sábado, 2 de agosto de 2014

Resenha de filme: Tarja Branca

Antonio Carlos Ribeiro*

O filme Tarja Branca – a revolução que faltava (Dir. Cacau Rhoden, com Domingos Montagner, Wandi Doratiotto e Antônio Nóbrega – Documentário, Brasil, 2014, 80 min) é composto de depoimentos de pessoas adultas e amadurecidas, de diferentes origens, profissões e gerações que descobriram que os momentos mais felizes, frutíferos e emocionalmente enriquecedores de suas vidas aconteceram quando puderam ‘brincar’.


Esse ato plural, sempre com dimensões sociais – por envolver pessoas, da família, da vizinhança, da escola, do trabalho e de diversas outras dimensões humanas – nos coloca em contato com os momentos mais felizes da nossa infância. Ao revivermos essas emoções, voltam à nossa memória as pessoas mais queridas, que nos amaram da forma menos pretensiosa, com quem partilhamos momentos inesquecíveis e que deixaram marcas indeléveis em nossa personalidade.

Voltar a esses momentos não é ‘perder tempo’, nem ‘desperdiçar energias com as saudades’ e menos ainda ‘remoer fatos do passado’, mas redescobrir o ato de brincar, pelo qual o ser humano adulto reencontra a criança dentro de si, reviver essa forma lúdica de enfrentar o cotidiano e utilizá-la como estratégia para as grandes conquistas, que invariavelmente começam com nossa harmonia e partilha de sentimento e trabalho.

O ato de brincar - dos mais ancestrais da raça humana – embora esquecido na atualidade, nos traz a chave emocional para melhor nos conhecer e nos relacionarmos com ‘os mundos’ à nossa volta. Mas, ainda mais primordial do que o que revela de nós e dos seres humanos, é o que mostra sobre o mundo em que vivemos.

Este documentário da Maria Farinha Filmes, dirigido por Rhoden, discorre e estimula o espírito lúdico, mostrando que em última instância as faces do homo (ser humano) socialis (social), aeconomicus (econômico), politicus (político), faber (produtivo), sapiens (sábio) podem ser regastadas no ludens (lúdico), sem confundir com atos grosseiros, violentos, desrespeitosos, discricionários, arrogantes que mostram à sociedade o homo demens (demente, estúpido).

Como nos ensinou o historiador holandês Johan Huizinga, em seu livro Homo Ludens, “a vida social moderna está sendo cada vez mais fortemente dominada por uma característica que tem alguma coisa em comum com o jogo e dá a ilusão de um fator lúdico fortemente desenvolvido. Julguei poder dar a esta característica o nome de ‘puerilismo’, que me pareceu ser o mais adequado para designar essa mistura de adolescência e barbárie que se tem vindo a estender pelo mundo no decorrer das últimas duas ou três décadas”.

Para ver trailer clique: aqui

Para ver o filme completo, clique aqui

*Pós-Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Tocantins (UFT/Capes) - Campus Araguaína - e Pesquisador da Cátedra UNESCO de Leitura

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