segunda-feira, 29 de outubro de 2018

U2 protesta contra Bolsonaro em show

29.10.2018

Nos shows da atual turnê do U2,  ‘Experience & Innocence’, o cantor Bono sempre se fantasia do demônio MacPhisto para fazer críticas à política internacional. Na apresentação da banda neste domingo, em Belfast, na Irlanda do Norte, Bono apontou sua artilharia verbal para Donald Trump, Rodrigo Duterte e o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro.

O demônio MacPhisto que toma o poder com Trump, Duterte e Bolsonaro (Arquivo)

“O que vocês estão olhando, Belfast? Vocês nunca viram um político antes?”, questiona o músico. “Os demônios de MacPhisto estão tomando o poder ao redor do globo. Meu tipo de pessoa, como Donald, fazendo a América odiar de novo. Meu bonitão filipino, Rodrigo Duterte. Mesmo hoje, nesse dia de eleição. Duzentos milhões de pessoas prestes a ter seu carnaval transformado numa parada militar por um homem chamado Capitão Bossa Nova. Bolsonaro, não esqueçam o nome. Muitos nomes, mas apenas um rosto. O meu.”

A performance foi capturada em vídeo por um fã que publicou as imagens no YouTube. Logo na sequência, Bono segue o discurso dando a deixa para o início da canção “Acrobat”, do álbum “Achtung Baby”, com os versos “Não acredite no que você ouve, não acredite que você vê. Se você fechar os olhos, pode sentir o inimigo.”

Fonte: https://blogdacidadania.com.br/2018/10/u2-protesta-contra-bolsonaro-em-show/

domingo, 28 de outubro de 2018

Só um candidato representa a continuidade da democracia

28.10.2018

Jânio de Freitas

O caminho apresentado por Jair Bolsonaro é o do autoritarismo

Com o acelerado avanço de Fernando Haddad (PT) e a queda de Jair Bolsonaro (PSL) nos últimos dias, qualquer dos dois pode ser vitorioso neste domingo (28). Mas só um representa a continuidade da democracia. O outro propõe o Brasil sob um autoritarismo constituído por concepções e violências extintas com o fim da ditadura militar.

Eleições presidenciais não tinham um candidato de extrema-direita há 73 anos, desde que Plínio Salgado disputou com Juscelino, Juarez e Adhemar em 1955. Culto, fundador da Ação Integralista —uma combinação de imitações do fascismo italiano e do nazismo —, o chefe dos “camisas verdes” coletou só 8% da votação com uma campanha quase normal, de nacionalismo de direita e poucos arroubos antidemocráticos.

Bolsonaro não pôde participar nem do último debate por “estratégia”, na sua forma de se referir à própria ignorância nos temas previsíveis em debate pela Presidência. O decorrer de sua campanha também os ignorou. O dia a dia da nossa vida de pessoas comuns ficou tão excluído da campanha quanto os problemas maiores do país. Extensão da sua presença inútil na Câmara, 27 anos de deputado com incontáveis brutalidades e apenas dois projetos aceitos pelo plenário, a campanha de Bolsonaro foi uma sucessão de desaforos e primarismo ameaçador.

Bolsonaro e Haddad disputam segundo turno das eleições presidenciais de 2018

Negros, homossexuais, aposentados, atores e artistas, sem-terra e sem-teto, pequenos assalariados, indígenas, empresas de imprensa e jornalistas, favelados expostos a tiroteios, ambientalistas, enfim, são muitos milhões com motivo para se sentirem ameaçados por Bolsonaro. O grande avanço do Brasil em benefício de vários desses campos foi conquista dos ativismos, que são os movimentos por direitos em geral e defesa das minorias. O Judiciário e o Congresso só vieram a reboque, quando vieram. Mas o que Bolsonaro tem a oferecer aos ativismos é “acabar com todos eles”.

