa de compreender qual a influência das ideias de Freire nos pontificados



A viúva do educador Paulo Freire (1921-1997), Ana Maria Araújo Freire, foi recebida pelo papa Francisco em uma audiência privada no Vaticano. O encontro teria durado cerca de 40 minutos. Segundo o relato de Nita, como é conhecida, Francisco afirmou já ter lido “Pedagogia do Oprimido”, a obra mais famosa de seu marido.

Na audiência, que teria ocorrido no último mês, ela entregou uma carta na qual elogia o papado e pede ajuda para que Francisco interceda junto a sacerdotes (“sobretudo dominicanos, salesianos e jesuítas”) para que cedam cartas que receberam de Paulo Freire sobre a Teologia da Libertação – corrente de origem latino-americana que defende uma igreja voltada aos mais pobres.

Ela também pediu que, se possível, fossem abertos os arquivos do Vaticano para que soubessem qual a influência das ideias de Freire nos pontificados, a partir da publicação de Pedagogia do Oprimido, em 1970. As informações foram publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo nesta segunda-feira (25).

Legado para a educação

Nascido em 1922 na cidade de Recife (PE), Paulo Freire se tornou o mais célebre educador brasileiro, tendo sido nomeado Doutor Honoris Causa de 28 universidades pelo mundo, como Harvard, Cambridge e Oxford, com obras traduzidas em mais de 20 idiomas.

Conhecido pelo método de alfabetização de adultos que leva o seu nome, Freire criticava os meios de ensino oferecidos pela maioria das escolas (chamados de “educação bancária”), em que a educação é vista como algo alienante, que não busca desenvolver o espírito crítico dos alunos. Assim, passou a defender a necessidade de empoderamento dessas pessoas, por acreditar no conhecimento como forma de libertação das opressões sociais.

Segundo ele, o ensino deveria habilitar o estudante a “ler o mundo”, na famosa expressão do educador, para que possa transformar a realidade em que vive e lutar contra as injustiças a que muitos são submetidos. Desde 2012, Freire é considerado o Patrono da Educação Brasileira.

http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/05/papa-recebe-viuva-de-paulo-freire-e-diz-que-leu-pedagogia-do-oprimido/

Conheça 18 razões para ser contra a redução da maioridade penal

Depois de três sessões interrompidas na semana passada, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara definiu que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 171/93, que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos, será colocada em votação sem mais debates nesta terça-feira, dia 31. A mudança é defendida por deputados da bancada evangélica, PSDB, DEM e a maioria dos deputados do PMDB.



Tema de luta histórica de entidades governamentais e não governamentais, a redução da maioridade penal deve ter suas consequências debatidas pela sociedade civil. Apontando para essa questão, o Movimento Contra a Redução da Maioridade Penal – que reúne 150 organizações de diferentes partes do país - publicou um manifesto com “18 Razões Para a Não Redução da Maioridade Penal”.

Veja algumas delas a seguir:

1°. Porque já responsabilizamos adolescentes em ato infracional

A partir dos 12 anos, qualquer adolescente é responsabilizado pelo ato cometido contra a lei. Essa responsabilização, executada por meio de medidas socioeducativas previstas no ECA, têm o objetivo de ajudá-lo a recomeçar e a prepará-lo para uma vida adulta de acordo com o socialmente estabelecido. É parte do seu processo de aprendizagem que ele não volte a repetir o ato infracional.

Por isso, não devemos confundir impunidade com imputabilidade. A imputabilidade, segundo o Código Penal, é a capacidade da pessoa entender que o fato é ilícito e agir de acordo com esse entendimento, fundamentando em sua maturidade psíquica.

2°. Porque a lei já existe, resta ser cumprida

O ECA prevê seis medidas educativas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. Recomenda que a medida seja aplicada de acordo com a capacidade de cumpri-la, as circunstâncias do fato e a gravidade da infração.

Muitos adolescentes, que são privados de sua liberdade, não ficam em instituições preparadas para sua reeducação, reproduzindo o ambiente de uma prisão comum. E mais: o adolescente pode ficar até 9 anos em medidas socioeducativas, sendo três anos interno, três em semiliberdade e três em liberdade assistida, com o Estado acompanhando e ajudando a se reinserir na sociedade.

Não adianta só endurecer as leis se o próprio Estado não as cumpre!

