segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Resenha de filme: Fahrenheit 451

Lianja Soares Aquino*

O filme Fahrenheit 451 (Fahrenheit 451. Direção de François Truffaut, com Oskar Werner, Julie Christie, Cyril Cusack. Ficção científica, França/Reino Unido, 1966) transcorre numa cidade em que as casas são à prova de fogo, os bombeiros se destinam a que função? Queimar livros. Assim, inicia-se o filme Fahrenheit 451, dirigido pelo francês François Truffaut. O filme é uma adaptação do romance de Ray Bradbury, estadunidense e escritor de contos de ficção-científica. A trilha sonora usada no filme é de Bernard Hermann, compositor que também teve participação em filmes como, Psicose (Psycho, 1960) de Alfred Hitchcock; Kill Bill (2003), de Quentin Tarantino e Taxi Driver (1976), de Martin Scorcese.  



Direção e trilha sonora são brilhantes, de acordo com os recursos da época, mas o mais significativo é a reflexão que o filme provoca sobre a manipulação dos programas de TV que incentivam o consumismo, a superficialidade e impõe regras de conduta social para controlar o comportamento da população. A proibição de livros como: novelas, biografias, aventuras, romances e filosóficos é obrigatória neste contexto, com a argumentação de que “A única maneira de ser feliz é garantir que todos sejam iguais, por isso a necessidade de se queimar os livros”.  

A genialidade do filme está em sua atemporalidade. Produzido e divulgado nos anos sessenta (1966), momento de grandes transformações culturais, apoiadas em movimentos como o da geração beat, iniciada pelo escritor Jack Kerauac contra o moralismo rígido do começo dos anos 50, garante ainda, nos tempos atuais, um debate relevante sobre a obra e as relações humanas. A TV, também nesse período, tornou-se um meio de comunicação de massa e os movimentos feministas começaram a eclodir. 

Com a avançada tecnologia dos dias atuais, algumas pessoas arriscam dizer que estamos chegando num período em que os livros impressos sumirão das prateleiras. Outra discussão ainda é o controle das massas através de mídias manipuladoras de opinião. Entre os anos de 1950 e 2014 muitas coisas mudaram, mas os temas propostos pelo filme parecem não ter vencido as barreiras do tempo.  

Nesse ínterim, Montag, protagonista do filme, exerce a função de bombeiro e, junto a sua equipe, queima livros. Montag é objetivo em suas palavras, não questiona as ordens do chefe e é casado com Linda, uma mulher que passa os dias na frente da TV, tomando pílulas e seguindo o sistema vigente. Tudo é muito controlado: horários, trabalho e família. Mas Montag conhece Clarisse. 

Numa conversa informal Montag é questionado por Clarice se nunca havia desejado ler algum livro que queimava. Esta pergunta seria o inicio de uma vida considerada transgressora para Montag, mas despertou sua curiosidade. Ele rouba um livro intitulado “A história pessoal de David Copperfiel, por Charles Dickens” e não conseguiu parar de ler e de roubar outros livros. As histórias que Montag lê e sua relação com os livros levam a questionamentos sobre sua condição de bombeiro e marido. A partir dessas reflexões, as suas atitudes começam a mudar. 

O desfecho do filme não pode ser revelado aqui, pois o lirismo militante em questão é de encher os olhos e alma. O fato é, como disse Jorge Luis Borges, em seu texto A biblioteca de babel: “A Biblioteca é ilimitada e periódica. Se um eterno viajante a atravessasse em qualquer direção, comprovaria ao fim dos séculos que os mesmos volumes se repetem na mesma desordem (que, reiterada, seria uma ordem: a Ordem). Minha solidão alegra-se com essa elegante esperança.” E é com esta esperança de poder ser livre, enquanto leitor e construtor de cultura, que Montag escolhe seguir. 

Para assistir o trailer, clique aqui

Para assistir o filme completo clique aqui  

*Graduada em Letras e mestranda em ensino de Língua e Literatura pela Universidade Federal do Tocantins, UFT, Campus: Araguaína

Um comentário:

CHAPOLIN VICIOUS disse...

assisti esse filme no ensino médio, e tinha me esquecido dele, boa lembrança, assistirei novamente hoje!!!muito boa a resenha!!