O “ame-o ou deixe-o” da ditadura retorna com “o exílio ou a cadeia” na alternativa de Bolsonaro para os que o incomodem como opositores. Em momento de rara contenção, não citou “a morte”. A Folha já precisou requerer investigação da Polícia Federal após ameaças à repórter Patrícia Campos Mello e a Mauro Paulino, diretor do Datafolha. Ambos postos na mira bolsonária em represália a seu trabalho isento. Não são os únicos na mira.

Europeus e democratas americanos estão assombrados com o Brasil. Apesar terem aqui divulgação escassa, ou nenhuma, sendo necessária a procura na internet, manifestos com importantes signatários se sucedem em apelos aos brasileiros para não abandonarem a democracia pelo autoritarismo. E, como se precisando dar um exemplo ainda em tempo, o Parlamento Europeu aprovou por farta maioria, no meio da semana, a recomendação aos países da União Europeia para tornarem proibidos os grupos e movimentos de extrema direita.

Quanto a nós, Fernanda Montenegro resume, “resta-nos esperar que o Brasil acorde, e cante”. É menos poético, e isso não é bom, mas se o Brasil apenas acordar já estaremos, ainda que exaustos, continuadamente livres para agir por nossas consciências. 

Em um ou outro sentido, cada voto dado neste domingo será histórico.

*Jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2018/10/so-um-candidato-representa-a-continuidade-da-democracia.shtml

domingo, 21 de outubro de 2018

Não vai dar em nada, mas já deu em muita coisa

21.10.2018

Renan Araújo

O rei está nu!

Corríamos o risco de chegar o dia 28 e o "Deus acima de tudo, o Brasil acima de todos" vencer as eleições.

Seria a vitória da mentira com cara de verdade. A vitória da hipocrisia.

Ironicamente, a primeira fala que vem da boca do candidato   fraudador em seus programas é uma citação bíblica: "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".

De repente, surge a verdadeira verdade (isso mesmo!). Um sofisticado esquema de caixa 2 reuniu 156 empresários que  injetou na campanha 12 milhões de dinheiro ilegal para alimentar 40 mil grupos de WhatsApp de fora do país (oh, o patriotismo) com objetivo de disparar mentira, muita mentira contra os concorrentes, claro que dando prioridade máxima ao candidato das forças democráticas e populares.



Imagine os milhões de eleitores que receberam montagens grosseiras, videos editados, frases não ditas, ilícitos não praticados por Haddad e Manuela.

As tias e tios, os jovens do primeiro voto, pessoas humildes que até admiravam o PT e tudo de bom que ele fez pelo povo, bombardeados por falsas informações sistematicamente, diariamente, invadindo as caixas de WhatsApp e formando opiniões deturpadas sobre o processo eleitoral.

Do nosso lado, a resistência. A resistência orgânica, militante. O "trabalho de formiguinha", a tentativa do convencimento. Muitas vezes as conversas gerando desânimo, diante do bombardeio de "informações" recebidas pelos nossos interlocutores.

No WhatsApp o "capitão" virou um homem honesto, Manuela virou um monstro, Haddad virou um terrível chefe de quadrilha e um delinquente amoral.

Não tenho ilusões que essa descoberta com provas robustas de crime eleitoral vá dar em alguma coisa.

Lembremos que desde 2013 estamos sofrendo um golpe contínuo e sistemático.

Dilma foi cassada sem crimes, Lula foi preso sem provas.

A direita, que não tem condições de assumir o poder pelo voto, não permitirá que a eleição seja conduzida democraticamente.

Quem não respeitou decisão da ONU não respeitará esperneio de partidos de esquerda e de movimentos sociais e populares.

"Mas Moro disse que caixa 2 é pior que corrupção". Esqueça que Moro disse isso. "Mas Fux disse que fake news pode levar a cassação de uma chapa". Esqueça que Fux disse isso. Eles já esqueceram. Isso só era válido contra o PT.

Eles fazem parte do golpe e o candidato do golpe é Bolsonaro. Foi ele o único que restou do estoque de golpistas nos últimos dois anos.

Bolsonaro é o último bastião do golpe. É tosco, é incompetente, é grosseiro, é corrupto, é fascista, mas não tem problema para eles. As elites precisam de Bolsonaro para derrotar o povo. E assim o farão.