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3°. Porque o índice de reincidência nas prisões é de 70%

Não há dados que comprovem que o rebaixamento da idade penal reduz os índices de criminalidade juvenil. Ao contrário, o ingresso antecipado no falido sistema penal brasileiro expõe as(os) adolescentes a mecanismos/comportamentos reprodutores da violência, como o aumento das chances de reincidência, uma vez que as taxas nas penitenciárias são de 70% enquanto no sistema socioeducativo estão abaixo de 20%.

A violência não será solucionada com a culpabilização e punição, mas pela ação da sociedade e governos nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que as reproduzem. Agir punindo e sem se preocupar em discutir quais os reais motivos que reproduzem e mantém a violência, só gera mais violência.

4°. Porque o sistema prisional brasileiro não suporta mais pessoas

O Brasil tem a 4° maior população carcerária do mundo e um sistema prisional superlotado com 500 mil presos. Só fica atrás em número de presos para os Estados Unidos (2,2 milhões), China (1,6 milhões) e Rússia (740 mil).

O sistema penitenciário brasileiro NÃO tem cumprido sua função social de controle, reinserção e reeducação dos agentes da violência. Ao contrário, tem demonstrado ser uma “escola do crime”.

Portanto, nenhum tipo de experiência na cadeia pode contribuir com o processo de reeducação e reintegração dos jovens na sociedade.

5°. Porque reduzir a maioridade penal não reduz a violência

Muitos estudos no campo da criminologia e das ciências sociais têm demonstrado que NÃO HÁ RELAÇÃO direta de causalidade entre a adoção de soluções punitivas e repressivas e a diminuição dos índices de violência.

No sentido contrário, no entanto, se observa que são as políticas e ações de natureza social que desempenham um papel importante na redução das taxas de criminalidade.

Dados do Unicef revelam a experiência mal sucedida dos EUA. O país, que assinou a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aplicou em seus adolescentes, penas previstas para os adultos. Os jovens que cumpriram pena em penitenciárias voltaram a delinquir e de forma mais violenta. O resultado concreto para a sociedade foi o agravamento da violência.

6°. Porque fixar a maioridade penal em 18 anos é tendência mundial

Diferentemente do que alguns jornais, revistas ou veículos de comunicação em geral têm divulgado, a idade de responsabilidade penal no Brasil não se encontra em desequilíbrio se comparada à maioria dos países do mundo.

De uma lista de 54 países analisados, a maioria deles adota a idade de responsabilidade penal absoluta aos 18 anos de idade, como é o caso brasileiro.

Essa fixação majoritária decorre das recomendações internacionais que sugerem a existência de um sistema de justiça especializado para julgar, processar e responsabilizar autores de delitos abaixo dos 18 anos.

7°. Porque a fase de transição justifica o tratamento diferenciado

A Doutrina da Proteção Integral é o que caracteriza o tratamento jurídico dispensado pelo Direito Brasileiro às crianças e adolescentes, cujos fundamentos encontram-se no próprio texto constitucional, em documentos e tratados internacionais e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Tal doutrina exige que os direitos humanos de crianças e adolescentes sejam respeitados e garantidos de forma integral e integrada, mediando e operacionalização de políticas de natureza universal, protetiva e socioeducativa.

A definição do adolescente como a pessoa entre 12 e 18 anos incompletos implica a incidência de um sistema de justiça especializado para responder a infrações penais quando o autor trata-se de um adolescente.

A imposição de medidas socioeducativas e não das penas criminais relaciona-se justamente com a finalidade pedagógica que o sistema deve alcançar, e decorre do reconhecimento da condição peculiar de desenvolvimento na qual se encontra o adolescente.

8°. Porque as leis não podem se pautar na exceção

Até junho de 2011, o Cadastro Nacional de Adolescentes em Conflito com a Lei (CNACL), do Conselho Nacional de Justiça, registrou ocorrências de mais de 90 mil adolescentes. Desses, cerca de 30 mil cumprem medidas socioeducativas. O número, embora seja considerável, corresponde a 0,5% da população jovem do Brasil, que conta com 21 milhões de meninos e meninas entre 12 e 18 anos.

Sabemos que os jovens infratores são a minoria, no entanto, é pensando neles que surgem as propostas de redução da idade penal. Cabe lembrar que a exceção nunca pode pautar a definição da política criminal e muito menos a adoção de leis, que devem ser universais e valer para todos.

As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com a adoção de leis penais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao crime e à violência.

9°. Porque reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, não a causa

A constituição brasileira assegura nos artigos 5º e 6º direitos fundamentais como educação, saúde, moradia, etc. Com muitos desses direitos negados, a probabilidade do envolvimento com o crime aumenta, sobretudo entre os jovens.

