segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Editorial: Entre as férias e as aulas, os assassinatos no Charlie Hebdo

A comunidade acadêmica (professores, alunado, administradores e corpo técnico) saiu de férias. Da celebração do Natal aos festejos do novo ano, descanso, cursos de férias, viagens, lazer... até o retorno ao campus e às atividades acadêmicas.

Entre uma situação e outra, a notícia de um atentado em 7 de janeiro ao Charlie Hebdo, jornal humorístico que resvala à ridicularização do mundo árabe, do islamismo, de Maomé e dos imigrantes do colonialismo europeu, na periferia. Suscita as leituras política, econômica, cultural e social, entre outras. No ataque, além de mortos e feridos, explode uma bomba de efeito retardado, propaganda de guerra a essas populações, exploradas há séculos.

Os primeiros culpados são os fundamentalistas muçulmanos, vistos de dois modos no ocidente: um grupo, de traço conservador e afeito às guerras, os demoniza, e outro, de intelectuais de esquerda e liberais, sentem culpa ao lembrar dos massacres promovidos pelos patrícios ocidentais, sofrem com o fato e temem ser acusados de islamofobia. A hermenêutica esconde a fragilidade.

Além da repressão violenta, embalada pela comoção popular, a velha mídia 'hot news' busca apoio internacional, passa das informações ao terrorismo midiático, deixando o mundo mais assustado que os parisienses. O ato de solidariedade no Arco do Triunfo teve imagens de Netanyahu, Abbas, Lavrov e Merkel de braços dados – destacando a ausência de Bush e Blair, da década passada, e Obama, Cameron e al-Assad – dos morticínios recentes.



Com os relatos sobre os jornalistas mortos, as fotos dos lápis dos chargistas e a repressão na periferia de Paris, o espetáculo começou a mostrar a face real. Os líderes voltaram a seus países, os perspicazes enviaram representantes e a imprensa coletou farto material. De repente, o 'Je Suis Charlie' (Eu sou Charlie) se transformou 'Je Ne Suis Pas Charlie' (eu não sou Charlie), lembrando o 'Soneto de Separação', de Vinícius de Moraes. O texto do filósofo esloveno Slavoj Zizek (http://bit.ly/1veUpTV) nos ajuda a 'Pensar o atentado ao Charlie Hebdo', entre outras boas leituras, nesta edição.
                                                                                                                                                       

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