Não esqueçamos que os Generais, avalistas do "capitão", estão incrustados fortemente no executivo, no judiciário, na vida do país, elevados que foram a "salvadores da pátria" através das mesmas fake news divulgadas pelo mesmo WhatsApp que ora denunciamos aqui.

Então você pode perguntar: por que você diz que já deu certo?

Deu certo porque nós vamos fazer esse final de campanha de cabeça erguida sabendo que não temos no Brasil 50 milhões de fascistas. Nós temos milhões de pessoas enganadas, ludibriadas, iludidas pelo bombardeio de fake news agora denunciadas.

Os que quiserem se manter enganados, cegos, hipnotizados pelas mentiras, que faça mal uso do seu voto.

Os que se permitirem refletir sobre a trama sórdida que os envolveu, sejam bem vindos. O voto em Haddad é bem vindo. Só ele pode tirar o Brasil do caos que se anuncia.

Que venham conosco. Que venham para a democracia.

A verdade vai nos libertar, a verdade vai nos fazer continuar a luta e resistir.

A verdade acima de tudo!

sábado, 20 de outubro de 2018

A mentira que prolifera

Folha de S. Paulo 19.10.2018
A mentira que prolifera

Empresas gastam para disseminar mensagens contra o PT, revela a Folha

Empresas compram pacotes de disparos de mensagens no WhatsApp contra o PT - Thomas White/Reuters

Dois terços dos votantes brasileiros possuem conta no WhatsApp, a rede social mais popular do país. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em 2 de outubro, 44% dos entrevistados declararam ler notícias sobre política e eleições por esse meio, e 24%, compartilhá-las.

Os números bastam para constatar o peso adquirido pela rede na formação da opinião nacional —e, sem dúvida, nos rumos do pleito em curso. Ainda está por ser dimensionado, porém, o impacto do fluxo de informações enganosas, quando não inteiramente falsas, e mensagens difamatórias que chegam a todo momento aos usuários.

Antecipava-se, ademais, que a campanha deste ano constituiria um marco de importância global quanto às possibilidades de combate à disseminação de fake news. Até aqui, falhamos no teste, como qualquer frequentador de ambientes virtuais poderá observar.

Reportagem de Patrícia Campos Mello, desta Folha, mostra evidências aterradoras de como o que originalmente seria um aplicativo de conversas privadas se tornou uma arma do jogo eleitoral mais sujo.

Revelou-se que empresas estão a comprar pacotes de disparo em massa de mensagens no WhatsApp contra o PT e seu presidenciável, Fernando Haddad. Segundo a apuração, cada contrato chega a R$ 12 milhões, o suficiente para propagar centenas de milhões de textos, áudios, fotos, vídeos e memes.

Trata-se de prática ilegal, dado que há um beneficiário óbvio —o adversário de Haddad e favorito na disputa pelo Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro (PSL). Assim, a iniciativa corresponde a uma doação empresarial a um candidato, o que está vedado desde 2015.

Bolsonaro declarou não ter controle sobre a ação de apoiadores, indicando desconhecer o caso. Aventou, inclusive, a hipótese de adversários estarem por trás da compra dos pacotes de mensagens com o intuito de prejudicá-lo.

Para a configuração de abuso de poder econômico não é necessária, apontam especialistas, a participação do candidato —basta que a Justiça Eleitoral considere comprometido o equilíbrio da disputa.

Apuração imediata e rigorosa, pois, se faz imprescindível. Os instrumentos à disposição permitem que se rastreiem as operações e a origem do dinheiro empregado.

Entretanto existe mais a fazer para que, sem limitar a sagrada liberdade de expressão, os autores de mensagens veiculadas em redes sociais possam ser identificados e, a depender da forma e do conteúdo, responsabilizados e punidos.

As autoridades brasileiras podem e devem bater-se pelo fim de um anonimato que premia a desinformação e convida à trapaça. Essa seria providência mais útil que a infinidade de regras minuciosas e paternalistas com que a legislação pretende proteger o eleitor.

editoriais@grupofolha.com.br