O adolescente marginalizado não surge ao acaso. Ele é fruto de um estado de injustiça social que gera e agrava a pobreza em que sobrevive grande parte da população.

A marginalidade torna-se uma prática moldada pelas condições sociais e históricas em que os homens vivem. O adolescente em conflito com a lei é considerado um ‘sintoma’ social, utilizado como uma forma de eximir a responsabilidade que a sociedade tem nessa construção.

Reduzir a maioridade é transferir o problema. Para o Estado é mais fácil prender do que educar.

10°. Porque educar é melhor e mais eficiente do que punir

A educação é fundamental para qualquer indivíduo se tornar um cidadão, mas é realidade que no Brasil muitos jovens pobres são excluídos deste processo. Puni-los com o encarceramento é tirar a chance de se tornarem cidadãos conscientes de direitos e deveres, é assumir a própria incompetência do Estado em lhes assegurar esse direito básico que é a educação.

As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com adoção de leis penais mais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao crime e à violência.

Precisamos valorizar o jovem, considerá-los como parceiros na caminhada para a construção de uma sociedade melhor. E não como os vilões que estão colocando toda uma nação em risco.

https://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/conheca-18-razoes-para-ser-contra-a-reducao-da-maioridade-penal/

Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez

Katiuscia de Sá

Um casamento fugitivo que dera origem a sete gerações da família “Buendía-Iguarán” é o ponta-pé inicial para abordagens viscerais acerca das relações humanas. Um enlace entre primos legítimos, jovens apaixonados que tinham medo de que seus filhos nascessem com um “rabo de porco”, caso mantivessem relações sexuais. Em meio a esse temor, José Arcadio Buendía rapta e casa-se com sua prima Úrsula Iguarán, dão vida a três filhos saudáveis e sem o tal “rabo de porco”.

Imagens mágicas e poéticas são traduzidas como representações da condição humana, contendo as angústias, revoltas e esperanças dos moradores da cidade fictícia de “Macondo”.
O romance fantástico-realista começa quando “as coisas não tinham nome” e segue até o período da chegada do telefone. José Arcadio Buendía atravessa pântanos, terras encantadas e perigosas para fundar sua própria cidade e ser feliz com sua recém criada família – surge fora do mapa, a mítica cidadela de “Macondo”, onde vez por outra aportavam ciganos trazendo as novidades, estranhezas inventadas por seu povo e notícias do mundo afora.

Um deles – Melquíades, ensina ao patriarca dos Buendía alguns segredos de Alquimia. Os experimentos e invenções dele ficam registrados numa língua estrangeira e dão corpo e vida a um livro velho e inacabado, que no futuro será decifrado por um dos descendentes da sétima geração da família Buendía (um filho bastardo: Aureliano Babilônia). O rapaz virá a receber “aulas” e pistas, diretamente do espectro de Melquíades, para decifrar o enigma contido no acervo. As escrituras contêm a saga de seus antepassados e um segredo profético para a própria linhagem dos Buendía.

Uma narrativa romântica e épica fascinante, caracterizada por alguns estudiosos como uma “enciclopédia do imaginário” e também como “realismo fantástico”. A trama é composta por 28 personagens semi-centrais (linhagem da família Buendía), sendo os patriarcas os principais da saga. As demais histórias giram em torno das personagens-protagonistas – José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán, com tamanha importância quanto.

A maneira fenomenal de (d)escrever e(re)inventar “Macondo” e as personalidades e situações vividas pelos Buendía é o que mais chama atenção. O escritor colombiano Gabriel García Márquez presenteia leitores do mundo inteiro com o dom de sua imaginação e poder simbólico através da escrita, essa é a genialidade e valor inestimável de Cem Anos de Solidão, que foi considerado, em março de 2007, no IV Congresso Internacional da Língua Espanhola, realizado em Cartagena, como a segunda obra mais importante de toda a literatura hispânica, ficando atrás apenas de Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes.

Para penetrar nos segredos contidos em Cem Anos de Solidão, o leitor deverá compreender um pouco sobre a própria história política da Colômbia e do escritor. Gabriel García Márquez utiliza muitas histórias da sua época de infância, contadas pelo seu avô materno (Nicolás Márquez), veterano da “Guerra dos Mil Dias”. Seu avô tinha muitos relatos, fatos… memórias que alimentaram a imaginação do menino Gabriel, que muitos anos depois, ao tornar-se escritor, dissera certa vez: “todo escritor escreve sempre o mesmo livro – o livro de sua própria vida…”. O sobrenome de “Úrsula Iguarán”,  é o sobrenome da mãe de “Gabito” (apelido de García Márquez).

