sexta-feira, 13 de março de 2015

Zuenir Ventura toma posse hoje na Academia Brasileira de Letras

Jornalista é quinto ex-aluno da imortal Cleonice Berardinelli, a Dona Cleo, a entrar para a ABL RIO - Ninguém pode acusar a professora e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Cleonice Berardinelli, 98 anos, de não ter dado uma boa formação a seus alunos. Depois que Zuenir Ventura, colunista do GLOBO, tomar posse da cadeira 32 da ABL, às 21h, ele se tornará o quinto ex-aluno de Dona Cleo a lhe fazer companhia na Casa de Machado de Assis. Ela foi professora de Zuenir na Faculdade Nacional de Filosofia, onde o jornalista e escritor estudou Letras. E, convidada por ele, fará hoje o seu discurso de saudação.


A “divina Cleo”, como Zuenir a batizou, já deu aulas para mais quatro imortais: Ana Maria Machado, Antonio Carlos Secchin, Domício Proença Filho e Affonso Arinos de Mello Franco, que foi aluno de latim dela, ainda no ginásio. Evaldo Cabral de Mello, que toma posse no dia 27, será o seu sexto ex-aluno na instituição.

— Todos eram apaixonados por ela. Foi uma professora queridíssima, que abriu as portas da literatura portuguesa para mim. Conheci Camões e Fernando Pessoa por meio dela — afirma Zuenir.

No discurso, ele pretende homenagear não só Dona Cleo, mas os professores da universidade que contribuíram para sua formação — abrindo caminho para que um dia ele chegasse à ABL. Na lista, estão nomes ilustres como Manuel Bandeira, Alceu Amoroso Lima, Celso Cunha, Roberto Alvim Corrêa, José Carlos Lisboa, Ernesto Faria e Hélcio Martins.

— São pessoas que me ajudaram muito. Tive a sorte de ter esse time incrível de professores. Uso até hoje o que aprendi com eles — conta o jornalista.

O autor de “Cidade partida” (1994) passou os últimos meses mergulhado na obra de Ariano Suassuna (1927-2014) — ocupante anterior da cadeira 32, que foi fundada por Carlos de Laet e tem Araújo Porto-Alegre como patrono — e escrevendo seu discurso. É tradição na ABL que o discurso do novo imortal preste homenagem aos ocupantes anteriores da vaga.

— A Academia tem o sábio princípio de não falar em substituição do imortal que partiu, mas em sucessão. O Suassuna é insuperável, eu não teria a menor condição de substitui-lo. Vou sucedê-lo. Sempre fui admirador dele — diz Zuenir.

O jornalista soube por um amigo que, pouco antes de morrer, o escritor paraibano afirmou que gostaria que Zuenir entrasse para a ABL — e disse ainda que votaria nele, caso se candidatasse à vaga de João Ubaldo Ribeiro, morto em 18 de julho de 2014; Suassuna morreria cinco dias depois.

— É uma perversa ironia do destino que eu vá para a vaga do Ariano. Ele tem uma obra gigantesca. Aliás, é raro um autor que, além de uma obra desse porte, também tem uma vida grandiosa como a dele. Me orgulha sucedê-lo — elogia o novo imortal.

HOMEM DE IMPRENSA

Zuenir Ventura era um nome cotado para a ABL já há alguns anos. Mas ao menos três vezes abriu mão de candidatar-se, para evitar concorrer com amigos. Ele foi eleito em outubro com ampla maioria: 35 dos 37 votos possíveis.

Zuenir trabalhou em veículos de imprensa como o “Jornal do Brasil”, “O Cruzeiro” e “Veja”. Um de seus livros mais famosos, “1968 — O ano que não terminou” (1988), já teve 48 edições e vendeu 400 mil exemplares. Ele ganhou os prêmios Esso e Vladimir Herzog em 1989, pela série de reportagens investigativas sobre o assassinato de Chico Mendes, reunidas no livro “Chico Mendes — Crime e castigo” (2003). Seu livro mais recente é o romance “Sagrada Família”, finalista do Prêmio Jabuti em 2013.

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