O filme Capitão Phillips (Captain Phillips, dir. Paul Greengrass, com Tom Hanks, Catherine Keener e Barkhad Abdi, Drama / Suspense, EUA) é um discurso pleno de reverberações, ampliadas à potência máxima e com a pretensão de legitimar a ação armada estadunidense na costa africana. A leitura do conjunto do filme começa pela desproporção entre o que é megalomaníaco, espetacularmente armado e ostentador de poder, de um lado, e uma gente faminta, magra, que luta pela sobrevivência e tem sua pesca afetada por companhias pesqueiras, de outro.
Se proporcionalidade deve ser regra na guerra – um conceito de um século e meio atrás para os brasileiros – não o é para a superpotência que sequer noção da dimensão tem. Já os somalis, utilizam os recursos que tem para lutar contra a pesca, ilegal e desenfreada, e o despejo de lixo tóxico em seu território, sempre do modo ameno e cordial, comum às superpotências.
A outra leitura é a da geopolítica mundial, do declínio dos Estados Unidos como potência hegemônica, desde os anos 70, agravado pela sequência de desastres do governo George W. Bush. O que o filme de Greengrass revela é a mudança do perfil de intervenção, abandonando a diplomacia e as relações de confiança e abusando das relações de força, que acelera esse processo.
O filme se estrutura nos opostos: de um lado Phillips e de outro Muse; as normas de segurança do navio e os piratas que tentam saciar a fome da Somália; a força americana com navios cargueiro, contratorpedeiro, porta-aviões e helicóptero, e a força somali tem um homem para cada arma dessas. Depois vem a noção de que todos invejam os americanos, com Muse e seu desejo de se inserir no capitalismo.
É uma contra-leitura da realidade política internacional, já que os EUA perdem influência a olhos vistos - as guerras de Bush para saquear petróleo, prender e matar Saddam Hussein, Obama e a palavra descumprida sobre Guantânamo, o assassinato de Bin Laden; Manning, Assange e Snowden impondo a perda de credibilidade – agravados pela atuação de Cristina Kirchner, Dilma Rousseff e Angela Merkel.
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