Segredos e fatos memoráveis da infância do escritor são descritos em Cem Anos de Solidão, histórias incríveis narradas de maneira tão sobrenatural com toques de verossimilhança, que o leitor se pega construindo visualmente cenas como borboletas amarelas seguindo os passos de um rapaz por onde quer que ele vá;  a epidemia de “perda de memória”, em decorrência da insônia coletiva que assola os moradores de “Macondo” durante muito tempo; o desaparecimento a olhos vitos de uma moça (“Remédios, a Bela”), que à frente dos seus simplesmente “ascende” aos céus devido uma experiência transcendental… e por aí vai.

O importante na obra é observar como García Márquez coloca as personagens dentro do contexto sociocultural da Colômbia, os personagens carregam pequenas críticas sobre o comportamento social ao longo da história do País latino. Esse aspecto aparece tão sutilmente mascarado pela maneira de escrever, que pouco (ou nada) se percebe. A personalidade da protagonista – a matrona “Úrsula Buendía”, uma mulher forte dos pensamentos e de força física, cuida do lar e da prole com tamanha dedicação e paciência, enquanto o marido largava-se em uma consumida “atividade febril dos nervos” em torno de seus experimentos alucinantes… A mulher da casa e as crianças esqueciam-se a cuidar da horta, cultivando a matéria-prima para o preparo dos bolinhos com os quais Úrsula gerava  a renda da família.



Comportamentos culturais bastante comuns em núcleos campesinos colombianos dão os aspectos de “realidade” dentro do épico, de modo que na vida de García Márquez, tal aspecto foi presenciado no momento em que sua família deixa a cidade de Aracataca para morar em outro lugar, devido à crise nas plantações de banana, desdobramento que afetara a economia local forçando a migração das pessoas para outras possibilidades. A migração é um fator bastante explorado no livro através das atitudes das personagens (os moradores de “Macondo” chegavam de outros lugares para se estabelecerem na cidadela em busca de melhores condições de vida, como aconteceu com a família de “Remédios”, por exemplo).

A intrigante abordagem de fatos sociais globais, ora de maneira bizarra, ora envolvidos por uma aura mágica embebida de místérios e fascínios próprios das lendas e costumes dos iíndos colombianos, gerou essa linha compreendida como “realismo fantástico”, introduzida na América Latina por Gabriel García Márquez a partir da publicação de Cem Anos de Solidão (maio de 1967).

A trajetória literária do escritor sofreu forte  influência de Metamorfose, de Franz Kafka e das Mil e Uma Noites (uma coleção de contos orientais compilados provavelmente entre os séculos XIII e XVI, obra clássica da literatura persa). Cem Anos de Solidão é leitura obrigatória a todo cidadão do mundo. Cheia de fascínio, magia e alusão à realidade, o livro nos remete a nossas próprias fantasias e memórias de infância.

http://www.argumento.net/cena-critica/literatura/cem-anos-de-solidao/

Luz que indica caminhos


O olhar no muro


Sempre é possível uma auto-correção e um recomeço

Leonardo Boff

Nem toda crise, nem todo caos são necessariamente ruins. A crise acrisola, funciona como um crisol que purifica o ouro das gangas e o libera para um novo uso. O caos não é só caótico; ele pode ser generativo. É caótico porque destrói certa ordem que não atende mais as demandas de um povo; é generativo porque a partir de um novo rearranjo dos fatores, instaura uma nova ordem que faz a vida do povo melhor. Dizem cosmólogos que a vida surgiu do caos. Este organizou internamente os elementos de alta complexidade que desta complexidade fez eclodir a vida na Terra e mais tarde a nossa vida consciente (Prigogine, Swimme, Morin e outros).




A atual crise política e o caos social obedecem à lógica descrita acima. Oferecem uma oportunidade de refundação da ordem social a partir do caos social e dos elementos depurados da crise. Como no Brasil fazemos tudo pela metade e não concluímos quase nenhum projeto (independência, abolição da escravatura, a república, a democracia representativa, a nova democracia pós ditadura militar, a anistia) há o risco de que percamos novamente a oportunidade atual de fazermos algo realmente profundo e cabal ou continuaremos com a costumeira ilusão de que colocando esparadrapos curamos a ferida que gangrena a vida social já por tanto tempo.

