Michel Ribas
Quando o assunto "leitura" entra em pauta, principalmente entre jovens, a maior reação é a de "torcer o beiço". Muitas vezes por professores que não souberam transmitir o prazer que a leitura proporciona, ou por um desprezo natural, de quem não conhece mas mesmo assim despreza, ou até mesmo por tentativas frustradas de se apegar a leitura, que pode ocorrer ou pela obra ser muito "pesada" para o jovem pela sua linguagem ou conteúdo.
A atualidade está sedo profundamente marcada pela modernidade e tecnologia, esta cada vez mais presente em tudo o que temos e vemos. Com a era da internet, chegamos em um ponto onde os prazeres estão se tornando cada vez mais subjetivos e menos construtivos no sentido da formação cultural de cada individuo. O mercado de trabalho culmina com este processo, exigindo de cada um agilidade em todas as suas funções, como se cada dia fosse o último do Planeta, sobrecarregando assim cada individuo ao ponto de sobrar muito pouco tempo na rotina diária destes tempos modernos em que vivemos.
Com as noticias rápidas da internet cada pessoa pode estar superficialmente por dentro de praticamente tudo o que acontece no mundo em apenas alguns "cliques". Não se pode negar que isto ajuda muito na agilização do cotidiano, mas com todo este incentivo à pressa acabamos por nos acostumar com as coisas rápidas e curtas, inclusive nos momentos de contemplação da arte existente no mundo. Com toda esta redução de tempo as artes acabaram sofrendo um certo desprezo pela sociedade em função do tempo necessário para o usufruto delas, e a literatura é uma das artes que mais sofre com este fenômeno de aceleramento de vida.
São poucos e raros aqueles que nos tempos livres sentam confortadamente e se deliciam com uma obra literária, com um jornal ou uma revista. Nem sempre a falta de tempo pode ser tomada por desculpa, pois com pouquissimos minutos pode-se ler um poema ou até mesmo em dez ou quinze minutos consegue-se ler um conto ou uma crônica.
O que podemos perceber no costume da nossa nação é que nada, ou quase nada é direcionado exclusivamente para o incentivo e a divulgação da leitura e da literatura, e ela acaba se tornando uma arte secundária, oculta, e até mesmo as vezes fica na concepção dos jovens como aquela tortura de ter que pegar um volume enorme, todo empoeirado, com palavras incompreensíveis e devorar apenas para poder passar de ano. Dogmas e costumes exagerados geram visões distorcidas da realidade. Assim como nem todo evangélico vive de terno e com uma Biblia debaixo do braço, nem todo jogador de futebol é sem cultura, assim nem toda leitura é massante e chata.
Dentre os fatos importantes para o incentivo à leitura, podemos destacar o Conhecimento Prévio, que é algo necessário para todos aqueles que desejam mergulhar no maravilhoso mar das letras. Este modo de conhecimento tem a importância para a leitura assim como uma chave a tem para um cadeado. A partir do Conhecimento Prévio, as portas da interpretação se abrem e a leitura flui com uma facilidade incrível, o Conhecimento Prévio é nada mais do que tudo aquilo que cada indivíduo aprendeu na vida, seja de conhecimento de vida prática, seja de teorias.
Tomemos por exemplo a palavra "tílburi", que pode ser encontrada na crônica "O Palhaço", de Artur de Azevedo. Como se trata de uma palvra que já caiu em desuso no Brasil, à primeira vista pode nos parecer estranho e atrapalhar o entendimento do texto, mas se por exemplo o leitor já conhecesse o conto "A Cartomante", de Machado de Assis, já teria lido a palavra e através de um dicionário ou mesmo pelo contexto já saberia que "tílburi" quer dizer pequena carruagem. O Conhecimento Prévio, assim como todas as técnicas existentes no mundo, exige paciência e prática, só se obterá tal conhecimento lendo. A palavra chave para a leitura é "começar", quanto mais leitura, mais conhecimento, quanto mais conhecimento, mais entendimento e quanto mais entendimento mais fácil de se atingir o principal objetivo da literatura que é, segundo o crítico literário Antonio Cândido " a transposição do real para o ilusório" (1972, p.53). O ser humano necessita de tal transposição, até mesmo para a despressurisação das cargas do dia-a-dia corrido em que vive.
É somente através da total compreensão do texto e da transposição do real para o ilusório que se consegue chegar ao prazer da leitura, de entrar na mente da personagem, sentir suas alegrias, viver suas aventuras e compartilhar de seus costumes e da sociedade em que se passa a história. A leitura proporciona aos seus adeptos vários tipos de conhecimento nas mais diversas áreas. Através da leitura de Sir Arthur Conan Doyle você pode entrar na mente do mais famoso detetive da história, o Sherlock Holmes. Lendo o contemporâneo Khaleb Housseini você poderá conhecer os costumes do Afeganistão. Há dentro da literatura uma gama infindável de conhecimentos disponíveis para todos aqueles que se dispuserem a possuí-los.
A modernidade nunca será desprezada, sua utilidade é muito necessária, mas o prazer de estar com um livro em mãos, o suave barulho do virar das páginas, a sensação maravilhosa de terminar a leitura de um livro, refletir sobre a história, sentir o cheiro do papel, formar as imagens dos personagens na mente, os enredos, as tramas, os amores e as dores. Tudo fica guardado na memória do leitor de uma maneira ímpar, pois um outro prazer proporcionado unicamente pela literatura é que o leitor é o co-autor da obra, pois o autor dá as linhas do texto, mas as imagens quem formula é o leitor e da maneira que lhe bem entender. Por estas e muitas outras coisas é que a leitura propicia um prazer único e forma cidadãos pensantes, interagindo com o mundo ao seu redor e analisando cada passo da humanidade. Ler é viver!
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