Antes de qualquer iniciativa nova, o PT que hegemonizou o processo novo na política brasileira, deve fazer o que até agora nunca fez: uma auto-crítica pública e humilde dos erros cometidos, de não ter sabido usar do poder realmente como instrumento de mudanças e não de vantagens corporativas e de ter perdido a conexão orgânica com os movimento sociais. Precisa fazer o seu mea-culpa porque alguns com poder traíram milhões de filiados e por ter maculado e rasgado sua principal bandeira: a moralidade pública e a transparência em tudo o que faria. Aquele pequeno punhado de corruptos e de ladrões do dinheiro público, dentro da Petrobrás, que atraiçoaram os mais de um milhão de filiados do PT e envergonharam a nação deverão ser banidos da memória.

Cito frei Betto que esteve dentro do poder central e que ideou a Fome Zero. Ao perceber os desvios, deixou o governo comentando: ”O PT em 12 anos, não promoveu nenhuma reforma da estrutura, nem agrária, nem tributária, nem política. Havia alternativa para o PT? Sim, se não houvesse jogado a sua garantia de governabilidade nos braços do mercado e do Congresso; se tivesse promovido a reforma agrária, de modo a tornar o Brasil menos dependente da exportação de commodities e favorecido mais o mercado inerno; se ousasse fazer a reforma tributária recomendada por Piketty, priorizando a produção e não a especulação; se houvesse enfim assegurado a governabilidade prioritariamente pelo apoio dos movimento ssociais, como fez Evo Morales na Bolívia…Se o governo não voltar a beber na sua fonte de origem – os movimento sociais e as propostas origináris do PT – as forças conservadoas voltarão a ocupar o Planalto”.

E agora concluo eu: temos posto a perder a revolução pacífica e popular feita a partir de 2003 quando ocorreu não a troca do poder, mas a troca da base social que sustenta o Estado: o povo organizado, antes à margem e agora colocado no centro. O PT pode suportar a rejeição dos poderosos. O que não pode é defraudar o povo e os humildes que tanta confiança e esperança colocaram nele. E muitos, como eu e Frei Betto que nunca nos inscrevemos no PT (preferimos o todo e não a parte que é o partido) mas sempre apoiamos sua causa, por vê-la justa e afim às propostas sociais da Igreja da Libertação, sentimos abatimento e decepção. Não precisava ser assim. E foi pela imoralidade, pela falta de amor ao povo e pela ausência de conexão orgânica com os movimento sociais.

Nem por isso desistiremos. No expectro político atual não vislumbramos nenhum projeto que fuja da submissão ao capitalismo neoliberal, que faça a sociedade menos malvada e que apresente lideranças confiáveis que tornem melhor a vida do povo. A vida nos ensina e as Escrituras cristãs não se cansam de repetir: quem caiu sempre pode se levantar; quem pecou sempre pode se redimir depois de clara conversão para o primeiro amor. Até se diz que quem estava morto, pode ser ressuscitado, como Lázaro e o jovem de Naim.

O PT tem que recomeçar lá em baixo, humilde e aberto a aprender dos erros e da sabedoria do povo trabalhador. Valem ainda os ideais primeiros: inclusão social de milhões de marginalizados, desenvolvimento social com distribuição de renda e redistribuição da riqueza nacional, cuidado para com a natureza com seus bens e serviços ameaçados e a sempre ansiada justiça social. Mas tudo isso não terá sustentabilidade se não vier acompanhado por uma reforma política, tributária e pesado investimento na agroecologia na impossibilidade atual de fazer a reforma agrária.

Para que isso ocorra, precisamos acreditar na justeza desta causa; fortalecer-se face à batalha que será travada contra o PT por aqueles que vivem batendo panelas cheias porque nunca querem mudanças por medo de perder benefícios; mas jamais usar as armas que eles usam – mentiras e distorções – mas usar aquelas que eles não podem usar: a verdade, a transparência, a humildade de reconhecer os erros e a vontade de melhorar dia a dia, de querer um Brasil soberano e um povo feliz porque justo, não mais destinado a penar nas periferias existenciais mas a brilhar. Vale o que o Dom Quixote sentenciou: “não devemos aceitar as derrotas sem antes dar as batalhas”.

https://leonardoboff.wordpress.com/2015/05/24/sempre-e-possivel-uma-auto-correcao-e-um-recomeco/

Cineclube da UFT em Araguaína